Em Peccáta, na cidade, um belo homem de cabelos castanhos e olhos azuis, se encontrava em uma região pouco movimentada da cidade. Ele tinha um semblante afiado, e era bastante intimidador.
O homem estava encostado em uma parede de um beco, em um lugar isolado onde raramente passavam-se pedestres. Em sua mão, brincava com uma moeda de madeira preta, com o símbolo de um dragão que envolvia uma pilha de tesouros. Enquanto brincava com a moeda suspirou:
-Huff... que estorvo de missão! O chefe me disse que eu deveria esperar em um lugar na cidade, livre de olhos curiosos, enquanto levo comigo esta moeda.
Então, em um tom incrédulo ele continuou:
-Enquanto eu estiver com ela em mãos a pessoa que eu estou esperando vai conseguir me achar. Me disse para ser respeitoso e guiar a pessoa até as passagens subterrâneas! Porém, nem ao menos me falou como é a pessoa ou quem é. Como alguém vai me achar numa cidade assim? E o pior que nem posso procurar a pessoa já que não sei como ela é... Huff.
Enquanto o homem se lamentava por seu infortúnio, por ter sido colocado em uma missão sem esperança de se completar, na entrada do beco, um homem de barba e cabelos loiros e olhos verdes, com uma face firme como rocha se dirigiu em sua direção.
O homem de cabelos castanhos vendo que aquele homem caminhava em sua direção, perguntou com hostilidade:
-Quem é você?
O homem, com um pequeno sorriso, que de alguma forma parecia estranho e não se encaixava com sua figura, como se pertencesse a outra pessoa, falou em uma voz grave e firme, fixando seus olhos na moeda preta, enquanto apontava para ela:
-Esta moeda, você é aquele que deveria me conduzir para o local de reunião?
O homem de cabelos castanhos ouvindo aquilo, baixou a guarda e relaxou dizendo:
-Ei, você me assustou! Sim, era você quem eu deveria levar até lá? Vamos, é melhor nos apressarmos, pois o chefe já deve estar impaciente! Mas, como você me achou? Foi mesmo por causa desta moeda?
O servo enviado por Nuntio falava sem parar, enquanto o homem de cabelos loiros se aproximava dele em silêncio. Assim que ele se aproximou, o homem que segurava a moeda em mãos, virou-se para o recém chegado e falou:
-Não vai me responder? Bem que seja...
Assim que ele ia se virar para começar a conduzir o homem até as passagens subterrâneas, este, repentinamente o agarrou pelo pescoço com a mão firme. Assim que seu pescoço foi preso no aperto, o servo olhando para ele com raiva e confusão, perguntou com dificuldade:
-O que você está fazendo?...
Porém, sem respondê-lo, repentinamente o homem de cabelos loiros começou a sibilar como uma serpente. Ouvindo aqueles sussurros de serpente arrepiantes, o servo encheu-se de medo, afinal, todos viri sanguinium mais antigos em Peccáta reconheciam este sibilar usado pelos reis. Ele só estava confuso por nunca ter visto algum dos reis com a aparência do homem a frente.
Logo, o homem loiro, com um sorriso louco que não se encaixava em seu rosto, terminou de sussurrar como uma serpente em seus ouvidos, e então:
-Por... favor...
A vítima, antes que tivesse a chance de terminar suas palavras, começou a ser envolvida por uma névoa negra que brotava a partir de seu coração, e logo, consumido pelas trevas, dissolveu-se na névoa que dirigiu-se para a boca do homem loiro, que a engoliu inteiramente.
Assim que o fez, De Avarum absorveu as memórias do homem, tornando-se ciente do caminho até o subterrâneo e de todas as informações que Nuntio havia lhe passado. Então, com um sorriso louco, o homem de cabelos loiros se abaixou, pegou a moeda preta caída ao chão, e disse:
-Entendo, então está tudo pronto….
Logo, ele continuou seu caminho em direção às passagens subterrâneas.
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Nas passagens subterrâneas, Nuntio com seus servos o seguindo, logo chegaram até o fim do corredor, onde havia uma passagem que brilhava levemente com uma luz vermelha.
Antes que entrassem, Nuntio parou repentinamente, fazendo com que todos que o seguiam parassem também em dúvida. Virando-se para os seus homens, Nuntio virou-se especificamente para quatro dos viri sanguinium que o seguiam. Logo, apontou para eles, lhes ordenando:
-Vocês quatro fiquem! Os demais, continuem seu caminho e se coloquem em suas devidas posições.
Sem perguntas, todos obedeceram às suas ordens, assim como os quatro viri sanguinium que permaneceram ali conforme ordenado. Assim que todos atravessaram a passagem, Nuntio voltou-se para os quatro, dizendo com seriedade:
-Preciso de vocês para uma missão suicida.
Os 4 ao ouvirem as palavras de Nuntio tremeram de medo dizendo:
-Mestre?
-O que?
...
Vendo que não aceitariam suas ordens, Nuntio continuou em tom frio:
-Vocês ousariam ir contra minhas ordens?
Nuntio sabia que por mais que lhe servissem, não ousariam colocar sua vida em jogo em uma missão suicida. Vendo que permaneciam em silêncio, relutantes em responder, Nuntio friamente prosseguiu:
-Sabem o que todos vocês quatro, entre todos os servos que estavam conosco, têm em comum?
Os quatro se entreolharam em dúvida, sem saber sobre ao que Nuntio se referia, afinal, embora servissem a mesma facção, ainda não se conheciam, já que haviam muitos servos sob De Avarum, pois, embora o mesmo não investisse em sua facção, mas ainda os usava para acumular riquezas. Logo, Nuntio continuou:
-Todos vocês têm uma família, todos vocês têm filhos. Além disso, estão entre os mais poderosos de meus servos! Não é uma coincidência?
