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Chapter 28 - Mal entendido (parte 1)

Aquelas palavras se repetiam para Theodore incansavelmente.

Imaginava que Gabriel fosse agir como Nicolas. O questionando o que poderia ter acontecido, ou então que ficaria tão preocupado ao ponto de querer cuidar de suas feridas. Só que Gabriel fora simples. Ele apenas afugentara a onda de preocupação excessiva e o deixara ir embora.

Ficara levemente entristecido, admitia, pela aparente falta de interesse de seu colega de classe. Quando a noite chegara a janela de chat do MSN se erguera, fazendo o ômega loiro pular da cama mesmo sentindo dores.

Sentando-se na cadeira de sua mesa de estudos, encontrara o nome de Gabriel brilhando na tela lhe desejando boa noite. Rapidamente o loiro lhe responde a saudação, aguardando ansiosamente sua resposta.

"Gabriel diz:

Como está se sentindo? Dói em algum lugar?"

Theodore cobrira o rosto com as mãos abafando o riso alegre e eufórico. Espiando entre os dedos, respirara fundo para lhe responder.

"Theodore diz:

Dói um pouco na barriga e as costas, mas nada preocupante.

Gabriel diz:

Fiquei assustado quando vi seus machucados

Posso perguntar o que aconteceu ou tenho que fingir demência?

Theodore diz:

Por que quer saber?

Gabriel diz:

Estou preocupado com o meu amigo, ora essa"

— Amigo? — Theodore suspirara puxando o travesseiro para seu colo, o abraçando enquanto olhava a tela do seu computador. — Parece que levei um fora antes de me confessar.

Formando um bico nos lábios, tornara a digitar apressado.

"Theodore diz:

Passei o final de semana na casa do meu pai, e um cara meio que deu em cima de mim. Enfim... Deu nisso.

Gabriel está digitando...

Gabriel diz:

Um cara deu em cima de você?"

Theodore apertara o travesseiro, ponderando se deveria contar a verdade à Gabriel, ou apenas resumir a história ocultando os maiores problemas que o final de semana rendera. Só estava curioso pra saber sua reação, já que não a vira de manhã.

"Theodore diz:

Não sei qual era a intenção dele, mas resisti às investidas e isso deve ter zangado o cara. Então aconteceu isso...

Gabriel está digitando..."

Observando a tela, Theodore estranhara a demora de Gabriel em lhe responder. Apoiando o queixo sobre o travesseiro, o loiro minimizara a tela do chat para espiar o Orkut. Rolara a tela sem se prender muito nas novidades, até encontrar uma comunidade da escola.

A curiosidade vencera e Theodore revirou os tópicos da comunidade.

— Que isso? Pensei que fosse mais sério, mas parece só fofocas generalizadas...

Lendo os títulos dos tópicos, seus olhos recaíram sobre uma que ganhara a sua atenção. O sobrenome da família Mckenzie sempre fora um chamariz para fofocas, aquela provavelmente seria mais uma. Ainda assim a maldita curiosidade levara Theodore a clicar no título e abrir o tópico para ler.

"A festa rendeu pros Mckenzie!

A festa da Fabi rendeu! Eu tinha ido só pra beber um pouco e tentar pegar algum gatinho, mas acabei vendo a rodinha dos Mckenzie se divertindo tanto... Queria estar junto"

Theodore se assustara com o som do chat, abrindo a janela com o nome de Gabriel com certa ansiedade.

"Gabriel diz:

Pensei em mil coisas pra te falar, mas nenhuma pareceu suficiente."

Estranhando, Theodore cruzara os braços sobre o travesseiro. Então, voltara a digitar rapidamente.

"Theodore diz:

Suficiente pra quê?

Não precisa se preocupar comigo, tudo já está sendo resolvido =)

E logo a dor passa.

Gabriel diz:

Fiquei preocupado, apenas isso."

— Que besta... Não precisava se preocupar.

O sorriso não saia dos lábios de Theodore, até mesmo seu pobre coração acelerava alegremente em saber que Gabriel se preocupava consigo. O que poderia ser mais alegre do que saber que o seu paquera se preocupa consigo? Não seria sinal de que se importa o suficiente?

Por isso Theodore não conseguia conter o seu sorriso.

Mas antes de responder o rapaz, Theodore voltara a ler o tópico da comunidade na tentativa de conter sua euforia. Estava feliz demais temendo responder alguma coisa que não deveria.

Não tinha a menor intenção de se confessar a Gabriel. Serem amigos era o suficiente por enquanto.

Rolando a página do tópico, Theodore continuara a ler sobre a tão falada festa. Até que uma foto fora publicada e todo o mundo do ômega loiro desmoronara.

Não piscara. Não continuou a rolar a página. Não conseguia desviar os olhos daquela imagem que parecia jogar os seus sentimentos contra o chão e pisá-los.

Theodore sabia que era questão de tempo até que algo assim acontecesse. Sempre soubera. Desde o primeiro dia de aula quando vira a garota ômega dirigindo seus sorrisos para o aluno transferido. Além de ter sido avisado por seu melhor amigo de que aquilo não seria bom.

A tela de chat de Gabriel subira repentinamente, tremendo para ganhar sua atenção. Engolindo em seco, Theodore lembrou-se não ter respondido o seu amigo. Estendendo os dedos sobre o teclado, não soubera o que digitar.

