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Chapter 6 - Inicio 1: A cauda do cometa(3)

Três horas se passaram, três horas de fuga contra a implacável perseguição do faminto Lagarto da Gruta. Octávio sentia cada músculo de seu corpo em brasa, a respiração ofegante e o coração batendo como um tambor. O Lagarto da Gruta era rápido, muito mais do que ele poderia imaginar para uma criatura daquele porte. Seu corpo escamoso e robusto serpenteava pelas ruas e avenidas da cidade.

Mas, para sua sorte, o Lagarto da Gruta parecia ter encontrado algo mais "saboroso" para perseguir. Octávio ouviu o som de passos pesados se distanciando, o som de passos diminuindo até desaparecer por completo. Mesmo assim, ele continuou correndo por mais alguns minutos, sem ousar olhar para trás, até que avistou um prédio à frente — um supermercado. Sem hesitar, ele entrou pelas portas quebradas, o coração ainda disparado.

O ar dentro do lugar era pesado, com uma mistura de sangue e produtos de limpeza. Entre corredores cobertos de sangue e prateleiras cheias, Octávio se moveu com cautela, procurando um lugar seguro. Ele encontrou uma sala no fundo — a sala de RH. As portas estavam intactas, e, a fechadura funcional. Ele se trancou lá dentro, ouvindo apenas o eco distante de seus próprios passos.

Ele se permitiu respirar fundo pela primeira vez em horas. A adrenalina ainda pulsava em suas veias, mas aos poucos a calmaria começava a tomar conta. O abrigo temporário parecia seguro, e o silêncio lá fora era reconfortante. e exausto. Octávio, começa a lentamente a relaxar seu corpo. Seus músculos, antes rígidos pela tensão, cederam, e ele se recostou na parede fria da sala.

A sala do RH, com seus papéis espalhados e cadeiras caídas, parecia um refúgio estranho, mas naquele momento era o que ele precisava. Ele deixou seus olhos fecharem lentamente, o cansaço o vencendo. Sem se dar conta, adormeceu, seu corpo buscando descanso após horas de fuga e tensão.

Após longas horas de descanso na sala do RH, Octávio sentiu seu corpo revigorado. O cansaço que antes o dominava havia diminuído, mas a fome e a sede começavam a pesar. Precisava lidar com isso imediatamente, antes que perdesse a energia que havia recuperado. O supermercado ao redor oferecia uma oportunidade rara, e ele sabia que devia aproveitar o máximo de recursos.

Percorrendo os corredores vazios, Octávio reuniu alguns alimentos e bebidas. Sua mente estava focada na sobrevivência, e ele pegou o suficiente para saciar suas necessidades imediatas e carregar consigo o que fosse leve e durável. No entanto, algo perturbador chama sua atenção.

Quando voltou à sala do RH para pegar sua mochila e se preparar para partir, ele nota algo que não havia percebido antes: profundas marcas de corte na porta. Não eram marcas antigas, na verdade, até algumas horas atrás elas nem estavam ali. Deixando bem claro para ele, que ele não estava sozinho naquele lugar.

se preparando as pressas, organizando os suprimentos em sua mochila, ele sai do local sem olhar para trás. O supermercado, que antes parecia um refúgio, agora carregava o peso de um perigo oculto. O mundo lá fora, por mais hostil que fosse, parecia mais seguro do que ficar ali e descobrir quem, ou o que, havia deixado aquelas marcas

...

Vagando silenciosamente pelas ruas desertas da cidade, Octávio mantinha todos os seus sentidos em alerta. Cada sombra, cada ruído, era analisado com cuidado. Ele sabia que qualquer desatenção poderia custar sua vida, então seus passos eram calculados, enquanto ele atravessava os becos e ruas destruídas, tentando manter-se oculto.

Mas o que ele não sabia era que o que ele mais temia já havia se concretizado. Enquanto sua mente estava focada no ambiente ao redor, outra ameaça já o observava de longe. Oculta nas sombras, essa presença se movia com uma precisão aterradora, seguindo cada movimento de Octávio, sem jamais ser detectada.

Ele estava sendo caçado, e o que o tornava ainda mais perigoso era que ele estava indo diretamente ao encontro dessa nova ameaça. Cada passo que dava o aproximava ainda mais da ameaça silenciosa que o aguardava.

.....

Em um beco onde os raios de luz eram quase inexistentes, uma pequena figura humanoide se agachava no chão, oculta pelas sombras. Sua presença era quase imperceptível, um ponto indistinto na escuridão. Por um breve momento, o silêncio reinava no beco, até que a criatura levantou ligeiramente o queixo e começou a emitir sons estranhos. No início, os barulhos pareciam mecânicos, dissonantes, como se viessem de uma máquina de som quebrada. Um chiado metálico que reverberava pelas paredes.

Mas então, o som começou a mudar. Aos poucos, a irregularidade foi dando lugar a algo mais familiar, mais próximo. O tom dos barulhos tornou-se modesto, suave, e, em um instante perturbador, começou a soar como um choro humano. Uma imitação perfeita. O som era fraco no início, como se estivesse distante, mas logo tomou a forma de um choro mais intenso — algo que qualquer pessoa reconheceria. Parecia o choro de uma criança.

