Capítulo 32- Sequestro e ira.
Fora da torre em Peccáta, De Avarum novamente passava pelo portal. Sua velocidade era maior que a de Nuntio, e como não podia fazer nada com o viri sanguinium, deixou-o ser escoltado pelas armaduras negras. Pois sabia que Nuntio não conseguiria ir contra elas, mesmo que as deixasse para escoltá-lo sozinhas. E ele não poderia ordená-las atacá-lo e nem persegui-lo, mas permiti-las escoltá-lo até o portal não era problema.
Então, antes que atravessasse a massa escura do portal, o rei cuspiu névoa negra de sua boca, que imediatamente o envolveu, moldando-se lentamente à forma do homem de cabelos castanhos e olhos azuis que ele havia matado em um dos becos da cidade, o servo que Nuntio havia enviado. Logo, tomando aquela aparência, De Avarum atravessou o portal, saindo da torre com pressa. Sussurrando mais uma vez as palavras da morte, descobriu que novamente haviam espiões que o observavam sair da torre.
Em seus pensamentos ele xingava esses insetos, que um atrás do outro não paravam de se intrometer em seus planos.
Então aumentando o volume de seus sussurros, não muito tempo depois, de diversas direções, aglomerados de névoa negra se dirigiam para ele sendo mais uma vez absorvidas pelo rei. Claramente, De Avarum novamente havia matado todos os espiões na região.
No entanto, desta vez, ele sentiu que algo diferente havia acontecido. Ele sentiu uma das figuras que se posicionava na região, não havia sido consumida pela névoa, embora ele não a tivesse poupado como antes havia feito com o homem.
Então, como um vulto, De Avarum se direcionou até a estranha figura que não havia sido morta e logo, em sua visão, surgiu uma figura coberta por um manto preto, que não lhe permitia distinguir suas características.
A figura corria apressadamente na direção oposta, sem virar para trás. Mas De Avarum logo a alcançou, pegando-a pela cabeça e chocando-a com seu rosto contra a terra dizendo:
-Morram, malditos insetos!
Porém, assim que ele chocou com força a cabeça da figura com a intenção de matá-la, a figura sob sua mão explodiu em uma névoa negra composta de pequenos besouros pretos com olhos vermelhos, que imediatamente tentaram escapar para diversas direções, mas De Avarum, furiosamente explodiu em todas as direções as chamas negras que o envolviam, matando todos os besouros, antes que fugissem. Então, com os dentes cerrados, o rei enraivecido rosnou:
-Esses insetos! Espere para ver, achas que três sóis serão o suficiente para te livrar de mim? Eu não irei parar enquanto você não estiver morto! Jamais fui tão humilhado em minha vida.
Logo, De Avarum novamente, como um vulto, desapareceu daquela região.
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Alguns momentos depois, a porta da torre mais uma vez se abriu e dela, saiu uma serpente com o diâmetro da cintura de uma pessoa e maior do que qualquer ser humano, composta de névoa escura, rastejando em alta velocidade, como uma rajada de vento em direção a cidade, porém, na direção oposta à porta da torre, e oposta à direção que De Avarum seguiu.
A cidade de Peccáta era grande, e suas muralhas contavam com oito portões, posicionados de acordo com as oito direções da rosa dos ventos, e com isso dividia-se a cidade em oito regiões. A cidade cercava a torre a um raio de exatamente vinte quilômetros. Então, a partir da torre, a qualquer direção que se seguisse, percorrendo a distância de vinte quilômetros, o indivíduo chegaria na cidade, porém, em regiões diferentes.
A mansão de Nuntio se localizava exatamente na direção em que a porta da torre se voltava, no oeste, sendo a principal região de operação de sua facção. E sendo a direção na qual o rei louco havia seguido.
Logo, percorrendo cerca de metade da distância até da cidade, a serpente parou o seu caminho e se levantou como uma pessoa, se apoiando em sua calda, e lentamente a névoa se dispersou, revelando a figura de Nuntio ali de pé, parado e olhando na direção da cidade com um pequeno sorriso, dizendo:
-Até agora o plano tem dado certo! Agora o estágio final do plano se inicia!
Logo, Nuntio volta seus olhos para um de seus bolsos na calça que usava. E colocando as mãos no bolso, pegou algo como uma pequena pedrinha que ali estava, tomando-a em mãos.
