Na floresta da desolação, os corpos do tigre e da garota estavam ali. Os insetos não se aproximavam deles, como se soubessem que para eles outros planos estavam reservados.
O ambiente ao redor do corpo do tigre, estava todo florido, as plantas ali estavam cheias de vida, e pareciam até mesmo brilhar refletindo a luz do sol. Coincidência ou não, mas as copas das árvores infrutíferas ao redor pareciam impedir a passagem da luz do sol ao solo, porém, exatamente naquela região em que o tigre estava, nas copas acima havia uma brecha onde a luz do sol passava e irradiava diretamente nele.
O corpo da mulher havia mudado. Ela parecia de alguma forma ter ficado ainda mais bela do que antes. Sua pele já não era mais pálida como a de um cadáver, o que era irônico já que agora ela era exatamente um cadáver. Em seu peito, parecia não haver mais a ferida causada pelo cajado. Ali só sobrava um pouco daquele líquido escuro e fedorento, que pouco a pouco parecia tornar-se névoa e se dissipar.
A região permaneceu assim desta mesma forma, em silêncio por um tempo. Até que de repente, algo envolvido em um brilho nas cores do arco-íris lentamente se aproximou dali.
Uma figura, um belo homem, parecia ter cerca de quarenta ciclos de vida, vestia uma veste longa como um manto marrom, que o cobria até os pés. Tinha um cíngulo amarrado em sua cintura, cabelos e barba castanhos e olhos brilhantes, que pareciam brilhar como a luz arco-íris que o envolvia. Em suas mãos e pés haviam feridas, como se trespassadas por algo.
Caminhando em direção a onde estavam o tigre e a moça, Franciscus dirigiu seus olhos cheio de carinho para eles. Logo, diante deles, Franciscus fechou os olhos e permaneceu por um tempo em silêncio. Passando-se algum tempo, com um sorriso gentil, ele abriu os olhos, e virando-se na direção dos dois, soprou.
Assim que o fez, a luz que o envolvia parecia ser transmitida naquele sopro, fazendo com que o ar soprado brilhasse nas cores do arco-íris, assim como acontecia quando Archus o fazia. O sopro logo alcançou a bela moça e o tigre, envolvendo-os com luz. Seus corpos, como uma esponja seca que encontrou água, rapidamente absorveram a luz que os envolvia.
Logo, a bela moça e o tigre começaram a emitir um intenso brilho nas cores do arco-íris, que como uma explosão de luz, irradiava de seus corpos, dando vida a tudo que os cercava. Franciscus vendo aquela cena, olhou para ambos e disse com uma voz terna e um pequeno sorriso alegre:
-Vamos lá?
Ao soar de sua voz, a luz que irradiava, que não parecia de forma alguma ferir seus olhos, que olhavam diretamente para ela, pouco a pouco, começaram a fluir em direção à fonte, tornando as duas figuras discerníveis em meio a luz.
Primeiramente, um tigre luminoso, que irradiava luz, correu na direção de Franciscus alegremente, pulando sobre ele e lambendo a sua face com entusiasmo. Franciscus mais uma vez ao chão, caiu em risadas enquanto dizia:
-Ei garotão, calma aí, vamos dar as boas vindas para nossa nova amiga!
O tigre ouvindo aquilo, virou seus olhos safira na direção da outra figura que também brilhava. E lá, surgiu a bela moça de cabelos loiros e olhos azuis safira, como o tigre. Ela estava ainda mais bela, a escuridão que antes ainda manchava suas roupas, havia sumido. Com suas roupas restauradas, sua figura ficava ainda mais graciosa com aquele vestido branco. Em seus olhos não havia mais aquela malícia anterior, e brilhavam de outra forma, não cheios de maldade, mas cheios de carinho. Seu corpo antes repleto de corrupção, agora estava revestido de incorruptibilidade. Olhando ao redor, um pouco confusa ela perguntou com uma voz gentil:
-Onde estou?
Franciscus já de pé com o tigre ao lado sorriu para ela ternamente e falou:
-Bem vinda de volta à vida!
O tigre grunhiu alegremente, como se também desse boas vindas. Em seus olhos safira só havia alegria, ele não parecia ter nenhum rancor contra a bela moça que antes o perseguiu e feriu. A bela moça ouvindo aquelas palavras, um pouco confusa, começou a recordar rapidamente de tudo que havia acontecido.
Então, cheia de tristeza, uma lágrima escorreu de seus olhos, caindo de sua face ao chão. Onde a lágrima caiu uma flor brotou. Ela, então, olhando cheia de tristeza para o homem e para o tigre perguntou:
-Depois de tudo. Porque eu?
Franciscus carinhosamente respondeu:
-Não sou eu quem escreve os rolos do tempo, por isso desconheço o porquê de muitas coisas. Tu fostes purificada através do sangue de uma vítima imolada. E através disso a Vida mais uma vez desceu sobre vós.
Então virando-se para o tigre que estava ao seu lado Franciscus continuou:
-Aquele que tiver sacrificado a sua vida pela Luz irá recobrá-la.
Vendo a confusão nos olhos da bela moça, que os olhava com tristeza, Franciscus continuou:
-Quando isso aconteceu, tu perguntas? Todas as coisas feitas a um destes pequeninos, foi à Vida que o fizestes.
Então virando-se para a bela moça continuou:
-O garotão aqui, deu sua vida por um destes pequenos, e a vida ele recobrou. E tu que fostes purificada com seu sangue, com ele voltou. Semeada na corrupção, teu corpo ressucitou incorruptível. A semente semeada não recobra a vida, sem antes morrer. A morta semente germinou cheia de Vida!
A moça ouvindo aquelas palavras, virou seus olhos cheios de gratidão para o tigre, que olhando para ela com seus olhos sorridentes grunhiu. Então, Franciscus a perguntou:
-Tens nome? Chamo-me Franciscus.
Pensando um pouco, como se tentasse se lembrar, ela respondeu:
-Anastasia!
Franciscus, ouvindo seu nome falou:
-Muito bem Anastasia, vamos lá, ainda temos algumas coisas a fazer. Siga-nos!
Anastasia ouvindo aquilo, mesmo que ainda um pouco confusa com toda aquela situação, acenou em concordância e com um pequeno sorriso os seguiu, saindo daquela região.