Chereads / Me apaixonei pelo aluno transferido / Chapter 46 - Conversa entre alfas

Chapter 46 - Conversa entre alfas

No domingo de manhã os jogadores se encontravam em frente da escola tentando conter a empolgação de início de campeonato. Mesmo que o céu estivesse nublado bloqueando o sol, nada impediria a empolgação daquele grupo de jovens. Especialmente um alfa que participaria de sua primeira competição oficial.

Gabriel segurava firmemente a alça de sua bolsa esportiva enquanto seus olhos iam de um lado para outro procurando por alguém. Mesmo que transparecesse tranquilidade, ela não existia de maneira alguma em seu interior.

Desde sexta-feira, os dias de Gabriel foram um verdadeiro inferno. A lentidão para o tempo passar judiava juntamente com as lembranças de doces lábios sobre os seus. Queria poder conversar com o ômega, porém ele não entrara no MSN naquele sábado.

Ele fugiria de si de novo?

Será que sua amizade ficaria balançada por conta do que aconteceu?

Se acontecesse isso, o que Gabriel deveria fazer?

— Está saindo fumaça da sua cabeça.

Virando a cabeça sobre o ombro, Gabriel estendia a mão pra cumprimentar Milles.

— Primeira partida que jogo, dê um desconto.

— Duvido que o motivo de tanta tensão seja o jogo.

Escondendo as mãos no bolso de sua blusa moletom, Gabriel soltara um riso soprado pro amigo.

— E qual seria o seu palpite?

Passando o braço em torno do ombro do alfa, Milles abraçava seu amigo e espreitava os olhos para o grupo de jogadores conversando em frente ao ônibus.

— A loira do banheiro não está aqui. E provavelmente não virá.

— Pare de chamar Theodore desse jeito. — Rosnava Gabriel fazendo careta — Além disso, por que ele não viria? É o assistente do time.

— Sabe muito bem o motivo. Mas você não me contou como foi sexta à tarde...

A malícia transbordava na fisionomia de Milles. Certamente ele saberia, e muito bem, como fora aquele pequeno encontro. Queria apenas que Gabriel admitisse alguma coisa.

Antes que o fizesse, o alfa loiro farejava algo no ar virando-se para trás avistando a chegada do capitão sonolento. Nicolas escondia-se em seu moletom e boné, ignorando as pessoas com seus fones de ouvido e seguindo direto para o professor antes de subir no ônibus.

— Parece que alguém levantou com o pé esquerdo hoje.

— Tenho a impressão de que sempre foi mau humorado. — Percebendo que o amigo encarava intensamente Nicolas, o alfa moreno não reprimia o sorriso quando cruzara os braços — Qual tinha sido a pergunta mesmo?

Mostrando o dedo do meio, Milles arrancara um riso de Gabriel. Não precisaria questionar como foi quando ele mesmo já havia provado aquelas sensações. Apesar de haver diferença entre as situações. Gabriel e Theodore se beijaram por vontade própria, enquanto Milles fora surpreendido em meio à sua arrogância.

— Entrem no ônibus meninos, já estamos indo.

Os estudantes formaram fileira e entraram no ônibus sentando-se em duplas nas poltronas. Procurando pelo lugar mais afastado da bagunça do fundão, Gabriel estava prestes a escolher as primeiras fileiras quando uma mão sobre seu ombro o empurrara para a última fileira.

Sendo obrigado a se sentar na janela, Gabriel fitava Milles que sorria divertido. Ele tirou a sua bolsa e a do alfa moreno, jogando-as na fileira à sua frente impedindo que outros jogadores se sentassem por ali.

— Privacidade garantida.

— E por que raios quer ficar à sós comigo?

— Pra conversamos sobre aquilo que ninguém deve escutar, óbvio.

Espreitando os olhos, Gabriel percebia que Milles realmente se preocupava que alguém pudesse ouvir a conversa secreta. Seu comportamento era estranho, no entanto aquele alfa era estranho por si só.

A questão era... O que Milles desejava tanto saber? Não esperava que tivesse alguma coisa que fosse do seu interesse. Impaciente, Gabriel desistira em resistir, relaxando na poltrona.

— Muito bem, o que quer saber?

Abrindo um sorriso infantil, Milles se sentou de lado pra sussurrar à Gabriel.

— Por que você ficou com Theodore?

— Você disse pra eu tirar as próprias conclusões sobre como era ficar com outro cara.

— Eu sei, mas por que ele?

— E teria outra pessoa pra isso? Também não me dou bem com o capitão, sabe disso.

Tornando a se ajeitar na poltrona quando o motor do ônibus ligou, Milles tentava manter sua voz baixa mesmo com a algazarra dos demais jogadores nas poltronas mais à frente.

