Quando um ômega fica nervoso, seu corpo exala feromônios. O mesmo acontece com as demais outras emoções com diferentes hormônios sendo liberados ao mundo, como uma mensagem secreta. Todos sentiriam o seu cheiro e compreenderiam que algo está passando na mente do ômega, além de atrair alfas para si.
Sendo assim, um ômega tinha que tomar muito cuidado quando ia estudar ou trabalhar. Ficar em lugares cheio de pessoas, independente de suas classes, poderia causar um verdadeiro inferno quando os feromônios fossem liberados. É indicado que a pessoa tome medicamentos supressores a fim de controlar tais hormônios.
Garotas ômegas sofriam, e muito, por conta disso. Desde os abusos até o preconceito com sua vulnerabilidade.
Garotos ômegas então sofriam o dobro.
Theodore engolia o segundo comprimido para controlar os feromônios, pois não conseguia se acalmar de maneira alguma. Para piorar era um misto de emoções que até reviravam o seu estômago. Estava confuso com o pedido repentino de Gabriel. Também se encontrava ansioso para que chegasse o fim do dia. Havia medo de que algo desse errado e a amizade fosse perdida, mas também havia a euforia de finalmente beijar o cara que amava.
Nunca ficara em um estado tão catastrófico assim em sua vida, nem mesmo quando tivera a primeira relação com Jake. A calma simplesmente era inviável, sua mente trabalhava mil por hora sem descanso. A cereja do bolo era se preocupar com o próprio cheiro sendo exalado em uma sala de aula fechada.
Para evitar riscos desnecessários, optara por tomar a segunda dose do medicamento naquele dia.
Não conseguira olhar para Gabriel pelo restante da manhã. O coração batia tão acelerado e incontrolavelmente, que fora necessário recorrer à distração para ir ao mundo da lua. Sorrateiramente pegara seu Ipod e os fones de ouvidos, colocando na soundtrack de High School Musical. Enquanto ouvia as primeiras notas, continuara a copiar matéria do quadro esquecendo-se por completo do que acontecia em sua volta.
Ou melhor, esquecendo da presença ao seu lado até o intervalo.
— Por que estamos comendo aqui fora?
Nicolas virou-se para o amigo e suspirou pesadamente enquanto mordia o salgado comprado.
— Não tô afim de ficar no mesmo teto daquele imbecil.
Arqueando a sobrancelha, o ômega sentou-se no gramado abaixo da tabebuia esticando as pernas, fuzilando seu melhor amigo com o olhar. Desde o ocorrido na quadra Nicolas não abrira a boca para comentar. Theodore nem tivera coragem de questioná-lo.
— Tá sabendo que vai ver Milles no treino de tarde, não é?
— Como poderia quando acaba de me lembrar?
Virando o sanduíche natural embalado em sua mão, Theodore suspirava em não sentir apetite naquela manhã. Estava nervoso demais para comer alguma coisa. Percebendo estar prestes a pensar no pós treino, o loiro pigarreara tentando mudar seus pensamentos. Mas sua boca liberara palavras que também deveriam permanecer presas em sua cabeça.
— Por que fez aquilo? Não tem medo que alguém descubra, ou que Milles saiba...
— Então eu deveria deixar aquele abutre te beijar? — Retalhara Nicolas com frieza — Desculpe por me intrometer, nesse caso.
— Não foi isso o que eu quis dizer, sabe disso. Além disso, Gabriel também estava lá.
— O que te faz pensar que o abutre júnior te ajudaria? Oh, foi por ele ter coberto sua boca? — Nicolas espreitara os olhos cansados para o amigo, percebendo as pontas de suas orelhas ficarem vermelhas. Revirando os olhos, Nicolas tornara a comer — Está fazendo papel de trouxa.
— Por quê?
— Você gosta tanto dele, que se aquele cara pedir uma borracha emprestada você vai querer entregar uma caixa inteira. Vai ficar todo contente só por ele te dar atenção, brincando com seus sentimentos.
Theodore engolira em seco com tamanha acusação, que não fugiria da realidade. Cada ação de Gabriel era motivo para um suspiro apaixonado do ômega, isso já era rotina. Só que as coisas não eram bem assim. Nicolas não saberia que o alfa estava curioso sobre beijar outros garotos.
Bem, se soubesse então seria um motivo à mais para chamar Theodore de trouxa.
— A diferença entre eu e você é justamente por eu gostar de alguém, enquanto você beijou alguém por sei lá qual motivo.
— Raiva, impaciência, instinto assassino, salvando meu melhor amigo, chame do que preferir.
Afagando o ombro de Nicolas, o ômega obrigara seu melhor amigo a encará-lo para que pudesse lhe dar um sorriso amigável.
— Não se arrisque por minha causa. Diferente de mim, você é mais discreto e eu prefiro que continue assim. Se Milles descobrir, eu darei um jeito de calar a boca dele.
— Deixe que descubra, não estou escondendo por medo das bostas que saem da boca dele. Faço apenas pra permanecer no time. Mas... Valeu.
Alargando o sorriso, Theodore se sentira aliviado em ver um pequeno sorriso preguiçoso no rosto de seu amigo. Logo após comerem seus lanches, Nicolas deitara a cabeça no colo do ômega e então tirara um breve cochilo aproveitando a brisa suave do início de outono.
Encostando a cabeça na tabebuia florida, Theodore tornara a colocar seus fones de ouvido para escutar música e aproveitar aquele momento sereno. O quanto conseguisse se manter calmo seria melhor. Mas graças ao medicamento que tomara à mais, o sono lhe abraçara forçando seus olhos a se fecharem de cansaço.
