Chapter 44 - As 5 leis da aldeia

Christian seguindo a direção onde estavam os carregadores logo se aproximou do grupo. Lilia que estava próxima com seu irmão, correu até ele, seguida por seu irmão, que a seguia com uma expressão um pouco irritada. Quando se aproximou, Lilia perguntou:

-E então, como foi?

Christian com um pequeno sorriso respondeu:

-Bem, muito obrigado por sua ajuda mais cedo. Parece que eu vou ser o novo batedor até Maschera! Seu irmão me pediu para vir até vocês para receber as orientações de como prosseguir.

Lilia ouvindo aquilo parecia um pouco preocupada, enquanto que Aléxo respondeu:

-Sua função será andar cerca de 300 metros à frente do grupo, os mapeadores vos darão um mapa da rota que faremos, e tu junto do outro batedor que restou, irá liderar o caminho a frente, em busca de perigos, armadilhas ou possíveis emboscadas! Se quiser, eu te levo até o batedor.

Christian, por um momento, percebeu um pequeno detalhe, como se recebesse uma luz. Esta sensação o deixava de certa forma confuso, como se algo tivesse mudado desde que se aproximou do acampamento. Como se a própria realidade ao seu redor fosse alterada. No entanto, ele não conseguia explicar o que havia mudado, então, deixando isso de lado, agradeceu dizendo:

-Seria ótimo, obrigado!

Mas então, Lilia os interrompeu dizendo:

-Ainda há tempo antes de partirmos, não quer que neste meio tempo eu te explique um pouco sobre Maschera?

Christian apreciou muito a sugestão e respondeu:

-Eu gostaria muito por favor! Afinal, será a primeira vez que eu irei entrar em uma grande aldeia!

Lilia então sorrindo falou:

-Me siga!

Logo Christian já seguiu para uma região livre de muito barulho, enquanto Aléxo também os seguiu estalando a língua. Quando os três sentaram-se em algumas pedras próximas dali, Lilia começou a explicar para Christian:

-Muito bem! Tu deves saber que as aldeias pertencem às facções. Maschera pertence a nossa facção! Manibus Pax. Maschera é uma das 5 grandes aldeias do continente. A terceira maior para ser mais exata. Bem, é claro que a aldeia está sob o controle de Manibus Pax, inclusive é lá que nosso líder reside. Todo o alto escalão da facção vive lá! A aldeia é cercada por sólidas muralhas de pedra construídas após o início de Lux.

Logo ela continuou:

-A entrada à aldeia é controlada, de forma que membros de facções inimigas à Manibus Pax não possam entrar. Aqueles que pertencem às facções aliadas ou a própria facção tem passe livre para entrar. Porém, aqueles que não pertencem a nenhuma facção, os não identificados como você, precisam passar por um interrogatório para que fiquem claras as suas intenções na aldeia. Toda a aldeia está sob firme controle da facção, por isso, existem certas restrições, como leis. Primeira lei, a lei da residência. Para residir em Maschera é necessário aprovação da mesma. Porém, só é legalmente permitido fazer residência na aldeia para aqueles que possuem cidadania.

Então, após um breve momento, Lilia prosseguiu dizendo:

-Segunda lei, a lei da cidadania. Existem estabelecimentos pela aldeia, com poder para regularizar alguém como cidadão, porém, é claro que indivíduos pertencentes a facções inimigas, ou outros que possuem problemas pendentes com Manibus Pax jamais seriam aprovados. Para conseguir cidadania não é fácil. Somente se juntando à facção, ou alguma facção aliada. Com uma grande soma de dinheiro, ou através de uma certa quantidade de conquistas, prestando serviços para a facção como um aventureiro! Os aventureiros são grupos geralmente pequenos, às vezes até alguns indivíduos solitários, que trabalham na guilda dos aventureiros. São como mercenários que prestam serviços solicitados oficialmente pelos residentes ou visitantes regularizados na guilda.

Ouvindo o termo visitantes regularizados, Christian questionou:

-Então quer dizer que Maschera restringe o tempo de permanência na aldeia?

Lilia, ouvindo sua pergunta respondeu:

-Sim, os visitantes, ou seja, não cidadãos, podem permanecer na aldeia somente durante três meses. De forma que grupos de aventureiros como vos falei, passam a maior parte do seu tempo fora da aldeia, tentando completar missões e receber conquistas suficientes para adquirir cidadania, ou adquirir lucro o suficiente para estender sua residência. Porém, como eu disse, isso é referente à legalidade. Dentro da própria aldeia, existem residentes ilegais e rganizações clandestinas, que compõe grande parte do mercado negro de Maschera. Há severa fiscalização na aldeia, mas devido à sua grande extensão, não é possível encontrar todos os residentes ilegais.

