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Chapter 34 - Agnus Dei qui tollis peccáta mundi

Na floresta da desolação, o jovem casal de viri sanguinium agora se alimentava com carne de raposa. Os viri sanguinium estimulavam seu fator de cura, e sua força com o sangue, porém, não significava que só pudessem ingerir sangue humano. Logo, o jovem, virando-se para a bela moça de cabelos loiros e olhos azuis, perguntou:

-Então? Será que eles vão vir? Já estamos esperando a tanto tempo com o garoto em mãos! Eu já estou cansado de esperar.

Olhando para o garoto amarrado e encostado em uma árvore próxima, com os olhos cheios de ódio, a bela moça respondeu com malícia direcionada à ele:

-Não sei, mas se continuar assim, acho que teremos que encontrar uma fonte de entretenimento para passar o tempo!

O jovem de cabelos e olhos pretos, olhando para a criança com um sorriso malicioso falou:

-Uma ótima ideia.

As bestias que estavam próximas, estavam todas imóveis em seus lugares, com medo de atrair a ira de um desses dois. Eles já haviam caçado alimento para os jovens, mas não ousavam caçar para si enquanto não recebessem aprovação do casal. Então, o jovem, olhando para a moça perguntou:

-E tu, já estás melhor agora?

Virando-se para o jovem de cabelos pretos a moça respondeu:

-Eu não sei, tenho sentido um desconforto desde então, o enjoo passou, porém, sinto como se faltasse algo! Não sei explicar. Mas estou certa de que tem algo a ver com o sangue deste garoto!

O jovem estava prestes a continuar questioná-la sobre aquilo, quando próximo de sua localização, uma massa escura de névoa negra explodiu , e desta massa negra surgiram três figuras.

O jovem casal imediatamente se alertou com aquela explosão, porém, assim que colocaram seus olhos na figura que os liderava, colocaram-se ambos de joelhos, e do mesmo modo, as bestias seguiram seu exemplo. Então, ambos proclamaram ao mesmo tempo:

-Salve De Avarum!

Enquanto as bestias se prostraram em reverência ao seu rei. Logo, De Avarum, furioso se aproximou, dizendo com sua voz desagradavel:

-Onde está o garoto?

Ambos então, rapidamente se levantaram e correram até o menino que estava amarrado. Levantando-o e levando-o amarrado até a frente do rei. O garoto não resistiu, e permaneceu o tempo todo em silêncio. O rei, vendo-os trazer em mãos a criança, sentiu finalmente seu humor melhorar, e logo começou a gargalhar em loucura:

-Ele está em minhas mãos! Não importa o quanto esses insetos se coloquem em meu caminho, este mundo está destinado a ser meu!

Logo, ambos pararam na frente do rei com as cabeças inclinadas e segurando entre si o garoto em seus braços, que sem emitir um som, ficava de pé entre eles sem resistência. A bela moça pretendia perguntar ao mordomo quando o visse sobre o que era o garoto e sobre o seu sangue, porém não o vendo ao redor, ela não ousou dizer uma só palavra em frente ao rei louco.

De Avarum, sorrindo cheio de deleite e loucura, fixou seus olhos na criança que tinha a cabeça inclinada levemente, impedindo-o de ver seu rosto. Então, com uma risada maliciosa, De Avarum falou:

-Não tenha medo criança! Eu não vou te machucar.

Logo, com suas magras e ossudas, com seus dedos cobertos de anéis com joias, ele pegou a criança pelo queixo e levantou sua cabeça para que seus olhos se encontrassem, enquanto sorria com malícia expressa em sua face unida a um intenso deleite por finalmente ter a criança em mãos.

No entanto, assim que viu a face do garoto ele sentiu algo errado. Em seu rosto havia firmeza e resolução, e em seus olhos calma e serenidade.

Logo, quando seus olhos avermelhados encontraram-se com os olhos da criança, ele sentiu ser mergulhado em um oceano profundo e calmo. Diante daquela visão, ele questionou a criança com desconfiança, rosnando:

-Estes não são olhos que uma mera criança pode ter! Quem é você?

Porém, o garoto permaneceu olhando para ele com seus olhos profundos em silêncio. De Avarum, vendo que não receberia respostas do garoto, começou a sussurrar como uma serpente buscando sondar o garoto.

Todos os viri sanguinium ainda enchiam-se de medo ouvindo aquele sibilar, que a todos soava incompreensível, porém, de alguma forma, a criança ouvindo aqueles sussurros enchia-se de tristeza, como se entendesse o que o rei louco dizia. Terminando de sibilar, De Avarum percebeu que não estava diante de uma simples criança e gritou furioso:

-QUEM É VOCÊ? ONDE ESTÁ O GAROTO?

Todos ouvindo aquilo, ficavam em dúvida, Proditor, Puéria e principalmente o jovem casal. Já que era claro para eles que o garoto estava ali, diante de seus olhos. Porém, a criança que estava o tempo todo em silêncio, ouvindo as palavras do rei louco, olhou profundamente para De Avarum, com os olhos cheios de tristeza, e logo, falou em uma voz grave, porém, cheia de mansidão:

-Porque dizes estas palavras? Porque tu matas a ti mesmo desta forma?

