-Então, recordatos é dividido em 4 passos que estão em suas mãos. As coisas além desses passos estão fora de suas mãos.
Olhando profundamente para Christian, Archus continuou:
-O primeiro passo é a aquisição das sementes. Inicialmente deves tê-las em mãos se quiser iniciar o processo. No segundo passo, é onde você aprofundará a semente ao solo, como alguém que cava a terra e enterra a semente lá no fundo do buraco. O terceiro passo consiste em alimentar a semente para que cresça mais rápido e mais forte. E no quarto passo, é onde você zela pela semente. Como uma mãe que se importa com seu filho, e constantemente o zela para ver se está bem.
Archus prosseguiu dizendo:
-Devemos começar, primeiramente, tomando em mãos a semente! Para isso Christian, leia para nós os Escritos! Porém, tu não deves sair de seu COR, pois se tu levar as sementes para fora de vosso COR, sem que as plante em segurança no solo fértil, tu as levará para uma região infértil, e se o vento carregá-las de suas mãos, ou os pássaros as roubarem, perderás as sementes.
O beija-flor continuou:
-Lembre-se, recordatos é um processo, não basta apenas o primeiro passo. Por isso, exige tempo e muitas vezes um certo esforço da sua parte! Claro, como eu disse anteriormente, existem mais passos neste processo dos quais você não está ciente, mas esses passos não estão nas suas mãos. Você deve fazer aquilo ao seu alcance, e além disso, o processo não é uniforme!
Então ele prosseguiu:
-Lembrando que mesmo as vezes, sem a prática do passo a passo é possível que você alcance o objetivo final de recordatos, que é o crescimento de uma nova flor ao seu jardim, para deliciar seus visitantes e torná-lo mais belo.
Christian à suas palavras acenou dizendo:
-Entendo!
Então dirigindo seus olhos para a frase que lhe era compreensível. Logo sua boca pronunciou:
- Et galeam salutis adsumite et gladium Spiritus!
Logo, um som semelhante a uma espada sendo desembainhada soou seguido por uma coluna de luz que desceu dos céus em direção a Cristian e Archus, que estava em seu ombro, cortando a névoa que cobria os céus de seu COR.
Quando a coluna de luz o alcançou, uma grande luz dourada o envolveu, tornando sua figura indiscernível. Assim, com o passar do tempo, pouco a pouco, a coluna desaparecia de suas vistas, recolhendo-se em Christian que estava envolto por ela.
Assim que a coluna de luz desapareceu, ali no mesmo lugar, ainda estavam Christian e Archus, porém, o garoto agora vestia-se com um capacete dourado como o ouro, que cobria todo o seu rosto, deixando que apenas seus olhos fossem vistos através de uma fenda horizontal que cortava o capacete.
Este capacete era todo talhado em belas decorações artísticas, com a imagem de um cordeiro que cobria todo o lado direito de sua face, e em sua mão, havia uma bela espada de dois gumes, extremamente afiada e polida, que junto ao capacete, irradiava uma leve luz dourada.
A lâmina da espada era prateada, e refletia a luz como um espelho, era limpa e livre de qualquer imperfeição. A empunhadura e a guarda da espada eram douradas, semelhante ao capacete, ambas talhadas com belas decorações, de modo que a guarda da espada esculpia-se na forma de asas de anjo. No pomel da espada estava incrustada uma bela jóia vermelha semelhante ao rubi, que irradiava uma leve luz vermelha, quase indiscernível.
Neste momento, Christian fixando seus olhos naquela espada e com outra mão apalpando o capacete que envolvia sua cabeça, exclamou em confusão e admiração:
-O que? É tão belo!
Sua voz um pouco abafada, soava mais forte quando passava pelo capacete. Archus que estava em seu ombro, ouvindo-o, falou:
-É mesmo minha criança! Muito bem, agora que temos as sementes em mãos, devemos iniciar o segundo passo.
-Temos as sementes em mãos?
Christian perguntou em confusão.
-Exatamente minha criança. Bem, não se preocupe, eu vos conduzirei! Entraremos agora no segundo passo do recordatos, meditação!
Logo, Archus começou a conduzi-lo:
-Minha criança, tenha em mente agora as palavras que vos foram reveladas. Você consegue lembrá-las ainda certo?
