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Chapter 36 - Sobrevivência e coincidência

Correndo pelas escadas acima, as quatro crianças seguiram em frente, lideradas por Marcos que era o mais velho. Porém, mais uma vez o cheiro de sangue entrou em seus narizes. Olhando ao redor Marcos os sinalizou para parar. Seguindo mais em frente viram uma porta aberta com rastros de sangue que seguiam das escadas até lá. Era necessário que eles entrassem nesse andar para que de lá entrassem em outra escada de emergência que se ligaria ao terceiro andar. Então tomando a decisão, todos entraram juntos.

O segundo andar estava escuro e a visibilidade era baixa, os quatro juntos, tateando as paredes e segurando-se uns aos outros avançaram pelo corredor escuro que cheirava fortemente a sangue. Marcos suspeitava que as escadas se encontravam na outra extremidade do corredor. Então, continuando seu caminho na escuridão eles continuaram em frente.

Pouco depois, já haviam se aproximado da outra extremidade do corredor, que contava com uma porta semelhante àquela da qual entraram. Então, abrindo as portas, diante de si, encontraram mais um conjunto de escadas. Todos suspiraram de alívio e seus nervos tensos relaxaram levemente.

Os quatro juntos seguiram em frente pelas escadas rumo ao terceiro andar. As escadas estavam mais iluminadas que os corredores já que contava com as luzes vermelhas de emergência. Subindo sem problemas até o terceiro andar, novamente encontraram a mesma cena. Uma porta aberta que ligava-se no terceiro andar, porém nesta não havia sangue à vista, detalhe que os permitiu relaxar um pouco mais. Catarina, ofegante, então falou para o grupo:

-Gente... Vamos parar para respirar um pouco?

Marcos, olhando para ela com os dentes cerrados respondeu:

-Tem certeza? E se aquele cara tentar vir nos pegar? Temos que subir o quanto antes!

A outra criança respondeu cheia de medo em sua voz:

-Isso mesmo! Precisamos ir antes que seja tarde!

Então se aproximando da porta aberta a criança continuou:

-Não há sangue aqui! Talvez este andar esteja seguro!

Marcos, vendo que o garoto se aproximava da porta escura sozinho falou:

-Ei! Não vá até aí sozinho!

O menino, acenando com a cabeça, se virou para eles pronto para voltar ao grupo. Porém, da porta aberta, em meio a escuridão, uma fera imediatamente saltou rosnando sobre o garoto, que, antes que pudesse ter alguma reação, foi brutalmente morto pela bestia. Quando viu aquilo, Christian gritou:

-NÃO!

E os três levantaram-se em alerta, com Marcos na frente olhando cheio de ódio para a fera. A bestia, com os pelos cobertos de sangue, e com seus dentes afiados ensanguentados, rosnando com uma voz irritada, entre risadas zombeteiras, falou:

-Parece que finalmente aqueles idiotas lá em baixo se saciaram e terminaram de se divertir! Finalmente, chegou alguém aqui! Cordeirinhos, nossa missão é vos entreter. Vamos brincar certo? Vocês não tiveram que brincar no andar de baixo, mas lá vocês iriam brincar de esconde esconde, aqui não. O terceiro andar, o quarto andar, e o quinto andar estão em nossas mãos. A brincadeira que vamos brincar é simples! Sobrevivência.

Logo, a criatura continuou, em seu tom de diversão:

-Esta brincadeira se brinca assim: nós, os predadores nos escondemos nas sombras para vos atacar. Porém só estamos autorizados a fazê-lo das sombras, então todas as vezes que vocês conseguirem nos ver e apontar para um de nós, este está fora do jogo! Mas se vocês não nos virem quando atacarmos, o mesmo que aconteceu com esse garoto, acontecerá com vocês! Se vocês chegarem no terraço, o jogo acaba e vocês vivem!

Marcos replicou:

-E como podemos saber que obedecerão às regras? E como espera que vejamos vocês em meio a escuridão?

A bestia rosnando respondeu:

-Nosso senhor está nos observando, e bem, se quebrarmos as regras ele mesmo nos matará! Não ousariamos ir contra as regras criadas por ele! Quanto a nos ver.

Quando a bestia terminou suas palavras, da escuridão atrás de si, três lanternas rolaram pelo chão em direção às escadas. Então com um sorriso assustador, a bestia continuou:

-Vocês devem apontar para nós com estas lanternas. Muito bem, que a brincadeira comece!

A bestia falou, mordendo o corpo da criança e arrastando-a para a escuridão. Diante daquela cena Marcos cerrava os punhos e os dentes com força, olhando com raiva para os rastros de sangue que iam até a porta. Quanto a Christian e Catarina, só tristeza podia ser vista em seus olhos. Catarina logo perguntou:

-Devemos ir mesmo?