Ouvindo aquela voz que com certeza não pertencia a uma criança, De Avarum se enfureceu, rugindo:

-CALE-SE MALDITO! Poupe-me de suas palavras!

E cheio de ira, completamente enlouquecido, o rei apunhalou o coração do garoto com o cetro azeviche que carregava em sua mão direita. Assim que o cetro atravessou o seu coração, a criança imediatamente começou a brilhar com intensidade.

De Avarum vendo aquilo, no mesmo instante, soltou o cetro, e se afastando, cobriu-se com névoa negra tentando se proteger da luz. Proditor que estava alerta o tempo todo para o caso do rei atacá-lo, imediatamente se cobriu em escuridão mais uma vez, junto com Puéria que estava ao seu lado. Porém, o jovem casal que segurava o garoto e as bestias que se prostravam no chão, não tiveram tempo para reagir, logo, atingidos pela luz!

Assim que as bestias foram tocadas pela luz, uivavam de dor, mas como estavam longe do garoto, tiveram tempo para correr desesperadamente para a floresta da desolação para se esconder.

No entanto, o jovem casal, pego de surpresa não teve a mesma chance, e gritaram cheios de angústia, envoltos pela intensa luz. A luz parecia purificar seus corpos, tirando as toxinas que corriam por suas veias, enquanto que de suas peles, era secretado um líquido escuro e fétido, que transformava-se em névoa negra que logo era pulverizada e aniquilada pela luz.

Passando-se alguns segundos, a luz logo recuou em direção ao garoto, infundindo-se nele novamente, permitindo que ambos os jovens viri sanguinium respirassem aliviados, caindo de joelhos ao chão.

Assim que o fizeram, soltaram o garoto que seguravam em seus braços, fazendo com que o corpo do garoto, não mais sustentado por eles, caísse ao chão com o cetro ainda cravado em seu peito. Porém, o casal, coberto por aquela gosma preta e fétida, enquanto respirava pesadamente, voltou seus olhos para a fonte da luz, e o que viram, fez seus olhos se arregalarem ainda mais em confusão e surpresa.

O garoto que eles seguravam antes, não estava mais em lugar nenhum, o que restava em seu lugar era um grande tigre, caído ao chão, sem vida, com um cetro cravejado em seu peito.

De seu peito, brotava sangue que irrigava a terra, e de sua boca, uma água sangrenta que parecia alimentar a vegetação sobre a qual caia. Onde o sangue e a água caíam, flores cresciam, e o solo parecia encher-se de vida.

Logo, a névoa negra que cobria De Avarum, que parecia ter recuado e perdido muito espaço na tentativa de resistir à luz, se dissipou, revelando a figura do rei louco que parecia suar e ofegar um pouco. Mais atrás, Proditor caiu ao chão apoiando-se em seus braços, completamente suado e exausto.

Puéria estava bem, já que havia sido protegida pelo viri sanguinium de cabelos grisalhos. Então, vendo a situação em que Proditor se encontrava, Puéria com preocupação falou:

-Proditor!

Porém, o viri sanguinium levantou sua mão para ela sinalizando que estava bem, e tirando de suas roupas um frasco vermelho de sangue, tomou-o para recuperar suas forças. Logo, aceitando o auxílio de Puéria, temendo que se continuasse sentado pudesse chamar a ira do rei para si, Proditor levanta-se com dificuldade.

De Avarum, colocando seus olhos no tigre caído ao chão, encheu-se de raiva, de modo que o ódio tomou conta de seus sentidos, e aproximando-se do corpo caído do tigre, começou a difamá-lo e pisá-lo enquanto lançava maldições, rugindo como uma fera violenta e sanguinária:

-MALDITO, MALDITO, MALDITO! PORQUE ESSES MALDITOS INSETOS, VEZ ATRÁS DE VEZ CONTINUAM SE COLOCANDO EM MEU CAMINHO? VOCÊS QUEREM BRINCAR? ENTÃO NÓS VAMOS BRINCAR!

Logo ele continuou:

-Não descansarei enquanto não tiver em mãos esta criança!

Então, ao retirar o cetro violentamente do peito do tigre caído, sangue jorrou para todos os lados. Pego de surpresa, o sangue caiu sobre sua mão, queimando como o fogo que cai sobre a palha. Fumaça negra saia de sua mão, e De Avarum, gritando desesperadamente, começou a sibilar como uma serpente, emitindo assobios e ruídos desconfortáveis e desesperados, como uma fera enlouquecida.

Porém, as trevas não eram capazes de consumir o sangue, que parecia dissipar toda a névoa que o tocava. Então, em um ato de desespero, De Avarum continuou sibilando ainda mais furiosamente, e a névoa que o cercava, logo tomou a forma de uma lâmina que imediatamente desceu sobre seu pulso, decepando a sua mão junto com o cetro que ela segurava.

