Chereads / Me apaixonei pelo aluno transferido / Chapter 29 - Mal entendido (parte 2)

Chapter 29 - Mal entendido (parte 2)

Diferente do seu habitual, Theodore não ficara debaixo da tabebuia próximo à fonte quando chegara na escola. Sabia muito bem que se estivesse por lá, Gabriel viria atrás de si para conversar. E no momento, não queria aumentar a dor da decepção.

Infelizmente nenhum outro lugar parecia ser bom o bastante para que tirasse um breve cochilo até que o sinal tocasse. Rondando o pátio feito uma barata tonta, Theodore seguira para dentro do prédio preferindo esperar na porta de sua sala.

Se fosse o primeiro a entrar, poderia simplesmente fazer como o dia anterior. Baixar a cabeça fingindo dormir até que o professor chegasse e aplicasse a avaliação. Assim evitaria duas pessoas que certamente iria lhe azucrinar.

De maneira alguma seu melhor amigo deveria saber que chorara por causa de Gabriel. Apesar de que era provável dele saber sobre a foto, já que comentara algo sobre namorada no dia anterior.

Encostando-se na parede, Theodore ajeitava o boné sobre a cabeça tentando esconder os hematomas de seu rosto. Quanto menos fosse visto melhor. Colocando os fones de ouvido e ligando seu Ipod, ficara a escutar as músicas do seu musical preferido, tentando arduamente fazer o tempo passar rapidamente.

Encarando seus próprios pés, se perdia em pensamentos até enxergar um par de sapatos parassem diante de si. Arqueando a sobrancelha, Theodore erguia os olhos lentamente percebendo a figura feminina baixinha com olhos brilhantes parada na sua frente.

Theodore tirara um dos fones, retribuindo o olhar da garota cuja face parecia a de sua irmã mais nova.

— Theodore, não é? — O loiro engolira em seco assentindo com a cabeça desconfiado, enquanto a garota dera um passo à sua frente alargando o sorriso — Waaah, é tão bonito! Parece um anjo.

— Desculpa, como é?

A garota dera um passo para trás, coçando a cabeça soltando um riso envergonhado.

— Me perdoe, fiquei um pouco empolgada haha. Sou Lilian, do primeiro ano.

— Ah... Certo. Queria falar alguma coisa comigo?

— Sim! — Apressou-se a garota eufórica, logo cobrindo a boca olhando para os lados verificando se alguém estava por perto. Então ela soltara um risinho baixo. — Na verdade, eu queria te pedir um favor.

— O que seria?

— Sou a representante da minha turma e a professora responsável pela minha classe falou sobre o festival que teremos depois das provas. Eu queria pedir a sua ajuda nesse festival.

Desligando a música do seu Ipod, Theodore retirou os fones e o guardou em sua mochila, dando total atenção à beta na sua frente.

— No quê exatamente precisaria de ajuda?

— Parece que o comitê desse ano quer fazer um concurso de beleza pra promover a escola durante o festival. Mas nenhum menino da minha classe quer participar. Não poderia concorrer representando a minha classe?

Piscando algumas vezes estando levemente aturdido, Theodore trocara o peso nas pernas sem deixar de olhar aqueles olhinhos brilhantes.

— Foi mal, disse que sua turma quer que eu participe?

— Isso mesmo.

— Acho que errou de pessoa, não?

— Não, é você mesmo. Por que eu erraria?

— Não é possível que uma classe inteira me queira pra esse tipo de atividade. Ou estão planejando algum tipo de brincadeira de mau gosto?

Lilian não estremecera diante da acusação. Theodore esperava que ela ficasse envergonhada ou até mesmo triste, mas tudo o que a garota beta fizera fora lhe dirigir um sorriso doce segurando suas mãos cuidadosamente.

— Eu confio em você. Na verdade insisti muuuuito para que meus colegas o aceitassem. Então pode confiar em mim também.

Era difícil argumentar com uma garota que parecia ser tão meiga e gentil. Para Theodore era mais complicado ainda quando parecia enxergar a sua pequena irmã naquela primeiranista. Só que também estava receoso em aceitar um convite daqueles.

Não havia chance alguma de que alguma classe, inteira ainda por cima, aceitasse a sua ajuda. Um tanto quanto chocante e surreal, deixando um certo ômega loiro desconfiado.

