Quando a Voz do Rei ecoou em seu coração, e Christian começou a meditá-la, o Rei, com um sorriso Majestoso, virando Sua Cabeça na direção do garoto com movimentos graciosos, voltando para ele um sorriso cheio de amor, e os Olhos cheios de ternura, o Rei mais uma vez abriu Sua Boca, de onde as Palavras e os raios de Luz saiam iluminando e dando vida á tudo:
-Meu Olhar está fixo em vós Christian, guardando-vos como a pupila de Meus Olhos.
Ouvindo aquelas palavras cheias de doçura e carinho, Christian sentiu como se derramassem Óleo nas chamas de seu coração, incendiando-o em chamas ardentes. Christian não sabia onde e como poderia encontrar as palavras suficientes para descrever a Graça e a Beleza de Seus movimentos. Descrever o Tudo era impossível, sempre ficaria sem palavras para descrever o Infinito.
Logo, o Rei começou a irradiar Luz ainda mais intensa, que parecia envolver mais uma vez todo o espaço, preenchendo tudo com Sua Luz. Quando aquela Luz o envolveu, Christian sentiu mais uma vez uma paz e um conforto percorrer toda a sua alma, fazendo com que pouco a pouco, ele repousasse na Luz.
Entrando em repouso, logo, Christian, com os olhos fechados, ouviu uma voz de uma menina lhe chamando, porém, ela parecia ecoar distante. Ele estava um pouco perdido, devido a rápida sequência de acontecimentos misteriosos que haviam acontecido consigo.
Logo, junto a voz da menina, a voz de um menino também ecoou em seus ouvidos. Porém, as vozes pareciam tão distantes que eram incompreensíveis. Porém, as vozes, que pareciam conversar entre si, pareciam pouco a pouco se tornar mais claras. Até que, a voz da menina mais uma vez ecoou, porém, desta vez com clareza, em seus ouvidos:
-Ei, acorde!
Christian ouvindo a sua voz, logo abriu os olhos, porém, o fez com dificuldade pois a luz do sol batia diretamente em sua face. Com os olhos entreabertos, conseguiu ver à sua frente duas figuras, mas não as conseguia ver claramente pois estava contra o sol. Olhando para as formas das figuras à sua frente, conseguiu discernir que eram uma menina e um menino. E logo a voz do menino soou um pouco irritada, na direção da garota:
-Viu só o que você fez? Você acordou ele! Deveríamos ter pego suas coisas e ido embora!
A garota irritada respondeu:
-Eu já falei que não íamos deixar ele aqui! Não podemos deixá-lo sozinho em um lugar como este!
O garoto respondeu:
-Tch. Mal podemos cuidar de nós mesmos com aqueles caras nos enchendo de tarefas, e você ainda arruma mais problemas para nós!
Ela com uma voz ainda mais irritada, porém um pouco entristecida falou:
-E se nós o deixássemos aqui, qual seria a diferença entre eles e nós?
O menino ouvindo aquilo se calou em frustração estalando a língua. Christian olhando para as duas figuras de alguma forma viu sobrepostas sobre elas, Marcos e Catarina, e perguntou um pouco sonolento:
-Marcos? Catarina?
Porém, assim que o ouviram chamar por esses nomes, ambas as figuras ficaram confusas, logo o garoto mais uma vez falou:
-Ei, como você acha que vai ajudar este cara? Não podemos levá-lo conosco, não somos nós que tomamos a decisão de acrescentar mais membros ao grupo! Além do mais, ele me parece um catador, ele não carrega nenhum símbolo consigo, dificilmente ele seria aceito no grupo!
A menina respondeu:
-Devemos primeiro acordá-lo, depois devemos falar com o irmão, afinal, você pode ter esquecido, mas se não fosse por ele, também seríamos catadores! Só nos tornamos carregadores porque o irmão é um ótimo caçador, e o grupo, para conseguir mantê-lo com eles, nos aceitou.
Ouvindo aquilo o garoto mais uma vez estalou a língua, e a menina voltando-se para Christian perguntando:
-Você está bem?
Christian estava prestes a chamar seus nomes novamente, mas ouvindo a pergunta da garota, e voltando seus olhos para seu rosto, com os olhos finalmente adaptados à luz ambiente, Christian viu diante de si uma garota ruiva, que parecia ter cerca de treze ciclos de vida, com olhos verdes, cabelos longos, com uma trança que descia ao lado de seu rosto. Em sua mão direita, ela tinha um símbolo tatuado de um ramo de oliveira segurado por uma mão.
