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Chapter 4 - CHAPTER 4

Lúcia andou tremula pela rua XV de Novembro, sentindo-se amedrontada pelo que passou nas mãos de Adonis. Sentou-se no banco e chorou desamparada. Nunca imaginou que o tal chegaria a tanto. Já era mais de dezoito e meia, o frio da noite estava gelado fazendo o corpo dela tremar mais ainda.

Marcos caminhava por ai e a reconheceu pelo colam de dança. Sentou-se do seu lado e percebeu o soluço do choro.

- Ei. O que houve?

Lúcia reconheceu a voz de Marcos. Pediu colo aconchegando a cabeça nas suas pernas. Ele ficou confuso sem entender. Mas aceitou o pedido dela. Fez uma caricia no antebraço de Lúcia.

- Você não vai me contar o que aconteceu?

Ele a levantou para o lado com cuidado, fitou seu rosto e enxugou suas lagrimas com os polegares. Marcos respirou fundo tentando imaginar o que a teria deixado neste estado.

- Olha. Eu preciso ir trabalhar. Vem aqui - ele se levantou e tirou o casacão, puxando-a delicadamente pela mão a pôs de pé cobrindo-a. - Vou te acompanhar até a parada de ônibus, no bolso tem grana para passagem. Ok.

Ela balançou a cabeça num sinal de sim. Ele a levou até o ponto e esperou junto até que entrasse no veículo. Depois Marcos caminhou na direção que dava para o bar Clicker que ficava pouca distância daí. Enquanto que Lúcia chegava à casa cansada, viu que a mãe já estava dormindo, subiu e foi para o quarto.

R... Hoje foi... Outro pior dia da minha vida. Estou desmoronando literalmente. Nunca pensei passar pelo que passei hoje, nunca...

Sinto-me destruída, mas creio que não é o fim do túnel. Tenho que resistir. Se eu pudesse esfolava aquele ogro. Estranhei o Hayden ter aparecido e por incrível que pareça ter me salvado. Será que eles tinham combinado? Ai! Não sei. O mais incrível mesmo foi o espinhoso que mostrou um lado que eu não conhecia, se revelou um verdadeiro cavalheiro. Um lado que eu amei. Ficou tão elegante vestido para trabalhar, estava tão sereno e sério. Tão meigo e paciente. Estou agora com o casaco dele. Tem seu cheiro. É tão bom cheirá-lo. Na verdade não consigo esquecer até agora, aquele beijo que ele me deu. Sabe, foi meu primeiro beijo. Desde que o espinhoso se foi, nunca tive coragem de namorar nenhum garoto. Acho que no fundo eu estava esperando por ele, como tanto esperei naquelas semanas no portão de casa para brincarmos. Quando me dei conta meus 14 anos tinham chegado e com isso o cansaço de tanto esperar. R... Este será nosso segredo.

Beijos!

E assim dormiu vestida com o casaco de Marcos.

Marcos não conseguia parar de pensar em Lúcia, tentava decifrar sua expressão de medo, queria descobrir o quê, ou quem a havia deixado naquele estado. Isso doía no seu coração, o angustiava por não saber o que havia passado com ela. Para sua inconveniência, Adonis sentado em uma das mesas o reconheceu e começou a provocá-lo.

- E sua protegida como está?

- Estou no meu trabalho, não costumo bater papo com os clientes – disse Marcos mostrando indiferença.

- Lúcia, Lúcia... - Repetiu.

Marcos ficou perto atendendo outra mesa quando o ouviu falar o nome de Lúcia. Voltou-se para mesa de Adonis.

- Faça seu pedido - disse o encarando.

- Cara! Sua amiguinha se debateu como uma vaca no matadouro, quando...

- Quando o que? - Marcos quase irritado.

- Ah! Agora está curioso é?

- Fala logo seu babaca.

- Devia ser proibido tratar os clientes desta forma não é?

Marcos não quis dá bola e virou de costas para atender outra mesa.

- Ela gritou tanto, tanto... Quando eu estava entre suas gostosas pernas, quando apertei sua bunda e tirei sua virgindade com virilidade. Gemeu como uma cadela aquela vadia.

