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Chapter 34 - Beijo na quadra de vôlei

— Cansado, senhor representante?

O toque da garrafa gelada em seu pescoço quente assustara Gabriel, virando a cabeça para trás encontrando aquelas presas à mostra em um sorriso angelical. Segurando a garrafa para beber um gole, o moreno suspirava pesado ao se levantar do chão.

— Só arrumam pra minha cabeça.

— Pode ser divertido, não acha?

— Participar de um concurso? Milles também vai participar, provavelmente 70% dos votos vão pra ele.

Theodore rira concordando com a cabeça.

— Vale a pena tentar do mesmo jeito. Até eu vou participar.

Bebendo um gole da água, Gabriel o cuspira imediatamente quase se engasgando. Sua reação divertira Theodore, que ria baixo.

— Você? Por quê? Mas como?

— Fui requisitado para participar. Talvez por ser o seu amigo eu tenha me tornado popular.

— Há! Até parece. Eu é quem deveria dizer isso, já que sou novo por aqui.

— Não é mais novo, já é de casa. Está no time de vôlei, anda com os descolados, as garotas já o colocou na lista dos meninos mais bonitos da escola.

Gabriel não escondera o sorriso.

— Está bem informado sobre minha reputação, por acaso está me espionando?

As pontas das orelhas de Theodore se avermelharam, tendo o loiro virando a cabeça pra fugir do seu olhar.

— Claro que não.

A conversa logo fora interrompida com a chegada de Nicolas com seu olhar vazio e sonolento. Com uma toalha em volta do pescoço, segurando as duas pontas, o capitão fuzilara Gabriel com o olhar.

— Parece uma sombra que fica perseguindo.

— Olá capitão.

— Sem brigas. — Pedira Theodore, dando um leve cutucão no braço do melhor amigo. — Já não basta o que você aprontou ontem.

— De nada!

— Já disse que não te pedi ajuda. Pare de ficar arrumando briga sem sentido.

Nicolas não respondera, apenas revirou os olhos se mantendo do lado de Theodore. Gabriel guardara aquela informação, provavelmente os dois amigos teriam discutido sobre a briga do dia anterior.

A chegada do capitão era um claro sinal de que Gabriel não poderia ficar sozinho com o ômega. Sinal esse que fora devidamente, e orgulhosamente, ignorado pelo atleta.

— Então, sexta temos prova de história, não é?

— É a última desse trimestre. — Afirmava Theodore.

— Podemos estudar juntos amanhã depois do treino? Percebi que você é bom nessa matéria, enquanto eu sou deplorável,.

Os olho claros de Theodore ganharam um brilho ao mesmo tempo que o sorriso tímido surgia em seus lábios. Ele tentara conter sua euforia, apesar de ser nítido, fingindo ser um convite normal vindo de um amigo.

Gabriel achara aquela reação adorável.

— Por mim tudo bem. Podemos nos encontrar na biblioteca então.

— Marcado então.

— Bielzinho, por que ainda não foi se trocar cara? Oh... Foi mal, não vi que estava mal acompanhado.

A quarta presença fizera Nicolas revirar os olhos e Theodore encolher os ombros. Gabriel dera um passo para o lado parecendo dar espaço para Milles, porém sua intenção fora dar um leve afago nas costas de Theodore para acalmá-lo.

Os dois rapazes trocaram olhares antes de Gabriel sorrir para o seu amigo de time.

— Estava falando com Theodore sobre o concurso. Mas você também não se trocou ainda.

— Eu ia, mas vi vocês conversando e pensei que poderia precisar da minha ajuda de novo.

Milles espreitava os olhos para o capitão, que por sua vez bufara se mantendo em silêncio. Uma atitude um tanto quanto estranha, percebia Gabriel, já que estava acostumado em ver os dois discutindo feito dois cães nervosos.

— É uma conversa amigável, apenas isso.

— Então eu vou indo Gabriel — Avisava Theodore, prestes a sair. A gente se vê depois.

— Espera, então está marcado na biblioteca, certo?

Theodore corara e assentira com a cabeça, sorrindo belamente para Gabriel. Milles notara a interação e então começara a rir apontando para o loiro.

— Qual é a graça palhaço? — Questionava Nicolas irritado.

— Tu ta afim do Biel. — Ria Milles continuando a apontar para Theodore.

O loiro paralisara no lugar, ficando pálido e sério por seu segredo parecer ter sido revelado pela última pessoa que deveria saber. Gabriel arqueara a sobrancelha pro amigo.