Ela vestia-se com uma calça preta não muito apertada e de um material ideal para uma boa movimentação. Uma bota preta, uma camisa branca, e em sua cintura um casaco marrom claro amarrado. Ao lado ela segurava uma grande mochila, que parecia ter quase a sua altura. Vendo que não se tratava de Catarina, Christian perguntou:
-Quem é você?
Porém, quem respondeu antes que a garota o fizesse, foi o garoto ao lado:
-Não deveríamos ser nós aqueles a perguntar isso?
Christian, ouvindo-o, voltou seus olhos para ele e viu um garoto de cabelos ruivos, que chegavam até seus olhos. Os olhos do garoto eram castanhos, parecia ter dezessete ciclos de vida, e assim como a garota usava calças, e botas pretas, porém, não usava camisa, só um colete preto. Em seu peito que estava exposto, o mesmo símbolo estava tatuado, um ramo de oliveira com uma mão que o segurava.
Este era o símbolo de uma famosa facção, Manibus Pax. Christian havia ouvido dizer que Maschera pertencia à esta facção. Manibus Pax era uma das cinco facções mais poderosas do continente. Ao seu lado, o garoto também carregava uma grande mochila, que assim como a da garota, parecia conter diversos tipos de coisas nela. Panelas, equipamentos, suprimentos, e diversos outros utensílios.
Christian percebeu que as roupas de ambos continham alguns rasgos e não eram muito limpas, bem, não como se as dele também fossem, já que roupas limpas eram um luxo em tempos como esses. Então, dirigindo-se para o garoto mais velho que ele, Christian respondeu calmamente:
-Perdão, meu nome é Christian.
Então, se espreguiçando, logo ele se pôs de pé, e só então percebeu onde estava. Ele estava encostado em uma árvore à beira da floresta, que parecia ser a floresta da desolação. O garoto ouvindo Christian respondeu:
-Meu nome é Aléxo, esta é minha irmã, Lilia! E então o que fazes aqui?
Christian ouvindo sua pergunta também não sabia como responder, afinal, ele estava com Archus e Franciscus, então acordou aqui. Além disso, ele havia tido um sonho, mas as memórias sobre o sonho haviam se tornado nebulosas e Christian não conseguia lembrar. Ele só sentia em seu coração uma sensação de extrema saudade, como se sua alma desejasse ardentemente voltar para onde estava. Então, voltando seus olhos para ambos, Christian respondeu:
-Aléxo e Lilia, né? Muito prazer! Bem, eu na verdade não sei como vim parar aqui, eu estava com amigos na floresta, porém, quando eu percebi já estava aqui!
Ouvindo suas palavras, então Lilia o falou:
-O prazer é meu Christian, e quanto aos seus amigos, vocês pertenciam a alguma facção?
Aléxo interrompeu:
-É óbvio que eles não o são, veja o garoto nem possui uma identificação!
O jovem se referia ao símbolo da facção. As facções, para criar uma forma de mútua identificação, marcavam seus membros com o símbolo da facção, geralmente na mão ou em lugares de fácil visualização, para que se possa identificar aliados e inimigos. Porém, aqueles que não pertenciam às facções não possuíam símbolos, e portanto, eram considerados inferiores.
O símbolo era como a identificação, dentro da própria facção, existem diferenças entre os símbolos, tornando-o uma forma de identificação e status. Aqueles que não pertenciam à facção, eram como indivíduos não identificados, que não possuíam nenhum privilégio dentro das aldeias e locais dominados pelas facções. Christian então falou:
-Não, eu não pertenço a nenhuma facção, mas também não pertenço a nenhum grupo de catadores ou bandidos...
Antes que Christian terminasse de falar o garoto mais uma vez o interrompeu:
-E com certeza não é um eremita!
Eremitas, eram eruditos da luz que peregrinavam sozinhos, viviam em desertos e em lugares isolados, usando todo o seu tempo para tentar chegar a Operis Lucis. Bem, depois de ser treinado por Archus e Franciscus, de certa forma, agora Christian também usava o poder da Luz, então de certo modo, ele havia se tornado uma espécie de eremita. Então, quando Christian estava prestes a falar, mais uma vez foi interrompido por uma voz grave:
-Aléxo, Lilia, o que estão fazendo aqui? Partiremos em breve!
