Chapter 49 - A Mão do Pastor

Conforme se aproximavam do local, sons de uivos de feras, e gritos de dor e ira soavam mais claramente em seus ouvidos. Chegando próximo de onde o grupo estava, Christian, ainda com o capuz cobrindo parte de seu rosto, viu sete bestias, que atacavam ferozmente a todos.

Os soldados com suas espadas, lanças, machados e escudos tentavam segurar as bestias. Christian percebeu que todas as peças de equipamento que os homens usavam possuíam um símbolo marcado, como um pequeno desenho.

Muitos dos soldados eram enviados longe por fortes golpes das bestias, alguns morriam pelas garras e dentes das feras. Christian percebeu que as bestias tinham marcas de queimaduras em suas peles, e pareciam iradas, enquanto algumas até gritavam:

-Morram malditos humanos que nos fizeram passar por toda esta porcaria!

A luta era brutal, um massacre da parte das bestias. Christian imediatamente ficou preocupado vendo tudo aquilo, e percorreu rapidamente o campo de batalha com seus olhos em busca de Lilia e Aléxo. Porém logo ele travou seus olhos em uma flecha que atravessou detrás do grupo até uma das bestias que ali estava.

A flecha se dirigiu a uma bestia que atacava os soldados acertando com precisão o seu olho. A flecha não perfurou profundo o suficiente para matá-la, mas dói o suficiente para cegá-la e causar dores lancinantes. A bestia assim que acertada imediatamente rugiu de dor:

-Ahhhh..

Todo o campo de batalha parou por um instante. Christian voltou-se na direção de onde a flecha havia sido disparada, e viu ali William, que preparava mais uma flecha em seu arco para atirar nas bestias. Christian por um momento se aliviou, já que viu próximos dali, Lilia e Aléxo, junto a todos os carregadores e outros que não desempenhavam papéis para a batalha. Todos estes estavam mais afastados do campo de batalha.

Próximo de William estava o velho erudito com o manto, e o jovem com a espada já desembainhada em mãos, cercados por alguns lutadores que os protegiam. A espada deste jovem, ao contrário dos equipamentos dos soldados, possuía dois pequenos símbolos na espada, como desenhos. A bestia acertada pela flecha puxou com força a flecha de seu olho fazendo o sangue escorrer, enquanto voltava seu único olho intacto cheio de fúria na direção de William dizendo:

-Maldito…

As bestias ao redor, todas rosnando ainda mais furiosas, logo avançaram rapidamente na direção de William. Uma delas, percebendo que um grupo de soldados protegia os velho com o manto e o jovem com a espada, imediatamente rosnou para as outras cinco:

-Vocês me sigam! Aqueles devem ser os eruditos, quanto ao arqueiro, ele fica em suas mãos para acerto de contas.

Falou a bestia se dirigindo para aquela que teve seu olho perfurado pela flecha. Logo, passando e derrubando todos os soldados que tentavam impedi-los de avançar, partiram em frenesi em direção aos seus alvos. Os soldados tentavam perfurar suas peles com suas armas, porém, eram incapazes de fazê-lo, e todos os seus esforços pareciam ser colocados em atrasá-las. Christian então deu um passo a frente, prestes a invocar o capacete e a espada. Porém, antes que o fizesse, o velho erudito começou a falar em voz alta de forma que todos o ouvissem:

-Eu tenho a luz em mãos, e tenho o poder para dá-la, ela está em minha posse, e a quem quiser posso emprestá-la, cobrirei as armas dos homens com minha luz, para que com elas possam dividir tudo em seu caminho! Acuite ferrum!

Logo uma luz saiu da boca do velho, cobrindo as armas de todos no campo de batalha. A lança na mão de Christian começou a brilhar, a faca na mão do tio smoke, as armas dos soldados, e assim como a espada do jovem ao lado do velho erudito.

Tudo aconteceu muito rapidamente, de forma que os soldados que já atacavam as bestias, tivessem também suas armas envolvidas pelo brilho. Algumas entre as bestias, despreparadas, foram incapazes de esquivar das armas que já estavam prestes a acertar seus corpos, e o máximo que poderiam fazer era forçar seu corpo na direção contrária para diminuir a gravidade do ferimento que receberiam.

Logo, entre as seis, uma foi perfurada por uma lança envolta por luz em seu coração, morrendo imediatamente, outras 2 receberam cortes profundos em seus corpos, mas não de forma a comprometer suas vidas, e outras duas sofreram ferimentos leves, a bestia que tinha seu olho perfurado, como já havia sido ferida, estava em alerta máximo e conseguiu esquivar das armas, enquanto que a mesma que as deus as ordens anteriormente, o tempo todo, com os olhos focados no erudito, conseguiu reagir a tempo.

