Aquelas palavras se repetiam para Theodore incansavelmente.
Imaginava que Gabriel fosse agir como Nicolas. O questionando o que poderia ter acontecido, ou então que ficaria tão preocupado ao ponto de querer cuidar de suas feridas. Só que Gabriel fora simples. Ele apenas afugentara a onda de preocupação excessiva e o deixara ir embora.
Ficara levemente entristecido, admitia, pela aparente falta de interesse de seu colega de classe. Quando a noite chegara a janela de chat do MSN se erguera, fazendo o ômega loiro pular da cama mesmo sentindo dores.
Sentando-se na cadeira de sua mesa de estudos, encontrara o nome de Gabriel brilhando na tela lhe desejando boa noite. Rapidamente o loiro lhe responde a saudação, aguardando ansiosamente sua resposta.
"Gabriel diz:
Como está se sentindo? Dói em algum lugar?"
Theodore cobrira o rosto com as mãos abafando o riso alegre e eufórico. Espiando entre os dedos, respirara fundo para lhe responder.
"Theodore diz:
Dói um pouco na barriga e as costas, mas nada preocupante.
Gabriel diz:
Fiquei assustado quando vi seus machucados
Posso perguntar o que aconteceu ou tenho que fingir demência?
Theodore diz:
Por que quer saber?
Gabriel diz:
Estou preocupado com o meu amigo, ora essa"
— Amigo? — Theodore suspirara puxando o travesseiro para seu colo, o abraçando enquanto olhava a tela do seu computador. — Parece que levei um fora antes de me confessar.
Formando um bico nos lábios, tornara a digitar apressado.
"Theodore diz:
Passei o final de semana na casa do meu pai, e um cara meio que deu em cima de mim. Enfim... Deu nisso.
Gabriel está digitando...
Gabriel diz:
Um cara deu em cima de você?"
Theodore apertara o travesseiro, ponderando se deveria contar a verdade à Gabriel, ou apenas resumir a história ocultando os maiores problemas que o final de semana rendera. Só estava curioso pra saber sua reação, já que não a vira de manhã.
"Theodore diz:
Não sei qual era a intenção dele, mas resisti às investidas e isso deve ter zangado o cara. Então aconteceu isso...
Gabriel está digitando..."
Observando a tela, Theodore estranhara a demora de Gabriel em lhe responder. Apoiando o queixo sobre o travesseiro, o loiro minimizara a tela do chat para espiar o Orkut. Rolara a tela sem se prender muito nas novidades, até encontrar uma comunidade da escola.
A curiosidade vencera e Theodore revirou os tópicos da comunidade.
— Que isso? Pensei que fosse mais sério, mas parece só fofocas generalizadas...
Lendo os títulos dos tópicos, seus olhos recaíram sobre uma que ganhara a sua atenção. O sobrenome da família Mckenzie sempre fora um chamariz para fofocas, aquela provavelmente seria mais uma. Ainda assim a maldita curiosidade levara Theodore a clicar no título e abrir o tópico para ler.
"A festa rendeu pros Mckenzie!
A festa da Fabi rendeu! Eu tinha ido só pra beber um pouco e tentar pegar algum gatinho, mas acabei vendo a rodinha dos Mckenzie se divertindo tanto... Queria estar junto"
Theodore se assustara com o som do chat, abrindo a janela com o nome de Gabriel com certa ansiedade.
"Gabriel diz:
Pensei em mil coisas pra te falar, mas nenhuma pareceu suficiente."
Estranhando, Theodore cruzara os braços sobre o travesseiro. Então, voltara a digitar rapidamente.
"Theodore diz:
Suficiente pra quê?
Não precisa se preocupar comigo, tudo já está sendo resolvido =)
E logo a dor passa.
Gabriel diz:
Fiquei preocupado, apenas isso."
— Que besta... Não precisava se preocupar.
O sorriso não saia dos lábios de Theodore, até mesmo seu pobre coração acelerava alegremente em saber que Gabriel se preocupava consigo. O que poderia ser mais alegre do que saber que o seu paquera se preocupa consigo? Não seria sinal de que se importa o suficiente?
Por isso Theodore não conseguia conter o seu sorriso.
Mas antes de responder o rapaz, Theodore voltara a ler o tópico da comunidade na tentativa de conter sua euforia. Estava feliz demais temendo responder alguma coisa que não deveria.
Não tinha a menor intenção de se confessar a Gabriel. Serem amigos era o suficiente por enquanto.
Rolando a página do tópico, Theodore continuara a ler sobre a tão falada festa. Até que uma foto fora publicada e todo o mundo do ômega loiro desmoronara.
Não piscara. Não continuou a rolar a página. Não conseguia desviar os olhos daquela imagem que parecia jogar os seus sentimentos contra o chão e pisá-los.
Theodore sabia que era questão de tempo até que algo assim acontecesse. Sempre soubera. Desde o primeiro dia de aula quando vira a garota ômega dirigindo seus sorrisos para o aluno transferido. Além de ter sido avisado por seu melhor amigo de que aquilo não seria bom.
A tela de chat de Gabriel subira repentinamente, tremendo para ganhar sua atenção. Engolindo em seco, Theodore lembrou-se não ter respondido o seu amigo. Estendendo os dedos sobre o teclado, não soubera o que digitar.