— Mas de novo essa bobagem, Milles?

— Não, não, olha a carinha dele. Eu estou certo, ele tá afim de você, Biel.

Virando a cabeça para o amigo, Gabriel percebia o olhar vidrado de Theodore. Uma reação estranha percebia o alfa, principalmente pelo outro desviar os olhos e baixar a cabeça sem dizer uma palavra. Sua reação apenas aumentava a risada de Milles, que batia palmas todo alegre.

— Puta que pariu! É sério? Hahahaha.

— Por que raios o Theo iria gostar do seu amigo? Ele tem bom gosto.

— Ah tampinha de garrafa, não adianta tentar proteger a sua esposa que está doida pra pular a cerca.

Gabriel ainda estava surpreso fitando Theodore, que não ousara lhe olhar nos olhos. Nunca havia pensado na possibilidade de seu amigo gostar de si. Na verdade, imaginava que havia uma linha traçada entre eles, limitando-os de se aproximar de maneira a permitir que algo assim acontecesse.

Ora essa, Theodore pedira que não o fizesse se apaixonar. Foram essas as suas palavras no dia anterior, na enfermaria. Isso não deveria significar que ele não gostava? Duvidava muito que Theodore estivesse gostando de si. Não poderia ser.

Não poderia.

Não fazia sentido.

Eles eram dois garotos. Dois homens. Não deveria, certo?

Então... Por que seu coração batia tão acelerado, como se uma onda de felicidade inundasse o seu peito?

Porém o ômega soltara um riso nervoso, respondendo com a voz trêmula.

— Isso é um mau entendido. Gabriel é apenas um amigo.

— Não é não... Tá escrito na tua testa que tu quer ser fodido pelo Biel. Olha isso, ele tá ficando mais vermelho! Uaaau, não sabia que tinha pensamentos tão sujos, pequeno Theo.

Nicolas intervira empurrando o ombro de Milles.

— Está passando dos limites, seu pedaço de bosta.

— Não sou eu quem está passando dos limites, seu hipócrita. Veja só a carinha da sua esposa, está todo envergonhado... Com certeza tem sonhos eróticos com Gabriel.

A mente de um certo alfa se encontrava em uma verdadeira bagunça. Theodore sonhava com ele? Que tipo de sonho? Por quê? Será que realmente gostava de si?

Não... Theodore não iria gostar dele.

Os dois tinham uma amizade como qualquer outro.

— Está enganado, Milles. Gabriel é apenas amigo, nada mais.

Como seria uma facada no peito? Seria igual a sensação que aquelas palavras causaram em Gabriel?

— Aposto que quer ser beijado pelo Biel — Milles continuava provocando, sem que a diversão desaparecesse de sua face. — Aliás, me diga, como é beijar um cara?

— Por que, tá a fim de beijar o Theo?

— Estou apenas curioso — Milles erguia as mãos em sinal de rendição. — Aposto que deve se imaginar beijando vários caras...

— Não. Eu não imagino — Respondia Theodore erguendo os ombros com coragem. Aos poucos a cor voltava para seu rosto, parecendo ter controle de sua consciência, ao contrário de Gabriel — Não beijaria qualquer boca.

— Oh veja só ele ainda é exigente. Diga, quem mais você já desejou beijar, pequeno Theo.

— Vamos embora Theodore, não dê palco pra palhaço.

Nicolas segurara o braço do amigo tentando puxá-lo, porém Theodore permanecera no lugar encarando Milles de volta sem afugentar.

— Você com certeza nunca fez parte da lista.

— Então tem uma listinha... Que fera indomável.

Milles ameaçadoramente aproximou-se de Theodore, criando uma disputa de olhares entre os dois. Nem Nicolas e nem Gabriel conseguiam acompanhar a conversa daqueles dois, cujas entrelinhas eram carregadas de ofensas um para o outro.

— Por que se importa? Está com medo de que eu seduza o seu amigo?

— Apenas estou me perguntando como você se sentiria se um outro cara viesse e te beijasse do nada. Acho que isso iria te ensinar o quão perigoso você é.

— Perigoso? Eu? Por que está com medo de também gostar de homens? Ou... De ficar afim de mim?

Pela primeira vez Gabriel via Theodore revidar Milles daquele jeito, peito a peito de queixo erguido. Sem medo, sem fugir, apesar da constante tentativa de Nicolas puxá-lo para irem embora. Só que infelizmente a ousadia do loiro parecia enfurecer Milles.