Christian acenou com a cabeça concordando, então Archus continuou:
- Muito bem! A meditação é o processo de aprofundar a semente ao solo, cavando-o e enterrando-a ao fundo. As Sementes da Vida são sementes que necessitam de profundidade para vingar. Porém, deve-se tomar cuidado para não enterrá-las fundo demais. Deves alcançar uma profundidade ideal. Pois se enterrá-las fundo demais, as sementes podem se tornar incapazes de irem à luz, e assim, perderás acesso à elas. Pois elas não conseguiriam vencer a terra se estiverem muito profundas, e serão incapazes de brotar, podendo entrar em estado de hibernação por até mesmo ciclos e ciclos sem que germine. Por isso, quanto mais próximo desta profundidade ideal conseguires semeá-la, mais facilmente a semente brotará.
Logo, Archus continuou dizendo:
-Você deve entender também, em que solo estarás plantando-as. Se tu ás plantar em solo pedregoso, as sementes podem até brotar, mas dificilmente conseguirão continuar adiante, já que as raízes não alcançariam profundidade. Se as plantar em meio às ervas daninhas, deverás tomar cuidado, pois, as ervas daninhas podem sufocá-las.
Fazendo uma breve pausa, Archus perguntou a Christian com um olhar profundo:
-Agora Christian, olhe ao seu redor, o que você vê?
Ouvindo mais uma vez essa pergunta, Christian observou toda a sua volta, novamente buscando algo diferente, mas tudo estava igual.
Talvez, a única coisa que tivesse mudado visivelmente era a intensidade das chamas de seu coração, que agora pareciam ainda mais intensas, e o grande vale que se estendia para além do que seus olhos podiam ver. Então Christian respondeu:
-O mesmo que antes, o vale selvagem, a névoa escura cobrindo os céus… Só o que mudou foram as chamas, que agora se tornaram ainda mais intensas!
Archus então perguntou:
-Não consegue perceber mais nenhum detalhe, minha criança?
Christian, olhando ao seu redor novamente para confirmar se perdeu algo, não vendo nada diferente respondeu hesitante:
-Não...
Archus então, com um olhar paciente e sereno falou:
-Muito bem, minha criança, falávamos sobre o solo certo?
Christian acenou em concordância, então Archus prosseguiu:
-Pequenino, lembra-se qual é o solo fértil para as sementes da vida?
Pensando um pouco, Christian respondeu:
-O coração?
-Exatamente minha criança! Agora, olhe ao nosso redor!
Fazendo o que Archus lhe pediu, Christian olhou para a extensão do vale, analisando e meditando nos detalhes da região, e finalmente percebeu o que Archus queria dizer.
Logo, pôde notar que a área ao redor de seu coração envolto em chamas estava limpa, enquanto todo o resto era tomado pela mata selvagem e ervas daninhas. Porém, a área ao redor de seu coração, estava limpa de qualquer vegetação, havia apenas terra úmida, o que parecia estranho levando em conta que era a região mais próxima das chamas ardentes. Vendo que Christian havia notado o que queria transmitir, Archus continuou:
-Lembre-se, as chamas de seu coração são vosso refúgio, elas vos protegerão. Da mesma forma, elas impedirão que cresçam ervas daninhas no solo e o nutrirão, alimentando as sementes nele semeadas. Saiba que o calor das chamas solares é essencial para o crescimento eficaz das sementes da Vida. Esse é um dos muitos passos que fazem parte do processo mas que não estão em suas mãos.
-Então porque me falar sobre ele?
Perguntou Christian. E Archus respondeu:
-Sobre alguns destes passos minha criança, é importante que você os conheça, pois o jardineiro pode até não controlar a chuva, mas é essencial que ele saiba reconhecer, ou ter uma ideia de quando a chuva está vindo ou não. É importante que você saiba disso, pois deve-se entender que o calor das chamas é essencial para o seu jardim. Deves ter notado que elas têm se intensificado, não?
Christian respondeu:
-Sim, eu notei!
Archus continuou:
-Criança, quanto mais intensas as chamas forem, mais longe seu calor alcançará. E é importante que saiba que as ervas daninhas e a vegetação infrutífera que se proliferam pelo seu COR foram semeadas pelos corvos, e por meio de vós que os permitiu fazê-lo. Essas sementes, vieram da escuridão do abismo, e se reproduzem sob a escuridão da noite. Elas se alimentam da frieza e são extremamente sensíveis ao calor e à luz.
