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Chapter 43 - Caminho sem volta

Esgueirando-se pela escola, encontrara o lugar dito no bilhete. Afastado da bagunça dos atletas no portão da escola, silencioso e fora do alcance das câmeras de segurança. Gabriel olhara em volta questionando o motivo de Theodore conhecer aquele lugar.

Havia combinado com Theodore que se veriam depois do treino, e como ele não fora ao ginásio provavelmente não saberia que Gabriel saíra mais cedo. Encostando-se na parede, o alfa suspirava olhando para o céu sentindo o coração batendo acelerado.

Quando o visse, como agiria? Começaria conversando pra quebrar o gelo? Ou já deveria ir direto ao que interessa? Não, isso faria o ômega pensar que estava ansioso para fazê-lo.

Bagunçando os próprios cabelos, Gabriel suspirava fechando os olhos. Na medida em que a hora marcada se aproximava, mais ele ficava nervoso. Sua barriga estava engraçada também, não chegava a se sentir enjoado... Seriam as famigeradas borboletas? Que desconfortável!

Abrindo os olhos lentamente, ficara a encarar o chão buscando amenizar aquelas sensações ansiosas. O horário marcado finalmente chegara, e nada de Theodore. Vez ou outra esticava o pescoço tentando procurar o loiro, sem sucesso algum.

Será que ele viria? Ora essa, Theodore poderia fugir ou apenas ter se esquecido. Gabriel seria o único a levar à sério sua curiosidade desrespeitosa. Pelos céus, ficaria frustrado se o ômega não viesse? Não... Ficaria triste.

E quando o vento carregara um doce aroma, Gabriel olhara em direção do motivo de seu nervosismo. Ali, parado o encarando com seus belos olhos azulados, estava Theodore.

Erguera a mão em um aceno, sorrindo genuinamente feliz por ver o ômega ali.

— Você veio! Já estava imaginando que levaria um bolo.

Theodore se aproximava de Gabriel lhe dirigindo um sorriso sereno, que fora capaz de relaxar o alfa. Nada mais importava uma vez que ele estava ali. Ele viera, e isso era o suficiente.

— Como foi o treino?

O alívio que sentira em perceber que Theodore estava normal consigo era, simplesmente, inexplicável. Durante toda a manhã e tarde ficara imaginando que seu amigo teria fugido de si, o evitando e dentre tantas outras coisas. Mas não... Ele estava ali na sua frente dirigindo o seu costumeiro sorriso.

— Anunciaram as chaves das partidas e me deram o novo uniforme do time. Então... Estou nervoso.

— Agora está nervoso? Uau, pensei que nunca ficaria desse jeito.

Ah o riso de Theodore aumentava a alegria de Gabriel. Se outrora estivesse nervoso, ela não existiria mais graças ao ômega. Como se conversassem normalmente em uma atmosfera gostosa e livre, Gabriel se aproximava do rapaz loiro.

— Falar de competir é uma coisa, mas ter uma data definida torna tudo muito real. Mas por que não veio à quadra hoje? Tá tudo bem?

A curiosidade falara mais alto do que a razão. Faltara uma aula, dormira na sala e não aparecera no treino. Gabriel estranhara tais comportamentos do ômega. Theodore demorara em responder, parecendo evasivo demais.

— Bem, dormi demais.

— Está bem mesmo? Difícil te ver dormindo na sala.

— Eu sobrevivo.

Evasivo novamente, estranhava Gabriel. Definitivamente Theodore parecia escapar de seus dedos. Estava escondendo alguma coisa? Espreitando os olhos, o alfa analisava o ômega sem dizer uma palavra. A única coisa que lhe passava em mente é que se desse um passo errado, aquele loiro fugiria de si.

Sem perceber liberara do próprio cheiro para obrigá-lo a ficar ali. Seus instintos estariam conectados com seus pensamentos, mas fora do seu controle. Seus pés se arrastaram para aproximar-se de Theodore, olhando-o nos olhos para que uma conexão fosse realizada.

Precisava agir.

— Obrigado por vir. Eu sei que pedi algo... Estranho. Mas é importante para mim.

