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Chapter 33 - A consciência de Gabriel

Gabriel estava irritado na tarde de quarta-feira.

No dia anterior logo após se despedir de Sadie e Milles, Gabriel seguira o seu rotineiro caminho de casa com um olhar vazio. Em sua cabeça matutava que em algum lugar estaria Theodore junto daquela garota baixinha bonitinha.

Ora essa, Theodore não era gay? Então por que raios estava de mãos dadas com uma garota beta? Nunca o vira ao lado de uma garota em todos aqueles primeiros meses de aula, e de repente aparecia uma. O sentimento tão estranho que se apossara de si no instante em que os vira no corredor, o fizera marchar para separá-los imediatamente.

Já não bastava o grande empecilho que era seu capitão do time de vôlei, agora surgiria mais uma pessoa para roubar Theodore de si?

Imediatamente Gabriel parara de andar.

Roubá-lo de si?

Quem?

O Theodore?

Por quê?

Ele era seu amigo, poderia fazer amizade com quem quer que fosse. Não seria bom ele ter outras amizades além de Nicolas? Para que a escola parasse de criar rumores estranhos à seu respeito? Deveria estar feliz pelo seu amigo.

Mas não estava.

— Mas que droga está acontecendo com você Gabriel? — Resmungava o rapaz para si mesmo, voltando a caminhar.

Em meio à sua tentativa de amenizar os pensamentos confusos, seus olhos se ergueram para a fachada de uma cafeteria nova. Descendo sua atenção para a janela, sentia a sensação estranhar vir à tona como uma locomotiva descontrolada.

Era aquela garota junto de Theodore.

Os dois juntos.

Rindo.

Theodore sorria tanto que suas pequenas presas ficavam à mostra. Irradiava como um sol o seu esplendor para aquela garota quase que exclusivamente.

Aquela imagem ficara presa na sua memória ao longo do dia. Não conseguindo se concentrar nos estudos, e muito menos dormir. A angustia não era apenas de ter visto Theodore com uma garota, mas o motivo de ele mesmo se importar tanto.

Por que ele ficava com aquela sensação estranha e desgostosa no peito?

Por que sua mão formigara querendo segurar o pulso de Theodore e o arrancar dali?

Por que Gabriel queria monopolizar Theodore?

E então na quarta-feira à tarde, quando o treinador reunira o time para retomar os treinos, Gabriel se encontrava em péssimo humor.

— Que bicho te mordeu pra tá com essa cara, hein?

Virando o rosto para seu amigo e colega de time, Gabriel suspirava negando com a cabeça. Não valeria a pena ser sincero com Milles quando nem mesmo ele se entendia.

— Minha cara está melhor que a sua, que tá toda ferrada.

Fazendo uma careta, Milles passava a ponta do dedo sobre o hematoma próximo do olho, resmungando baixinho.

— Aquele pivete tem a mão pesada. Se olhar bem pra ele, acha que o vento é capaz de levar embora de tão mirradinho que é. Mas o filho da puta é bom de briga.

— Não se cansa de brigar com ele não?

Soltando um riso alto, Milles abraçava o ombro de Gabriel.

— Não é questão de cansar. Eu quero vencer. Só isso. Enquanto eu não conseguir vencer o baixinho numa briga, continuarei a infernizá-lo até encontrar sua fraqueza.

Gabriel revirara os olhos no mesmo instante que o treinador apitara avisando o inicio do aquecimento. Os jogadores se espalhavam pelo ginásio para se aquecerem, tendo Gabriel a visão ideal para a porta.

Pudera assistir a chegada de Theodore no ginásio acompanhado de seu melhor amigo, que iam até um canto conversar com o treinador. Então, Nicolas ia para o vestiário enquanto o loiro abria sua mochila para tirar um caderno continuando sua conversa com o professor.

— Me fala uma coisa, Biel. Tu apanhou do baixinho por causa da loira do banheiro, foi?

— De quem?

— Do cara ali. — Milles apontava com o queixo para Theodore.

Movendo o ombro pra afastar do abraço de seu amigo, Gabriel suspirava baixo.

— Tive uma pequena discussão com Theodore, e o amigo dele veio pra cima. Nicolas sempre tenta me afastar do Theodore.

— Por acaso Theodore é tão gente boa assim? Você sempre está com ele.

— Ele é meu amigo, é claro que é gente boa. Deveria dar uma chance de conhecê-lo melhor.

Milles fizera uma ligeira careta, sem desviar os olhos do assistente.

— Bom... Desde que você não vire gay também, não me importo se continuar sendo amigo dele. Mas não acho que o nosso capitão pense da mesma forma.

