- Sentem-se - Pediu.
Entreolharam-se. O diretor também sentou avaliando a ficha escolar deles. Abriu o de Lúcia e iniciou o sermão.
- Lúcia Evelyn... - Pronunciou.
- Sim - Ela respondeu desconfiada.
- Você tem um histórico fabulous. Tem notas ótimas, ganhou o concurso cultural de dança dois anos seguidos e entrou na companhia de balé moderno Golden Swan.
Lúcia ergueu a pestana orgulhosa. Marcos a olhava de canto admirado. Ela o beliscou perto do cotovelo. Ele sentiu suas unhas puxarem sua pele como agulhas a espetando. Pisou no pé dela sobre seu sapato.
- Mas nunca, nunca, never... - Continuou o diretor Coutinho. - Chegou atrasada no colégio e nunca teve uma falta sequer nos ensaios e nas aulas.
- Senhor Coutinho eu posso explicar...
- Não lhe passei a palavra ainda... Senhorita - Repreendeu.
Lúcia mordeu os lábios, sentindo-se rebatida. Marcos apertou seu pé mais forte dessa vez. Ela saltou dando um chute nas costas da mesa do diretor.
- Não pense... - O diretor pausou para entender a inquietação dos dois jovens. - Não pense que ficará impune. Fiquei sabendo que se retirou da Cia pelo diretor Bellis. Isso... Isso é inadmissível - Quase grasnou como uma garça.
Lúcia transpirava invocando as emoções mais impertinentes. Sentiu vontade de sair correndo. Quis cobrir o rosto com seu fichário, mas era impossível de fazer isso neste momento. Teria de enfrentar a situação agora. Marcos fechou os punhos imaginando esbofetear o diretor. Ela mordia o beiço e passava a língua entre os lábios angustiada. Ele estava quase pirando ao ver os gestos dela com a boca. Pirando de excitação. Queria bater nela para que parasse. Porem aquietou sua ansiedade, pois jamais o faria, jamais a mancharia com a violência de suas mãos, para ela, apenas caricias e beijos.
O diretor se voltou para Marcos.
- Senhor Donavan!
Marcos se arrumou na cadeira prensando os dentes por dentro da boca.
- Sim - Engoliu seco.
O diretor abriu sua pasta e avaliou. Demorou cinco minutos antes de falar. Marcos aproveitou a distração do diretor e enfiou o dedo discretamente na alça da calça de Lúcia dando puxadinhas que a deixavam inquieta. Ela o beliscou quando o diretor tirou a vista da ficha e voltou à atenção para eles.
- Vejamos... Você tem notas razoáveis, mas precisa adquirir pontos para melhorar em algumas matérias. Ah! Está aqui a razão? Você tem muitas licenças.
- É...
- Espere... Não lhe passei a palavra. Agora compreendo o motivo. Tudo bem.
'' Por que será que ele tem tantas licenças?'' Refletiu Lúcia.
- Mas mesmo assim tem de se esforçar para preencher sua tabela de notas. Vi na sua ficha que fez curso de street dance nos Estados Unidos com um tal grupo D-DAY. É isso mesmo?
- Foi - respondeu.
- Bom, agora a punição.
Os dois temeram quando o diretor formulou a frase.
- Senhorita Evelyn me parece que ainda está sem par para participar do concurso cultural de dança do colégio.
- Isso mesmo.
- Senhor Donavan me parece que você não teve interesse em se inscrever no concurso.
- Estou sem tempo.
- Mesmo?
- Mesmo.
- Teria interesse se tivesse mais tempo?
- Sinceramente não.
- Muito bem. A punição será a seguinte: Você, Donavan fará par com Lúcia Evelyn.
- Que? - Lúcia protestou.
- Isso mesmo. Para poder adquirir pontos nas matérias e trabalhos escolares. Vou inscrevê-lo já.
- Olha diretor eu não sei se poderei dançar como um ganso - disse olhando para Lúcia que encarou o dito como uma ofensa.
- Que termos senhor Donavan? - Condenou o diretor.
- Ganso? - Lúcia ficou de boca aberta ofendida.
- Parem os dois. Já me decidi. Nem pensem em faltar com o compromisso. Podem ir para sala de ensaios.
- Que? - Os dois falaram ao mesmo tempo.
Saíram da sala se empurrando e beliscando. No corredor deram de cara com Adonis, que cinicamente os provocou.
- E ai, gostosa, como se sentiu quando experimentou o meu amasso alemão?
- Porco! - Xingou Lúcia.
Marcos quis avançar em Adonis, mas Lúcia o conteve prendendo as mãos no seu peito.
- Eu vou te estraçalhar seu merda - retrucou.
- Deixa, não vale a pena - falou Lúcia.
- Você vai ter sua chance, Punho de espinho - disse Adonis saindo em direção à sala do diretor.
Lúcia ficou intrigada do modo como Adonis se referiu a Marcos.
- Vamos para sala.
- Não! - Disse Marcos descendo para o banheiro.
Na sala de aula, Rafaela apresentava seu trabalho de arte falando sobre dança do ventre. Ao terminar voltou para sua mesa. Foi surpreendida com um bilhete. Quem a teria mandado? Só pensava que teria sido o garoto que a elogiou. Restava saber se punks eram românticos a esse ponto. Ainda ficara na dúvida.
Lúcia ligou o som e começou a se aquecer. Tentou relaxar e pensar em uma coreografia para dois. Marcos retornou e ficou estudando seus movimentos que deixavam suas curvas mais atrativas. Enquanto que Lúcia estava de costas sem perceber sua presença. Pôs-se de frente a ela vestido com calça folgada e regata. Ela se virou e pode vê-lo parado como uma estátua de braços cruzados a encarando. Ela mordeu os lábios de modo que o perturbou. Ele se descontrolou. Cercou-a na parede, pôs suas pernas ao redor de sua cintura e suspendeu-a beijando fogosamente.
- Não - Ela sussurrou. - Não podemos fazer isso aqui.
- Droga - resmungou Marcos. - Eu estou doido por você. Escudeira... Não morda sua boca desse jeito que eu fico louco.
- Temos que treinar - disse ela quase sem folego. - Treinar para o concurso. Você precisa de notas e eu terei que te aturar como punição, e lutar para me redimir.
- Vou fazer dessa sua melhor punição - declarou ele.
Marcos a desceu se afastando. Fez movimentos de muaythai. Ela não entendeu o que ele quis mostrar.
- Eu desafio você agora - falou.
- Serio?
- Numa disputa de street. O que se sair melhor e convencer o outro com bons movimentos... Aliás quem vencer será o coreografo. Ok?
- Ok. Eu aceito.