Os dois estudantes briguentos bufavam diante do silêncio da coordenadora da escola. A mulher de cabelos impecavelmente penteados e bem vestida tamborilava os dedos sobre a mesa, espreitando os olhos para os dois garotos surrados, que evitavam se olhar.
— Quando começo a pensar que finalmente não os veria em minha sala, vocês fazem questão de aparecer. — Murmurava a mulher por fim, puxando uma pasta de capa escura para folear algumas páginas até que finalmente começasse a escrever algo nela — Bem na semana de provas. Então, qual o motivo da briga dessa vez?
— Não suporto ele, isso serve?
A mulher erguera os olhos friamente para Milles, o repreendendo silenciosamente. No entanto, o loiro balançara a cabeça mantendo o sorriso ladino.
— Então você irá bater todas as pessoas que não suporta? Devo avisar à polícia que quando se formar terão que lidar com você?
Milles bufara revirando os olhos, e a coordenadora logo virara a cabeça fitando o outro culpado pela aquela briga. Nicolas não havia a encarado desde o momento em que entrara na sala e se sentara. Ficara mudo o tempo todo, engolindo o sarcasmo de Milles e esperando o castigo que receberia da coordenadora.
Contudo, seu rosto estava prestes a ganhar um buraco de tanto que aquela mulher o encarava esperando. Parecia que poderia fazer aquilo o dia inteiro, até que o capitão desembuchasse o motivo da briga. Suspirando derrotado, ele a olhara de canto.
— O que foi?
— Quero saber o motivo da briga. Se há algo na escola que tenha causado isso, devo tomar as providências, não acham?
De braços e pernas cruzadas, Nicolas inclinou-se ligeiramente para frente.
— Que tal ensinar aos novos estudantes sobre respeito por quem é diferente deles?
— Há! Tá de sacanagem com a minha cara. Professora, isso aí é ciúme, deveria proibir namoros na escola.
Finalmente Nicolas se virou para Milles com um sorriso debochado em seu rosto.
— E você irá sobreviver? Um galinha feito você seria o primeiro a quebrar a regra.
— Então o motivo da briga foi por motivos pessoais? — Intervira a coordenadora, entrelaçando os dedos sobre a mesa. — Brigaram devido a alguma garota que os dois gostam?
— Professora, eu tenho bom gosto, assim como as meninas com quem eu saio. Esse aí nem de garotas gosta.
Piscando algumas vezes, a coordenadora olhara de canto para Nicolas.
— Se a senhora fizer um exame médico nas meninas que gostam do Milles, irá perceber que a massa cinzenta delas é defeituosa.
Largando a caneta na mesa para apoiar os cotovelos sobre a mesa, a coordenadora tornara a lançar seu olhar frio sobre os dois garotos. Imediatamente eles se calaram, ajeitando-se na cadeira e tornando a se ignorarem virando o rosto para lados opostos.
— Irei perguntar pela última vez, qual o motivo da briga?
— Ele deu um soco no meu amigo primeiro. Só porque o Biel estava conversando com a esposa dele.
A coordenadora, então, virara a cabeça para Nicolas.
— Há mais pessoas envolvidas nisso?
Engolindo em seco, o capitão negara com a cabeça tornando a cruzar os braços. Se mencionasse o nome de Gabriel não importaria que a peste do garoto também recebesse alguma punição, no entanto, isso poderia afetar Theodore de alguma forma. E se a coordenadora visse o estado de seu amigo...
Bem, no final de contas tudo se tornaria grande demais.
Baixando seu tom de voz e os braços, Nicolas continuara a negar com a cabeça.
— Eu que comecei, se tiver alguma punição, aceitarei obedientemente.
— Olha ele pagando de bom moço.
A coordenadora tornara a escrever algo na pasta, a virando na direção de Nicolas lhe estendendo a caneta.
— Os dois receberão a punição. Conversarei com o professor Marcos para discutir a situação. Por ora, receberão o primeiro aviso do ano. — Virando-se para Milles, a coordenadora espreitara os olhos — Já sabem, que com três avisos levarão suspensão.
— Meu pai não vai gostar nada disso. — Murmurava o loiro.
— Então é melhor começar a se comportar na escola, Mckenzie.
Os dois garotos tiveram de assinar seus nomes ao lado do primeiro aviso de briga, e então foram liberados pela coordenadora. Nicolas se levantou saindo da sala ignorando por completo os demais presentes.
Queria apenas voltar para a sala de aula, onde pudesse ficar sozinho e se acalmar. Mais tarde conversaria com seu melhor amigo, e então poderia resolver aquele problema. Já esperava que aqueles dois fossem ter alguma discussão por conta da foto, pressentira isso no instante em que a vira publicada na comunidade da escola.
A primeira coisa que Nicolas pensara fora que seu melhor amigo ficaria de coração partido. De novo. Justamente para evitar tamanha confusão que havia dito para o ômega ficar longe do aluno novo. Se manter amigo da pessoa que gosta, é pedir para se apaixonar cada vez mais seguindo um caminho sem volta.
Era questão de tempo até que Sadie pusesse as mãos no garoto novo.
— Ei tampinha, a gente ainda não se resolveu!
Parando no corredor, Nicolas virou-se para Milles. O seu maior problema era um certo alfa de um metro e oitenta que aparecia sempre nos piores momentos. Um irmão, e agora amigo, muito protetor.
Rosnando baixo, Nicolas cruzara os braços petulante sem baixar a cabeça para o olhar intimidador do seu colega de time.
— Quer voltar pra coordenação então?
— Até quando vai ficar com essa atitude? Se liga cara! Tem alguma coisa contra o Gabriel?
— Várias. Por quê?
— Qual é? Vai me dizer que é ciúmes da sua esposa.
— Não espero que você entenda, Milles. Gente como você, que adora pular de uma garota para outra achando ser o fodão, não tem capacidade de entender o que gente normal sente.
— Tá tá, pinscher, continue a latir. Só deixa de morder o calcanhar do meu amigo e eu te deixo em paz junto com sua esposa.
Uma veia saltara da testa de Nicolas com a súbita onda de raiva que vinha em sua garganta. Engolindo-a para evitar uma nova confusão, o baixinho se aproximara lentamente de Milles, fuzilando-o com o olhar.
— Esposa aqui esposa ali. Está triste que a nova presa da sua irmã está todo amigável com o meu Theo?
— Não encha a boca pra falar da minha irmã.
— Oh... Então é você quem está com ciúmes do seu amigo e não ela? Pensei que era mais leal, mas vejo que é bem egoísta.
— Não sou como você, Nicolas.
Com os rostos aproximando-se ameaçadoramente, como dois cães prestes a brigar, os rapazes rosnavam um para o outro.
— Exatamente Milles. Diferente de você e do seu maldito amiguinho, eu e Theodore não temos medo e nem vergonha de gostar de outro cara. — Arrumando sua postura para se afastar, Nicolas abrira um largo sorriso débil. — Não se preocupe com o teu rabo, ninguém quer te foder.
Sem dar chance de uma resposta, Nicolas dera as costas e seguira pelo corredor silencioso até a sua sala de aula. Deixado para trás, Milles rosnava alto bagunçando os próprios cabelos tentando conter sua fúria.
— Baixinho maldito.