Elas se reuniram novamente se afastando dos soldados, porém assim que recuaram uma flecha brilhante imediatamente perfurou desta vez o peito de outra das bestias, matando-a instantaneamente. O que parecia às liderar rosnou em fúria olhando para dois dos seus mortos caídos ao chão.

Os soldados novamente se reposicionaram, aqueles que estavam feridos recuaram para receber tratamento dos médicos que ficavam ao fundo. Christian vendo que todos haviam conseguido se firmar contra as bestias, imediatamente começou a se dirigir pelos fundos do campo de batalha até o local onde estavam os carregadores para proteger Lilia e Aléxo junto com os outros. Já que percebeu que somente os eruditos eram protegidos por muitos soldados.

Os outros, assim como William estavam todos ocupados com o campo de batalha, e se as bestias resolvessem atacá-los, poderia ser perigoso, e suas preocupações tornaram-se realidade, e apenas dois deles guardavam-nos.

As bestias olhando para aquela formação, sabia que na condição em que estavam seria difícil conseguir vantagem. Eles haviam perdido a sua vantagem inicial devido ao seu descuido, afinal, eles estavam com a guarda baixa devido a fúria que os cegava. Eles haviam acabado de sair da floresta da desolação, irados por tudo que havia acontecido com eles. Primeiro, foram obrigados a fugir de uma criança, depois, perderam a criança de vista. Foram abusados pelos viri sanguinium, que mataram seu líder e mais um dos seus, então, mais uma vez foram humilhados nas mãos dos viri sanguinium, e quando o rei chegou e pensaram que tudo ia acabar, foram mais uma vez queimados pela luz.

Muitas fugiram para outras direções naquele momento, enquanto que este grupo conseguiu se juntar. Eles continuaram correndo, já que temiam que aquele rei louco mandasse os viri sanguinium atrás deles. E quando saíram da floresta da desolação para continuar fugindo para longe, foram surpreendidos por um grupo de vivos.

Então, encontrando um alvo para descarregar sua raiva, atacaram brutalmente, mas quem diria que acabariam na situação atual. Afinal, por mais que seus corpos tivessem alta resistência, suas mentes estavam fatigadas e seus olhos cegos pela raiva, de forma que perderam sua vantagem.

Os quatro entendendo que não poderiam atacar o núcleo do grupo que estava bem protegido, decidiram retalhar usando o ponto fraco. E imediatamente, em entendimento mútuo, todos se dirigiram em alta velocidade na direção onde estava Lilia e os outros.

Os soldados, foram pegos de surpresa de forma que esperavam que as bestias recuassem e não avançassem contra a equipe de suporte do grupo. William que estava próximo dali, percebendo suas intenções, puxou da aljava mais uma flecha, atirando-a rapidamente, e acertando o ouvido de uma das bestias que corria em alta velocidade para o grupo. Matando-a instantaneamente, fazendo seu corpo rolar violentamente ao chão devido a inércia. Porém, as bestias já estavam extremamente próximas deles, naquele momento os olhos de William encheram-se de medo e fúria, gritando:

-Não! Parem eles!

Os lutadores todos já tentavam correr naquela direção, mas as bestias já haviam começado o massacre, matando imediatamente com suas garras e presas ambos os lutadores que tentavam guardar a equipe de suporte. Acabando com os lutadores, que não suportavam enfrentá-las em menor número, as bestias brutalmente começaram a ferozmente atacar os carregadores, mapeadores, os cozinheiros, e todos os outros membros da equipe de suporte.

A única parte da equipe de suporte que contava com soldados para protegê-los foi a equipe médica, que atuava próxima dali, mas eram todos soldados feridos, que sem poder fazer muito, eram massacrados junto de todos. Todos os lutadores imediatamente correram para lá, tentando impedi-las de continuar.

William imediatamente puxou outra flecha, mas tinha dificuldade em atirar, já que as bestias haviam se infiltrado em meio às pessoas, impedindo que William atirasse as flechas imprudentemente.

Christian, que já estava a poucos metros dali, apressou ainda mais seu passo com a lança ainda em mãos. Percorrendo o ambiente à sua frente com seus olhos mais uma vez em busca de Lilia e Aléxo, ele os viu na parte mais traseira do grupo. Porém, quando as bestias começaram a atacá-los, todos começaram a correr desesperadamente por suas vidas, e Christian viu que Lilia que tentava correr junto de seu irmão, foi empurrada por uma das pessoas que corria desesperadamente, parecendo tentar derrubar o máximo de pessoas que pudesse para usá-las de isca.