O que deveria dizer?
Fingiria que não tinha visto? Ou perguntaria sobre a foto?
Recostando na cadeira, Theodore jogava a cabeça para trás fitando o teto. Não tinha o menor direito de questionar Gabriel sobre sua vida amorosa. Se ele namorasse Sadie, era problema dele! Só não queria que acontecesse brincadeiras maldosas consigo...
"Gabriel diz:
Ei! Está aí ainda?
Theodore..."
O rapaz loiro fechara os olhos por um instante antes de voltar a ler o chat. Suspirando pesado, a fina lágrima escorria em seu rosto. Uma lágrima solitária e silenciosa.
Respirando fundo o rapaz então optara por questionar.
"Theodore diz:
Foi mal, acabei me distraindo lendo sobre uma festa
Gabriel diz:
Festa?
Theodore diz:
Estão falando de uma festa que aconteceu na sexta passada
Naquela comunidade da escola
Gabriel diz:
Você viu aquilo?
Theodore diz:
...
Não sabia que você estava namorando a Sadie
Gabriel diz:
Não estou
Na verdade foi um desafio do Milles. Estávamos jogando verdade ou desafio, e ele quis me desafiar pra provar que eu não era gay"
— Ah não... Você também não, Gabriel.
O loiro balançava a cabeça ao enxugar o rosto das lágrimas que escorriam. Mordendo o lábio inferior, ele tornara a digitar.
"Theodore diz:
Entendo... Ser meu amigo feriu a sua masculinidade?
Gabriel diz:
Não foi isso o que eu disse Theodore.
Era apenas uma brincadeira dos caras, nada demais.
Theodore diz:
Bem legal a sua brincadeira =)
Gabriel diz:
Você está bravo comigo?
Theodore diz:
Bem, por que eu poderia ficar bravo com você? Somos amigos, e seus amigos acharam que por causa disso você também seria gay, e então precisou "provar" que eu, sei lá, não te contaminei?
Não sabia que eu tinha algum tipo de vírus tão perigoso assim
Gabriel diz:
Theodore, não precisa ficar bravo por uma coisa dessas
Você sabe que essa galera não pensa direito
Theodore diz:
Mas esperava que você fosse diferente"
Fechando o chat, Theodore desviava o olhar para a parede do seu quarto tentando conter as lágrimas. Seus sentimentos pareciam espinhos em volta do seu coração, ferindo-o na medida que apertavam e se afundavam.
Havia se apaixonado por Gabriel, pelo seu sorriso gentil e pelas palavras que pareciam ir contra o mundo. O seu colega de classe estava disposto a ser seu amigo independente dos rumores inescrupulosos à seu respeito.
Fora erro seu deixar seu coração sonhar com o toque e o beijo de Gabriel. Permitiu a si mesmo de mergulhar naqueles sentimentos, mesmo sabendo que nunca se concretizaria.
Saindo do MSN e do Orkut, Theodore apoiava o queixo sobre a palma da mão e o cotovelo sobre a mesa, dando um tempo para que sua tristeza saísse. Deixaria esgotar as lágrimas silenciosas e doloridas, para se recompor mais tarde.
— Irmãozão!
Erguendo a cabeça imediatamente, Theodore vira a pequena garota parada na porta segurando um potinho em suas pequeninas mãos. No instante em que ela vira o rapaz chorando, Lisa arregalara os olhos e correra até ele se jogando em sua perna.
— Tá doendo muito irmãozão? Dodói tá doendo?
Deixando o travesseiro na cama, Theodore pegara sua irmã e a sentara em seu colo. Esboçara o melhor sorriso que poderia, a fim de preocupar a pequena garota.
— Lisa precisa de alguma coisa?
A garotinha baixara a cabeça para o potinho que segurava, e então estendia ao irmão.
— Tomar sorvete com o irmãozão. A mamãe deixou.
— Oh, então devemos tomar sorvete já que a mamãe deixou.
Mesmo que ele sorrisse e tentasse conter suas lágrimas, a pequena garota não fora enganada. Lisa estendia sua pequenina mão no rosto do mais velho tocando suas lágrimas e as limpando suavemente. E então, surpreendentemente, a garotinha encostara seu ouvido no peito de Theodore, o abraçando o mais apertado que conseguia.
— O que foi Lisa?
Com um bico manhoso, a garotinha olhara para cima sem desgrudar do irmão mais velho.
— Tá doendo, né irmãozão? Lisa cura o irmãozão.
O que poderia fazer diante daqueles olhinhos brilhantes e aquele bico? Theodore cobrira o rosto com as mãos escondendo a vergonha e a alegria que sua pequena irmã conseguia lhe proporcionar.
— Isso é golpe baixo, Lisa. — Murmurava Theodore, em seguida baixando as mãos para abraçar a irmã afagando seus cabelos — Mas obrigado, o irmãozão agora ficará bem. Vamos tomar o sorvete?
— Vamos!
Ignorando o computador que trouxera a tristeza em seu coração, Theodore se levantara com a irmã no colo deixando seu quarto para dedicar-se a um momento doce.
Em mente sabia muito bem que estava sendo covarde em não enfrentar sua tristeza. Resolveria aquilo em outro momento.