Chapter 42 - Sucessor

Christian continuou seguindo o caçador, diante de olhos curiosos de todos os lados, se dirigindo para a tenda principal que ainda não havia sido desmontada. Chegando até ela, o homem ruivo virou-se para eles, e dirigindo-se para Aléxo e Lilia, falou:

-Vocês dois, juntem-se aos outros carregadores, estamos preparando tudo para partir!

Acenando com a cabeça, ambos se retiraram, porém, Lilia antes de sair olhou para Christian dizendo com um sorriso:

-Conversamos mais tarde!

Christian sorriu de volta e logo Lilia com a grande mochila nas costas voltou para seu irmão andando para junto dos outros carregadores. Então virando-se para Christian, o homem continuou:

-Quanto a você. Venha! Entre comigo, iremos ver o líder do grupo!

Christian ouvindo suas palavras acenou com a cabeça e seguiu o homem que passou pelo tecido que cobria a entrada da tenda. Entrando, viu que lá a tenda era bastante luxuosa, cheia de confortos e comodidades para aqueles que nela ficavam.

No centro da tenda havia uma mesa de madeira, e nela havia um velho homem de cabelos grisalhos e olhos pretos. Ele vestia um robe luxuoso, com detalhes bordados por toda parte. Usava um colar de ouro e anéis de ouro com jóias. O homem lia um livro que estava em suas mãos enquanto confortavelmente sentado atrás da mesa de madeira, na qual haviam livros espalhados e o que parecia uma pena de escrever.

No canto da tenda também estava um jovem de cabelos castanhos escuros, cerca de vinte ciclos, vestido da mesma forma extravagante. O jovem sentava-se em uma cadeira enquanto lia. O velho homem voltando seus olhos para o caçador perguntou:

-William? O que faz aqui? Está tudo pronto?

William respondeu respeitosamente:

-Ainda não senhor, em breve tudo estará pronto!

Christian observando mais, viu na mão do velho um símbolo da facção, porém neste a mão usava um anel dourado. Se tratava de um erudito sem estrelas, aparentemente o líder deste grupo. Voltando então seus olhos para a mão do jovem que lia silenciosamente no canto da tenda, Christian notou que se tratava também de um erudito sem estrelas. Ouvindo a resposta de William, o erudito questionou:

-E então?

Sabendo que o líder o questionava a respeito de sua visita, William respondeu:

-A dias perdemos nossos batedores. Agora somente um deles restou! E bem, meus irmãozinhos encontraram este garoto, que diz saber lutar. Pensei que poderíamos levá-lo conosco como batedor até Maschera!

O erudito voltando seus olhos para Christian com um toque de desprezo no olhar, o avaliou e logo falou:

-Um catador? Bem, que seja, porém, não seremos responsáveis por vos alimentar! Se não estivéssemos sem batedores, jamais vos aceitaria. Bem, se era só isso pode ir, não me faça perder meu tempo com coisas tão pequenas.

Ouvindo suas palavras, Christian ficou um pouco ofendido, mas William logo respondeu:

-Sim!

Conduzindo a criança consigo para fora da tenda. O tempo todo o jovem que lia o livro na cadeira permaneceu em silêncio sem se intrometer ou demonstrar interesse pelo assunto. Lá fora, William voltou seus olhos para Christian dizendo com um pequeno sorriso irônico:

-Criança, não se ofenda. Terás que se acostumar com isso, já que dificilmente encontrarás um entre os eruditos que vos tratará docemente!

Então voltando a sua seriedade continuou:

-Muito bem, vá até onde estão os carregadores, aqueles com as grandes mochilas. Meus irmãozinhos devem estar por lá, fale com eles para que vos expliquem o que fazer!

Eu tenho coisas a resolver agora, por isso não tenho mais tempo para ficar com você!

Christian acenando com a cabeça em concordância, respondeu:

-Obrigado!