Ouvindo a voz grave, Lilia e Aléxo se viraram para a fonte da voz e disseram:
-Irmão!
Um homem de cabelos ruivos e olhos verdes, que vestia uma capa preta cobrindo metade de seu corpo, uma calça e uma camisa camuflados junto a uma bota preta surgiu. A capa cobria um lado de seu corpo deixando que um de seus braços surgisse à mostra. Nele, o mesmo símbolo era tatuado, porém, havia alguns detalhes adicionais. Uma estrela vermelha era tatuada ao lado da mão que segurava o ramo, e na própria mão, havia também um anel vermelho.
O homem era musculoso, e carregava em seu corpo equipamentos de caça, arco, aljava com flechas, cordas, facas, e outros suprimentos como rações. Voltando seu olhar rapidamente para Christian, Lilia falou:
-Irmão, nós o encontramos aqui inconsciente encostado na árvore, pensei se não poderíamos colocá-lo na equipe, podemos levá-lo junto para Maschera. Pelo menos de lá, ele terá maiores chances de sobrevivência!
O homem ouvindo aquilo estava prestes a negar, mas olhando para os olhos de sua irmãzinha, o homem suspirou e voltando seus olhos afiados para Christian questionou gravemente:
-O que você pode fazer? Se tu não tiver nenhuma habilidade, dificilmente poderia convencê-los a aceitá-lo!
Christian voltando seus olhos para seus pés, viu ali a lança improvisada que carregava consigo quando chegou até Franciscus, junto com a trouxa de pano envelhecido em que havia guardado alguns frutos para depois. Então, amarrando em seus ombros a trouxa mais uma vez e pegando a lança, ele olhou para o homem dizendo:
-Eu sei lutar e caçar! Além disso, eu conheço o básico das habilidades para sobrevivência!
O homem, suspirando respondeu:
-Huuuff... o tanto de gente querendo entrar no grupo dizendo que sabe lutar, é maior do que pensas, e duvido que uma criança como você possa fazer muito. Mas enfim… Nosso grupo não necessita de mais peso, porém, precisamos de batedores, já que perdemos todos os nossos em um ataque de bestias a alguns sóis. Porém, não podemos aceitá-lo na facção sem aprovação dos eruditos do alto escalão, por isso, só podemos cooperar até Maschera, de lá, tu estarás sozinho novamente! Aceita?
Christian sabia do que se tratava a função do batedor nos grupos de peregrinos. Na verdade era comum que se estabelecesse um grupo preenchendo os seguintes papéis e seguindo a seguinte organização:
-Caçadores: responsáveis por caçar alimento e rastrear, identificados pela cor vermelha.
-Soldados: lutadores responsáveis pela linha de frente, identificados pela cor preta.
-Carregadores: responsáveis por carregar todos os suprimentos, saques e equipamentos da equipe, sem cor de identificação.
-Cozinheiros: responsáveis por cozinhar e identificar água potável, frutas e outros alimentos próprios ou impróprios para o consumo, identificados pela cor branca.
-Armeiros: responsáveis pela manutenção e montagem de armas, identificados pela cor cinza.
-Construtores: responsáveis por construir tendas, e qualquer outra estrutura necessária durante as peregrinações, identificados pela cor marrom.
-Eruditos: liderança e força principal, núcleo de todo o grupo de peregrinos, identificados pela cor dourada.
-Batedores: responsáveis por reconhecer o caminho, investigar possíveis armadilhas e emboscadas, sem cor de identificação.
-Mapeadores: responsáveis pela identificação de rotas e localizações, e pela navegação, identificados pela cor azul.
-Médicos: responsáveis por criar medicamentos e realizar os primeiros socorros no campo de batalha, identificados pela cor roxa.
Porém, mesmo que soubesse que dentro de uma equipe a posição do batedor era a mais perigosa, ainda achava que andar com outras pessoas seria melhor do que sozinho. Com isso em mente, logo, Christian respondeu:
-Tudo bem, eu aceito!
O homem, ouvindo o garoto concordar, acenou com a cabeça dizendo:
-Vamos! Peguem suas coisas e sigam-me. Quanto a você, vou apresentá-lo ao líder!
Christian com a lança em mãos, e a trouxa aos ombros, acenou com a cabeça, e junto com Aléxo e Lilia, seguiu o homem na direção onde o grupo de peregrinos acampava.