Então, com um tom de desgosto, Lilia continuou:

-Além disso o próprio mercado negro é sustentado por figuras poderosas dentro da aldeia, de forma que, suas raizes estão tão entrelaçadas com Maschera, que torna dificil tirá-lo de lá. Na verdade existe até uma guilda dos aventureiros pertencente ao mercado negro. Nela, não só solicitações de cidadãos e visitantes regularizados podem ser encontradas, como até mesmo de residentes ilegais, organizações criminosas e clandestinas podem ser vistas lá. Os aventureiros da guilda obscura são chamados de aventureiros obscuros. São grupos que recebem e aceitam solicitações de todo o tipo. Assassinatos, sequestros, roubos, etc.

Logo, ela continuou:

-Por mais que a guilda receba em seu nome o adjetivo obscuro, sua existência não é tão oculta assim. Porém, o alto escalão não faz nada sobre o mercado negro, nem com a guilda escura, porque ambas pertencem a eles. No final de tudo, são só meios que eles usam para fazer seu trabalho sujo. Além disso, estes vendilhões só se importam com riquezas, enquanto este comércio nas sombras, enche seus bolsos com ouro e prata, e enquanto um destes não interferir com eles, o alto escalão os permitirá agir na aldeia!

Conforme Lilia falava mais irritada ela parecia ficar, e mais elevava o tom de sua voz, até que Aléxo a interrompeu, colocando a mão em seu ombro e dizendo:

-Ei Lilia, você está tentando matar a gente? Fale mais baixo!

Ouvindo suas palavras, como se percebesse o que acabara de fazer, Lilia olhou cautelosamente ao redor, e vendo que ninguém os ouvia, continuou:

-Me perdoe, eu perdi o controle! Certo, terceira lei, a lei do comércio. Na verdade, todas estas leis costumam girar em torno de duas coisas, da facção, e do cidadanismo, pertencendo à facção, ou a uma facção aliada, os benefícios recebidos são extremos. Bem a lei do comércio implica que, só estão permitidos a vender dentro da aldeia, àqueles que pertencem às facções! Cidadãos que não pertencem às facções não podem abrir comércios, somente trabalhar em comércios pertencentes àqueles que fazem parte da facção. Já aqueles que não são cidadãos, nem isso o podem fazer! Porém, tanto os cidadãos quanto os não cidadãos, só podem vender suas coisas em lugares estabelecidos pela facção.

Então, com um olhar enraivecido, a menina prosseguiu:

-Na guilda do comércio, que é responsavel por comprar por preços extremamente baixos e revende-los, e no mercado negro. Claro, que não são muitos os que se arriscam a abrir comércios ou vender ilegalmente já que, por mais que o mercado negro oficial fosse permitido subsistir, a fiscalização em cima de vendas ilegais ainda era pesada. Como o mercado negro em si estava em suas mãos, os enchendo de riquezas, informações e controle nas sombras da cidade, era conveniente para eles que existesse, mas vendas ilegais feitas por outros meios se não pelos leilões subterraneos e grandes estabelecimentos de venda se não pelo mercado negro, eram fortemente reprimidos e perseguidos. Por isso, é comum que se recorra ou a guilda do comercio, ou ao mercado negro. Dificilmente as pessoas se arriscam a vender ilegalmente suas coisas por si mesmos.

Christian ouvindo tudo aquilo acenou com a cabeça, logo Lilia continuou:

-Quarta lei, lei da restrição. Se refere a restrição das palavras de luz. Já deves saber mas, estes idiotas gananciosos...

Ela respirou fundo para se acalmar antes de continuar:

-Bem, eles têm medo de perder o controle caso as pessoas ganhem muito poder, e por isso há esta restrição. Para membros internos da facção eles perseguem e executam aqueles que aprendem as palavras de luz de forma, como dizem eles, ilegal. Porém eles não restringem a entrada de outros eruditos de facções aliadas. Nem eremitas, ou eruditos não filiados a uma facção. Na verdade seria difícil fazê-lo. Além disso, a restrição só é muito grande para a entrada na facção, mas deve-se entender que acima de tudo, o que os agrada são as riquezas, por isso os vendilhões preferem que as ruas da aldeia estejam bem movimentadas, afinal, isso é o mesmo que mais riquezas em seus bolsos.