— Sempre te alertei sobre sua proximidade com aquele cara. Te disse várias vezes que seria perigoso e mesmo assim quis ser amigo dele. Mas depois do que conversamos na sexta, estou achando que na verdade tu tá afim do Theodore.

Gabriel engolira em seco sem responder.

De fato, as pessoas o alertavam para não ficar perto de Theodore. Não fora somente Milles, como a Sadie e Nicolas também o fizeram. Fora por pura teimosia de sua parte que ficou ao lado do loiro, pois precisava ficar ali. Precisava ter aquele ômega do seu lado.

— Nunca fiquei com um cara antes, e muito menos já estive afim de alguém pra saber como é.

— Nunca é? Conta outra. Já deve ter passado o seu cio com várias garotas, e nunca esteve afim delas?

Falando daquela maneira, Gabriel sentia uma ponta de culpa em seu peito. Uma coisa era ser tomado por instintos e querer dominar o corpo de alguém que exala um cheiro formidável. Outra seriam os instintos e sentimentos entrelaçados desejando fortemente alguém. Esse último cenário Gabriel nunca experimentou.

— Com o Theodore é diferente.

— Então, você pediu pra ficar com ele porque queria, e não pra tirar uma dúvida qualquer.

Gabriel assentira, suspirando baixo admitindo aquele desejo.

— Para ele, eu fiz isso por mera curiosidade por causa do que aconteceu contigo.

— E você ainda tem a cara de pau em dizer que não sabe como é estar afim de outro cara? Se liga, Gabriel!

— Muito bem, já que você é acostumado a chamar o capitão desse jeito, vamos supor que eu esteja afim do Theodore e queira tornar ele... Como você diz? Ah sim, minha esposa... O que você faria já que é meu amigo?

Os olhos escuros Milles encaravam os de Gabriel como se buscasse por alguma resposta. Não iria apressá-lo a lhe responder, poderia esperar tempo que fosse desde que houvesse sinceridade. Para mostrar a sua determinação em saber a resposta, o alfa moreno sustentava o olhar do amigo.

Ah queria muito saber a resposta.

Até que ponto Milles estaria lhe entregando sinceridade?

Suspirando pesado, o alfa loiro se ajeitou na poltrona ficando sério até demais. Arqueando a sobrancelha, Gabriel imaginava que alguma batalha estaria sendo travada na cabeça do seu amigo.

— Eu te perguntaria muita coisa.

Surpreso com a resposta, Gabriel cruzou os braços.

— Como por exemplo...?

— Se você já sentiu que ele era sua alma gêmea, e por isso deseja marcá-lo.

Dessa vez fora Gabriel quem emudecera boquiaberto. Petrificara na poltrona.

Alma gêmea era um laço indestrutível que poucos casais encontravam, pois era difícil descobrir que uma pessoa compartilharia o destino consigo. Os híbridos eram afobados demais em sanar seus desejos carnais, resultando em morder a pessoa que julgavam amar.

Nem sempre eram suas almas gêmeas.

Poucos os que encontraram seus pares conseguiam descrever a sensação da descoberta. Seria um êxtase? O tempo se encarregaria de mostrar? Haveria algum sinal divino do universo?

Por isso Gabriel ficara tão surpreso com aquela resposta.

— Espera... Não me diga que acha... Com o capitão...

— É a única justificativa que consigo encontrar pra minha situação deplorável.

— Deplorável? O que poderia ser deplorável pra você pensar que o capitão é a sua alma gêmea?

Umedecendo os lábios com a língua, Milles fechara os dedos em punho tornando a se aproximar de Gabriel pra lhe sussurrar.

— Desejo. — Respondera prontamente o alfa. — Toda noite, ardendo de desejo. Se você teve coragem em tirar as próprias conclusões com a loira do tchan, então eu farei o mesmo do meu jeito.

— Que seria...?

— O capitão não me escapa.

A conversa não durou por mais, já que os jogadores notaram a ausência do alfa loiro e não tardaram em lhe puxar para a bagunça. Festejavam cantando e fazendo brincadeiras tentando aliviar o nervosismo dos primeiros jogos. Mas para aqueles dois alfas seria a algazarra necessária para empurrar os pensamentos mirabolantes que tinham.

Mesmo assim Gabriel ficara pensativo.

Nunca cogitou em encontrar sua alma gêmea, pois acreditava que não tinha uma. No entanto, desde o dia em que chegara naquela pequena cidade e recebera a ajuda do seu salvador, se sentia diferente. O mundo era brilhante, as cores eram vivas e cada dia era precioso.

Mesmo tendo ficado com Sadie na festa, o beijo dela era incomparável ao de Theodore. Ambos eram ômegas, porém o loiro o deixara necessitado de mais. E só de lembrar cada toque que já trocaram, apesar de poucos deles serem íntimos, o corpo de Gabriel reagira explosivamente.

Seria esse o sinal de que Theodore era sua alma gêmea?