No fundo da escuridão, essa imitação grotesca ecoava, como se a própria criatura estivesse tentando atrair atenção, manipulando a inocência e o desespero que aquele som carregava.

.....

Enquanto Octávio deixava a farmácia, suas mãos carregando algumas ataduras e band-aids recém-coletados, seus ouvidos captaram um som fraco, um choro. A princípio, ele hesitou. Aquele som parecia desconcertante, mas, em um mundo tão hostil, qualquer coisa poderia ser uma armadilha. Ainda assim, o instinto de ajudar prevaleceu. O som vinha de um beco logo à frente, e, sem pensar muito, ele se aproximou da entrada para investigar.

O beco era sujo, cheio de imundície e dejetos. O cheiro era pesado, e a luz, quase inexistente. Conforme seus olhos se ajustavam à penumbra, Octávio viu que, após uma grande caçamba de lixo, o beco mergulhava em sombras ainda mais densas, tão espessas que pareciam consumir qualquer raio de luz que ousasse atravessar.

Mesmo com a escuridão, ele conseguiu distinguir a silhueta de uma pequena figura agachada no chão, envolta pela sombra. A princípio, sua mente imediatamente deduziu que era uma criança — assustada, talvez machucada. O som do choro parecia genuíno, quase palpável no ar pesado ao redor.

Octávio respirou fundo e, mantendo a calma, aproximou-se lentamente. Ele abaixou a voz para um tom mais suave, mais amigável.

"Olá... você está machucado? Está tudo bem?" Ele perguntou, tentando parecer reconfortante.

Mas a criança não respondeu. O choro continuou, ininterrupto, como se não tivesse escutado suas palavras. Algo estava errado. A atmosfera parecia ficar mais pesada à medida que ele se aproximava, e o som, antes distante e fraco, agora parecia muito mais próximo, quase como se estivesse dentro da sua cabeça.

Ele deu mais um passo, e então... hesitou. O que estava à sua frente, aquela pequena figura agachada, não se mexia, não reagia. Apenas chorava, como se estivesse presa em um ciclo sem fim.

O som do choro cessou de repente. Octávio sentiu uma onda de alívio percorrer seu corpo, acreditando que talvez estivesse conseguindo acalmar a criança. Mas essa sensação de conforto durou pouco. Quando olhou novamente para onde a figura deveria estar, percebeu algo inquietante — a criança havia desaparecido.

O medo e a incerteza cresceram dentro dele. Sem pensar duas vezes, impulsionado por um instinto irracional, Octávio correu para dentro das sombras, desesperado para encontrar a criança. Atravessou a escuridão que antes parecia impenetrável, os olhos vasculhando o espaço à sua volta, mas nada encontrava. A sensação de vazio no beco era palpável, como se a própria escuridão estivesse devorando qualquer traço de vida.

Ele procurou freneticamente, mas não havia mais sinal da figura. O silêncio absoluto tornava tudo ainda mais aterrorizante. No chão, onde antes a criança estava agachada, ele encontrou apenas um pequeno cristal cinzento. Ele se abaixou, pegou o cristal com cuidado, ao pega-lo ele sentiu um sensação estranho e misteriosa recair sobre seus ombros por um breve momento, mas lago em seguida a sensação se vai. 

Octávio passou mais alguns minutos no beco, chamando pela criança, buscando qualquer pista, mas o vazio era a única resposta que recebia. A frustração e o medo se misturavam, e a falta de resultados o forçou a recuar. Relutante, mas sem alternativas, ele decidiu sair daquele lugar sombrio.

Antes de se afastar completamente, Octávio deu uma última olhada para trás, suas mãos ainda apertando o cristal. Pensou no que poderia ter acontecido com aquela criança — se realmente havia sido real ou apenas uma ilusão. O mistério pesava em sua mente, e, embora tentasse afastar os pensamentos sombrios, sabia que havia algo muito errado naquele beco.

...

Assim que Octávio saiu do beco, o silêncio voltou a dominar o lugar, até que uma pequena figura emergiu das sombras, retornando ao seu lugar original. Desta vez, sua aparência estava completamente visível.

A criatura que agora se revelava era aterrorizante. Seus cabelos desgrenhados eram de um branco fantasmagórico, contrastando fortemente com sua pele, mais pálida que a de um cadáver. Seus dentes podres e afiados brilhavam em um sorriso distorcido, enquanto um nariz de batata inchado dominava seu rosto grotesco. Mas o que mais chamava a atenção eram seus olhos — agressivos e insanos, injetados de sangue, emanando uma fúria silenciosa.

A criatura olhou ao redor, parecendo satisfeita com a sua performance, ainda saboreando a sensação de ter enganado Octávio. Se ele estivesse ali naquele momento, teria presenciado algo que desafiava todas as leis da realidade.

[Fada do Infortúnio]

[Nível: 8]

[Status: Alegre/Orgulhosa/Hostil]

Com um riso baixo e perturbador, a fada se levantou, flutuando levemente pelo beco antes de desaparecer novamente nas sombras. Ela estava satisfeita, orgulhosa de sua pequena peça, esperando pacientemente por sua próxima vítima.