Logo, Archus prosseguiu:
-Aí está o motivo pelo qual essas chamas são indispensáveis para o crescimento de vossos jardins. As sementes da Vida, inversamente às sementes do abismo, de natureza corrompida, se alimentam do calor, e brotam sob os raios do sol. Deste modo, as chamas não só alimentam o vosso jardim, mas também impedem o crescimento de ervas daninhas e outras sementes do abismo. Além disso, as chamas são vivas e queimam sob o poder da Vida. Por isso, irão nutrir o solo com vida para que se torne fértil.
Ouvindo as palavras de Archus, Christian perguntou:
-Então, como faço para que as chamas cresçam e se intensifiquem ainda mais?
Archus respondeu:
-As chamas são do tamanho que você as permite ser.
Christian, confuso perguntou:
-Como assim?
Archus respondeu:
-Mais tarde tu entenderás, minha criança! Por enquanto, é necessário que entendas a importância de confiar nessas chamas que envolvem seu coração. Elas serão como a guardiã de seu jardim, e também vosso refúgio!
Christian acenou com a cabeça, respondendo:
-Tudo bem...
Mas então, como se lembra-se de algo, perguntou a Archus:
-Archus, lembro-me de que quando estávamos no vale de Franciscus, todo o vale parecia vivo, além disso, não vi nenhuma erva daninha e não vi nenhuma vegetação infrutífera. Se eu usasse uma palavra para descrever o vale seria, perfeição. Como isso é possível? Franciscus alcançou aquilo somente com as chamas de seu coração?
Christian ainda continuou, dizendo:
-Pois, estranhamente lembro-me de que, quando me aproximei de seu coração, por mais que as chamas fossem muito mais intensas do que as que via cercar o meu, eu ainda não era capaz de discernir o seu calor, já que o calor que o próprio sol emitia parecia ser semelhante ao das chamas. E isso tornava impossível discernir o seu calor, do calor do sol, como se ambos envolvessem todo o vale e ambos irradiassem de uma mesma fonte.
Meditando brevemente, Christian prossseguiu:
- Além disso, aquele calor que eu sentia parecia me dar ainda mais vida e Franciscus falou que o vale só estava em harmonia por causa do sol. O vale parecia receber vida dos raios solares, pelo menos é o que eu sentia quando o calor do sol tocava-me.
Archus, com olhos sorridentes respondeu:
-Uma ótima análise você fez aí minha criança. Acontece que o vale de Franciscus como você viu, é possível não só pelas intensas chamas de seu coração, mas pela total entrega de si à luz!
Christian não entendendo o que Archus queria dizer perguntou:
-Como assim?
Archus explicou:
- Bem, Christian, o estado mais perfeito que o homem pode alcançar é a união plena com a luz, e Franciscus é alguém que alcançou essa plena união, unido ao sol, unido à fonte, e com as chamas ardentes em seu coração alimentadas pelo Fogo Solar, alcançando uma intensidade suficiente para tomar todo o vale.
Então ele continuou:
-Foi essa perfeita união que permitiu ao vale que você viu alcançar tamanha beleza! E foi seu total abandono à luz que permitiu que essa união ocorresse! Por isso vos disse que as chamas são do tamanho que você as permite ser.
Christian então, refletiu sobre as palavras de Archus, que logo disse:
-Muito bem criança, agora sabeis onde é o solo que deveis plantar, e tendes a semente. Deves agora, Christian, sentar-se próximo ao seu coração!
Á suas palavras, o garoto dirigiu-se para região limpa ao redor de seu coração e sentou-se. As chamas pareciam alegrar-se com a presença de Christian tão próxima.
-Agora, minha criança, feche os olhos. Vós deveis refletir sobre a semente que recebeste. Deveis observar e analisar cada aspecto desta semente. Seu tamanho, sua beleza, seus detalhes, deveis ver tudo o que for possível ver nesta semente. Entendeu?
Christian acenou com a cabeça e respondeu:
-Sim.
Então Archus continuou:
-Este processo será como descascar uma cebola, meu garoto. Quando você vê uma cebola inteira, enxergas uma cebola, e conforme tu retiras as camadas da cebola, ainda vês a mesma cebola, porém com formas e detalhes diferentes, que antes você não conseguia ver. Neste caso, quanto mais camadas da cebola tu conseguires descascar Christian, mais profundamente estarás plantando as sementes, você entende?