Gabriel aproximou-se lentamente de Theodore, como um predador enganado sua presa para garantir sua captura. Todo cuidado era necessário para deixar o ômega confortável, tornando a situação o menos constrangedora o possível.

Todo seu esforço fora por água a baixo quando reconhecera o próprio toque de celular. Sem demonstrar a frustração que sentira, mas considerando a oportunidade ideal para voltar a respirar normalmente, Gabriel fora até a mochila largada pegar o dito aparelho.

Agachado perto da parede olhando o aparelho, Gabriel se surpreendia com a mensagem de Milles.

"Te dei cobertura, fica me devendo ;)"

Como assim dera cobertura? Cerrando as sobrancelhas, Gabriel fitava a tela do celular em plena confusão. Um estalo causara uma onda de arrepios em sua espinha. Não haveria chance alguma de Milles saber o que ele estava prestes a fazer com Theodore... Ou saberia?

Se estava dando cobertura, isso quer dizer que alguém do time estaria o procurando? Quem? Por quê? Pelos céus, a intenção era ninguém descobrir...

Preso em seus próprios pensamentos, Gabriel fora incapaz de perceber um certo ômega se aproximar. Só notara sua presença quando o intenso cheiro adocicado começara a lhe roubar a atenção. Um cheiro gostoso e viciante, da qual Gabriel imediatamente reconhecera pertencer a Theodore.

Mal tivera tempo de reagir, pois Theodore já estava ali agachado na sua frente segurando sua nuca com força e unindo seus lábios em um selar demorado. A surpresa mesclava com as sensações viciantes do cheiro do ômega, e Gabriel não conseguia organizar seus pensamentos naqueles míseros segundos.

Muita informação.

Muitas sensações.

Seu corpo começava a reagir, pedindo por mais.

E então o toque se findou, Theodore afastou-se mantendo uma distância emocional entre eles.

— Espero que seja o suficiente pra te ajudar.

Theodore levantou e se afastou de Gabriel, o fazendo pensar em uma única coisa.

Ainda não.

Não queria que ele fosse embora.

Aquele selar não era o suficiente. Infelizmente havia um alfa entorpecido por um cheiro delicioso, necessitando dominar um ômega que ganhara sua atenção desde o primeiro dia em que se viram em frente à loja de uniformes. Um alfa que precisava de mais do que um simples selar, pois já não aguentava mais ser reprimido.

Levantando-se apressadamente, Gabriel segurara o pulso de Theodore o impedindo de ir embora.

— Espera, Theodore.

— O que foi?

Como ele poderia parecer tão calmo? Como poderia Theodore não sentir o que Gabriel sentia? Estava um caos! O alfa sequer era capaz de manter suas necessidades escondidas, o desejo transbordava de seus olhos e seu coração batia desenfreado.

Havia sido beijado por Theodore, logicamente era o que pedira em seu bilhete mais cedo. A história terminaria ali mesmo, se não fosse pela maldita necessidade.

Necessidade de querer mais.

Gabriel já não era capaz de pensar logicamente. Não naquele momento. Não enquanto Theodore estava na sua frente. Talvez fosse por isso que seus instintos tomaram as rédeas para manter um ômega sob seu controle.

O segundo beijo fora dado por Gabriel, e diferente de antes não permitira que Theodore tivesse quaisquer chances de fugir.

Mostraria a ele o que tanto precisava naquele momento. Mantivera um toque gentil para conquistá-lo, e dera certo quando sentira os lábios de Theodore dançarem sobre os seus retribuindo o beijo. A sintonia com que compartilhavam era viciante, Gabriel conseguia sentir muito mais do que já sentira antes.

Havia ficado com várias garotas, desde betas até alfas. Em nenhum momento fora capaz de sentir o coração delas pulsarem com tanta transparência. Muito menos de seu cheiro envolver a outra parte para mantê-lo sob seu controle. Ou então de sentir necessidade em tocar sua pele para senti-lo ali consigo.

Apenas sentia tudo isso naquele momento com Theodore.

