Chapter 39 - A Majestade e o lago

Então, assim que terminou, o Rei começou a brilhar ainda mais intensamente. O Cordeiro voltou seus olhos brilhantes para Christian, que tinha a sensação de ver na face do cordeiro ao mesmo tempo um sol brilhante e a face de uma pomba. Christian estava maravilhado com aquela imagem misteriosa diante de seus olhos e se perdia contemplando aquela magnífica Luz.

Logo, o brilho emitido pelo Rei se intensificou ainda mais, fazendo com que Christian, por um instante, visse a forma de um cordeiro, branco imaculado, com duas grandes asas de pomba brilhando mais intensamente do que mil sóis, o informe havia tomado forma. Logo, o brilho tornou-se tão intenso que Christian se tornou incapaz de discernir onde estava o cordeiro.

Tudo era Luz, e tudo parecia estar completamente preenchido por ela. Christian sentia uma Paz e uma Alegria indescritível naquele momento. E ele de alguma forma sentia que aquela Luz que o envolvia era o Rei, que preenchia tudo, como se não pudesse ser contido por limites.

Então, mais uma vez a Voz, Majestosa, Doce e cheia de Amor do Rei soou em seus ouvidos como a mais bela música, que parecia ressoar de todos os lados:

-Tendo transposto o Limiar do Rei, tu te encontrarás, de pé, na presença do Rei da Glória, a Fortaleza de tua vida, o mais belo. Dê um passo à frente minha criança.

Christian ouvindo Sua Voz, obedeceu-o imediatamente. Para onde quer que olhasse via apenas uma Luz intensa e calorosa que o envolvia e o confortava. Dando um passo à frente onde só Luz podia ser vista, algo ainda mais inexplicável ocorreu. Era como se este único passo dado na Luz fosse equivalente a uma distância de bilhões de quilômetros ou mais, como se ele se movesse fora dos limites do reino físico. O espaço ao seu redor parecia passar na velocidade da luz, o que era irônico de pensar sendo que ele naquele momento viajava na Luz.

Assim que seu pé tocou o chão novamente Christian olhou ao redor cheio de encanto, afinal, ele estava em um ambiente completamente diferente. Ao seu redor, haviam árvores frutíferas de todas as espécies, e até mesmo diversas árvores que nunca havia visto.

As folhas de algumas árvores eram verde brilhantes, cheias de vida, outras coloridas, os frutos tinham diversas formas e cores, mas se Christian tivesse que dar um adjetivo para cada planta que ele via naquele jardim seria, belo. Todas as plantas eram o mesmo, a grama parecia conter vida em abundância, tudo ao redor parecia vivo e cheio de beleza. O céu era de um azul puro, e nele não havia sujeira, as nuvens eram brancas imaculadas e formavam obras de arte nos céus, como uma belíssima pintura em movimento.

Cantos pareciam soar por todo o ambiente, como se tudo formasse uma harmonia e todas as coisas ali fossem vivas e cantassem, misturando-se aos cantos dos animais que pareciam estar em sintonia com o canto do Céu.

Mais a frente, Christian presenciou uma imagem que ficaria gravada eternamente em sua alma. Um belíssimo lago cristalino, com águas brilhantes que pareciam vivas. O lago era profundo, porém tão cristalino, tão transparente, tão puro, que mesmo em sua profundidade, ainda permitia que se visse até suas profundezas.

As águas por mais profundas que fossem, não obstruiam a visão, e neste lago era possível ver plantas de diversas cores forrando e enfeitando as rochas no fundo. As plantas eram belíssimas, e muitas possuíam cores que Christian jamais havia visto, elas dançavam nas águas como se estivessem vivas, dançando sincronizadas com os cantos que pareciam ecoar por todo o ambiente.

As plantas fixavam-se em belas rochas brilhantes, como se cobertas de cristais que refletiam a luz que atravessava as águas cristalinas. Além disso, neste lago haviam peixes de diversas espécies, porém, todos belos! Muitos eram pintados em padrões e cores, tornando-os obras de arte vivas, que nadavam pelas águas demonstrando sua beleza e maravilhando a todos que os vissem.

Porém, não foram esses os detalhes que o deixaram tão admirado. Na verdade, era a figura a beira do lago, Christian arriscaria dizer ser a imagem mais bela em que seus olhos já pousaram. A figura estava sobre uma pedra a beira do lago, porém, a pedra e a figura estavam envoltas de nuvens brancas imaculadas que exalavam uma fragrância encantadora pelo ar.

Diante de Christian, delicadamente, emergiu por detrás das nuvens, fazendo-o com tal graça de movimento, que sentia seu coração inflamar com chamas ardentes. Uma figura formidável, tão perfeita em graça, Seu movimento perfeitamente belo, enquanto descia da pedra firme, deixou Christian admirado.

Revestido de pleno esplendor, Sua veste celestial brilhante e no entanto incolor cintilava como se estivesse coberta de diamantes e de outras pedras preciosas. Este glorioso e divino Ser, estava revestido com o que parecia ser uma pesada túnica que descia até Seus Pés. Sua túnica era como se fosse de diamantes sob a luz de um projetor. Parte de Sua túnica muito longa caía parcialmente do lado esquerdo, pois o pé esquerdo já tocava a Terra.