Christian um pouco confuso respondeu:
-Acho que sim...
Então Archus continuou:
-Não se preocupe criança, é para isso que estou aqui, para te conduzir, vamos! Comece fechando os olhos e tentando imaginar diante de si as palavras que tens em mãos, transformando-se em sementes!
Obedecendo à Archus, Christian fechou os olhos e começou a imaginar cada aspecto das sementes que conseguia. Logo, sem que Christian notasse, o capacete em sua cabeça e a espada que deixou ao seu lado, começaram pouco a pouco a se transformar em partículas de luz, que juntavam-se em um pequeno pontinho de luz que se formava diante dos olhos fechados de Christian.
Lentamente, o capacete e a espada se transformaram em luz e fundiram-se nesse único ponto. Archus observando este processo sorriu, enquanto, diante de Christian, as partículas de luz se condensavam em um único ponto de luz que transformou-se no que parecia ser uma pequenina semente. Então, Archus falou em seus ouvidos:
-Muito bem minha criança. A semente está aí, agora perceba a sua presença, e medite em cada aspecto, que conseguires. Deves aprofundar-se nas palavras, e quanto mais o fizeres, mais profundamente a semente será enterrada no solo.
Christian, acenando levemente a cabeça, começou a tentar aprofundar-se nas camadas. " Et galeam salutis adsumite et gladium Spiritus! "
Christian meditava em cada detalhe da semente que podia perceber, enquanto à sua frente, a semente que estava diante de seus olhos, começava lentamente a dirigir-se ao solo. Conforme Cristian se aprofundava, a semente aproximava-se da terra.
Porém, quando a semente encontrava-se a uma distância de um fio de cabelo para tocá-la, os ouvidos de Christian captam ruídos de pássaros que começaram a ecoar pelo vale.
(*RUIDOS DE PÁSSAROS*)
Então, abrindo os olhos para ver o que se passava, viu diante de si a semente que irradiava luz, próxima ao chão. Logo, olhando para Archus em seu ombro Christian perguntou:
-O que está acontecendo?
Archus respondeu:
-Os pássaros farejaram a semente. Mas não se preocupe minha criança, você está seguro!
Logo, ao longe, saindo da mata selvagem, Christian avistou um bando de pássaros pretos como a noite, envoltos por uma névoa escura. Seus olhos eram vermelho brilhante e sangrentos, e sua aparência assemelhava-se aos corvos.
(*RUIDOS AINDA MAIS INTENSOS DE PASSAROS*)
-O que é isso?
Christian perguntou assustado.
-Bem eles são os responsáveis por impedir que a semente brote! Mas lembre-se, criança, já lhe disse, não tenhas medo. As chamas são vosso refúgio, veja!
Quando Archus terminou de falar, o bando de pássaros já havia se aproximado deles em frenesi, desesperadamente tentando tomar a semente à frente do garoto, porém, quando se aproximaram mais, assim como quando a pantera lhes atacou, as chamas que envolviam o coração de Christian avançaram em direção ao bando de corvos, chocando-se com eles.
Logo, ruídos de corvos gritando em agonia, e sons crepitantes de labaredas de fogo ecoaram na região. Os corvos que entravam em contato com as chamas eram incinerados, transformando-se instantaneamente em cinzas que eram levadas pelo vento.
Gritos de corvos ecoavam, mas seu frenesi era tanto que mesmo diante das chamas, e mesmo sabendo de seu destino, continuavam tentando teimosamente avançar.
Assim, passou-se um tempo, e o bando de corvos havia sido exterminado pelas chamas, sobrando somente cinzas que logo dispersaram-se no vento. Então Archus falou:
-Você entende agora criança? Uma pessoa jamais poderia sozinha enfrentar esses pássaros. Ainda mais, fraco da maneira como estas!
Christian ficou chocado com a visão que ocorreu diante de seus olhos, logo percebendo um detalhe perguntou:
-Mas Archus, o espaço que tenho de terras férteis é só esse pequeno espaço ao redor do meu coração. O que acontecerá quando todo este espaço já estiver ocupado pelas flores?
Archus respondeu:
-Minha criança, você se preocupa demais, ainda nem plantastes uma flor e já estais pensando em quando o seu jardim estiver cheio? Mas, quanto a sua pergunta, como eu vos disse antes, quanto mais intensas as chamas forem, maior será o alcance de seu calor e de sua luz, e maior será o vosso refúgio. E quanto as chamas, elas são do tamanho que você as permite ser, como já disse antes. Porém, mais tarde entenderás! Por agora, concentre-se na tarefa que tens em mãos.