William acenando de volta, se retirou, e logo Christian também o fez, indo na direção onde estavam os carregadores.

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Em um local de pura escuridão, o ar era úmido e parecia não circular. O cheiro de enxofre percorria todo aquele espaço. Nuntio abrindo os olhos lentamente em meio a escuridão olhou ao redor um pouco confuso e se perguntou:

-Onde estou?

Enquanto se questionava, viu acima de si uma esfera de névoa negra descer até sua cabeça e lentamente se dissipar. Ele tinha de certa forma cumprido seu juramento à torre, já que agora não havia mais como ele ordenar por seus pensamentos e nem tirar sua vida para dissipar os sinais, já que os sinais já haviam se dissipado. Vendo aquela esfera de névoa se dissipar, ele se questionou:

-Eu estou na torre?

Quase imediatamente uma voz cheia de malícia ecoou de todos os lados, voz que Nuntio reconheceu ser a voz da torre:

-Tem sido divertido vos observar brincando com o atual servo da ganância!

Nuntio olhou para todas as direções, no entanto, ele tinha dificuldade de se mover, pois a escuridão parecia impedi-lo, como se estivesse atolado em areia movediça. Então a voz da torre mais uma vez ecoou:

-Estou aqui.

Diante de Nuntio, um imenso olho laranja amarelado, com uma pupila em fenda vertical, se abriu lentamente. Nuntio encheu-se de medo pousando seus olhos vermelhos naquele grande olho, que parecia pertencer a uma serpente.

O olho se estendia por todo o espaço, como se quisesse dizer a Nuntio que seus olhos viam tudo. Tremendo de medo, porém desta vez, de um medo real, Nuntio olhava tremulamente para aquele olho. Logo, a voz mais uma vez continuou, porém desta vez com um sussurro tentador:

-Qual o seu maior desejo?

Ouvindo aquele sussurro, a mente de Nuntio foi tomada por seus desejos, e a escuridão de seu coração começou a, incontrolavelmente, se manifestar diante de seus olhos.

Ele se via sentado em um trono, governando o mundo, todas as criaturas ajoelhadas diante de seus pés. Ele queria controlar, controlar tudo, governar tudo. A voz falou mais uma vez em tom normal, como se estivesse se divertindo:

-Hooo, um belo tipo de ganância temos aí! Muito adequado para o trono de De Avarum. O servo da ganância atual não é mais divertido. Vê-lo escondido no castelo, abraçando seus bens pode ser engraçado por um tempo. Mas agora tem sido entediante. Não tenho mais interesse nele. Então, o que me diz, que tal assumir o trono?

Ouvindo suas palavras, Nuntio se perdia ainda fundo naquelas imagens manifestadas pela escuridão em seu coração. Ele sabia no que se implicava se tornar rei, ser uma peça ainda mais obediente e leal, e estar sujeito aos joguinhos da torre. Porém, ele também sabia, que mesmo quando não era rei, ele ainda estava sujeito aos seus joguinhos. Então, olhando cheio de medo e confusão para o olho, Nuntio perguntou:

-Mas já não há um rei?

A torre respondeu com uma voz cheia de desprezo e zombaria:

-Não se preocupe com isso. Quando a peça já não serve mais, chega a hora dela ser sacrificada!

Então mudando para um tom cheio de ira continuou:

-Quanto mais uma peça desobediente, que pensa poder guardar de mim informações! Eu já sei do maldito garoto que apareceu. Como pode algum idiota achar que pode esconder algo de mim?

Nuntio, então, sem pensar muito, respondeu:

-Eu aceito! Eu assumo o trono da ganância.

A torre com uma risada respondeu:

-Muito bem! Divirta-me. E lembre-se, tragam esse maldito garoto para mim! Se não sabem onde está, achem-no!

Logo, Nuntio sentiu como se a luz de seus olhos se apagasse, fazendo-o cair novamente inconsciente.