A luz que preencheu todo o edifício naquele instante, logo desapareceu de suas vistas, permitindo-lhes ver o seu entorno mais uma vez. Já que a luz que preenchia o edifício era tão intensa, que somente luz naquele instante podia ser vista ao seu redor. Tornando impossível discernir e ver qualquer parede ao seu redor, como se a luz quebrasse todos os limites que os prendiam ali. Assim que a luz desapareceu, o trio se entreolhou, e logo Catarina perguntou:
-O que foi isso?
Marcos olhando ao redor para o ambiente que parecia ter voltado ao normal respondeu:
-Eu não sei! Mas devemos seguir em frente até o terraço!
Os três, se entreolhando, acenaram a cabeça com resolução, e Christian tomando a liderança abriu a porta. Assim que o fez uma brisa soprou sobre eles, e Catarina e Marcos que estavam ao seu lado, soprados pela brisa, repentinamente dispersaram-se em partículas de luz que pareciam ser sopradas pelo vento, assim como a lanterna que carregava em mãos, como se nada daquilo estivesse ali.
Diante de Christian estava um belo céu estrelado, porém, coberto com uma fumaça negra que vinha dos incêndios na cidade. Gritos de pessoas ecoavam por todos os lados e chegavam aos seus ouvidos. Imediatamente assim que Marcos e Catarina desapareceram, Christian em confusão olhou ao seu redor gritando:
-MARCOS! CATARINA! ONDE VOCÊS ESTÃO?
Porém, nenhuma resposta chegou até ele. Preocupado ele olhou ao redor procurando e nada encontrou, então passando o limiar da porta e pisando no terraço gritou novamente:
-MARCOS! CATARINA!
Porém, não os encontrou. Quando então se virou com pressa para correr mais uma vez na direção da porta, para descer as escadas e procurá-los, Christian viu-se diante de uma parede. Não havia mais sinal da porta que havia usado para chegar ao terraço.
Enchendo-se de confusão, de repente, Christian lembrou-se da situação em que estava. "Sim!" Ele já havia passado por todas as situações anteriores, ele lembrou. No passado, os três, confiando na luz, conseguiram passar por todos os andares, e juntos chegaram até o terraço. Então, após dois sóis ali, resolveram descer os andares para ir em busca de comida.
As feras já pareciam ter se afastado da cidade depois de devastar-lá. Porém, o que era estranho é que, passando por todos os andares, eles não viram o menor sinal de sangue. Não havia corpos, nada, como se tudo que tivessem passado fosse uma ilusão.Até mesmo o corpo de seu irmão havia desaparecido.
O trio então, com preocupação, rapidamente havia se dirigido para o início das escadarias, onde Mariana havia ficado. Porém, para o seu desespero ou para o seu alívio, o corpo de Mariana não estava lá. Na verdade, lá era o mesmo, não haviam sinais de sangue, corpos e até mesmo as regiões danificadas do prédio não estavam mais lá. Tudo estava restaurado.
Na época pensavam que estavam imaginando coisas, e acreditariam nisso, se o resto da cidade não estivesse uma bagunça completa de destruição e morte.
Christian, lembrando-se de todas estas memórias passadas, foi tomado por uma tristeza em seu coração, mas então, enquanto a tristeza lhe abatia, uma voz Majestosa soou em seus ouvidos, enchendo-o de paz, dizendo:
-Olhe criança...
Ouvindo aquela voz e saindo de sua melancolia, Christian olhou ao seu redor mas não encontrou a fonte da voz. Ele ainda estava no terraço, porém, ele tinha a sensação de que algo estava diferente. Então, levantando-se, Christian se dirigiu para a beirada do prédio para observar a situação lá embaixo. Porém, assim que olhou para baixo, novamente a confusão caiu sobre ele.
Diante de seus olhos estava uma cena inexplicável, ele olhava para baixo e de lá conseguia ver toda a cidade. O que não era possível já que deveria estar sobre um prédio de apenas cinco andares. Mas olhando para a distância que estava do solo, parecia estar acima de quatrocentos metros de altura. E o mais estranho era que, dali, não só podia ver toda a cidade, mas também conseguia ver cada detalhe dela como se o visse de perto. Era uma sensação estranha que Christian sentia passando por esta experiência.