Marcos respondeu:

-Você ouviu! Haviam mais destas coisas lá embaixo, se descermos agora nada vai mudar. Eles estão brincando com a gente desde que entramos no prédio!

Christian então, tomando a liderança, tomou as lanternas ao chão, e entregou uma para cada um dizendo:

-Vamos juntos! Cada um fica responsável por uma direção!

Ouvindo suas palavras, ambos acenaram com a cabeça em concordância, e Marcos, resolutamente continua:

-Vamos lá!

Então com Marcos seguindo a liderança, Catarina responsável pelas costas e Christian pelos lados, o trio rapidamente entrou de maneira organizada no terceiro andar. Iluminando o andar com suas lanternas, o trio percebeu que os andares eram compostos de um largo corredor, com diversas portas de quartos dispostas por ele, e ao final do corredor havia a porta das escadas de emergência.

Olhando ao redor, começaram a avançar em direção às escadas. Seguindo por suas lanternas, observaram que todas as portas dos quartos estavam abertas, e os rastros de sangue se dirigiam por todo o corredor até às escadas de emergência, como se a fera o fizesse para zombar deles e irritá-los. Observando aquilo, Marcos cerrou os dentes de raiva.

Eles continuaram seu caminho sem problemas pelo corredor, e Christian começava a suspeitar que algo estava errado. Nenhuma bestia tentou avançar dos lados, nada surgiu à frente nem atrás, isso era incomum. Porém, lembrando-se de um detalhe importante, imediatamente Christian falou em alerta:

-Vocês dois, cada um toma conta de um dos lados. Rápido!

Ambos ouvindo a urgência na voz de Christian fizeram como lhes foi dito. E Christian rapidamente apontou a lanterna para o teto. E o que o viu o horrorizou. Algumas bestias estavam agarradas firmemente ao teto esperando por uma chance de atacá-los. Porém, assim que Christian apontou sua lanterna para elas, enraivecidas, muitas rosnaram e amaldiçoaram-no, imediatamente soltando-se do teto e sumindo na escuridão. Porém, antes que tivesse tempo para se aliviar os falou com pressa:

-Rápido! Virem novamente as lanternas para suas direções iniciais!

Assim que o fizeram seus olhos também encheram-se de horror, já que no pouco tempo que deixaram sem iluminação os corredores, bestias se aproveitaram e se aproximaram para atacá-los. Porém, antes que o fizessem, foram pegos pela luz, rapidamente tornando-se imóveis e rosnando em fúria fugindo para a escuridão.

Christian mais uma vez voltou sua lanterna para os lados, para evitar que das portas, pulassem mais bestias. Depois desta experiência, agora mais cautelosos, chegaram mais rapidamente às escadas de emergência que iam até o quarto andar.

Quando abriram a porta, imediatamente viram algo aterrorizante. O corpo da criança, dilacerado pelas bestias, foi largado ali. E na parede atrás, foi escrito com sangue:

-Estou no quinto andar! Venham me encontrar cordeirinhos!

Marcos cerrando os punhos furiosamente olhou para aquela cena. Catarina cheia de tristeza falou:

-Gente, eu não acho que esse jogo vá acabar! Porque não voltamos para o segundo andar e não escapamos por uma das janelas?

Marcos respondeu:

-E você acha que eles nos permitiriam fazê-lo? Nossa única chance é seguindo em frente!

Então, chegando a um acordo, o grupo subiu ao quarto andar, e seguindo a mesma tática avançou adiante. Durante o caminho, houveram muitas bestias tentando atacá-los, mas confiando na luz em suas mãos puderam encontrá-los antes de fazê-lo. E assim chegaram às escadas que davam no quinto andar.

Dali, a próxima escada os levaria ao térreo. Subindo as escadas e se aproximando das portas para o quinto andar, respiraram fundo, então Christian falou:

-Vamos lá!

Logo, o trio entrou no corredor. Assim que entraram, uma voz rosnando ecoou por todo o ambiente, como se cantasse baixinho:

-Coorrrdeeeeiiiiriiiinnnhooooosssss.

Colocando-se em suas posições, agora Marcos que cerrava os dentes em raiva intercalava entre frente e direita, Catarina costas e esquerda, e Christian cuidava dos lados de cima. Logo que entraram ouviram um rugido à esquerda e uma bestia pulou em suas direção de um dos quartos.

Christian voltou a luz para ela, impedindo-a de avançar, porém, da direita mais sons foram ouvidos, e Catarina a impediu. Voltando rapidamente a luz para trás, de onde um trio de bestias velozmente avançavam. Christian então, falou:

-Cuidado!