— Deve se achar irresistível, hein Theodore. Mesmo que me beijasse nunca eu correria atrás da sua bunda.

— Tente.

Milles detestava ser desafiado, Gabriel sabia disso já que seu amigo sempre fazia questão de mostrar que era bom em tudo. Fazer alguém perder o desafio elevava sua moral e o fazia se sentir um verdadeiro vencedor. Por isso nunca fugiria.

Não somente Gabriel sabia, como Nicolas também conhecia aquele lado do jogador alto. E ambos os rapazes se desesperaram quando Milles segurou o queixo de Theodore o erguendo, aproximando os rostos prestes a beijá-lo.

Um beijo que não seria afetuoso.

Não haveria desejo por nenhuma das partes.

Apenas um querendo derrotar o outro.

Ainda assim, Gabriel sentira aquela sensação estranha banhar seu coração. Seus olhos castanhos ficaram frios e toda a felicidade de outrora ficara de lado para dar lugar à cólera que surgia repentinamente.

Não queria que Theodore fosse beijado na sua frente.

De maneira alguma.

Imediatamente Gabriel fora atrás de Theodore, cobrindo sua boca com a palma da mão e lançando os olhos frios para o seu amigo alto. Milles erguera os olhos para Gabriel, sentindo um arrepio na espinha diante da atmosfera tensa que pairava o alfa novato.

Usara força demais, puxando Theodore a se encostar em seu peitoral mantendo-o preso, sem libertar sua boca.

— Não ouse fazer isso, Milles.

— Qual é? Acha mesmo que eu ia cair de joelhos pra ele?

— Não me faça repetir.

Milles engolia em seco. Parecia ver um assassino na sua frente, prestes a apontar a faca no seu pescoço para decepá-lo friamente. Entretanto o jogador não perderia a compostura como da última vez, abrira um sorriso ladino como se brincasse com a situação.

— Estava apenas curioso pra saber como ele se sentiria em ser beijado por um cara que odeia, nada demais.

— Ah, então você quer saber como é? — Rosnava Nicolas ao soltar o braço de Theodore para fitar Milles. — Tudo bem, te farei entender como é.

Sem espaço para reações, Nicolas aproximou-se de Milles retirando a toalha em torno de seu pescoço para jogá-la em volta do pescoço do loiro alto. Segurando as duas pontas da toalha o capitão fizera força para puxá-la, obrigando o outro a se abaixar para que seus rostos ficassem na mesma altura.

E assim, tão ligeiro quanto possível, os lábios de Nicolas se encontraram com os de Milles em um singelo e demorado selar. A surpresa não fora apenas do jogador beijado, como também dos outros dois que arregalavam os olhos ficando boquiabertos pela atitude tão repentina.

Nicolas era alguém vingativo quando tinha energia. Certamente havia muita vontade de esmagar Milles pelos dois anos que se conheciam e da constante briga que tinham. Então não se importaria de esmagar a consciência do rapaz ao brincar um pouco com ele.

Certamente Milles pensaria duas vezes antes de mexer com os dois amigos gays novamente.

Os lábios de Nicolas estavam úmidos abraçando os de Milles com certa força. Entreabrindo os lábios ele passara a ponta da língua sobre o lábio inferior do mais alto, sugando-o suavemente e então mordiscá-lo com força a ponto do gosto de ferro entrar na boca do capitão.

Milles não respondia, nem mesmo se quisesse poderia fazê-lo. Nicolas segurava com força a toalha, mantendo-o preso naquela posição. Além disso, os lábios macios e úmidos do capitão sugavam dos seus com provocação.

Não sabia o que fazer.

Então, Nicolas se afastara abrindo um sorriso ladino digno de um vencedor daquela disputa. Soltando a toalha para retroceder alguns passos, o baixinho erguia o queixo petulante.

— Agora sabe como é ser beijado por outro cara. Espero que não tenha sonhos eróticos comigo, grandalhão.

Nicolas deixara a quadra de vôlei com a vitória em suas costas. Theodore piscara algumas algumas vezes, logo virando-se para Gabriel despedindo-se silenciosamente antes de correr atrás do amigo.

Já o moreno olhava para o próprio amigo, que limpara o filete de sangue escorrido em seu queixo com o polegar. Imaginando a confusão que estaria na cabeça de Milles, o puxou pelo braço para o vestiário antes que ele pudesse explodir e correr atrás de um certo baixinho para matá-lo.