*Doce sangue
Doce sangue que ferve em suas veias
Me faça embriagar como vinho
Meu coração necessita loucamente do seu*
Quando Vladminsk se deu conta dos olhares ansiosos das moças por ele, teve de ser cordial. Não seria apropriado deixar donzelas afobadas por querer ter uma oportunidade com ele. Depois de dançar com sua preferida, pediu licença. Emália certamente entendeu a educação do conde. Não era justo dançar só com ela e deixar os convidados principais de lado. Se bem que ela desejou nunca mais sair de seus braços. Se afastou depois de passar uns minutos observando o conde dançar com uma moça mantendo o sorriso sublime. Ele lhe lançava um olhar escondido enquanto sorria para moça.
Foi ver como estava seu pai que tossia de vez em quando. Marienny se encontrava em sua companhia agora.
- Oh Emália é um prazer conhecer a pessoa de seu pai – disse dando um sorriso largo. O senhor Holths ficara tão encabulado com a honraria da condessa que ficou sem palavras, talvez mais pelo ataque de tosse repentino. Ela o tocou levemente no queixo. O senhor Holths enrubesceu. Mas ao focar nos olhos dela ficou ligeiramente intrigado com a cor de suas pupilas verdes com tons rubros. Como duas esmeraldas afundadas num taça com vinho.
- Seu pai não parece nada bem Emália – disse ao soltar o queixo do senhor Holths.
- Eu sei condessa. Eu vou providenciar uma carruagem para nos levar em casa – Emália fez um carinho no ombro do pai.
- O que? – protestou a condessa. – Nem pense em sair lá fora sozinha – Emália se surpreendeu com o tom de Marienny que foi quase uma ordem.
- Não queremos incomoda-la condessa. Não me sentirei bem se...
- Não diga isso Emália. Quando eu disse que seriamos amigas, eu realmente quis dizer que seriamos como irmãs e que seriamos fieis uma a outra – antes que Emália abrisse a boca Marienny ressaltou: - e nem pense em dizer que isso é um exagero.
- Na verdade estou surpresa com sua imensa generosidade.
- Isso não é generosidade minha querida. Isso é amizade, ou melhor, irmandade. Não posso deixar que um de meus convidados mais ilustres saia sem um atendimento adequado de um anfitrião que preza sua presença.
Emália quase falou, mas se surpreendeu com ela mesma ao barrar sua boca num bico.
- Vamos Lourenço ajude o senhor Holths a subir para ala dos aposentos – Marienny fez um sinal para um dos empregados que arrumava uma bandeja de ouro na mesa de canapês. Falou alguma coisa no ouvido do rapaz. Em poucos minutos ele retornou com a governanta Raquel, que compreendeu as instruções e providenciou de imediato um quarto confortável para o senhor Holths. Ele fora ajudado por Lourenço e Emália até o segundo andar. Ao entrarem já tinha uma roupa confortável para vestir, uma banheira com agua quente e ervas o esperando. O senhor Holths se sentiu envergonhado com tamanho cuidado para com ele. Emália saiu e agradeceu a condessa. Lourenço ficou de ajudar o tio a tomar banho e se vestir. Logo depois de deitar confortavelmente na cama foi lhe trazido um chá quente.
- Não sei o que...
- Não diga nada Emália – disse Marienny. – eu me sentiria muito mal se não me movesse para ajudar seu pai. Eu sei que ele pode estar neste estado por ter se esforçado no trabalho com nossas roupas. Eu não imaginava que...
- Não Marienny – foi a primeira vez que se dirigia a ela informalmente, desde que a conhecera nas ultimas três semanas. – Não se culpe. Esse trabalho deixou meu pai feliz e revigorado a tal ponto que parecia que nem estava mais doente.
- Oh minha querida - Marienny suspirou e determinou: - Então está decidido.
- O que está decidido? – Emália arqueou uma sobrancelha.
- Seu pai ficara hospedado aqui até se recuperar completamente.
- Mas não é necessário condessa. Não queremos ser um estorvo para...
Marienny arregalou os olhos encarando Emália com mais exatidão. Leu o sofrimento nas linhas de seu belo rosto. O sofrimento da perda da mãe, da irmã e do irmão. Ela tinha essa capacidade desde que... Desde que se tornara o que é agora.
- Nem mais uma palavra. Fique também. Eu já ordenei que providenciasse mais dois quartos. Hoje é meu aniversário e não aceito que não façam minha vontade. Você não vai querer ver eu triste não é? – fez um beicinho tão gracioso que Emália não pode deixar escapar um sorriso de concordância.
- Agora vamos retornar para o salão.
As duas desceram o restante dos degraus até o salão aglomerado de convidados. Ao ter uma visão das pessoas ai presentes, Emália se sentiu inibida, era a única convidada sem título diante da alta sociedade londrina. Porem a educação que recebera de seus pais não se distanciava da refinada educação de qualquer uma das moças, filhas de condes, viscondes ou duques. Ela tinha um porte refinado, sutil e elegante. Suas feições eram únicas, lábios grossos e médios, sensuais que se destacavam com a tonalidade rósea da base. Olhos amendoados com íris reluzentes e pupilas castanhas esverdeadas. Cabelos claros quase dourados. Uma moça, Grace Ingrinias, vestida de um vestido de cetim cinza claro com expressão imponente lhe lançou um olhar de desprezo. Sabia que Emália não fazia parte daquele ambiente aristocrático, sua mãe já encomendara algumas vezes vestidos de festa para o senhor Holths, mas isso fora bem antes dela encontrar um estilista francês e passar a importar de Paris. Sua mãe ansiava que ela conquistasse a atenção do conde novo para si, a empurrara para Vladminsk desde a festa anterior. Grace levantou a bandeira da mãe, seu interesse pelo conde aumentou. Interesse ambicioso a ponto de declarar guerra as outras pretendentes. Ela percebera os olhares do conde para Emália durante a festa, considerou que o conde poderia está apenas querendo se divertir com uma pobre sem título.
Então para marcar o território se enveredou entre os convidados e se intrometeu de modo a ficar mais próxima do conde e de sua irmã, enquanto as palmas soavam empolgantes pelo salão. Todos cantavam parabéns para a aniversariante. Seus pensamentos corriam sem rédeas em sua cabeça com um olhar venenoso na direção de Emália. Venenoso o bastante para Vladminsk captar o que ela dizia internamente.
"Pobre filha de alfaiate. O que deve está pensando? Talvez na sua passageira ilusão acha que poderá ser despojada por um nobre esta noite. Que tipo patético. O conde já é meu e logo ele se dará conta de meus encantos" deu sorrisinho confiante que se confundiu com um sorriso de alegria dos convidados. Uma ira se apoderou no peito de Vladminsk, se pudesse, ah se pudesse arrancaria seu pescoço com seus dentes neste exacto momento.