Dentro da Delegacia, voando silenciosamente sobre o exausto Octávio estava um pequeno morcego de olhos vermelhos, com um laço azul entre as suas orelhas, e em suas costas entre a área de suas assas estava um pequeno saco.
Lentamente o pequeno morcego descia sobre a cabeça de Octávio, ele desceu até ficar na altura dos olhos de Octávio, que exausto e mal conseguindo manter os olhos abertos, foi pego completamente de surpresa quando o pequeno morcego de olhos vermelhos surgiu à sua frente. O susto foi instantâneo. Ele deu um pulo para trás, com a mão instintivamente se fechando em um punho, mas parou quando viu o curioso animal à sua frente. O morcego, com um laço azul entre as orelhas, batia suas asas levemente, sem fazer barulho algum.
O detalhe mais curioso, além dos olhos brilhantes e inquietantes, era o pequeno saco preso em suas costas. Octávio franziu o cenho, ainda ofegante pelo susto, tentando entender o que estava acontecendo. O morcego flutuou pacientemente, batendo suas asas suavemente, até que, vendo que havia capturado totalmente a atenção de Octávio, uma voz inesperadamente suave e ligeiramente aguda emanou da criatura.
"Olá, jovem sobrevivente. Meu nome é Priscila," disse o morcego com um leve sotaque, curvando-se no ar de maneira quase cômica. "Sou uma mercadora viajante... do submundo. E estou aqui para fazer negócios com você."
Octávio ficou paralisado, sua mente ainda tentando processar o que estava ouvindo. Um morcego, com olhos vermelhos e um laço azul, estava falando com ele, se apresentando como uma mercadora. Ele já havia testemunhado coisas estranhas desde que o caos começou, mas isso... era definitivamente único.
"Negócios?" Octávio finalmente murmurou, um misto de cansaço e incredulidade. "Que tipo de negócios?"
Priscila sorriu, ou pelo menos Octávio imaginou que o sorriso estivesse ali de alguma forma em sua voz. "Negócios lucrativos para ambos, é claro!" Ela desceu um pouco, flutuando até pousar em um braço de cadeira próxima. "Eu tenho acesso a itens raros, artefatos do submundo e outras preciosidades... e, quem sabe, algo que pode ser útil para você neste mundo repleto de monstros."
Ela bateu com uma de suas pequenas asas no saco pendurado nas costas. "E em troca... bem, podemos discutir os termos. Mas eu garanto que será uma troca justa."
Octávio continuava a olhar fixamente para o pequeno morcego, sentindo que havia entrado em uma negociação que poderia ser muito mais complicada do que parecia. "E o que exatamente você quer em troca, Priscila?"
Ela riu, um som leve e quase musical. "Ah, isso depende de quanto você está disposto a oferecer. Sangue, favores, informações... tudo tem seu preço no submundo, querido."
O arrepio percorreu a espinha de Octávio quando Priscila mencionou o submundo. A ideia de negociar com uma criatura vinda de um lugar tão sombrio e desconhecido não era nada reconfortante. Mas ele sabia que não podia se dar ao luxo de recusar uma oportunidade que pudesse melhorar suas chances de sobrevivência. Ainda assim, o que ele tinha para negociar?
Sangue estava fora de questão. Não havia como saber quanto sangue Priscila pediria, e Octávio não estava disposto a arriscar sua vida com isso. Informações também não pareciam uma moeda viável, já que a pequena mercadora provavelmente sabia muito mais sobre os acontecimentos do que ele. E favores? Nem pensar. Ele sabia que qualquer pedido dela poderia envolver algo perigoso ou moralmente questionável.
Preso em seu dilema, Octávio ficou em silêncio por um tempo, ponderando. Foi então que Priscila quebrou o silêncio com uma voz alegre e curiosa.
"Ah, que aroma interessante..." Ela ergueu a cabeça, farejando o ar com seu pequeno focinho. "Estou sentindo cheiro de sangue fresco. Goblins, talvez?"