Então, olhando para sua mão, pode-se ver que em seu bolso, não era uma pedra, mas um pequeno besouro preto de olhos vermelhos que ali estava. Com um leve sorriso, Nuntio, vendo aquilo, esmagou o inseto que se dissipou em névoa negra, e continuou andando em direção à cidade.
Mas em seu caminho, não muito à frente, uma figura vestida em manto preto, impedindo que alguém discernisse suas características, ficou firmemente imóvel, como se esperasse ali por Nuntio. Pousando seus olhos naquela figura, seu sorriso ficou ainda mais divertido, então sussurrando para si ele falou:
-Vamos ver se minhas deduções estão corretas!
Avançando alguns passos adiante, Nuntio se aproximou da figura, que ao vê-lo se aproximar, não tardou em tirar o seu capuz. Assim que o fez, revelou uma bela jovem de cabelos pretos que chegavam aos ombros, olhos pretos e profundos, e lábios pintados por um batom vermelho que demonstravam um pequeno sorriso sedutor. Assim que ele se aproximou, olhando com diversão para Nuntio, ela falou com sua voz sedutora:
-Eu realmente gostaria que vocês parassem com essa mania de esmagar e matar meus pobres queridinhos.
Nuntio, com um pequeno sorriso respondeu:
-É só não deixar esses queridinhos nas roupas de outras pessoas!
Narcisa divertidamente respondeu:
-Ohh então já sabias há bastante tempo sobre isto?
Nuntio com um tom inocente perguntou:
-Descobriu o que? Eu bem que estava sentindo uma pedra me incomodar em meu bolso, mas deixei pra lá, só agora que resolvi verificar!
A bela moça ouvindo aquilo respondeu rindo:
- Entendo! Muito bem, eu tenho alguém muito importante querendo falar com você, e bem, eu terei que levá-lo para ter uma breve conversinha.
Dizendo a última parte, Narcisa deu uma piscadela para Nuntio, que respondeu:
-E quem seria essa pessoa importante?
Com uma voz sedutora Narcisa falou para Nuntio, lançando-lhe um beijo:
-Quando tu o ver, tu saberás!
Então, sem que o Nuntio parecesse perceber, em seu pescoço, um inseto preto, parecido com uma vespa escura como breu, pousou e picou-lhe no pescoço. Assim que o fez, logo, voou na direção de Narcisa e pousou em seu dedo. Nuntio olhando para a vespa, parecendo irritado, perguntou:
-Um moderatoris! O que você fez?
Ela com um pequeno sorriso respondeu:
-Não se preocupe, é tranquilizante, a ferroada dói, mas só vai te colocar para dormir.
Nuntio com raiva respondeu:
-Desgraçada!
E logo sua visão começou a borrar e lentamente, Nuntio começou a perder a consciência. O estranho, era que enquanto perdia a consciência, ele sorria como se tudo estivesse correndo bem.
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Alguns minutos antes. De Avarum já havia entrado na cidade, e agora se dirigia novamente para as passagens subterrâneas. Ele ainda estava furioso por ter sido feito de bobo e dançado na mão de um de seus servos, e nas ruas movimentadas, por mais que De Avarum usasse uma aparência diferente, outros viri sanguinium ainda andavam um pouco afastados dele como se sentissem um predador passando em seu meio.
Ele andava rapidamente, já que estava com pressa e já havia perdido muito tempo, e só pensar nisso, era o suficiente para alimentar sua raiva ainda mais.
Aproximando-se mais uma vez do restaurante vazio que dava nas passagens subterrâneas, De Avarum entrou. Ainda não havia ninguém lá, possivelmente por não encontrarem o comerciante e nem o cozinheiro, os visitantes desistiram de esperar e foram embora.
De Avarum havia perdido aquela faca que tinha em mãos anteriormente, pois em sua fúria havia soltado-a no fim dos corredores, onde estava o mordomo. Porém, sabia pelas memórias absorvidas do mordomo, já que a do homem de cabelos castanhos não era mais acessível a ele, agora que tinha cuspido sua névoa para se vestir com sua aparência, que haviam mais duas facas reservas. E indo até onde estava uma delas, pegou-a, e novamente abriu a passagem, mergulhando na escuridão dos corredores e avançando como uma sombra envolta em chamas negras em direção ao portal.