As palavras transcendiam a Christian, particularmente para descrever esse ligeiro movimento que a figura fazia, quando saía da nuvem. Christian estava em dúvida se deveria inventar novas palavras para descrever tal inefável Beleza, já que duvidava que palavras humanas bastariam para exprimir o que via diante de seus olhos.

Com um Cetro de ouro brilhando em Sua Mão, vestido com todas Suas vestes de Glória, coberto com ouro e safiras, uma visão formidável. Christian contemplando Aquela Figura de Maravilha, inteiramente bela, sentia que a própria lua faltava brilho diante de Sua Majestade e as estrelas pareciam impuras diante de Sua resplendente estatura. Incomparável e inigualável, coberta de safiras, sentia que a Sua Beleza não havia comparação.

Esta figura maravilhosa de incomparável beleza, irradiava Luz e Sua Presença irradiava tal encanto, que mesmo que Christian tentasse descrevê-La, jamais o conseguiria por toda a sua vida. Sua Presença, ao mesmo tempo irradiava amor e tanta doçura e ternura que Christian sentia sua alma ser lançada por terra. A figura mais brilhante que mil sóis juntos, com Sua radiância iluminava a alma de Christian, que diante de Sua radiância, como orvalho do Céu, fazendo brilhar suas pequeninas gotas, como diamante, Christian via sua alma resplandecer diante dAquela Luminosa Luz. Luminosa Luz, que parecia invisível ao olho, intangível e incompreensível para ele, no entanto, muito verdadeira em Sua essência.

A figura era como um espelho sem mancha refletindo a Luz Eterna, ampliando em tudo Sua Majestade e Sua Luz Imperecível. Então Christian voltou seus olhos para cima. Diante de seus olhos, a bela Cabeça da figura Majestosa estava levemente inclinada para a direita, cabelos em escuros cachos alcançavam Seus ombros, e Sua bela Face, a polidez de marfim, era encantadora aos olhos. Sua cabeça era ouro puro, uma copa de palmeira seus cabelos, negros como o corvo.

Sua Face, inundada de luz, era mais bela que a mais bela obra de arte que jamais foi criada. Em Inefável Luz de Beleza, Seus Olhos Divinos eram suaves e risonhos. A figura parecia sorrir para Christian que se viu sorrindo de volta para Ele. Sua Face continha um angélico encanto, irradiando Amor e Pureza.

Porém, embora Sua Face fosse adorável, Seus Olhos foram o que atraíram a atenção do garoto, deixando-lhe em reverência e admiração. O amor nAquele olhar, olhando nos de Christian com inefável ternura, eram como duas estrelas cintilantes, era como um mar de turquesa transparente, cheio de serenidade.

Seus Olhos Divinos, eram como um Oceano de Amor, um Paraíso e um fogo consumidor. No fundo de Seus Olhos, estavam dois deslumbrantes raios de Luz. Então, voltando para Christian Sua Face, que era como um Diamante Polido, a Majestosa figura diante de Christian dirigiu Seu Majestoso Olhar para Christian que sentia estar perdendo suas memórias do mundo, e diante daquela visão maravilhosa, esquecendo de todos os seus problemas, medos, preocupações, em seu coração restava somente Luz.

Diante de tamanha Pura Beleza, Christian perdia-se em contemplação, e não desejava senão estar ali, como se fosse atraído por Seu olhar que o magnetizava. Diante de Seu encanto, Christian ficava estupefato e em pleno êxtase. E tal como a primavera, Sua Luz fazia florir todo o jardim.

Com um só dos Seus olhares, Christian sentiu sua alma ser enxertada em pura Paz, e mergulhada em pura alegria. Com um só dos Seus olhares, sentiu suas amarras se soltarem, e a liberdade cair sobre si, tudo isso, embora sentisse apenas poder espreitar através de um véu. Não conseguia nem conceber o que seria contemplá-Lo a olhos nus, já que tão indescritível beleza transcendia todo entendimento e raciocínio, de forma que estava além do espírito do homem.

Então, uma fragrância espalhou-se por todo o ar. As mais raras essências eram exaladas pela Majestade e a Ele pertenciam, Christian próximo a Ele sentiu a brisa soprar até onde estava o aroma dAquele Ser Majestoso, e assim que aquela fragrância tocava o seu nariz, enchia-o de puro deleite. De seu nariz, o perfume se dirigia para seu peito, e parecia envolver seu coração. Foi aí que Christian notou algo muito estranho, isso em si já era um diálogo.

Christian sentia que o Ser lhe chamava, e ainda o deu a conhecer o Seu Nome, este era o Rei! O Rei então, com um terno sorriso, parecia chamá-lo para Si, em um estilo senhorial. Christian presenciando Sua Beleza Senhorial, imediatamente O viu traçando um caminho ardente coberto de safiras até Ele, conduzindo os pés de Christian até onde estava.

