Theodore foi beijado por Gabriel.
E foi, em meras palavras, inesquecível.
Mesmo deitado em sua cama prestes a dormir, vira o sono ser varrido pelas doces lembranças do que havia ocorrido naquela tarde. O toque quente do alfa, a forma como o seu cheiro o envolvera, o beijo que intensificava cada vez mais. O que teria feito caso a sua mãe não tivesse ligado?
Teria tido coragem para encarar Gabriel? Sem deixar transparecer os seus sentimentos? Bem, se isso parecia um mero problema imaginário, se tornaria bem real quando o visse na escola da próxima vez.
Pontos positivos, Theodore não precisaria se preocupar tanto já que o alfa deveria focar nas partidas das eliminatórias que começariam no domingo. Entre prioridades, certamente o ômega não seria uma delas. Era a chance ideal para que ele mesmo acalmasse os seus sentimentos e encontrasse alguma maneira de manter a neutralidade para o bem de sua amizade.
— Terra chamando Theodore! Oooooie!
Piscando repetidas vezes, o loiro focava na garota baixinha na sua frente. Lilian balançava a mão em frente aos seus olhos, o encarando curiosamente.
— Foi mal, tava... Viajando na maionese.
— Aconteceu alguma coisa?
— Nada não. Do que estava falando?
Lilian batera palmas ajeitando-se na cadeira pra tornar a falar.
— Já que você topou em participar do concurso, eu queria saber qual o seu estilo.
— Estilo...?
— É... Espero que não seja emo, não sei vestir um emo.
Olhando para as próprias roupas, Theodore se deparava com um grande abismo. Usava calça de moletom escuro e uma camisa grande só pra ir se encontrar com Lilian. Na verdade foram as únicas roupas que encontrara na frente diante do seu atraso. Para a sua infelicidade, não se considerava alguém que seguia tendências da moda como os populares garotos da sua escola.
Teria o seu estilo algum nome fashion?
Preguiça juvenil?
— Acho que não tenho um estilo — Admitia envergonhado.
— Nunca se imaginou de algum jeito? Você é bonito, tenho certeza que qualquer estilo fica bom em você.
— Na verdade eu até tenho algumas roupas legais, mas só uso pra sair com a família. Me considerado relaxado demais pra me arrumar — Ponderava o loiro, mexendo a colher em seu café com leite.
— Percebo isso pelo seu cabelo... Mas ainda parece um querubim. — A música começara a tocar nas caixas de som da cafeteria onde os dois marcaram de se encontrar. Lilian erguera os dedos para cima, cantando junto aumentando sua alegria pra tirar um sorriso de Theodore — É lindo teu sorriso, o brilho dos seus olhos, meu anjo querubim...
O balançar desengonçado da garota atingira o seu objetivo, fazendo Theodore rir na medida que suas bochechas ganhavam um tom rosado.
— Pensei que aqui tocasse só música antiga.
— De vez em quando mudamos o cd pra variar um pouco. Mas não acha isso coisa do destino?
— Tá certo, é o destino querendo aumentar a minha autoestima.
— Isso garoto! — Ria Lilian batendo palmas alegremente — Mas voltando ao assunto, até que ponto você consegue mudar seu estilo? Deveríamos pesquisar na internet sobre?
Até que ponto deveria mudar sua aparência só por causa de um concurso? Não parecia algo superficial? Theodore bebericava um gole do café com leite adocicado imaginando o tanto de trabalho que teria para perder naquele concurso. Somente Lilian o enxergaria como alguém bonito, já que vive o cobrindo de elogios.
Oh, não era a única.
Havia outra pessoa que já dissera que ele era bonito.
Elogios esses que faziam um certo coração bater acelerado em seu peito.
Caso Theodore mudasse alguma coisa nele, Gabriel iria notar? Valeria a pena tentar pra saber sua reação, agora que ficaram...
— Ah! Que tal um estilo tipo a do Dougie Poynter? — Com a xícara encostada em seus lábios, Theodore encarava sua nova amiga sem dizer nada. Lilian reprimira o riso comprimindo os lábios para salientar — O baixista do McFly.
— Atá! Devo ter visto a foto dele em algum lugar.
— Deve ter sido no meu perfil do Orkut, adoro a banda.
— Então você já tinha planejado sobre essa "mudança" no meu estilo de vestir?
Lilian abrira um sorriso envergonhado, preferindo não responder, apenas beber um gole do seu chocolate quente. Theodore achara sua reação uma graça, e um tanto quanto sapeca.
— Que tal furar as orelhas? Pode usar algo discreto...
— Teria de passar pela dor só por causa do concurso? Não, eu passo.
Um brilho astuto surgia nos olhos claros de Lilian, causando arrepios no ômega. Certamente algum plano maligno ganhava vida dentro daquela cabeça, deixando os instintos do loiro berrando um pedido pra ter sua vida salva.
Pensando ser apenas sua imaginação, Theodore logo lamentava não ter escutado sua intuição quando ela o golpeara.
— Com certeza um certo alguém o achará irresistível se te ver de brincos.
— Um certo alguém?
— Que não sabemos o nome, é claro.
Theodore espreitava os olhos para Lilian.
— Está blefando.
— Estou te seduzindo... Está funcionando?
Desviando sua atenção da garota, o ômega batucava os dedos sobre a mesa ponderando sua proposta. O que sua mãe diria se o visse usando brincos? Provavelmente daria uma bronca por agir tão irresponsavelmente. E ainda tinha o fato dor de toda aquela questão. Argh, não queria sentir dor.
Por outro lado... Imaginar a reação de Gabriel e Nicolas ao verem o ômega diferente seria impagável. E Lilian parecia conhecer seus segredos profundos, além de ter vindo para o encontro preparada.