Seus dedos precisavam sentir a quentura da pele do ômega. Seu corpo chamava por ele, implorando para que se mantivessem unidos. O beijo ganhava força na medida em que os desejos cresciam.

O doce momento fora atrapalhado pela segunda vez graças a um celular. Dessa vez, era de Theodore.

Ouvindo sua voz falar com a pessoa do outro lado da linha trouxera a consciência de volta para o alfa. Gabriel não fora capaz de se despedir de Theodore, não quando o nome de uma garota saíra da boca dele.

Entorpecido pelo beijo e pelo ciúme, Gabriel via o loiro lhe dar as costas e ir embora.

「 • • • 」

"Milles diz:

Teve a resposta que queria?

Gabriel diz:

Como assim?

Milles diz:

Não tente me fazer de besta. Sabe muito bem do que estou falando.

Gabriel diz:

Como tu sabia?

Milles diz:

Acabei seguindo o baixinho quando ele seguia a loira do banheiro. Quando vi que tu tava perto, arrastei ele pra longe."

Gabriel se encostava na cadeira em frente ao computador, suspirando pesadamente. Não se sentia confiante em conversar sobre o assunto com Milles, já que era ele quem provocava Theodore. Ao mesmo tempo era o único que poderia conversar, já que ele fora beijado por Nicolas e fora sincero consigo no dia anterior.

Precisava conversar com alguém ao mesmo tempo que queria refletir mais sobre suas emoções. Ajeitando-se na cadeira, o alfa tornara a digitar no chat.

"Gabriel diz:

Não sei dizer se tive a resposta que eu queria

Mas acho que te entendo agora

Milles está digitando...

Milles diz:

Faço a mesma pergunta que me fez, então

Como foi ser beijado por outro garoto?"

O alfa encarava o monitor lembrando-se de mais cedo. Theodore tinha razão quando dizia que não era diferente de beijar uma garota, mas ao mesmo tempo existia uma grande diferença baseada no mísero detalhe. Um detalhe que Gabriel admitira rapidamente apesar de seu espanto.

Ele desejava Theodore.

Ou ao menos, desejava beijá-lo outra vez.

Theodore tinha lábios doces que se encaixaram perfeitamente aos seus. Permitira ser dominado por Gabriel, tornando o momento simplesmente inesquecível. Mesmo depois do ômega ter ido embora, o alfa não conseguia apaziguar seu corpo.

Ele simplesmente pegara fogo.

Gabriel fora incapaz de ir para casa logo depois daquele encontro secreto. Seu sangue pulsava em um pedido gritante para mais. Precisava de mais, muito mais. Sentia nas pontas dos dedos a maciez da pele de Theodore e suas veias pulsantes. Sentia em suas bochechas a respiração quente e levemente afobada que ele tivera quando retribuíra ao seu beijo. Seus lábios memorizaram cada movimento, assim como sua língua guardara seu gosto.

Percebendo o rumo de seus pensamentos, Gabriel correra para o vestiário a fim de tomar uma ducha para se acalmar. Se continuasse daquele jeito seria impossível chegar em casa sem uma ereção, e seus pais poderiam já estar em casa.

Mas quando a porta do box se fechou, o chuveiro fora ligado e seus olhos se fecharam, as memórias não só mantiveram as sensações daquela tarde como resgatara o momento em que abraçara o corpo de Theodore pela primeira vez. O castigo fora tanto que a ereção crescia de acordo com o seu desejo, e Gabriel se tornara fraco.

Masturbara-se abraçado às memórias de sensações, sendo guiado pelo beijo de mais cedo imaginando como seria dominar aquele ômega. Não contivera seus gemidos e muito menos deixara de chamar o nome de um certo rapaz loiro. Tocou-se prazerosamente entregue.

Agora que lembrava-se disso, Gabriel tinha muito mais dúvidas do que antes. Balançando a cabeça para afastar o constrangimento, tornou a digitar respondendo o seu amigo.

"Gabriel diz:

Um caminho sem volta

Milles está digitando...

Milles está digitando...

Milles diz:

Somos dois"