Assim que percebeu, Christian já caminhava por aquele caminho traçado pelo Rei para chegar até onde estava na beira do lago. Christian sentia chamas tomarem conta de seu coração, e um fervor espalhava-se por todo o seu corpo dirigindo-se até o Rei. Logo, chegando até a beira do lago, onde o Perfume do Rei era ainda mais intenso, Christian ali parou, e o Rei, logo andou até o seu lado.

Christian estava perdido em entusiasmo naquele momento, e apenas contemplava o Rei, que como um Esposo que usa sua coroa nupcial caminhava de um modo senhorial. O garoto sentia sua alma se alegrar apenas em vê-Lo andar, e como um filhote que encontra sua mãe, parecia chorar de alegria. Suas Pegadas exalavam um doce odor de mirra. Logo, o Rei estava ao seu lado, e voltando-Se para Christian com um sorriso cheio de carinho, Seu sorriso irradiava uma luz que iluminava a face da criança.

Então, voltou Sua bela Face para o lago, fixando Seus Olhos nas águas cristalinas, com um olhar de terno amor, todo-excelência. Christian seguindo Seu exemplo fez o mesmo.

Então o Rei abriu a Sua Boca, e quando o fez e a Palavra saiu, um inundante raio de luz ao mesmo tempo derramou-se, mais brilhante que qualquer sol, iluminando todo o cosmos, dando vida a tudo. Doce era a melodia de Sua Voz, que soava como um trovão, e em um mesmo instante ecoava Sua Mensagem por tudo. Sua Voz então, inflamada de majestade, logo também ecoou no coração de Christian:

-Criança, naquela noite fostes salvos pelas súplicas de Vossa Mãe. Ainda não era hora, mas a pedido de dEla, a Luz desceu com antecedência.

Christian por um momento ficou confuso, mas percebendo de quem falava, perguntou apressadamente:

-Ela está bem?

O Rei com um sorriso cheio de ternura, abriu Sua Boca mais uma vez, transmitindo:

-Sim, está! Criança, olhe para este lago.

Christian sentiu um imenso peso ser tirado de seu coração diante dAquela Voz, e do que lhe transmitia. Então, ouvindo Seus pedidos voltou seus olhos para o belíssimo lago. Após algum tempo contemplando o lago, o Rei falou:

-Criança, sabes porque o Amor é o dom, ou Caminus, como também o chamam, é o poder superior?

Christian ouvindo Sua Voz Real, não sabia responder Sua pergunta, mas logo o Rei continuou:

-Veja este lago. O Amor, ou Caminus é como a água, fé, ou Fides é como as plantas aquáticas e as rochas brilhantes em que as plantas se ligam, como esperança, ou Castrum de spes. Quanto aos outros poderes são como os peixes desse lago. Neste lago, enquanto a água for limpa e cristalina como o que tu vê agora sua beleza é evidente. Na verdade, este lago, se tem água limpa, mesmo que nele não hajam peixes, não hajam plantas, nem rochas brilhantes, continua sendo belo e bom, já que a própria água brilhante como cristal e viva, possui em si mesma, mesmo excluída de todos os outros, beleza. Afinal, o lago por si mesmo é dotado de beleza, que com os peixes coloridos como estes que vês, que nadam como obras de arte vivas, as plantas com suas cores artísticas dançando em meio à água, e essas firmes rochas brilhantes, se torna mais belo ainda.

Logo, continuou:

-Porém, se o lago for barrento, a água for suja, mesmo que hajam peixes como esses ali, mesmo que as plantas estejam ali, mesmo que as rochas estejam ali, dificilmente o lago seria tomado como belo. Nesta situação, inegavelmente os peixes ainda são belos, nem as plantas e as pedras perderam sua beleza, mas o lago o fará, fazendo com que todos que o vejam se lamentem pelos peixes e pelas plantas que vivem naquela água barrenta.

Prosseguindo, Sua Voz retumbou:

-E isto para aqueles peixes que conseguirem sobreviver, pois, se a água é ruim, como podem os peixes conseguirem manter-se vivos nela? Quanto aqueles que sobrevivem com dificuldade, ainda perdem seu brilho e sua beleza em meio a água suja, pois a água barrenta obstrui e impede que sua beleza seja vista. Sufocando assim até a beleza daqueles que restam. O mesmo vale para as plantas, e o mesmo vale para as rochas. A água barrenta, não mais permite que a luz chegue ao fundo, então como poderão as rochas brilharem? E se o fizerem como as verão? Esquecidas nas profundezas das águas barrentas, as rochas jamais seriam vistas em seu brilho.

Logo completou, dizendo:

-Por isso criança, não se esqueça, sem Amor, não há beleza e sem beleza não há valor. Sem o Amor, nada serias e nada vos adiantaria.

Ouvindo Aquelas Palavras que ecoavam em seu coração, Christian colocou-se em profundo silêncio. Meditando na doce melodia dAquela Voz, vindas da Boca do Rei, onde sob a Língua havia Doçura, proclamando conversas mais doces que o mel que escorre do favo.