Eram onze da noite quando Theodore pegara Lisa no colo para levá-la até seu quarto e deitá-la na cama. A menina tinha caído no sono depois de dançar High School Musical, e ainda teve energia para dançar o filme The Cheetah Girls. Depois disso ela ficou quietinha enquanto Theodore penteara seus cabelos loiros e compridos, fazendo uma trança. E então ela dormira.
Encostando a porta do quarto com a plaquinha de unicórnios, o rapaz rira baixo em perceber o quão cansado estava. Não somente o dia tinha sido longo por causa do time de vôlei, como cuidar de uma criança de quatro anos pedia por muita energia.
No instante em que pisara no último degrau da escadaria, tivera de respirar fundo para encontrar mais um pouco de energia para arrumar a sala. Mantas estavam espalhadas junto com travesseiros, o sofá fora arrastado para terem mais espaço para dançarem. E ainda haviam as vasilhas de pipoca e os copos onde beberam refrigerante.
— Vamos lá!
Enquanto arrumava a bagunça, Theodore ouvira o som da garagem se abrindo e o motor do carro. Sorrindo levemente, esperou o casal passar pela porta, já imaginando que eles iriam rir do caos que instaurara na sua sala.
Não dera outra. Os dois riram em ver Theodore juntando a louça da mesa de centro e levar para a cozinha bem rapidinho.
— Se divertiram? — Perguntava o loiro ao voltar para a sala e dobrar uma manta.
— Bastante, e vocês?
— Nunca irei conseguir dançar quanto Lisa, provavelmente terei dor nas costas amanhã.
— Ela já foi pra cama?
— Uhum. Estava bem cansada.
O casal ajudara Theodore a arrumar a sala, e quando o rapaz fora pra cozinha lavar a louça, Peter se encostou na bancada ao lado do enteado cruzando os braços.
Percebendo o silêncio vindo do homem, Theodore já imaginava o que estava por vir. Ainda assim ficara em silêncio esperando a iniciativa do outro, que não se demorara.
— Sua mãe me contou sobre a ligação.
— Ah é?
— Você não é obrigado a ir, sabe disso.
Fechando a torneira e colocando o último copo no escorredor, Theodore enxugava as mãos no pano de prato enquanto se virava de costas para a bancada, ficando ao lado do padrasto. Por um instante percebera que estavam do mesmo tamanho, o que era estranho. Quando Theodore o conhecera, certamente batia em seu peito. As coisas teriam mudado tanto nesse último ano?
— Eu sei, mas também conheço meu pai muito bem. Então... Qual a história toda?
— Ele quer que você vá pra casa no final de semana. Não nesse, mas no próximo. Parece que ele vai se casar de novo, e a mulher quer te conhecer.
Theodore balançara a cabeça e soltara um riso abafado.
— Ela? Quer dizer que não é ele quem quer me apresentar à sua esposa, mas ela quem quer me conhecer?
Por que estaria chocado? Não seria essa a índole de seu pai? Já seria surpreendente demais ele ter ligado para sua mãe e feito o pedido, ao invés de ter ligado para o próprio filho. Theodore sabia que seu pai já havia enganchado em outro relacionamento, mas não estava esperando que conhecesse a pessoa.
— Não sabemos os detalhes... — Peter afagara o ombro de Theodore, fazendo-o lhe olhar. — Tem alguma coisa que eu possa fazer por você?
Theodore sentira os olhos arderem em perceber o quão preocupado seu padrasto estava. Certamente não poderia ser grato o suficiente pelo aconchego que aquele homem lhe dava. Agradecia aos céus por ele ter aparecido na vida de sua mãe.
Evitando chorar na frente dele, Theodore balançara a cabeça negando ao pedido.
— Vou ficar bem. É apenas um final de semana, não é mesmo? Eu aguento.
— Deixe o seu celular bem carregado, porque se acontecer qualquer coisa você deve me ligar. Irei te ajudar, sabe disso, não?
— Eu sei... Obrigado, Pete.