Ao escutar as palavras sádicas de Adonis, a raiva incendiou sua cabeça, voltou-se com impetuosidade e o esbofeteou tão forte, que o fez cair com a cadeira na calçada do bar. Os clientes se assustaram com a atitude inesperada do garçom. Adonis se levantou com dificuldade cuspindo sangue. Marcos em fim se tocou que havia sido isso que acontecera a Lúcia, por isso estava envergonhada sem coragem de falar a verdade.

- Eu vou te pegar na arena Marcos. Eu sei o que você faz. Carteira de identidade falsa e clubes clandestinos. Eu sou o décimo oponente que está na lista que vai acabar com você - Declarou apontando para Marcos e saindo do local.

Arrumou as cadeiras e pediu desculpas a todos. Infelizmente fora despedido do emprego pelo que fez. Saiu e foi direto para academia do seu tio.

Encontrou-se com ele. Conversaram um pouco e começou a treinar com grande esforço. Os dois descansaram bebendo água. Marcos ajudou Gilberto a arrumar e fechar a academia. Às onze horas da noite chegou ao clube de briga. Alguns jogavam nas mesas de cassino. Garotas dançavam no palco e outros se concentravam no espaço da arena de luta.

- Chegou o campeão! - Anunciou Araf, gerente do clube e sócio do dono. Sempre apostava em Marcos que nunca o decepcionava nas brigas, assim garantindo sempre seu dinheiro.

Marcos ganhava cinco mil por noite. Lutava três noites e folgava por três noites. Araf o amava de certa forma como um filho. O babava. Dava-lhe qualquer coisa que ele pedisse. O abraçou e beijou na testa.

- O que tem para hoje? - Marcos perguntou.

- Nossa! Você veio com sede hoje - Respondeu dando palminhas no ombro de Marcos. - Tem dois.

- Então vou me preparar no camarim.

Dirigiu-se para o corredor dos banheiros abrindo uma porta que dava para um espaço reservado. Lá era seu lugar. Seus dez uniformes de luta bem lavados e dobrados o esperavam. Escolheu a bermuda branca com lista dourada dos lados. Pegou as faixas brancas e as separou no banco. Preparou numa pequena tigela chinesa cola, e em outra tigela estilhaços de vidro. Fez aquecimento. Bebeu um energético e relaxou. Depois tomou uma chuveirada. Enxugou-se e vestiu a bermuda. Enfaixou os calcanhares, joelhos, cotovelos, cintura e mãos. Amarrou uma bandana thai na cabeça. Misturou vidros na cola e começou e encharcar os punhos, com um pincel passou o preparo nas faixas dos joelhos, cotovelos, cintura e um pouco nas faixas dos pés. Uma enorme tatuagem de uma águia segurando uma cobra com bico cobria toda suas costas. Respirou fundo. Agora estava pronto.

Na arena o apresentador anunciava a luta da noite, dois contra um, valendo vinte mil. À galera vibrava pedindo pelo espetáculo violento.

- Agora o astro da noite! Punhos de espinho! - Disse o apresentador apontando para entrada por onde surgiu Marcos.

Todos chamaram seu nome de lutador. O DJ tocou sua música de hip hop. Subiu no tatame e deu seu espetáculo pessoal de street dance. Os espectadores curtiam o som o assistindo no maior entusiasmo. A cada passo conquistava o público, inclusive aos apostadores que jogavam contra ele. Quando a música acabou, o apresentador anunciou os dois oponentes que iam lutar contra Marcos. Os dois subiram no tatame balançando seus corpos. Mostrando que estava um do lado do outro, dispostos a não perder.

Os três se posicionaram. O sino tocou e começaram com socos e chutes leves. Marcos dançava sem intimidação. Deixando que os oponentes se cansassem. Foi quando deu dois socos abrindo os braços flexionados para os lados atingindo os abdomens de cada oponente. Estes caíram, um para cada lado. Com suas barrigas arranhadas pelos punhos envidraçados de Marcos. Araf comemorou a iniciativa de seu predileto.

Punho de espinho fez um passo de dança mostrando que estava no controle. Seguro de si mesma deu mais dois socos cruzados atingindo dessa vez os rostos deles. Os dois partiram para cima de Marcos dando socos no seu estomago, mas acabaram ferindo seus próprios punhos por causa da faixa com vidros.