Chegando pouco tempo depois, em frente à parede que havia matado o mordomo, encostou a mão na parede de pedra e disse a senha e o comando em suas memórias:
-Aquele que viaja na escuridão terminará sua viajem na escuridão; grande salão...
Logo,a parede de pedra começou a se contorcer, abrindo uma passagem. De Avarum com pressa, assim que a passagem se abriu, avançou no corredor escuro e continuou seu caminho em frente. Porém, parou assim que o cheiro de sangue entrou em seu nariz.
Olhando para o chão a sua frente, o rei louco envolto em chamas, viu o cadáver de um viri sanguinium caído ao chão. Em uma das mãos do cadáver havia um papel dobrado, como uma carta. O rei suspeitou de que não gostaria de ver o conteúdo daquela carta, mas lembrando-se de que era ali que estavam as informações de que precisava, ele tomou a carta do corpo caído ao chão e leu as palavras que haviam sido escritas com sangue:
"Salve de Avarum! Então, lembra-se de que vos disse que eu fiquei no corredor com quatro homens, porém, só me viram sair com três deles para o grande salão? Então, onde achas que está o quarto? Isso mesmo, tu acertou! Ele está na sua frente. Bem, se estás lendo esta carta agora, eu sei que tudo tem corrido bem! Então, eu aposto que nunca afirmei que tinha enviado um dos meus homens para gritar pelas ruas seus planos, uma pena que as informações que recebes da marca sejam tão vagas, e bem, parece que meus planos de te irritar a ponto de explodir deram certo, já que esquecestes de me perguntar se eu realmente havia enviado alguém ou não.
Ou é isso, ou eu realmente estou morto, mas estou otimista de que tudo deu certo!
Enfim, aí estão os desenhos e características de todos os quatro, e bem, todos eles se encontram diante de ti. Um está caído aos seus pés, e os outros três estão no grande salão. Basta que vejas suas características, e os encontrarás! Mas, se eu fosse tu, me apressaria, afinal, se tudo for como eu pensei, eu escondi de ti um pequeno segredinho.
Os sinais também são mantidos por minha consciência, ou seja, eu ativamente tenho que mantê-los para que não se dissipem. Eu vos disse que não dissiparia os sinais por ordem de meus pensamentos, e nem tiraria minha vida para dissipá-los! Mas, o que tu achas que aconteceria se de alguma forma eu perdesse a consciência? Bem, então todos naquele salão estariam em sérios problemas!
Mas, se tu já sabias desta informação, deixa pra lá. Mas se tu não sabias, se eu fosse tu, me apressaria! Tchau."
De Avarum furiosamente amassou as bordas do papel com suas mãos, rangendo os dentes fortemente e rosnando:
-DESGRAÇ...
Porém, coincidência ou não, mas assim que De Avarum ia gritar com todas as suas forças em maldição, um grito foi ouvido do grande salão mais a frente seguido de uma
explosão:
-PAREM ELES...
(Sons de explosões e respingos)
De Avarum imediatamente virou-se para o grande salão com um mau pressentimento e rapidamente avançou naquela direção.
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Dois minuto antes. No grande salão, todos os viri sanguinium conversavam ruidosamente entre si, afinal, já havia passado um tempo e o rei não aparecia. Os anciões estavam todos sentados nos seus tronos esperando pela chegada de Nuntio e de De Avarum. Porém, ambos não haviam dado sinal de que iriam aparecer até agora. Proditor estava com uma sensação ruim dentro de seu peito a um tempo, desde que ouviu Nuntio enfatizar a importancia de todos estarem aqui até que o rei chegue.
Algo no tom de Nuntio não soava bem aos seus ouvidos. Como forma de ajudar Narcisa, ele havia implantado em Nuntio o venator que ela o havia dado em seu encontro sem que o jovem o percebesse, e já havia esmagado o segundo besouro, sinalizando para Narcisa que tudo havia corrido bem. Com o terceiro em suas roupas ele agora esperava.
Porém, aquela inquietação não deixava todo esse tempo. Logo, decidindo ir verificar como as coisas estavam, Proditor resolveu investigar a situação, para ver se eram só sua cautela excessiva lhe pregando uma peça, ou se realmente algo estava acontecendo. Levantando-se, Proditor falou aos outros anciões:
-Tenho algo a verificar! Por favor me dêem licença!
