Sempre que dois alunos queriam ficar, era ali o ponto de encontro. Escondendo-se dos olhos curiosos, das figuras de autoridade da escola, e dando uma apimentada no primeiro beijo. Theodore já ouvira muitas garotas parecerem ansiosas quando marcavam um encontro ali, porém ele mesmo nunca tivera a sorte de ter a sua vez.
Até o momento.
Quando ali chegara, Theodore apertava a alça da mochila prendendo a respiração ao ver uma figura conhecida o esperando. O coração acelerara no mesmo instante em notar Gabriel encostado na parede usando o uniforme de educação física.
Tão bonito quanto um príncipe encantado dos contos de fadas. Maldita fossem as camisas regatas que destacavam os músculos dos braços. Os cabelos repicados e escuros balançavam com o vento, contrastando a tez pálida. Gabriel era simplesmente a pessoa mais bonita no mundo de Theodore.
Permanecera ali parado sem ter forças para dar passos adiante. Engolira em seco diversas vezes, sentindo seus lábios ficarem secos incessantemente.
Queria ir embora.
Era loucura o que estava fazendo.
O que estava pensando quando concordara com aquilo?
Se não haviam forças para ir até Gabriel, muito menos existiriam forças para levá-lo para longe.
Uma brisa chegara por trás de Theodore, indo até o alfa carregando o cheiro adocicado fazendo Gabriel erguer a cabeça e olhá-lo em sua direção. O moreno abrira seu costumeiro sorriso gentil, desencostado da parede para acenar.
— Você veio! Já estava imaginando que levaria um bolo.
Agora que sua presença fora notada, Theodore não tivera outra escolha a não ser aproximar. Arrastando os pés tentando contar carneirinhos para manter a calma, o ômega fingia calma inexistente.
— Como foi o treino?
— Anunciaram as chaves das partidas e me deram o novo uniforme do time. Então... Estou nervoso.
Levemente surpreso, Theodore soltara um riso baixo.
— Agora está nervoso? Uau, pensei que nunca ficaria desse jeito.
— Falar de competir é uma coisa, mas ter uma data definida torna tudo muito real. — Ria Gabriel coçando a nuca, dando um passo para perto de Theodore — Mas porque não veio à quadra hoje? Tá tudo bem?
Sem uma reação pronta, Theodore permanecera encarando Gabriel emudecido. Nem que morresse naquele mesmo instante iria admitir que deixara seus deveres de assistente de lado porque estava ansioso demais para ficar com Gabriel.
Nem ferrando.
— Bem dormi demais.
— Está bem mesmo? Difícil te ver dormindo na sala.
— Eu sobrevivo.
Os dois garotos ficaram em silêncio sem se encararem. Theodore travava uma batalha interior para manter o controle de seus instintos e desejos, sendo bastante difícil quando tinha o cheiro de Gabriel tão perto de si prestes a lhe envolver.
— Obrigado por vir. Eu sei que pedi algo... Estranho. Mas é importante para mim.
Mirando as pérolas azuladas para o alfa, percebia um leve rubor no rosto de Gabriel. Não era nem um pouco justo que ele dissesse aquelas coisas, poderia interpretá-las erroneamente. Assim como fizera com tantas outras falas do alfa.
Sem confiar na própria voz, já que todo seu esforço era voltado para conter seu cheiro, o ômega apenas concordara com a cabeça.
O som de um celular apitando chamara a atenção dos dois garotos. Gabriel virou-se para a própria mochila jogada contra a parede, se afastando do ômega para verificar o aparelho. Aproveitando a distância criada, Theodore respirava fundo olhando o céu.
Tome coragem.
Acabe com isso logo.
Se fugisse, Gabriel poderia entender errado. Ou pior, pensar que Theodore realmente ficara nervoso por gostar dele. Não era mentira, mas havia dito que engoliria seus sentimentos e desejos para que o alfa não descobrisse. Então precisava parecer indiferente.
Observando o alfa responder alguma mensagem, Theodore cerrara os dedos em punho.
Acabe com isso.
Apenas um beijo simples.
Nada profundo.
Enchendo seus pulmões de ar, Theodore fora até um Gabriel agachado. Umedecendo os lábios com a ponta da língua, agachou-se na sua frente aproveitando sua distração no celular para segurar a nuca do alfa e puxá-lo para si.
Sem se importar com absolutamente nada naquela pequena gota de coragem, Theodore unira seus lábios aos de Gabriel em um selar forte e demorado. Esforçou-se o máximo para não se demorar na maciez dos cabelos escuros emaranhados em seus dedos. Nem no calor da respiração batendo em seu rosto. Muito menos na maravilhosa sensação que os lábios finos do alfa sobre os seus.
Lentamente afastou-se do alfa, olhando-o nos olhos ouvindo a corda que mantinha sua sanidade contida se arrebentando. Antes que seus desejos fossem percebidos por Gabriel, Theodore dera um ponto final.