De certa forma, Milles tinha razão. Nicolas não pensaria da mesma forma. Gabriel sentira naquele soco uma raiva guardada somente para ele. Desde o dia em que se conheceram o seu capitão não lhe dera um sorriso se quer. Nem bom dia dava quando cumprimentava Theodore nas manhãs.

Nada tirava da cabeça de Gabriel que o seu capitão poderia ter algum sentimento por Theodore.

— Hein, Milles, você sabe se o capitão é como o Theodore?

— Como assim? — Arqueando a sobrancelha em uma mensagem silenciosa, Gabriel aguardou seu amigo compreender. Milles suavizara sua expressão em seguida — Aliás, você não vai acreditar nisso.

— No quê?

— Ontem, depois de sairmos da coordenação, tentei ir atrás do tampinha pra acertarmos as contas. Eu disse que se te deixasse em paz eu também não encrencaria com ele, mas aí vem a bomba. — Milles aproximou-se de Gabriel para então lhe sussurrar — O capitão assumiu que também é gay.

— O quê?

O grito de Gabriel ecoara por todo o ginásio, fazendo os demais jogadores se virarem para os dois amigos. Milles dera um empurrão na cabeça de Gabriel, que se desculpara pela reação exagerada.

— Ele disse isso com todas as palavras? Que era gay?

— Na verdade disse que ele e Theodore não tem vergonha em dizer que gostam de outros caras. Isso deve ser uma afirmação, não?

Os olhos castanhos voltavam para Theodore, que abria um singelo sorriso para Nicolas que havia retornado do vestiário com o uniforme de educação física. Os dois conversaram e logo se separaram, tendo o loiro indo se sentar em um banco pra fazer alguma anotação no seu caderno.

E como de costume, Nicolas entrava em quadra pra se aquecer fuzilando Gabriel e Milles com seu típico mau humor.

Isso significaria que Nicolas tinha realmente ciúmes de Theodore com Gabriel? Por isso seria tão arisco, tentando fazê-los se distanciarem à todo custo? Gabriel imaginava que o único motivo seria a sua amizade com Sadie, que já fora explicado em seus primeiros dias de aula.

Mas agora já não tinha tanta certeza.

Um sorriso malicioso surgia no rosto de Milles, o que causara diversos tipos diferentes de arrepio nas costas de Gabriel.

— Parece que o marido é bem ciumento com sua esposa.

— Vamos lá meninos, hoje iremos treinar o recepção de vocês. Em formação!

Depois do chamado do técnico, Gabriel não tivera nenhuma chance de questionar o seu amigo sobre o motivo daquele sorrisinho besta na cara. Certamente iria aprontar alguma coisa só pra provocar Nicolas. Se fosse isso, Gabriel queria ficar de fora.

O treino de vôlei fora puxado para os jogadores, que ficaram cinco dias livres para estudarem para as primeiras provas. Com poucas restando, os treinos retornaram preparando o time para as eliminatórias da semana seguinte.

Gabriel encontrara ali uma forma de tentar livrar sua mente dos pensamentos que tanto lhe incomodaram nas últimas vinte e quatro horas. O que fora uma falha total, pois enquanto esperava na fila para receber a bola, seus olhos fugiam para o banco onde Theodore estava sentado.

E então seus olhares se encontraram.

Ah, Theodore estava o assistindo treinar.

Um sorriso surgia nos lábios de Gabriel, sendo imitado por Theodore. Pobre coração que acelerava em ver o loiro o observando e lhe dirigindo um sorriso tímido. Gabriel ainda erguera a mão acenando, porém o outro não retribuíra.

Theodore olhara em volta antes de erguer a mão e acenar de volta, tímido e escondido.

Mordendo o lábio inferior sem esconder a felicidade de estar de bem com seu amigo, Gabriel alargava seu sorriso deslumbrante sem desviar sua atenção. Percebera que quanto mais fitava o ômega, mais ele ficava envergonhado tentando desviar os olhos para outro canto. Porém sempre espiando para verificar se Gabriel ainda o olhava.

Quando chegara a sua vez o alfa se posicionara no fundo da quadra observando o professor levantar e cortar a bola. Vindo em sua direção, Gabriel flexionava os joelhos esticando os braços para frente, sentindo a bola bater em suas mãos. A jogara o mais alto que conseguia do outro lado da rede, impressionando os demais jogadores com a boa jogada.

Retornando para o final da fila, Gabriel voltava a olhar para Theodore, erguendo o punho fechado celebrando sua pequena vitória na atividade. O loiro ria balançando a cabeça, cobrindo o sorriso com a mão tentando disfarçar parte do rubor que lhe tomava a face.