Com um olhar de desagrado, ela continuou:

-Porém, eles podem não conseguir restringir a entrada de outros eruditos na aldeia, mas se alguém não filiado a facção, for encontrado ensinando de forma ilegal as palavras de luz na aldeia, este mesmo será perseguido e morto. Quanto à última lei, a lei do privilégio. A quinta lei vale para os membros de facções, tanto para as aliadas quanto para a própria Manibus Pax. Os membros da facção recebem uma série de privilégios quanto mais sobe em status. Privilégios de compra, podem comprar por um preço mais baixo, tem preferência nas compras de itens em relação àqueles de menor status.

Com um tom enjoado, Lilia terminou dizendo:

-Eles possuem privilégio nos direitos, de forma que são legalmente, quase intocáveis dentro da aldeia. Se algum indivíduo não pertencer à facção matar um membro dela, este mesmo será perseguido pelas autoridades locais. Porém, o contrário não se aplica. É comum que os julgamentos sejam extremamente parciais a favor dos identificados, já que os próprios tribunais estavam nas mãos das facções. Enfim, são diversos os benefícios que recebem tais membros!

Aléxo ao lado dela interrompeu em um tom irritado:

-Claro, isso quando se trata de pessoas importantes na facção! Já que nós carregadores, temos quase o mesmo status de um cidadão comum!

Lilia com um sorriso irônico continuou:

-Bem, é isso! Pelo menos, graças ao irmão conseguimos isso, já que se não fosse por isso, duvido que poderíamos receber cidadania.

Christian ouvindo tudo aquilo falou:

-Eu entendo, em geral, tudo funciona de forma muito semelhante às outras aldeias menores que visitei. Afinal, as 5 leis foram estabelecidas quase como regra geral entre as aldeias. Porém, nas pequenas aldeias existem menos pessoas, então da fiscalização é bem mais difícil de se escapar. Já vi guildas como essas, porém é a primeira aldeia que conheço com um mercado negro tão intenso como o que tu descreveu...

Ele estava prestes a fazer mais uma pergunta, porém, um homem grande, de aparencia suja se aproximou gritando:

-O que vocês pirralhos estão fazendo aí parados? Pensam que só porque seu irmão é um caçador de uma estrela vocês podem ficar aí batendo papo enquanto todos arrumam as coisas?

Ouvindo a voz dele, imediatamente Lilia e Aléxo se levantaram. Christian voltou seus olhos para o homem. A tatuagem do homem não tinha anel assim como ambos. Aléxo parecia irritado e respondeu:

-Não enche, a gente estava orientando o novato em como deveria proceder de acordo com as ordens do irmão! Além do mais, quem tu achas que é para tentar mandar na gente quando também não passas de um carregador!

O homem respondeu zombeteiramente:

-Para mim pareciam mais que estavam todos sentados nas pedras batendo um papo! Devo eu ir falar com os outros para ver o que eles acham disso? Posso ser um carregador, mas sou mais forte que vocês e mais útil que vocês, ainda mais quando estão sentados aqui sem fazer nada!

Aléxo estava prestes a retrucar, mas Lilia interrompeu dizendo:

-Tudo bem! Já estamos indo. Vamos!

Lilia os interrompeu, e, guiando Christian e Aléxo, se dirigiu para o acampamento. Porém, o homem se colocou no caminho deles, com um olhar ganancioso voltado para Christian, ou mais especificamente, na trouxa que ele carregava. Então, abrindo sua boca cheia de dentes amarelados, ele falou:

-Vejo que não tens nenhuma identificação, isso significa que não pertences à facção certo? O que tens na trouxa?

Ouvindo sua pergunta, e entendendo claramente suas intenções, Christian respondeu:

-Não vejo o porque deveria responder esta pergunta.

O homem, vendo que Christian não lhe respondeu como queria, pareceu ficar irritado, e logo abrindo um sorriso ameaçador, começou a caminhar em sua direção dizendo:

-Realmente não sabes teu lugar, não é mesmo pirralho? Acho que vou ter que te ensinar uma...

-Caham. Algum problema aqui?

Uma voz o interrompeu. O homem, no momento em que ouviu aquela voz congelou, e imediatamente voltou-se para o homem ruivo atrás de si falando apressadamente:

-Não senhor, eu estava simplesmente pedindo para que não demorassem muito para vir nos ajudar a recolher as coisas. Agora se me der licença, vou voltar ao trabalho.

O homem falou, rapidamente se retirando dali. Mas não antes de dirigir um rápido olhar enraivecido para Christian.