O que deveria dizer?

Fingiria que não tinha visto? Ou perguntaria sobre a foto?

Recostando na cadeira, Theodore jogava a cabeça para trás fitando o teto. Não tinha o menor direito de questionar Gabriel sobre sua vida amorosa. Se ele namorasse Sadie, era problema dele! Só não queria que acontecesse brincadeiras maldosas consigo...

"Gabriel diz:

Ei! Está aí ainda?

Theodore..."

O rapaz loiro fechara os olhos por um instante antes de voltar a ler o chat. Suspirando pesado, a fina lágrima escorria em seu rosto. Uma lágrima solitária e silenciosa.

Respirando fundo o rapaz então optara por questionar.

"Theodore diz:

Foi mal, acabei me distraindo lendo sobre uma festa

Gabriel diz:

Festa?

Theodore diz:

Estão falando de uma festa que aconteceu na sexta passada

Naquela comunidade da escola

Gabriel diz:

Você viu aquilo?

Theodore diz:

...

Não sabia que você estava namorando a Sadie

Gabriel diz:

Não estou

Na verdade foi um desafio do Milles. Estávamos jogando verdade ou desafio, e ele quis me desafiar pra provar que eu não era gay"

— Ah não... Você também não, Gabriel.

O loiro balançava a cabeça ao enxugar o rosto das lágrimas que escorriam. Mordendo o lábio inferior, ele tornara a digitar.

"Theodore diz:

Entendo... Ser meu amigo feriu a sua masculinidade?

Gabriel diz:

Não foi isso o que eu disse Theodore.

Era apenas uma brincadeira dos caras, nada demais.

Theodore diz:

Bem legal a sua brincadeira =)

Gabriel diz:

Você está bravo comigo?

Theodore diz:

Bem, por que eu poderia ficar bravo com você? Somos amigos, e seus amigos acharam que por causa disso você também seria gay, e então precisou "provar" que eu, sei lá, não te contaminei?

Não sabia que eu tinha algum tipo de vírus tão perigoso assim

Gabriel diz:

Theodore, não precisa ficar bravo por uma coisa dessas

Você sabe que essa galera não pensa direito

Theodore diz:

Mas esperava que você fosse diferente"

Fechando o chat, Theodore desviava o olhar para a parede do seu quarto tentando conter as lágrimas. Seus sentimentos pareciam espinhos em volta do seu coração, ferindo-o na medida que apertavam e se afundavam.

Havia se apaixonado por Gabriel, pelo seu sorriso gentil e pelas palavras que pareciam ir contra o mundo. O seu colega de classe estava disposto a ser seu amigo independente dos rumores inescrupulosos à seu respeito.

Fora erro seu deixar seu coração sonhar com o toque e o beijo de Gabriel. Permitiu a si mesmo de mergulhar naqueles sentimentos, mesmo sabendo que nunca se concretizaria.

Saindo do MSN e do Orkut, Theodore apoiava o queixo sobre a palma da mão e o cotovelo sobre a mesa, dando um tempo para que sua tristeza saísse. Deixaria esgotar as lágrimas silenciosas e doloridas, para se recompor mais tarde.

— Irmãozão!

Erguendo a cabeça imediatamente, Theodore vira a pequena garota parada na porta segurando um potinho em suas pequeninas mãos. No instante em que ela vira o rapaz chorando, Lisa arregalara os olhos e correra até ele se jogando em sua perna.

— Tá doendo muito irmãozão? Dodói tá doendo?

Deixando o travesseiro na cama, Theodore pegara sua irmã e a sentara em seu colo. Esboçara o melhor sorriso que poderia, a fim de preocupar a pequena garota.

— Lisa precisa de alguma coisa?

A garotinha baixara a cabeça para o potinho que segurava, e então estendia ao irmão.

— Tomar sorvete com o irmãozão. A mamãe deixou.

— Oh, então devemos tomar sorvete já que a mamãe deixou.

Mesmo que ele sorrisse e tentasse conter suas lágrimas, a pequena garota não fora enganada. Lisa estendia sua pequenina mão no rosto do mais velho tocando suas lágrimas e as limpando suavemente. E então, surpreendentemente, a garotinha encostara seu ouvido no peito de Theodore, o abraçando o mais apertado que conseguia.

— O que foi Lisa?

Com um bico manhoso, a garotinha olhara para cima sem desgrudar do irmão mais velho.

— Tá doendo, né irmãozão? Lisa cura o irmãozão.

O que poderia fazer diante daqueles olhinhos brilhantes e aquele bico? Theodore cobrira o rosto com as mãos escondendo a vergonha e a alegria que sua pequena irmã conseguia lhe proporcionar.

— Isso é golpe baixo, Lisa. — Murmurava Theodore, em seguida baixando as mãos para abraçar a irmã afagando seus cabelos — Mas obrigado, o irmãozão agora ficará bem. Vamos tomar o sorvete?

— Vamos!

Ignorando o computador que trouxera a tristeza em seu coração, Theodore se levantara com a irmã no colo deixando seu quarto para dedicar-se a um momento doce.

Em mente sabia muito bem que estava sendo covarde em não enfrentar sua tristeza. Resolveria aquilo em outro momento.