Porém, assim que falou, Puéria perguntou em um tom questionador:
-O que pensas em fazer Proditor? O rei logo chegará aqui! Se não estivermos todos no lugar, podemos acabar tendo que pagar um alto preço pela raiva de De Avarum! Estais tentando nos fazer ser punidos junto com você?
Proditor controlando seu temperamento, estava prestes a responde-la, porém, um grito o interrompeu.
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Tudo acontecia em sincronia, Nuntio havia acabado de ser capturado e perdeu a sua consciência. Neste momento, os sinais nas mãos dos servos que ele havia ameaçado se dissiparam.
Os servos olhando para as pequenas esferas, como gotas de sangue escuro cristalizado em suas mãos, se dissiparem como névoa, imediatamente encheram seus olhos com desânimo e resignação. Porém, os três se entreolharam entre a multidão, e acenaram a cabeça resolutamente uns para os outros.
Afinal, eles nunca duvidaram que Nuntio havia realmente capturado suas famílias, afinal, para um dos anciões que tinha tanto poder em mãos, não era difícil fazê-lo se quisesse fazer. Eles não sabiam o porque Nuntio ordenar um ataque como este, porém, não duvidavam que suas famílias morreriam se não o fizessem.
E bem, eles estavam acostumados a matar famílias de vivos, afinal, estavam entre os mais poderosos entre os servos de Nuntio e já foram enviados a várias missões. Porém , eram incapazes de fazer o mesmo com suas famílias, e foi exatamente por isso que Nuntio escolheu especificamente os quatro entre todos, e os três entre os quatro. Nuntio suspeitava, que de acordo com suas análises, entre os quatro homens, aquele que ele escolheu matar, muito provavelmente escolheria abandonar sua família para salvar sua vida.
Sabendo disso, ele o matou e usou sua morte de outra forma, para que não estragasse seus planos, e se outro deles tivesse esta mesma tendência, Nuntio teria feito o mesmo que fez com este.
Os três então, em meio as regiões do grande salão mais movimentadas por viri sanguinium, próximas dos anciões, começaram a sussurrar em uma voz baixa, para que outros não os ouvissem, dizendo:
-Ás trevas ofereço sangue e vítima.
Então, todos usando discretamente as armas pontiagudas que carregavam, fizeram pequenos cortes em suas mãos, deixando que o sangue corresse por elas. Então, continuaram pronunciando:
-Sanguis meus contaminatus est, plague venit ad ille qui vocavit eam, corruptio tenebras allicit, et omnia quae in eo occulta sunt. Rubrum et tenebrae implexis. Et plaga transibit per te sanguis . Quod reliquum est, mors est. Cinderunt tenebrae factae sunt in me, et tenebrae lucem abominantur, mors in me cecidit, et mors abominato Vita. Homo compunctionis plenus sibi mortem consciscit. Qui enim mortuus, adducit mortis quis vivit. Et pestem diffunditur in medio populi. Akeldamach et pestem
Enquanto um deles pronunciava, um viri sanguinium ao lado viu que ele havia feito o sacrifício de sangue, e achou estranho, já que eles não estavam em batalha. Então, perguntou-lhe:
-Ei, o que estais fazendo?
Porém, assim que os servos terminaram de pronunciar, o sangue que escorria em suas mãos começou a enegrecer e como se vivo, começou a correr por suas peles, espalhando-se em grande velocidade, criando padrões desenhados por todo o seu corpo.
A cor de suas peles rapidamente tornou-se cinza, como se perdessem toda a vida. Assim que o sangue os cobriu desses desenhos por seus braços, pernas, tórax, rosto, língua e todo o resto de seu corpo, e quando suas peles tornavam-se cinzentas, secas, rachadas e sem vida, os homens começaram a rapidamente inchar como um balão.
E por mais que inchasse, das rachaduras de suas peles, ainda não saia sangue, como se o sangue de seus corpos tivesse secado. Mas destas rachaduras, saia uma névoa escura avermelhada que se espalhava pelo ambiente.
O viri sanguinium vendo aquela cena bizarra diante de seus olhos, imediatamente gritou:
-MAS QUE DROGA É ESSA?