Quando sua mão foi cortada pela lâmina escura, a névoa negra que lhe envolvia, imediatamente cobriu o seu braço, tentando impedir o sangramento, enquanto o rei gritava de dor e fúria com todas as suas forças:

-AAAHHHHH MALDITO...

Sua mão que caiu ao chão, logo foi dissipada pelo sangue que havia caído sobre ela, porém, quando o sangue caia sobre a vegetação, não fazia o mesmo que fazia com o rei, mas parecia dar vida à vegetação. Logo, o braço ossudo de De Avarum no qual agora faltava uma mão, estava completamente envolto pela escuridão e o sangue não mais saia dali. Então, virando-se para o jovem casal com os olhos furiosos ele rosnou:

-Seus malditos!

Lançando maldições, o rei dos mortos começou a novamente sibilar como uma serpente, e a névoa que o cercava logo tomou a forma de uma mão, que imediatamente se estendeu para o jovem de cabelos pretos, pegando-o pelo rosto, e arrastou-o até a sua frente. Vendo aquilo a bela moça loira voltou seus olhos para o rei, suplicando-lhe:

-Por favor! Não...

Porém, sem forças para se levantar, a viri sanguinium pôde apenas observar a cena, caída ao chão. Então, com a mão esquerda que lhe restou, o rei imediatamente agarrou o jovem pelo pescoço, forçando o aperto sobre sua traqueia, enquanto com os olhos cheios de ódio, começou a sibilar.

Logo, a partir do coração do jovem que não tinha nem forças para tentar resistir, névoa negra começou a brotar e a envolver todo o seu corpo. Porém, por algum motivo, De Avarum parecia ter um pouco mais de dificuldade para realizar todo o processo do que outras vezes, com os viri sanguinium em Peccáta.

No entanto, no final, a névoa ainda o envolveu, devorando-o e dissipando-o na escuridão. Logo, todo o jovem foi envolto pelas trevas e consumido por elas. Então, o rei, abrindo sua boca cheia de dentes afiados e apodrecidos imediatamente engoliu toda a névoa na qual o viri sanguinium havia sido dissolvido.

Logo assim que a engoliu, a névoa escura que envolvia seu braço, começou a se contorcer, moldando-se lentamente na forma de uma mão escura como o breu. A bela moça vendo aquilo, gritou enfurecida:

-Não!!!

E tirando forças de sua fúria, levantou-se, tirando de sua cintura a adaga vermelha, fazendo um corte em sua mão e pronunciando:

-ÀS TREVAS OFEREÇO SANGUE! Exacuere vade ad dextram sive ad sinistram quocumque faciei tuae est appetitus. Ferrum sliceris tenebris!

Assim que terminou de pronunciar, o sangue que escorria de sua mão e banhava a adaga enegreceu. Logo, a jovem, cortando o ar à sua frente com a adaga sobre a qual o sangue escorria, enviou uma lâmina curva formada pelas trevas na direção do rei.

(Swishh.)

O som de uma lâmina cortando o ar soou, e De Avarum virando-se para a jovem, furiosamente começou a sibilar, enquanto chamas negras começavam a envolvê-lo.

Assim que a lâmina que cortava em diagonal na sua direção, se aproximou, De Avarum, como um vulto, em grande velocidade pegou o cetro caído ao chão e desapareceu, quase no mesmo instante, aparecendo diante da bela moça e cravando o cetro em seu peito.

Usando a mesma ponta que ainda estava manchada com o sangue do tigre, atravessando o coração da moça. Arregalando os olhos, e fixando seu olhar cheio de ódio no rei louco, a vida rapidamente deixou os olhos da mulher.

Assim que De Avarum puxou novamente o cetro, usando sua mão direita formada de névoa escura, a bela moça imediatamente cuspiu sangue, caindo ao chão, dando seu último suspiro, com um olhar arrependido. Então, De Avarum olhou para ela, rosnando furiosamente:

-Ratos insolentes, vocês não me são mais úteis!

Então virando-se para Proditor e Puéria, continuou enraivecido:

-Sigam-me! Já que esses vermes me forçaram a chegar até aqui, sou obrigado a usar isso! Vamos massacrar Maschera e trazer a criança à Peccáta.

Puéria e Proditor, à suas palavras, se entreolharam confusos, mas imediatamente responderam:

-Sim!

E se colocaram a segui-lo. De Avarum, terminando de limpar o sangue do cetro nas roupas brancas da bela moça, imediatamente pisou em seu corpo com desprezo e se retirou com ambos dali.

O que ninguém notou era que, do peito da bela jovem, a região em que o cetro manchado com o sangue do tigre havia perfurado, não sangrava, mas dali, brotava somente um líquido preto e fétido, que se evaporava em uma névoa escura, logo, dispersa pelo vento.

Logo, de seu peito brotavam somente as impurezas secretadas de seu ser, secreções semelhantes àquela que havia sido expelida por sua pele quando a luz a purificou.