Prestes a dar uma resposta para a garota, Theodore e Lilian se surpreendiam com a mão grande que segurara o braço do loiro. Virando-se para o dono daquela mão, Theodore sentia seu coração acelerar em ver aqueles olhos escuros que passara a admirar e uma presença enraivecida.

— Finalmente te achei. — Sem receber uma resposta direta, Gabriel então fuzilava com o olhar a garota baixinha que o fitava curiosamente. — E você é?

A garota virou os olhos para Theodore e então lhe dirigiu um sorriso.

— Pode pensar um pouco antes de me responder? Eu sei que foi bem repentino, mas está tudo bem confiar em mim.

Theodore sentia a pressão sobre seus ombros quando os dois parados o encaravam ansiosamente. Queria transparecer tranquilidade, como se não importasse a chegada de Gabriel. O problema era que realmente importava. Importava muito.

Entretanto não significava que teria esquecido da conversa na noite anterior.

Abrindo um sorriso para a garota, Theodore assentia com a cabeça.

— Quero saber mais detalhes antes de aceitar alguma coisa.

— Oh, então podemos nos encontrar depois da aula. Tem uma cafeteria nova aqui perto, se preferir...

— Você não pode ir, tem o treino do time de tarde.

Theodore e Lilian encaravam surpresos para Gabriel, cuja voz soara tão ameaçadora quanto possível. O loiro arqueara a sobrancelha desviando o olhar pra baixinha.

— Time? Mas até onde sei o Theodore não faz parte do time da escola.

— É o nosso assistente.

— Então não precisa dele o tempo todo. Além disso, meu colega de classe que também faz parte do time disse que os treinos foram reduzidos essa semana por conta das provas.

Gabriel encarava seriamente a pequena garota. A atmosfera entre eles parecia tensa, apesar de Theodore sentir apenas doçura vindo de Lilian. Revirando os olhos, o ômega pigarreara ganhando a atenção da menina.

— Eu te espero na saída, então.

O sorriso de Lilian alargara igual a de uma criança. Balançando a cabeça ela soltara as mãos de Theodore e acenava para ele, correndo pelo corredor silencioso. Mesmo estando de costas ela passava a mesma impressão que Lisa. Theodore apenas sorria com tamanha coincidência.

Mas agora tinha algo pra resolver.

Empurrando a mão de Gabriel de seu braço, Theodore tornara a se encostar na parede ajeitando a mochila em suas costas. O alfa então ficara na sua frente, parecendo zangado.

— O que ela queria? Por que precisam se encontrar?

— Não importa, é um assunto meu.

Tentando fugir do seu colega de classe, Theodore fora para o lado sendo impedido por Gabriel que permanecia no seu caminho.

— Eu sei que está bravo comigo pelo que eu disse ontem, mas entenda que não foi minha intenção.

— Não é apenas o que você disse Gabriel, mas as pessoas com quem você anda não são tão ingênuas quanto imagina.

Tentando mais uma vez passar pelo alfa, Theodore era cada vez mais encurralado contra a parede.

— Foi apenas uma brincadeira. Entenda isso.

Erguendo os olhos claros para Gabriel, o loiro então desistira de fugir e cruzara os braços.

— Ah desculpe, não sabia que você preferia o tipo de amizade onde seus amigos constantemente testam a sua sexualidade só garantir que estão sendo amigos de um alfa hétero.

— Era apenas uma desculpa para me fazerem ficar com a Sadie.

— Por que você quer tanto que eu entenda? Pra quê tanto desespero pra não ter mau entendidos? — Explodira Theodore, empurrando os ombros de Gabriel o obrigando a aumentar o espaço entre eles. — Precisa da minha benção pra namorar a Mckenzie?

— Eu não quero namorar ninguém, Theodore. Eu sabia que isso poderia dar mau entendido porque você não gosta dela. Tenho noção de que falei merda pra ti ontem, e por isso estou desesperado pra que me perdoe. Não tinha a intenção de te magoar.

Lentamente o coração sangrava com os espinhos que o tornavam um prisioneiro de seus sentimentos. A maior dificuldade de se brigar com quem ama é a vontade insana de fingir que tudo está bem só pra evitar a dor. No entanto Theodore não estava disposto a sofrer novamente.

Principalmente quando nada havia acontecido entre eles.

Foram apenas momentos.

Doces momentos.

No longínquo corredor, Theodore reconhecera o cheiro do grupo de amigos que sempre infernizava a sua vida. Mesmo estando imersos em suas conversas ridículas e brincadeiras irritantes, Sadie já havia pregado os olhos em Gabriel e Theodore.