Um aviso, como um toque em seu coração o havia alertado do perigo acima, e voltando a luz para cima, viu uma bestia que já se jogava sobre eles. Porém, a bestia parecia ter a intenção de quebrar as regras, continuando a dirigir suas garras para Catarina. Que olhava aterrorizada. Porém, quando Marcos e Christian estavam prestes a gritar, um som de algo perfurando o ar soou.

(ZZhiimmm...)

Logo um projétil atingiu a bestia arremessando-a para longe, fazendo-a cair no chão sem vida. Então, uma voz soou pela escuridão:

-Ouçam, vocês vermes ousam quebrar as regras?

Não se sabia de que direção a voz vinha. O trio, recuperando a compostura, se reorganizou, e vendo o corpo da bestia, esta fera que até então lhes parecia invencível, caído ao chão, seus olhos encheram-se de medo do que a havia matado com tanta facilidade. Christian então falou:

-Rápido, vamos continuar!

Enquanto as bestias, que por um momento pararam devido àquela voz, continuaram a enxameá-los de todas as direções. Com grande dificuldade, eles avançavam, as bestias estavam altamente concentradas no topo do edifício, e pulavam de todas as direções.

Era difícil para os três conseguirem cuidar de todos os lados ao mesmo tempo. Porém, depois de passar por diversos momentos em que suas vidas estavam em risco, confiando na luz, conseguiram finalmente chegar à porta das escadas para o terraço.

Assim que passaram a porta e a fecharam, estando finalmente nas escadas, eles se aliviaram. Catarina falou em um tom aliviado:

-Nós conseguimos?

Christian e Marcos, sentando-se ao chão, acenaram com a cabeça, ofegantes, agora finalmente, com tempo para respirar, enchendo seus peitos de ar. Agora, nas escadas iluminadas pelas luzes de emergência vermelhas, estavam livres finalmente deste joguinho. Desligando as lanternas em suas mãos, e soltando-as ao lado, já que não necessitavam mais delas, ficaram um tempo ali para recuperar o fôlego.

Passando-se um tempo, estavam prestes a se dirigir para o terraço, prontos para pensar em como prosseguir daí em diante, porém, sem que pudessem reagir, ouviram o som de vidro se quebrando e as luzes de emergência se apagando. Agilmente algo havia quebrado a luz sem que o vissem, e velozmente neste momento se dirigia para eles rosnando:

-Vocês ainda não estão no terraço cordeirinhos!

Assustados, tentaram imediatamente pegar as lanternas para iluminá-lo, porém, não estavam com ela em mãos, e ainda por cima as haviam desligado, tornando difícil pegá-las imediatamente em meio a escuridão.

Logo, desespero tomou conta de suas mentes, já que era provável que não conseguiriam pegar a tempo a lanterna antes que a bestia avançasse sobre eles. Porém, neste momento, a lanterna de Christian, inexplicavelmente pareceu acender-se sozinha, e por coincidência, parecia estar apontada justamente na direção da qual vinha a bestia.

Assim que a lanterna se acendeu, a bestia iluminada pela luz imediatamente parou seu caminho. Ela estava extremamente próxima deles, a ponto de que podiam sentir o hálito sangrento da fera. Era a mesma que lhes provocava desde o terceiro andar. Aquela que havia matado um de seus irmãos. A fera cheia de fúria olhou para a lanterna que apontava para ela e rosnando falou:

-Malditos sortudos...

Não ousando quebrar as regras de seu mestre, a bestia logo sumiu de suas vistas, fugindo para a escuridão. Tomando fôlego mais uma vez, Christian falou apressadamente:

-Vamos para o terraço logo!

Os dois, saindo de seus estados atordoados, concordaram rapidamente, e juntos, todos se dirigiram para o terraço. Assim que estavam prestes a abrir as portas do terraço, uma luz muito forte pareceu preencher cada canto do edifício dissipando a escuridão, junto a uma voz cheia de medo, a voz do jovem que encontraram no térreo, sem mais aquele tom de arrogância e malícia que tinha antes, ecoava por todo o edifício ordenando a todas as feras que se escondiam nas sombras:

-NÃO! Rápido, vamos sair daqui! Escondam-se na escuridão, vamos voltar depressa!

Ele parecia apressado e sua voz soava angustiada, como se carregasse consigo grande peso. Logo uivos de bestias assustadas soaram por todo o edifício, todas uivando e pulando depressa pelas janelas para novamente se juntar às sombras, como se todos sentissem dor e fugissem, assustados por algo.