— Oh, vocês estão aí ainda. — Aline, mãe de Theodore, apareça na cozinha com um sorriso estonteante no rosto. Aproximando dos dois rapazes, ela cruzara os braços e arqueara a sobrancelha para o filho mais velho — Então...
— O quê?
— Antes da gente ter ido jantar, enquanto Lisa te esperava, ela falou algo bem curioso. — Explicava a mulher, se inclinando para sussurrar ao filho. — Que o irmãozão parecia um bobo apaixonado falando com as paredes.
Inicialmente Theodore não compreendera as palavras da mãe, até se recordar do que estava fazendo antes da chegada repentina de sua irmã no quarto. Imediatamente seu rosto ficara vermelho, e Theodore se remexia incomodado.
— E-Eu? Ela não deve ter dito isso, estava fazendo nada demais quando ela veio me chamar.
— Sua cara diz o contrário. Então... Está acontecendo alguma coisa interessante na escola?
— Nadinha. Apenas... Preparando o time pra partida amistosa.
Formando um bico nos lábios, das quais provavelmente Lisa herdara a manha, Alice batera o pé descalço no chão.
— Terei que coagir o meu espião para saber?
Fora a vez de Theodore arregalar os olhos.
— Mãe! Não ouse!
— Então me fale...
— Ela tem um espião na sua escola? — Ria Peter, recebendo o olhar pidão do enteado.
— O baixinho mais invocado da escola. Aquele dedo duro...
— Não precisarei recorrer ao meu fiel espião se você me contar... É algum garoto bonitão? Alfa? Beta?
Coçando a nuca, Theodore ainda não se acostumara a lidar com a abertura que sua mãe lhe dava para falarem sobre relacionamentos. Não por ser vergonhoso ou algo do tipo, apenas porque ainda tinha receio de que ela não estivesse tão orgulhosa quanto aparentava.
Ainda assim lá estava ela, o olhando com os olhos arregalados na grande expectativa em saber uma mísera fofoca. Theodore mordeu os lábios e suspirou derrotado quando se dera conta de que a sua mãe não lhe deixaria escapar tão cedo.
Tocando a orelha fria, Theodore então admitira.
— Esse ano chegou um cara na minha classe, e ele é ok.
— Como assim ele é ok?
— É gíria dos jovens, querido. — Retrucava Alice sem desgrudar os olhos do filho mais velho. — E então?
— Então... Nada demais.
— Ah que desperdício, esse meu filho não sabe contar fofocas.
Peter apenas ria balançando a cabeça, deixando mãe e filho conversarem seus assuntos. Theodore até pensou em seguir o padrasto só pra fugir, mas sua mãe fora mais rápida ao se colocar na sua frente mantendo os olhos arregalados sobre ele.
Rindo, o garoto então concordava com a cabeça.
— Tudo bem, tudo bem. Ahm... Ele é um alfa legal e é bom nos esportes. Entrou pro time de vôlei.
— Um alfa? Aaaah! Isso significa que ele vai estar lá no sábado?
— Sim, acho que é a primeira partida amistosa dele.
Alice tivera que reprimir o seu grito eufórico, mas não segurara os pés ao dar pequenos pulinhos de felicidade.
— E como ele é? Alto, baixo...
— Alto. Cabelos escuros, olhos castanhos... Não é muito forte, mas também não é magricela. Fica bem de uniforme.
— Qual o nome dele....
— Mamãe!
Alice e Theodore se viraram para a porta da cozinha, onde a pequena Lisa segurava um unicórnio de pelúcia e coçava os olhinhos com um bico manhoso nos lábios. Assim que ela viu a mãe, Lisa tratara de correr para abraçar sua perna.
— Oh minha querida, por que está acordada?
— Quero dormir com a mamãe.
Alice pegara a filha no colo e lançara um olhar para o loiro.
— Você não me escapa, mocinho.
Theodore apenas dera um sorrisinho acenando para a mãe, que logo deixara a cozinha para ir colocar a filha pra dormir. Estando sozinho, o rapaz se apoiara na bancada da pia sentindo o alívio de ter escapado da curiosidade de sua mãe.
Por ora.