Octávio arregalou os olhos por um momento, lembrando dos corpos dos goblins que ele havia matado e escondido no armário da delegacia. O cheiro deve ter vazado. Ele hesitou, o peso da profanação batendo em sua consciência. Usar corpos de criaturas, como moeda de troca... não era uma ideia que o agradava.
Mas ele precisava sobreviver. Resolvendo-se, Octávio olhou para Priscila e assentiu brevemente antes de se dirigir ao armário. A cada passo, sua mente se debatia entre o desconforto e a determinação. Ele abriu a porta do armário, revelando os corpos dos goblins.
Com um suspiro, ele pegou os corpos, sentindo o peso das criaturas e o cheiro forte de sangue que agora impregnava o ar. "Espero que isso seja o bastante para negociar," pensou, enquanto voltava para onde Priscila o aguardava, balançando as asas de forma despreocupada.
"Bem, bem, bem..." Priscila disse, pousando em seu ombro, com os olhos vermelhos brilhando de satisfação ao ver os corpos. "Nada como carne de goblin fresco para começar uma negociação. Agora sim, podemos conversar." Ela piscou para Octávio, aparentemente encantada com o rumo que as coisas estavam tomando.
Octávio colocou os corpos no chão, sem tirar os olhos da pequena criatura. Ele sabia que estava entrando em um terreno perigoso, mas se isso aumentasse suas chances de sobreviver, então não havia volta.
"Então," ele disse, firme, "o que você pode me oferecer em troca?"
Priscila deu uma olhada nos corpos dos goblins, seus olhos vermelhos brilhando enquanto avaliava a qualidade. "Pelo estado deles, eu diria que são bastante decentes, não perfeitos, mas ainda úteis. Pela qualidade, posso oferecer uma zweihander parcialmente degradada, e um peitoral de couro de Coiote Veloz," disse ela com um sorriso astuto.
Octávio, sem ter experiência com negociações desse tipo e sem ideia do valor exato dos corpos de monstros, ficou satisfeito com a oferta. Uma zweihander, mesmo que degradada, e o peitoral de Coiote Veloz pareciam bons negócios. Ele assentiu, aceitando a troca, e viu Priscila bater as asas alegremente. Com um gesto, ela fez os corpos dos goblins desaparecerem no saco que levava nas costas, como se tivessem sido sugados para um espaço invisível.
"Negócio fechado," disse Priscila, com sua voz aguda e animada. Ela então abriu o pequeno saco, de onde retirou com facilidade uma imensa zweihander de lâmina larga, com algumas marcas de desgaste, mas ainda utilizável, e o peitoral de couro de Coiote Veloz, que parecia bem leve e resistente.
Octávio segurou os itens, examinando-os rapidamente. Eles poderiam ser úteis, especialmente o peitoral, que parecia uma boa adição à sua armadura. Mas algo o deixou curioso, e sua mente começou a pensar em outra coisa além de armas e armaduras. Ele olhou para Priscila e perguntou, meio hesitante:
"Você também vende... habilidades?"
Priscila, que já estava se preparando para partir, parou de repente, e uma expressão de surpresa genuína tomou conta de seu rosto. Seu sorriso malicioso cresceu ainda mais. "Ora, ora, você é mais esperto do que parece," ela disse, batendo suas asas rapidamente, empolgada. "Sim, meu caro, eu vendo habilidades. Mas, é claro, esse tipo de troca é... mais complexo."
Ela se aproximou de Octávio, flutuando ao redor dele enquanto falava com entusiasmo. "Habilidades são valiosas, muito mais do que armas ou armaduras. Elas podem mudar o rumo de uma batalha, aumentar suas chances de sobrevivência, ou até mesmo alterar o seu destino. E por isso, o preço delas também é mais... específico."
Ela parou à frente dele, seus olhos brilhando intensamente. "Então, jovem sobrevivente, que tipo de habilidade você está procurando? Algo que melhore seus reflexos? Aumente sua força? Ou talvez algo mais... exótico?"