— Espero que seja o suficiente para te ajudar.
Levantando-se arrumou a mochila sobre o ombro sem nenhuma força em suas pernas. Queria ir para casa o mais depressa o possível, seu cheiro começava a escapar. Porém, justamente por querer que tudo acabasse o mais depressa, fora impedido por Gabriel segurando-lhe o pulso.
— Espera, Theodore.
Virando-se para o alfa tentara transmitir a indiferença que planejara antes, notando a proximidade de Gabriel sem soltar seu pulso. Engolira em seco forçando sua voz a sair.
— O que foi? — Questionava o ômega com a voz rouca.
Somente tendo Gabriel com o rosto tão próximo ao seu é que o ômega pudera notar as pupilas levemente dilatas. O cheiro do alfa começava a lhe rondar sedutoramente, enfraquecendo cada membro de seu corpo. Apertando o pulso do loiro, os dedos compridos de Gabriel puxara Theodore o suficiente para que sua destra repousasse na bochecha pálida.
Quebrando a distância, fora Gabriel quem colara seus lábios aos do loiro em um toque completamente diferente do anterior. Ali não haveriam pressa e nem força, mas uma doçura impecável. Os lábios úmidos do alfa abraçavam os de Theodore com ternura se movendo delicadamente.
Ah, que merda.
Tentara tanto conter seus desejos, seus sentimentos...
Desde que a possibilidade de eles se beijarem nascera, Theodore havia sonhado com o beijo. Como seria? Como se sentiria? Certamente diferente do que acontecia naquele instante.
Como poderia lidar com aquele beijo? Quando o alfa o dominava lentamente tornando-o refém da própria armadilha. Theodore não era capaz de controlar absolutamente mais nada quando permitira que Gabriel lhe guiasse naquele beijo.
Sua mão era tão quente, sentia o polegar acariciar sua bochecha em uma carícia sutil. Alguns dedos de Gabriel se enroscavam nos cabelos loiros desgrenhados. O pulso do ômega fora solto para que a outra mão segurasse a cintura de Theodore o mantendo preso de outra forma. A mochila caíra no chão com o puxão súbito e forte, da qual surpreendia Theodore.
O movimento dos lábios se intensificaram quando Theodore não resistira em retribuir. Apesar de ter se entregado para o momento, não ousara tocar em Gabriel. Sabia que se o fizesse seria um caminho sem volta. Seus desejos eram intensos demais para sanar só com um beijo.
Principalmente quando Gabriel pedira passagem para aprofundar o ósculo. Suas línguas se enroscavam delicadamente como dois amantes que há anos não se viam, as bocas se encaixavam perfeitamente uma na outra. O alfa mantinha Theodore preso em seus braços, tendo aqueles dois garotos prestes a perderem a sanidade de seus desejos.
Se não fosse um toque de celular.
Como uma corda para salvar alguém preso no fundo do poço, Theodore se segurou naquele toque para recuperar a sanidade e afastar-se de Gabriel encerrando o delicioso beijo bruscamente.
Com os lábios avermelhados e inchados, e sua respiração ofegante, o ômega pegava o celular do bolso. Piscara algumas vezes tentando enxergar quem estaria ligando, mas seus dedos foram mais rápidos em apertar o botão esverdeado.
— Alô?
— Theo, é a mamãe. Queria te pedir um favor, está livre? Já chegou em casa?
Erguendo os olhos claros para Gabriel que o fitava com as pupilas ainda dilatas, o loiro dera alguns passos para trás aumentando a distância entre eles.
— Ainda estou na escola, precisa de algo?
— Estava prestes a sair do trabalho quando fui chamada para cobrir um plantão no hospital. Preciso que vá correndo buscar sua irmã na escola, já está ficando tarde.
Virando a cabeça para olhar o céu, deparou-se com o tom alaranjado do pôr-do-sol. Estava ficando tarde para uma pequena garota esperar sozinha na escola. Theodore inclinou-se para pegar a mochila pela segunda vez e jogá-la sobre o ombro, sob a vigilância de Gabriel.
— Mas é claro que eu posso, só avise a Lisa que estou indo.
— Ligarei para escola avisando, então. Ah, e aproveite para adiantar a janta, se não ela vai comer tarde.
— Tudo bem, deixa comigo, eu cuido da princesa.
Desligando o celular, Theodore erguera os olhos para Gabriel encontrando a desculpa perfeita para fugir. Dando alguns passos para trás, pigarreou para lhe chamar atenção.
— Foi mal, Gabriel, preciso ir agora. Até amanhã!
Deixando um alfa para trás, Theodore corria saindo da escola. Com um belo sorriso no rosto, pois o cara pelo qual estava apaixonado tomara a iniciativa em beijá-lo uma segunda vez.