Para finalizar, Marcos deu vários socos rápidos em um dos oponentes fazendo nocaute. Depois partiu dando socos no outro e nocauteando também. Todos gritaram seu nome festejando a vitória. Os dois lutadores saíram com seus rostos e estômagos sangrando da arena.

Para dar uma visão emocionante para seus admiradores, Punho de espinho foi para área de dança, subiu no palco e dançou sensualmente. Deitou no solo do palco com pernas flexionadas e a cabeça apoiada nos braços. Duas dançarinas se aproximaram com garrafas e jorraram cerveja sobre seu abdômen formando uma cachoeira. Muitas mulheres desejaram lambe-lo na barriga, ficaram loucas pela cena. Ficaram loucas por ele. Mas apesar de toda pompa, Marcos só pensava numa garota em especial. Lúcia.

Despediu-se de todos e foi para seu camarim. Tirou as faixas com cuidado e a bermuda. Araf entrou e o parabenizou pelo feito. Passou-lhe seu pagamento em cheque.

- Quinze mil para você e quinze mil para euzinha. Araf riu com ganância. - Você foi um verdadeiro pilantra usando essa tática dos estilhaços de vidro nas faixas.

- Se eu não o fizesse, não garantiríamos nossa grana e ainda mais os agentes foram sacanas me fazendo lutar com dois adversários. Eu tive que usar meus meios né?

- Uou! Pensou bem garoto - disse Araf saindo do camarim.

Marcos tomou um banho para refrescar. Vestiu sua roupa. Saiu do local e pegou o ônibus. Ao descer na sua rua, foi até a casa de Lúcia. Estava com frio, lembrou-se do seu casaco. Resolveu então subir pela arvore próxima à janela do quarto de Lúcia. Já era cinco da manhã quando conseguiu habilidosamente invadir o quarto dela.

De toda a visão e show que proporcionou as pessoas do clube, essa que tinha agora de ver Lúcia deitada com seu casaco era a mais espetacular. Aproximou-se agachando do lado da cama. Fitou sua face que estava calma e angelical. Arrumou alguns fios de cabelos que caiam sobre seu rosto com cuidado para não acorda-la. Sem querer viu seu diário semiaberto perto do travesseiro. Curioso, abriu exatamente na página marcada pela caneta e leu alguns trechos do que ela escrevera recentemente e descobriu seu segredo. O segredo que Lúcia confiara somente a seu diário.

Ela se mexeu. Marcos largou rapidamente o diário no mesmo lugar. Ficou do outro lado da cama, onde podia ficar pelas costas de Lúcia. De modo travesso, ligou do seu celular para o dela. Lúcia acordou bocejando para atender. Quando se virou para o lado se assustou ao ver Marcos no seu quarto.

- Oi! - Ele disse.

- O que... Como você entrou aqui? - Disse ainda sonolenta.

- Eu vim buscar meu casaco.

- Ham?

- Estou com frio - Prensou os dentes que fez os músculos de suas faces se mexerem dando-lhe um charme.

Lúcia não pode deixar de assumir para si que este gesto lhe atraiu. Seu amigo de brincadeiras infantis tinha se tornado um cara bonito de gestos sutis sensuais. Imaginou quantas garotas já teriam provado de seus lábios, quantas já teriam tomado seus beijos.

- Você não está tão mal dessa vez. O que houve?

- Eu me safei bem dessa vez.

Ela se levantou e ficou de frente a ele. Tirou o casaco a fim de entregá-lo. Marcos não se segurou, chegou perto e atreveu-se a dar-lhe um beijo.

- Eu quero que... - Sussurrou. - Que seus lábios sejam somente meus. Só meu... E quem se atrever além de mim a tocá-los, eu irei matar.

- Você mataria por um lábio?

- Pelo seu sim. E pelo restante de você também - Murmurou com paixão.

- Então você...

- Estou doido por você. Sempre fui. De agora em diante quero que você seja só minha, e qualquer canalha que se aproximar de você, eu...

- Você nem perguntou se eu quero?

__ E precisa?

- Não... - Ela respondeu num sussurro.

Ele pôs os dedos entre seus cabelos trazendo seu rosto para mais perto e a beijou com carinho.