À sua frente, estava tio smoke, ele olhava para Christian com olhos ternos e carinhosos, e sorria brilhantemente, como um pastor que salva sua ovelha. Porém em sua mão, havia um cajado de luz, como o bastão de luz que dissipou a fera que o atacava.
Este cajado brilhante tinha a ponta curvada, como o cajado de pastoreio. Christian sabia que era por ele que foi conduzido naquele momento em que fechou os olhos. Tinha sido tio smoke quem o retirou do caminho das bestias.
A faca que antes estava em suas mãos não estava mais em lugar nenhum, como se ele decidisse não a usar, para ferir ninguém. Porém, o que fazia as lágrimas transbordarem de seus olhos eram as mãos de ambas as bestias. Cada uma penetrava um lado do peito dele, perfurando seu coração, de ambos os lados. No entanto, mesmo naquela situação tio smoke sorria alegremente para ele, como se aquela fosse uma ocasião alegre.
As bestias que perfuraram com suas mãos o peito do homem imediatamente retiraram-nas com pressa. Pois o sangue do homem que manchava suas mãos, queimavam-nas como chamas ardentes, que como a luz que irradiava do garoto, quando De Avarum perfurou seu peito com o cetro, os encheu de dor. Logo, rangendo os dentes, eles rápida e violentamente retiram suas mãos, fazendo com que tio smoke, não mais apoiado pelas mãos que perfuravam seu peito, começasse a cair ao chão.
Mas, antes que o fizesse, segurou firmemente o cajado com as duas mãos e se sustentou nele. Diante daquela cena todos estavam em silêncio, olhando para a estranha situação que acontecia, afinal, eles viram claramente que um bastão de luz transformou em cinzas uma das bestias, isso os chocava, pois eles sabiam que o erudito que os liderava não tinha poder o suficiente para fazer algo assim.
As bestias, porém quebraram esse silêncio, já não mais rangendo os dentes, mas agora, emitindo rosnados dolorosos. De suas mãos manchadas pelo sangue do homem, um líquido escuro e fedorento era excretado, como se suas mãos fossem purificadas de todas as impurezas que a manchavam. A bestia que tinha sua cintura perfurada pela lança, jogando-a ao lado, olhava para aquela cena em confusão.
Logo que as bestias soltaram tio smoke, Christian foi rapidamente com lágrimas transbordando de seus olhos até ele abraçando-o e dizendo:
-Velho, porque fizeste isso? Porque não fugistes, ou ficaste de lado?
Tio smoke com um sorriso carinhoso em seu rosto respondeu com uma voz terna:
- Criança, eu te disse que me foi permitido ver os rolos do tempo, até o fim do meu tempo aqui certo? Bem, este tempo está prestes a chegar. Eu já vos disse que ouço a Voz do Vento certo criança? Sabe o que o Sopro pediu para mim fazer? Salvar a sua vida, e conduzi-lo A Verdadeira Vida em…
Antes que tio smoke continuasse, uma das bestias que já haviam tomado distância deles, interrompeu com um grito cheio de ira:
-Malditoo! O que você fez com a gente? Porque isso não para?
As bestias ainda agonizavam com o sangue que manchava suas mãos. Tio smoke, sem se virar, ainda apoiado no cajado, respondeu:
-A Luz dissipa as trevas, o fogo ilumina, mas também queima as impurezas. Para o ferro ser forjado é necessário que ele passe pelo fogo. O fogo agora consome os espinhos, arrependei-vos e desligai-vos deles, para que não sejas transformado em cinzas junto com eles.
As bestias não entendiam sobre o que o homem falava, e furiosamente rosnaram, querendo avançar sobre ele e Christian que o abraçava. Porém, neste momento, todos os lutadores ao redor foram tirados de seu estupor com a voz do velho erudito que soou irada:
-O que vocês idiotas estão esperando para matar esses malditos?
Os lutadores ouvindo aquilo, imediatamente começaram a avançar na direção das bestias para matá-las. Os 3, vendo-se feridos daquela forma, e cercados, imediatamente decidiram ao menos se livrar do homem e da criança responsáveis por acabar com suas chances de vingança.