Christian olhou bem para o homem, e percebeu que se tratava do vil carregador que anteriormente tentou extorqui-lo. No momento em que Lilia caiu no chão, Aléxo que corria, parou, e virou-se para ela, tentando ajudá-la a levantar, mas parecia que ela tinha dificuldade em fazê-lo.

Logo, uma das bestias que furiosamente massacrava todos em seu caminho, justamente aquela que tinha o olho perfurado, se dirigiu para Lilia e Aléxo para matá-los. William vendo aquilo gritou:

-NÃO!

E imediatamente soltou a flecha, que passou por uma brecha muito pequena que se formava entre as pessoas que corriam desesperadamente. Porém, a flecha que passava por entre todas aquelas pessoas, sem que acertasse ninguém, e seguia precisamente em direção a bestia, teve sua trajetória interrompida por um carregador, que tentando correr na direção oposta da bestia que se aproximava dele, virou-se, fazendo com que a grande mochila em suas costas entrasse na trajetória da flecha, que raspando na mochila levemente, teve sua direção desviada, fazendo com que a flecha acertasse o braço da bestia, cravando em seu osso.

A bestia imediatamente rugiu de dor, mas olhando com seu único olho na direção de William, para seus olhos cheios de medo e ansiedade, a bestia entendeu algo, e com um sorriso, puxou a flecha de seu braço e correu com uma risada louca na direção de ambos dizendo:

-Então vocês são importantes para aquele maldito?

Aléxo diante da bestia que avançava contra ele e sua irmã, vendo que não tinha escolha, colocou-se diante de Lilia pronto para defendê-la usando sua vida, os olhos de Lilia escorriam em lágrimas enquanto ela gritava para ele correr, e a bestia com um sorriso assassino se aproximava.

Christian, vendo que não conseguiria chegar até eles a tempo, mas ainda estando extremamente próximo, com a lança que ainda brilhava em mãos, e aproveitando o impulso, Christian imediatamente atirou com força a lança, que viajou como um raio na direção da bestia, que logo foi pega de surpresa, tendo o lado esquerdo de sua cintura perfurado pela lança, que imediatamente fez com que a bestia perdesse o equilíbrio e caísse arrastando-se no chão:

-Ahhhh malditooss!

Ouvindo os gritos da bestia caída com uma lança perfurada na cintura, as três bestias que já estavam extremamente próximas dali, correram para Christian furiosamente cada uma de uma direção. Christian que havia acabado de arremessar a lança, pego de surpresa pelas bestias que em um instante já o atacavam de três lados, ficou sem reação.

Porém, antes que uma das bestias, que atacava da direita, se aproximasse mais, imediatamente se transformou em cinzas a fera que atacava Christian como o lobo ataca a ovelha. A bestia tendo seu peito acertado por um bastão de luz dourada, afiado como um aguilhão, que penetrou seu peito profundamente, imediatamente se dissipou em névoa negra, que logo foi levada pelo Vento.

Tudo aconteceu muito rápido, e Christian queria chamar a espada e o capacete, porém, não havia tempo, a bestia que avançava da sua frente já estendia suas garras de forma que estavam extremamente próximas de seu rosto, enquanto que o frio que Christian sentia em sua espinha lhe dizia que as garras da outra bestia estava prestes a rasgar suas costas.

Neste momento, o mundo parecia passar em câmera lenta diante de seus olhos, os sons não mais ecoavam em seus ouvidos como se tudo estivesse mudo e silencioso. Christian conseguia ver claramente as garras da bestia furiosa, aquela que as liderava, se aproximando lentamente de sua face, prestes a matá-lo. Christian naquele momento, mesmo naquela situação, sentia uma calma inesperada, que o tornava sereno, mesmo prestes a atravessar o vale escuro da morte.

Naquele momento, Christian lentamente fechou os olhos em paz, como alguém que está prestes a se colocar em repouso no peito de seu Amor. Ele sentia-se seguro, mesmo diante do perigo, ele sentia como se a escuridão do vale fosse incapaz de derrubá-lo no abismo da morte, pois a Vida o sustentava em Sua Mão. Sentia-se como uma ovelha, segura pelo pastoreio do pastor.

Quando Christian fechou os olhos se entregando ao sentimento de segurança, ele sentiu em sua perna direita algo o puxando com leveza e suavidade, como se o conduzisse levemente para a frente. Christian se permitiu ser orientado, e moveu-se conforme a condução seguindo em um caminho reto.

Logo, movendo-se com fluidez como era conduzido, Christian abriu os olhos novamente, de forma que a luz mais uma vez passou por seus olhos. E a sua frente ele viu uma cena inexplicável, ele não conseguia entender bem o que acontecia, porém, lágrimas começavam a escorrer por sua face.