Fechando os olhos e tendo sua cabeça tombando para o lado, o ômega caíra no sono imediatamente. Não sonhara com nada, ao menos que se recordasse, mas sentia seu corpo todo vibrar como se a alma saísse enquanto dormia. Um descanso bem proveitoso que fora interrompido por um Nicolas desesperado para acordá-lo, já que teriam perdido uma aula inteira depois do intervalo.
Retornando para a sala de aula sob os olhares curiosos de seus colegas, Theodore até se esquecia do motivo de seu nervosismo. Ainda sentia muito sono e aproveitara as últimas aulas do dia para dormir. Depois copiaria a matéria de alguém, seus olhos estavam cansados demais pra ficarem abertos. E as fórmulas de química não ajudavam a mantê-lo desperto.
Cruzando os braços pra deitar a cabeça, o ômega adormecera pela segunda vez.
O sinal findando as aulas matutinas geravam burburinhos entre os estudantes que deixavam a sala. Theodore acordara com a bagunça de seus colegas, bocejando preguiçosamente ao perceber que somente ele e Nicolas, que também dormira, restavam.
Levantando-se de sua carteira para ir até o outro lado da sala, chutara sem muita força a cadeira onde Nicolas dormia.
— Nico, acorda. Vamos... — Recebendo apenas resmungos como resposta, Theodore passara a chacoalhar os braços do amigo com força até ver seus olhos cansados se abrirem. — Nico o treino, você está atrasado.
Imediatamente os olhos escuros se arregalaram de susto, checando a hora no relógio de pulso.
— Puta merda, dormi demais. — Rapidamente o baixinho pegara a mochila jogando seu material dentro dele, fechando o zíper — Vou indo na frente, se não o técnico me mata.
— Te vejo depois...
Theodore assistia o amigo sair em disparada pelo corredor como se sua vida dependesse da velocidade dos seus pés. Com as mãos no bolso da calça social preta, o ômega abria um ligeiro sorriso ao se lembrar que também deveria se apressar para ir ao ginásio.
E então um estalo fizera em sua cabeça.
Depois do treino deveria ir para atrás da escola esperar por Gabriel.
Pois eles iriam ficar.
Tanto esforço que tivera para se esquecer daquele pequeno detalhe jogados ao lixo, o coração do ômega loiro voltara a bater acelerado. Ainda não havia guardado seu material, e entre as folhas do caderno encontrara um dos bilhetes que havia trocado com Gabriel.
— Será que não foi um sonho?
Levando a mão ao peito, sentia o músculo cardíaco trabalhar intensamente. Suas pernas pareciam se transformar em papel sendo incapaz de mantê-lo em pé quando recordara o pedido inusitado de mais cedo.
Pelos céus, Gabriel queria ficar com Theodore.
Espera, não ficar seriamente. Iria ajudar o seu novo amigo a sanar uma curiosidade sobre como era beijar outro garoto. O alfa ficara confuso por causa de Nicolas.
Não é?
Independente do motivo de Gabriel ter feito o pedido, nada mudava o fato de que Theodore aceitara.
Iriam ficar.
Como deveria proceder? Um selinho seria o suficiente? Não poderia ser ousado e beijá-lo com a língua... Oh céus, que calor era aquele?
Cobrindo a boca com o dorso da mão, Theodore andava de um lado para outro sem tirar da cabeça a lembrança do dia em que quase se beijaram. Naquela mesma sala de aula, em um dia chuvoso e uma melodia romântica soando pelo fone de ouvido compartilhado.
Não seria a mesma coisa. Definitivamente não.
Diferente daquele dia, os dois garotos estariam bem conscientes do que iria acontecer. Queriam que acontecesse.
Pelos céus, deveria manter suas mãos longe de Gabriel e apenas dar um selinho? Seria o mais seguro, não é mesmo?
Bagunçando os cabelos, Theodore resmungava se sentando na carteira vazia e apoiando os pés na cadeira. O desejo crescia cada vez mais em seu peito tornando-se incontrolável. Se tocasse qualquer parte do corpo de Gabriel, o ômega sabia que seria incapaz de controlar seus impulsos.
Queria aquele alfa para si.
Queria beijá-lo até ser capaz de sentir seu gosto.
Queria sentir as mãos quentes de Gabriel tocando seu corpo.
— Se acalme... Se acalme...
Tentando respirar fundo o ômega sentia o próprio cheiro se espalhar intensamente pela sala de aula. Arregalando os olhos claros em desespero, abraçou os próprios braços tentando, inutilmente, acalmar o próprio corpo.
Deveria ir para a quadra para cumprir seus deveres como assistente. Mas ir naquela condição era impossível. Havia tomado dois comprimidos e mesmo assim seu cheiro escapava, isso geraria uma bagunça na quadra. Precisava se acalmar.
Escolhendo ficar na sala de aula, o ômega erguera a cabeça para a janela ansiando por uma brisa que pudesse aliviar o cheiro intenso e adocicado. E ali permanecera imóvel até que o celular começasse a apitar com a chegada de mensagens.
Não lera nenhuma delas, apenas atentava-se com as horas. Para ajudar o tempo a passar, retirou da bolsa o livro "Eclipse" da saga dos vampiros para ler. Abriu na página marcada e se permitiu entrar no mundo da fantasia literária.
Depois de um bom tempo Theodore estava mais calmo, conseguindo descer da carteira para guardar seu material e deixar a sala de aula.
Arrastara seus pés pelos corredores tomando todo o cuidado em não ser visto. Porém a escola parecia deserta para o seu alívio. Quando deixara o prédio principal, dera a volta pelo muro da escola estando no jardim mais isolado. Longe da entrada da escola, ali era o lugar dos casais.