Voltando seus olhos cheios de ferocidade para eles, imediatamente avançaram sobre ambos, cerrando os dentes pela dor que o sangue e os ferimentos lhes causavam. Vendo que vinham em sua direção, Christian soltou tio smoke e se colocou em suas costas, diante das bestias para protegê-lo. De costas para o tio smoke, Christian virou-se para Aléxo e Lilia que ainda estavam próximos dali e perguntou apressadamente cheio de preocupação:
-Vocês podem ajudar o tio smoke a chegar até os médicos?
Lilia ainda estava meio atordoada e levantava-se com auxílio de Aléxo, parecendo estar sentindo um pouco de dor no tornozelo. Assim que a pergunta de Christian entrou em seus ouvidos, Lilia gritou em confusão e preocupação:
-Tio smoke? Do que você está falando Christian? Sai daí rápido, as bestias estão indo em sua direção!
Christian ouvindo aquilo respondeu:
-Não, eu tenho que protegê-lo!
Aléxo falou com pressa:
-Proteger quem? Do que você está falando? Sai daí!
Neste momento uma das bestias que corria em sua direção, foi acertada por uma flecha brilhante diretamente na cabeça, fazendo-a cair imediatamente ao chão. Christian tomando a decisão, estava mais uma vez prestes a usar as Palavras da Vida para se defender, porém, quando ia fazê-lo, sentiu como se alguém puxasse o capuz do manto que usava.
No momento em que seu capuz caiu, e as bestias pousaram seus olhos cheios de ferocidade em sua face, e então, os olhos irados das bestias imediatamente encheram-se de terror, e parando seu avanço, uma das duas que sobrou com a voz trêmula perguntou:
-Maldito! Porque você está aqui? Não será possível que conseguiste fugir das mãos do rei não é?
Bamp.
A bestia ao lado do líder das bestias, que questionava Christian com terror em seus olhos, logo caiu ao chão com uma flecha cravada em seu peito. Christian não fazia a menor ideia do que estava acontecendo, muito menos do que as bestias estavam falando, então, olhava para elas cheio de confusão. No entanto, o líder das bestias que permanecia de pé, como o último de seu grupo, olhando para Christian tremulamente, voltando-se para William que já ajeitava mais uma flecha no arco, e vendo-se cercado por soldados, cerrando os dentes, falou cheia de resignação e ódio direcionado à Christian:
-Maldito, não bastava tudo que nos fizestes passar, ainda nos perseguistes para acabar com nossas vidas? Mal…
Bamp.
Logo, antes que pudesse terminar suas palavras, a bestia caiu ao chão, assim que uma flecha brilhante acertou sua cabeça, interrompendo suas maldições e matando-a instantaneamente. Christian olhava cheio de confusão para a criatura agora ao chão, pois não fazia ideia sobre o que ela falava, mas lembrando-se do tio smoke, logo, empurrou seus pensamentos para longe e virou-se rapidamente para ajudá-lo gritando:
-UM MÉDICO! EU PRECISO DE ALGUÉM PARA AJUDAR O…
Christian não conseguiu terminar o que falava, devido ao choque, pois assim que virou-se para trás, não viu tio smoke mais lá, na verdade não havia mais nenhum sinal dele. Porém, antes que tivesse tempo para pensar sobre o que havia acontecido, uma tontura caiu sobre ele, de forma que seus olhos começaram a se fechar, e sob o peso de suas pupilas, Christian caiu ao chão. No momento em que perdia a consciência, vozes distantes ecoavam em seus ouvidos. Ele podia ouvir, mas não claramente a voz de Lilia chamando-o preocupada:
-Christian…
Então, a voz do que Christian reconheceu ser a voz do erudito ecoou da mesma forma distante:
-Preparem-se… devemos partir logo daqui… o cheiro do sangue pode atrair mais…
Logo a voz de William soou pedindo ao erudito:
-Senhor, permita-nos ...enterrar os mortos! Afinal... temos tempo... antes que a noite caia!
O erudito respondeu:
-Vocês têm 20 minutos!
William então falou em voz alta:
-Muito bem… vocês ouviram, mexam-se! Não... temos muito tempo.
As vozes pareciam pouco a pouco, ecoar ainda mais distantes para Christian. Até que a voz de Lilia entrou em seus ouvidos novamente:
-Christian… está bem?...
Logo, Christian fecha os olhos e cai em repouso, não mais ouvindo as vozes que ecoavam por todos os lados.