Desistindo de lutar contra a maré, Theodore se encostava na cadeira concordando com a cabeça.
— Funcionou. Eu topo.
A euforia de uma garota era encantadora. Lilian explicara para Theodore todo o seu planejamento sobre o concurso, destacando a intenção de trazer à tona o brilho do ômega.
Era um tanto quanto constrangedor para Theodore notar que Lilian enxergava potencial até demais em si. Não a conhecia há tanto tempo, e suas conversas eram uma montanha russa de tantos assuntos que conseguiam abordar em um encontro, ainda assim ela parecia saber até demais.
Dentro da cabeça do ômega existia a fantasia de que ela seria a sua irmã caçula disfarçada vinda do futuro, pois não era possível saber tantas coisas à seu respeito apenas com o olhar.
Mas havia uma dúvida que serpenteava sua mente com mais agilidade se comparada com as demais.
— Você sabe sobre... Aquela pessoa?
— Aquela pessoa? Oh... Aquele do corredor do outro dia?
Theodore concordara com a cabeça enquanto se levantava da mesa para ir até o balcão pagar a conta.
— Chegou na escola esse ano, é titular do time de vôlei sendo um levantador, apesar de jogar bem também no bloqueio. É bonito e popular, já ficou com um dos Mckenzie... Por que está me olhando desse jeito?
Theodore a encarava horrorizando segurando a nota de vinte reais na mão. Entregando para o caixa, tentou suavizar sua expressão com um balançar de cabeça.
— Como você sabe tanto...
— Comunidade do Orkut, meu bem. O resto foi o que minha sala conseguiu descobrir em sua rede de fofocas.
— Estou começando a ter medo da sua sala.
— Não precisa, fazemos isso pois estamos empenhados em te fazer vencer.
Abrindo a porta para dar passagem à pequena garota, Theodore ponderava o quão agradecido, ou com medo, deveria estar.
— Mas ninguém sabe sobre eu... Enfim.
— Ah, isso é verdade, ninguém sabe. Mas quando nos encontramos no corredor pela primeira vez a forma como olhou pra ele foi especial. Percebi na hora.
Queria fugir para o outro lado do planeta tamanha era a sua vergonha. Até fingiria que não era bem assim, mas quando ocorrera a catástrofe na quadra de vôlei, Milles também notara seus sentimentos por Gabriel. Isso não seria um sinal do universo lhe deixando claro o quão na cara estavam seus sentimentos?
Deveria ser mais comedido?
Balançara a cabeça evitando pensar demais no assunto.
Ainda naquela manhã, o garoto ômega acompanhara Lilian até uma loja de bijuterias para encontrar um par de brincos. Sem conhecer o universo dos acessórios apropriadamente, Theodore deixara no encargo da beta em escolher as peças ideais,
— Que tal um alargador em espiral falso? E na outra orelha pode usar um brinco preto comum.
Parando ao lado da garota para olhar os brincos citados, Theodore cruzava os braços sem saber o que comentar. Lilian havia dito que desconhecia o estilo dos emos, mas não era o que parecia. Só os emos usavam aquele tipo de brincos.
— To ficando com medo de você, isso sim.
— Mas eu não fiz nada, deixa de ser bobo Theo! — Ria Lilian divertida. — Ah se você colocasse piercing... Pelos céus, estou babando.
— Acho que os brincos são o suficiente.
— Mas olha esse transversal, é bonito. — Virando-se para o rapaz alto, a beta o puxara pelo braço obrigando Theodore a se curvar na sua altura e então pudera tocar a ponta de sua orelha direita — Bem aqui, apesar que seu cabelo está grande e poderá enroscar nele...
— Isso vai doer?
— Desde que saiba se cuidar direitinho...
Theodore tentava se imaginar usando aquilo tudo em suas orelhas, e conciliar com a imagem que Lilian queria trabalhar como explicara anteriormente. Tinha que admitir o seu bom gosto, a garota tinha uma ideia boa e interessante. Infelizmente não sabia dizer se ele mesmo conseguiria trazer à realidade aquela ideia.
— Se vamos fazer isso, faremos direito... Certo?
— Confie em mim, Theo!
Dito e feito!
Assim que os brincos foram comprados, Lilian arrastara Theodore para a farmácia onde fariam os furos. O farmacêutico conversara com o ômega sobre os cuidados após o procedimento, além de iniciar um bate papo com Lilian que distraíra Theodore da dor.
Fora rápido apesar da pequena pontinha de dor que ele sentira. Mas nada se compara com a sensação pesada que havia em suas orelhas. Theodore precisaria se acostumar com aquilo, entretanto gostara do resultado.
— Amanhã já colocaremos nosso plano em ação.
— Amanhã? Mas é dia de jogo...
— Exatamente! — Sorria Lilian — Como Milles e Gabriel estão participando, as chances de ter um grupo de meninas torcendo por nossa escola são bem grande, não é?
— Infelizmente elas seguem o time independente de haver concurso ou não. Mas o que tem isso?
— Quero que elas te vejam produzido. — Sorria inocentemente a garota. — E na segunda, todos da escola saberão que Theodore Moss é um garoto deveras bonito.
— Espera, quer que eu vá todo arrumado pra partida?
Lilian ficara muda por alguns segundos, e quando acordara de seu torpor batera palmas.
— Acho melhor eu ir na sua casa pra te ajudar com isso. O que acha?
— Ahn... Eu tenho que cuidar das coisas do time.
— Faça isso hoje, porque amanhã estarei cedinho pra cuidar do seu visual. E não aceito um não como resposta, tenho medo que o fantasma do moletom surja grudado no seu corpo.
Theodore apenas concordara com a garota, que se despedira relembrando o compromisso que teriam no dia seguinte. Participar de um concurso de beleza era mais cansativo do que ele imaginava.