Então olhando para a cidade que ainda parecia estar imersa no caos, Christian viu hordas de seres com corações endurecidos demonstrando seus corações malvados com selvageria avançando contra os vivos.
O alto escalão dos mortos, vestidos em suas vestes finas, com sua aparência impecável diante dos homens lançavam calúnias sobre os vivos. De seus próprios lábios, larvas rastejavam para fora de seus corpos em decomposição, podridão que escondiam por trás de sua riqueza e de sua aparência impecável.
Dentro de seus corações, carregavam violência contra os vivos, tentando a qualquer custo tirá-los a vida, para que assim como eles, se tornassem mortos. Estes mesmos, colocando seus emblemas para mostrar sua autoridade, se arrastavam como serpentes para fazer seu trabalho.
Então desviando seus olhos destas cenas perturbadoras, e voltando os olhos ao redor da cidade viu campos sobre campos, cobertos de névoa escura. O campo parecia estar tomado pelas trevas, nele, haviam mortos que preenchiam o campo aos montes. Neste campo se cultivavam plantas venenosas que exalavam seu veneno por todo o ambiente, fazendo com que os mortos inalassem e respirassem o ar envenenado constantemente. O veneno parecia deixá-los ainda mais enlouquecidos e acelerava a decomposição de seus corpos.
Os mortos tinham as mãos cobertas de lama enegrecida que parecia exalar um cheiro ainda mais podre do que eles. Na verdade, esta lama que cobria o campo por todos os lados parecia decompor os seres naquela região ainda mais rápido, e parecia ser grande agente causador do péssimo mau cheiro que os mortos exalavam.
Então, olhando ainda mais ao redor, Christian viu que a cidade estava envolta por picos. Picos sem fim estavam ao redor da cidade, e destes picos, intensa névoa escura era exalada. A névoa exalada por estes picos, quando inalada pelos seres que estavam próximos, parecia estimular os desejos escuros no coração de cada um.
Um pico parecia estimular o orgulho, outro estimulava o egoísmo, outro a obstinação, outro a impiedade, e todos aqueles, cegos pelos estímulos que a névoa suscitava em seus corações, se entregavam à ela e eram consumidos pela mesma. Olhando mais minuciosamente, Christian percebeu que esses picos de todo o tipo, não só exalavam a névoa, como também eram formados por ela.
Os céus estavam todos cobertos pela fumaça negra dos incêndios e da violência cultivada na cidade. Olhando para todos os lados da cidade, ao redor, em todo lugar havia túmulos, onde se encontravam cadáveres em decomposição aos milhões, cobertos com a mesma lama que apodrecia os mortos no campo. Do alto, Christian via um cemitério maciço e o mau cheiro dos corpos em putrefação espalhava-se por todo o cosmos.
Perdido diante daquela visão horrível, de repente, tirando-o de seu estupor, um intenso raio de luz brilhou sobre a cidade. E logo, no horizonte, viu-se o sol nascente derramando luz depois da escuridão, dando luz àqueles que se escondiam nas trevas como chacais, e àqueles nas terras de densa sombra, uma terra que os próprios habitantes transformaram em escuridão, para esconder suas más ações. Logo, a mesma Voz Majestosa que lhe chamou ecoou por toda a cidade, e a voz parecia vir do Sol:
-Aos mortos dou a vida e convido à existência todos vós que estão no nada.
Logo, derramando ainda mais intensamente a luz na cidade, continuou:
-Minha Presença é Vida e Luz. Que todos os mortos diante de mim, recebam vida, e todas as trevas que mancham a terra se dissipem diante de Minha Luz.
Ouvindo aquela voz, um calor intenso tomava seu coração. Diante dos decretos da Majestosa Voz, o Sol irradiou sua Luz na cidade em ruínas, dissipando todas as trevas, restaurando toda a destruição, elevando os cadáveres de seus túmulos e dando Vida aos mortos, derretendo os corações gelados e incinerando todas as plantas venenosas. Então, falando para os picos, continuou:
-Quanto a vós, como fumaça que é dispersa e não é mais vista, Eu os dispersarei.
Então, um brilho intenso foi emitido pelo Sol em direção aos picos que cercavam a cidade, que logo, foram dissipados pela Luz e levados ao longe pelo Vento.