O loiro ajeitava o boné e seguiria o caminho oposto se não fosse impedido por Gabriel mais uma vez. Tendo seu braço segurado, os dois rapazes trocavam olhares dolorosos como se estivessem rompendo uma relação antiga.

— Por favor, me diga pelo menos o que esperava de mim. Você disse isso ontem, que esperava que eu fosse diferente.

— Preciso mesmo explicar isso? Me solta.

— Theodore, por favor.

— Me solta Gabriel.

— Não enquanto você não for capaz de me perdoar.

Puxando o braço tentando se soltar, Gabriel o mantinha preso o puxando para perto de si. Seus olhos castanhos tristonhos não abandonavam as pérolas azuladas, buscando compreensão e conexão. Contudo Theodore não estava preparado para aquela conversa.

Alias, não queria conversar.

Precisava de um tempo pra acalmar o dolorido coração que tanto chorava por mais uma decepção.

— Ele mandou você soltar ele, seu imbecil!

O grito zangado veio acompanhado de um soco no estômago de Gabriel. Theodore assustou-se com a chegada repentina de seu melhor amigo, que jogara para si sua mochila. O alfa fora obrigado a soltar Theodore, retorcendo de dor.

— Odeio dizer isso, mas eu te avisei Theo. Esse cara não presta.

Levantando-se com dificuldade, Gabriel suspirava ignorando a presença de seu capitão na sua frente. Apenas olhava para o ômega loiro que o encarava de olhos arregalados.

— Apenas me escute primeiro, eu sei que foi mancada o que eu disse... Mas dá pra sair do meu caminho? — Resmungava Gabriel quando Nicolas o empurrara para longe de Theodore.

— Eu te avisei, moleque, pra ficar longe do Theo.

Gabriel revirou os olhos dando alguns passos em direção de Theodore. Para impedir tal aproximação, Nicolas fechara os dedos em punho acertando um soco no aluno transferido. O impacto do soco surtira o efeito esperado, no entanto causara uma consequência.

Vindo em uma correria intensa ao longo do corredor, uma pessoa semelhante à uma besta solta agarrara o colarinho de Nicolas o empurrando contra a parede e lhe desferindo socos. Milles parecia prestes a perder o controle de sua raiva, como se há tempos ansiasse por aquela briga.

No entanto, não fora o único.

Parecendo despertar os sentimentos engolidos à força, Nicolas chutava a barriga de Milles forçando sua soltura, e assim os dois começaram a troca de socos no meio do corredor.

Theodore se agachara ao lado de Gabriel puxando seu braço para ajudá-lo a se levantar.

— Você está bem?

— Nada demais, vou ficar bem...

Olhando em volta, Theodore percebia os demais estudantes formando uma roda em torno da briga, como se assistissem um espetáculo do circo. O cheiro de Milles era exalado fortemente, se espalhando por todo o corredor disfarçando o sutil aroma adocicado de um ômega. Engolindo em seco tentando buscar alguma saída, Theodore suspirara aliviado quando os inspetores se intrometiam entre os estudantes para chegar até a briga.

Misturando-se entre os demais, Theodore arrastava Gabriel na direção oposto da dos inspetores.

— Por que estamos fugindo?

— Se quiser ir pra diretoria eu te levo pra lá.

Gabriel olhara para Theodore percebendo sua seriedade. Parecia tenso e nervoso, apesar de sua face estar tão pálida quanto de costume destacando seus hematomas. Ainda assim ele parecia bonito.

Pela primeira vez o via usando um boné, e os fios dourados que escapavam do boné formavam pequenos cachos. Com aquela proximidade entre ambos, Gabriel se dera conta de que Theodore era realmente muito bonito.

Um pensamento que o fizera sorrir de canto.

— Pensei que não quisesse falar comigo.

— Vou te ajudar, mas não significa que eu tenha esquecido o que fez.

Os dois rapazes trocaram olhares antes de entrarem na pequena sala de enfermaria.

— Então vai escutar o que eu tenho pra dizer?

— Tenho como fugir de você?

Gabriel abrira um largo sorriso ao se lembrar da conversa que tiveram um dia desses, onde falaram a mesma coisa. Reforçando a sua resposta, o alfa aproximou seu rosto ao de Theodore sem desviar seus olhos e sem desfazer o sorriso de sua face.

— Não mesmo.