Papel amassado
Coração despedaçado
Tinteiro derramado
Pincel quebrado
Como Marienny havia dito, o médico viera em um dia nublado examinar Emália. Que por sinal estava esperançosa que desse positivo. Ela comentara com o pai. O senhor Holths ficara contente com a possibilidade de ser avô. Lourenço saíra da reclusão e parecia se sair muito bem diante de todos. Depois de uma hora, o médico saira do quarto e anunciara que o teste fora negativo. Marienny agradeceu e se despediu. No escritório do irmão dera a notícia.
- Deu negativo - disse ao levar a taça de vinho a boca. Vladminsk permanecera calado. - Não precisa ficar assim. Estou convicta que Emália vai superar.
Num ato de fúria, o conde arrastara de cima da mesa os livros e papéis que ai estavam. Levando-os a cair no chão.
- Não pensei que isso fosse te afetar tanto - Marienny comentou surpresa ao ver a atitude frustrada do irmão.
- Quero ficar só - foi o que apenas disse. Marienny então o deixara.
O coração do conde parecia sangrar pela dor de não realizar o desejo mais precioso de sua esposa. Lhe conceder um filho. Se sentira mais morto do que costumava se sentir, após ser transformado em vampiro por seu tio Rosnan. Uma lágrima caíra atrevidamente de seu olho. Ele amava Emália mais que tudo. Mas o fato de não poder lhe dar filhos, era pior do que morrer e reviver das sombras. Pela primeira vez sentiu-se arrependido de ser o que é agora. Vampiro. Desejou mais que tudo, ser um homem normal. Um homem que pode acalentar o coração de uma mulher. Que pode aquecer o ventre de uma esposa e lhe gerar a semente da vida.
Os dias seguiram nublados na mansão Rossien. Desde que Emália soubera que não estava de fato grávida. Uma depressão a assolou, não só a ela, mas todo o ambiente pareceu ficar mais sombrio. O que intensificou mais ainda a nebulosidade que os cercava.
O conde evitava se aproximar ou até falar com a esposa. Mesmo a noite não a procurava como de costume. Continuava a chegar a meia noite encharcado de sangue, porem sua inspiração para escrever poesias afundou no mais obscuro sentimento de frustração. Marienny sugerira para que ele contasse a verdade para Emália. A verdade do que realmente era. Mas disse que tinha medo. Medo dela não o aceitar. Medo de perder seu amor para sempre.
Em um dia que Lourenço fora levar chá para seu tio Holths. Ficara perturbado com o cheiro do sangue no dedo espetado pela agulha, na qual Holth usava para costurar. No entanto o tio não deixara de notar a mudança repentina no rosto do rapaz, que tentou disfarçar. Assim confirmando suas suspeitas. Sabia que Lourenço passara mais tempo com a condessa do que o ajudando no ateliê. Então teve a oportunidade de pressionar o rapaz com um interrogatório firme. Este acabou cedendo e lhe revelando o segredo da condessa, e, no que ela lhe transformara. Holths ficara horrorizado. Mas Lourenço lhe garantiu que os irmãos não eram maus. Mesmo que o tio tenha deduzido que eles fossem os tais assassinos, que atacavam as pessoas nas noites de Londres. O rapaz insistiu em garantir que não eram. Revelou também o que Marienny fizera para curá-lo. Holths ficara abismado e confuso. Seu medo era um misto de temor e reflexão. No decorrer dos dias o tio fora aceitando a mudança do sobrinho. Que toda vez exaltava os irmãos pelos seus feitos e como era encantador ser um vampiro. Aos poucos uma vontade florescia no seu coração. Nunca mais precisaria dar trabalho para sua filha e poderia ter sempre boa saúde. Viver na eternidade pareceu-lhe um vislumbre.
Os empregados da mansão ficaram agitados com a chegada de uma carruagem que estacionara no jardim. Não esperavam visitas ilustres e nem foram informados de que alguém importante chegaria. O conde descera as escadas especialmente para receber o tal visitante. Explicou aos empregados que ficassem calmos e providenciassem uma recepção simples para recebe-lo. Emália recebeu o recado de Lourenço para que se fizesse presente na sala de estar. Ela se aprontou e desceu acompanhada de seu pai e Marienny.
A porta se abriu e dela surgiu um homem alto, esbelto, impecavelmente bem vestido, seus olhos azuis brilhavam e uma alegria se fazia presente em seus lábios. De imediato sua simpatia encantou os demais. Diferente de Vladminsk, seu rosto era corado e sua beleza ia além do padrão. Vladminsk deu as boas vindas a seu primo e tratou de apresenta-lo a seus novos parentes. Raysson Vladneski, era o que chamavam de semeador, assim fora nomeado por seu tio Rosnan. Seu pai anteriormente o fora. Raysson sabia exatamente seu papel na família. Sabia o que a maioria era. Vampiros. Alguns lendários até, que descendiam do poderoso Conde Empalador Vlad. Dentre os familiares, alguns eram escolhidos para serem semeadores, para assim edificar a raça e manter as gerações. Estes deveriam ser protegidos, e nunca atacados pelos demais parentes vampiros. Ele recebera a carta de Vladminsk e viera para atendê-lo.
O almoço tivera um clima alegre, tanto que Emália se sentira mais a vontade e até sorrira um pouco. Raysson deixou a todos bem descontraídos com sua singela simpatia. Marienny logo desconfiara de sua presença repentina na mansão. O irmão com certeza tomara alguma decisão sem consultá-la.