Proditor, interrompido pelo grito, junto com todos os anciãos, voltaram seus olhos na direção do grito, e o que viram encheram seus olhos de horror. Claramente para eles se tratava de um dos tipos mais perigosos de poder das trevas, os rituais! E parecia ser um tipo de maldição e peste!
Era fácil reconhecer, devido a cor de suas peles tornando-se cinza, e as marcas pretas que eram desenhadas por todos os seus corpos. Imediatamente vendo aquilo, Proditor gritou:
-PAREM ELES...
Mas, antes que pudesse dizer mais, os homens que pareciam balões inchados explodiram, jogando uma névoa na cor de sangue junto com um liquido negro que se espalhava para todos os lados na sala caindo sobre todos ali. Assim que explodiram, a velocidade com que a névoa chegou a todos foi rápida demais para que a maioria tivesse alguma reação.
O líquido preto, sobre todos aqueles em que caia, imediatamente começava a formar desenhos pelo corpo de suas vítimas, tornando suas peles cinzentas, secas, rachadas e sem vida semelhante àqueles que usaram o ritual.
Aqueles que eram cobertos por estes símbolos, caíam no chão em agonia pela dor que aquela condição lhes causava, e a maioria, não muito tempo depois, falecia, como se toda a vida em seus corpos se secasse, tornando-os inabitados e sem vida. O mesmo acontecia com o solo e com as paredes.
O líquido escuro que caía sobre todas as paredes, rastejavam por todo o local, cobrindo-o daqueles desenhos, que pareciam tornar o ar seco e árido naquela sala, tornando a sala sem vida e sem ar. Aqueles que sobravam e lutavam para respirar o ar seco da sala, inalavam a névoa avermelhada, que quando inaladas por eles, imediatamente parecia causar um intenso remorso em seus corações, fazendo-os agonizar intensamente como se presos à uma dolorosa alucinação.
E muitos, em tentativas desesperadas de acabar com aquele remorso que os agonizava, tiravam suas vidas com as armas que carregavam. Logo, o ambiente da sala, rapidamente se tornou um ambiente de morte e desespero.
Neste momento, De Avarum já havia chego no grande salão, e vendo a névoa avermelhada se dirigindo para si, começou a sussurrar como uma serpente, fazendo com que a névoa não se aproximasse dele. Entrando no grande salão e não vendo nada, com a visão obstruída pela névoa sangrenta, foi tomado pela raiva, que consumiu seu coração de forma que, novamente, perdesse o controle, dissipando seu disfarce. Então, cheio de ódio gritou:
-ESTE MALDITO! ME ENGANOU NOVAMENTE!
Então, aumentando furiosamente o volume de seus sussurros, a névoa vermelha, como se ouvisse suas ordens, rapidamente começou a se dirigir até ele, enquanto a névoa negra que o cercava devorava e absorvia toda a névoa vermelha do ambiente, tornando a cena no salão visível mais uma vez.
Desenhos pareciam cobrir todo o local, corpos secos podiam ser vistos por toda parte cobertos desses desenhos, alguns pareciam ter cometido suícidio.
Entre as bestias, estavam todas mortas. Entre os viri sanguinium, também todos eram só cadáveres. Voltando seus olhos para os tronos de pedra, entre todos os anciãos, quase todos estavam mortos. Na verdade, aparentemente, só três restavam.
Sendo Proditor naquele momento, o único que conseguiu se defender com verba ex tenebrae, cobrindo a si e à outros cinco, que estavam próximos, na escuridão. Porém, a força da névoa vermelha era muito grande, fazendo com que o espaço que cobria com seu poder recuasse, expondo dois dos cinco que ele inicialmente protegeu.
Percebendo que a névoa vermelha se dissipou, Proditor relaxou e caiu de joelhos ao chão, não só porque estava na presença do rei, mas porque suor cobria todo o seu corpo. Ele havia usado de grande esforço para resistir à névoa vermelha e por pouco não cedeu. Logo, juntos, Puéria que estava entre os anciãos sobreviventes, e o outro ancião, se ajoelharam e todos saudaram:
-Salve De Avarum!
De Avarum estava louco neste momento. Ele novamente começou a sibilar como serpente e os desenhos que cobriam cadáveres e as paredes da sala, começaram a flutuar e tornar-se líquido novamente, e assim como a névoa vermelha, eram devorados pela névoa negra ao redor do rei, e absorvidos.