Entendendo aonde Nuntio queria chegar, eles imploraram:
-Por favor! Não!
-Não faça nada com minha família mestre.
...
Mas Nuntio os interrompeu.
-Calem-se! Vocês viram não viram? Deixei meu mordomo para trás, para que organizasse alguns servos para capturarem e se esconderem com suas famílias. Se me desobedecerem, eles irão morrer! E não adianta me atacarem ou tentarem revoltar-se.
Logo, Nuntio levantou a nova camisa que vestia, e mostrou-lhes em seu peito a marca de De Avarum.
-Estou sendo obrigado a fazer isso pelas circunstâncias! Se não o fizer, ao final desta missão, morrerei. Relaxem, se tudo der certo, vocês não morrerão, mas se o fizerem, o farão comigo!
Ouvindo aquilo, todos se silenciaram, até que um deles perguntou:
-O que devemos fazer?
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Em Peccáta, um homem de barba e cabelos loiros, olhos verdes e rosto bem construído andava pelas ruas. Porém, de repente ele parou de andar, assumindo uma expressão furiosa em sua face.
Naquele momento, De Avarum se controlou para não gritar furiosamente de raiva e matar a todos que estavam ao seu redor. Cerrando os dentes, De Avarum rosna em voz baixa:
-Este verme! Ousa ter intenções de me trair?
Então, ele voltou a caminhar ainda mais rápido em direção às passagens subterrâneas. Afinal, não poderia usar as palavras da morte e estragar seu disfarce agora chamando muita atenção, ele deveria ser discreto.
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No grande salão, tempo depois, Nuntio se dirigiu para o grande salão com três de seus homens atrás de si. Assim que entraram na passagem do grande salão, diante de Nuntio, semelhante ao salão do conselho oval, à sua frente, havia um grande salão circular de cerca de 200 metros, com um grande lustre pendurado no teto e diversas passagens dispostas na parede do salão.
Lá, já haviam diversas figuras, bestias que ficavam respeitosamente nas bordas do salão, com as cabeças baixas e muitos viri sanguinium no centro do salão, que conversavam entre si, alguns contando histórias, outros olhando com desprezo e nojo para as bestias que ocupavam o mesmo espaço que eles.
Os anciãos, já estavam na região mais central do salão, onde havia uma plataforma elevada como um palco, com cadeiras dispostas, como tronos de pedra onde sentavam-se aos olhos de todos.
Alguns anciãos ainda não haviam chego, mas lá já estavam Puéria e Proditor junto com outros anciões.
Na plataforma, em meio aos tronos dos anciãos, havia uma plataforma mais alta, com um grande trono de ouro que ainda estava vazio. Nuntio, rapidamente cortou a multidão, se dirigindo para a plataforma, enquanto os três que o acompanhavam, se misturaram nas aglomerações, infiltrando-se entre outros viri sanguinium como se nada tivesse acontecido. Assim que Nuntio chegou na plataforma, Puéria falou:
-Nuntio! Porque demoraste tanto para sair?
Nuntio calmamente respondeu para a moça de longos cabelos pretos e olhos verdes:
-Puéria, ainda estou fazendo os preparativos para o rei! Porque não chegaram todos ainda? Deveriam já estar todos aqui!
Proditor que estava ao lado, ouvindo aquelas palavras, respondeu, levantando-se e colocando a mão direita sobre o ombro esquerdo de Nuntio:
-Acalme-se, faltam apenas dois dos anciãos, logo, todos eles estarão aqui. E então, como estão os preparativos?
Nuntio, vendo os movimentos de Proditor, com um brilho diferente nos olhos respondeu:
-Está quase tudo em ordem, porém, logo, eu terei que sair por um momento. É preciso que todos estejam aqui! Enquanto termino as preparações finais, o rei com toda certeza chegará aqui, ele já está ciente de tudo, afinal me ordenou que eu fizesse desta forma. Porém, se algum ancião além de mim não estiver aqui, creio que o rei ficará furioso, por isso, devemos todos estar prontos em sua chegada!
Proditor, como um bom mentiroso, sentia um cheiro estranho naquelas palavras, mas não podia fazer nada, afinal, já havia sido avisado para não arriscar sua posição. Logo, Puéria continuou:
-Pare de ser tão chato! Veja, eles já chegaram.
Virando-se na direção que Puéria apontava, Nuntio acenou com a cabeça em satisfação e continuou:
-Muito bem! Cuidem de tudo aqui, logo De Avarum chegará! Vou fazer os preparativos finais.
Sob essas palavras, Nuntio retira-se mais uma vez, em direção à entrada das passagens subterrâneas pela qual entrou. Logo, enquanto passava pela multidão, passou ao lado de um daqueles três viri sanguinium que o acompanhavam anteriormente, ele sussurrou:
-Lembre-se, há observadores meus ao redor. Eles também tem o meu sinal! Se eu morrer e o sinal se apagar, mas vocês não colocarem em prática o plano, ou se tentarem relatar para alguém alguma coisa, meus olheiros imediatamente irão avisar os assassinos para dar fim a suas famílias! E não pensem que poderão interceptar a mensagem, pois eu garanti que houvesse meios mais eficientes para a comunicação entre eles.
Ouvindo aquilo, o servo, com medo em seus olhos, concordou com a cabeça, e logo Nuntio continuou seu caminho para o as passagens subterrâneas.
Proditor havia notado aquilo, porém presumiu que se tratava apenas de Nuntio sendo cauteloso com os arranjos.