Sim, era exatamente aquilo que Gabriel queria. Era muito melhor ter o sorriso de Theodore para si, do que o vendo lhe ignorar propositalmente. Se sentia mais vivo e feliz de ter seu amigo de bem consigo.

Ainda bem que insistira em resolver o mal entendido.

Tudo bem, não chegava a sorrir da mesma forma como sorrira para aquela garota na cafeteria, mas Gabriel conseguia fazê-lo se sentir envergonhado e isso era um verdadeiro prêmio. Para si era o suficiente por ora.

O treino seguira seu cronograma com o time dividido em dois para uma partida treino. Dessa vez Gabriel ficara no mesmo time que Nicolas, tendo de trabalhar em conjunto com o baixinho levantando algumas bolas para si.

Fora um alívio que o alvo da fúria do capitão daquela vez seria Milles, que se encontrava no time adversário. Gabriel poderia ter uma folga de acompanhar seu capitão tão irritadiço, e podendo rir um pouco em assistir seu amigo suando a camisa pra tentar bloquear os cortes de Nicolas.

Quando a partida findara, o técnico reunira todo o time na quadra olhando um folheto em mãos, virando-o para os rapazes.

— Fui comunicado essa manhã de que a escola pretende criar um festival para promover nosso time nas eliminatórias. — Os atletas logo começaram a cochichar empolgados, precisando o professor soar o apito para retomar suas atenções. — O principal evento desse festival é uma espécie de concurso de beleza, e foi pedido que nosso time escolhesse um jogador para participar.

— Concurso de beleza? Desde quando a gente se importa com rostinhos bonitinhos?

— Também achei estranho, mas aparentemente foi o evento mais votado dentre os estudantes.

— Aposto que foram as cocotinhas do Milles, que querem ver ele em cima de um palco.

— Então minha lista de contatinhos está mais cheia que a sua, Thunder!

Os risos entre os garotos dispersavam suas atenções, e mais uma vez o professor tivera de calá-los com o apito.

— De qualquer forma a nova diretoria está bastante ansiosa pra promover nosso time e a escola ao mesmo tempo. Por isso vamos jogar de acordo com as regras. Então... Quem vai representar nosso time?

— Não deveria ser Milles?

— É o único com chances de ganhar...

— Sinto muito, já fui abordado pra representar minha turma.

— Que injusto, assim a gente não ganha.

— Que tal o Gabriel? Ele tem feito sucesso com as garotas também.

Os olhares recaíram sobre Gabriel, que até então estava abraçado à suas pernas completamente alheio ao assunto.

— Por que estão me olhando?

— Não quer entrar no concurso pra nos ajudar não?

— Não. — Respondera categoricamente, causando uma onda de reclamações por parte de seus colegas.

— Qual é! Está com medo de sua namorada brigar com você? Aposto que ela também apoiaria sua entrada no concurso.

Gabriel cerrara o cenho em confusão.

— Mas eu não tenho uma namorada.

— Não adianta negar, todo mundo já sabe que ficou com a irmã do Milles.

Erguendo os ombros desconfortável, Gabriel olhara para o banco onde Theodore estava. Ficara aliviado em notar que o rapaz estava com fones de ouvido escrevendo alguma coisa, sem prestar atenção na conversa.

Então voltara a olhar para seus colegas, abrindo um sorriso amistoso.

— Não estou namorando a Sadie, parem de falar besteiras.

— Isso não importa, quero saber se vai entrar no concurso ou não. — Repreendia o técnico já sem paciência.

Gabriel não se importava com atividades como aquelas, então não queria participar. Só que haviam vários pares de olhos pedintes, implorando para que aceitasse e desse alguma chance do time vencer. Se recusasse, provavelmente o time o culparia por alguma coisa, o que seria tão irritante quanto aceitar.

No final das contas, Gabriel aceitara o convite recebendo os abraços de seus colegas.

— Muito bem, depois vá conversar com a comissão que tá organizando o evento. No mais estão dispensados, continuamos amanhã.

Dispensados do treino, os jogadores se levantavam indo para o vestiário. Gabriel permanecera sentado no chão suspirando pesado já arrependido de ter que participar de uma atividade tão exaustiva.

Concursos de beleza parecia algo tão superficial, que somente as garotas gastariam tempo apreciando. Ser o centro das atenções, sendo obrigado a parecer bonito sem que se importem com o tipo de personalidade que ele tinha... Gabriel definitivamente não conseguia se animar.