Ao mesmo tempo que, da névoa negra que o envolvia e que furiosamente parecia tentar sugar o que restava de vida ao seu redor, um braço se formou, e avançou na direção de um dos anciãos ajoelhados. O braço logo passou por Proditor e Puéria, e pegou o terceiro ancião, que imediatamente começou a gritar:
-Poupe-me, por favor! Não...
Porém, ele foi puxado na direção do rei enlouquecido, e imediatamente foi pego por De Avarum em seu pescoço, sendo dissipado pela névoa negra que o cobria a partir de seu coração.
Assim que a névoa dissolveu o ancião, De Avarum engoliu a névoa, tomando suas memórias para si. Quando todos os símbolos que cobriam a sala foram sugados e devorados pela névoa, o ar pouco a pouco voltou ao normal.
Aparentemente, a maldição e a peste haviam sido devoradas pela névoa que saia de seu robe e o envolvia. Proditor e Puéria olhavam cheios de medo para aquela cena, enquanto o rei da ganância absorvia as memórias do ancião, vendo tudo que havia acontecido até então.
Após um período de silêncio, a névoa negra que o cercava explodiu pela sala, e começou a se espalhar por todo canto, nos olhos do rei só se via loucura, ódio, e todos os tipos de emoções ruins. A névoa consumia e devorava todos os cadáveres, e De Avarum estava em um estado de uma ira tão intensa, que de seus olhos quase saíram sangue.
Enquanto estava perdido em seu ódio, de forma tão intensa, que não conseguia formular palavras para amaldiçoar, uma memória surgiu em sua mente. "A localização do garoto, sim ele ainda tinha isso!" Então, olhando para sua frente ele murmurou por entre os dentes cerrados:
-Eu me recuso a perder esta chance! Agora que já vim até aqui, este garoto deve ser meu!
Logo a névoa que espalhava-se pela sala, voltou na direção do rei, novamente se condensando ao seu redor. Na sala, todos os cadáveres haviam sido consumidos pelas trevas e nada mais podia ser visto ao redor. Como se nenhum dos acontecimentos anteriores tivessem sido reais. Até mesmo o sangue que manchava o solo foi engolido pela névoa negra.
Então, voltando seus olhos enlouquecidos para os últimos dois sobreviventes, De Avarum rosnou:
-Venham aqui!
Proditor e Puéria imediatamente se levantaram e se aproximaram do rei, com medo de que fossem mortos se demorassem um segundo a mais que o necessário. Então, assim que se aproximaram, De Avarum rosnou para si mesmo:
-Se os dois sobreviveram devem ser os menos inúteis aqui! Não tenho tempo para reunir mais deles, me recuso a perder tanta coisa! Tenho que ir agora, antes que seja tarde demais, já que perdi muito tempo, graças áquele maldito!
Só lembrar de Nuntio fazia De Avarum sentir todo o seu corpo queimar de tão intensa raiva que o tomava. Teve que controlar-se muito para que não matasse os dois à sua frente em meio a sua ira.
Durante a sua raiva, De Avarum viu surgir à sua frente uma esfera de névoa negra que lentamente se dissipou. Ele sabia o que isso significava, se Nuntio tivesse descumprido seu juramento, a esfera de névoa o traria diante dele, e depois o julgaria, consumindo-o e levando-o para as profundezas da torre, porém, o fato da esfera se dissipar, dizia a ele que Nuntio cumpriu seu juramento. Ou seja, ele havia sido enganado mais uma vez.
Então, olhando para os dois à sua frente, o rei louco começou a sibilar. Ambos torciam em suas mentes que o rei não estivesse tentando matá-los, e Proditor já estava pronto para reagir caso necessário. Enquanto De Avarum sibilava, uma névoa negra começou a circular ele, junto aos dois viri sanguinium. Logo, a névoa negra começou a se intensificar, tornando-se como uma massa escura, que rapidamente os envolveu.
Envolvidos pela escuridão, De Avarum travou a localização em suas memórias, onde o garoto havia sido capturado e quando terminou de sibilar, a cúpula de escuridão que os cobria, rapidamente se encolheu em direção ao centro onde estava o rei. Passando por Proditor e Puéria e chegando à De Avarum, logo, desaparecendo, como se a névoa dissipasse daquele local todos que ali estavam.