Christian, ouvindo Archus, olhou para a semente que havia ficado parada no mesmo lugar. Então Archus, voltando seus olhos para a semente falou:
-Além do mais, Christian, porque você acha que os corvos continuaram avançando mesmo que soubessem que seu destino seria tornar-se cinzas?
Christian respondeu:
-Porque eles queriam muito a semente?
Archus com uma pequena risada respondeu:
-Não minha criança.
E então, repentinamente ele ficou sério e com uma voz forte e profunda falou:
-Isso porque de certa forma eles alcançaram seu objetivo.
Christian perguntou:
-Como assim?
-Christian, o objetivo destes pássaros é que a semente não germine e não dê frutos. A partir do momento em que atacaram freneticamente, fazendo ruídos o mais alto possível, se jogando nas chamas e trazendo caos ao seu redor, eles indiretamente abriram uma chance de completar seus objetivos. Pois tirastes os olhos da semente, cessasse a meditação, e esquecestes por um momento da semente.
Archus continuou dizendo:
-Nesse meio tempo, o vento poderia levá-la embora de suas mãos, algum pássaro poderia furtivamente roubá-lo, ou poderias ter que no mínimo, reiniciar todo o processo novamente, e às vezes podes nem ao menos conseguir entrar em um estado tão profundo como estavas antes. Entende minha criança?
Christian acenou com a cabeça, mas com um pouco de confusão perguntou:
-Só não entendo como um pássaro poderia furtivamente entrar e roubar-me, se as chamas estão me protegendo.
Então Archus explica:
-Minha criança, primeiramente, as chamas só tomam o que você as dá e só ocupam o espaço que você permite, ou seja, elas te protegerão na medida em que confias nelas. Se tens pouca confiança nela, acabarás limitando-a na hora de te proteger, e fazendo uso desta vantagem, os pássaros podem encontrar uma brecha para vos alcançar!
Então Christian respondeu:
-Mas eu confio nas chamas!
Archus, ternamente diz:
-Minha criança, se confiasse realmente, não teria tido necessidade de ter de abrir os olhos com medo durante o ataque de corvos.
Christian entristeceu-se, e vendo sua face abatida, Archus continuou:
-Alegra-te minha criança, pois o Rei é misericordioso! Além do mais pequeno, as chamas são como uma leoa, e vós sois como seu filhote. A leoa protege seus filhotes, mas também os educa. Se percebe que seus filhotes são incapazes de enfrentar um perigo, ou que estão em uma situação mortal, a leoa dará sua vida por seus filhotes. Porém, se a leoa perceber que passar por determinada situação tornará seus filhotes mais fortes, a leoa os deixará passar por essa situação, para que cresçam e se fortaleçam!
Christian, entendendo o que Archus quis lhe dizer, voltou seus olhos para as chamas que já haviam recuado para seu coração, e quando seus olhos pousaram nelas, as chamas como se brincassem com Christian tomaram rapidamente a forma de uma leoa, novamente voltando ao normal. Vendo aquilo, Christian sorriu, e logo Archus continuou com uma voz divertida:
-Viu só? Muito bem minha criança, continue com o que estava fazendo.
Christian ouvindo Archus falar, ficou com receio de ser incapaz de voltar à profundidade em que estava antes, mas como se lesse seus pensamentos, Archus falou com uma voz terna:
-Criança, olhe bem para a semente, ela ainda nem adentrou o solo, ainda estais navegando muito razamente na semente. Porque o medo de não alcançar a mesma profundidade se tu ainda não alcançou qualquer profundidade?
Christian envergonhou-se um pouco com aquelas palavras e acenou com a cabeça timidamente dizendo:
-Tudo bem!
Então Archus continuou:
-Além do mais, não se preocupe, afinal eu estou aqui para te ajudar não estou?
Christian alegremente respondeu:
-Sim!
-Muito bem, continuemos!
Logo, obedecendo-lhe e seguindo suas instruções, Christian fecha os olhos e volta novamente sua atenção para a semente, tentando adentrar as camadas mais profundas.
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Em um local escuro, onde o ar cheirava a morte, barulhos de correntes que se arrastavam podiam ser ouvidas. Além disso, sucessivamente sons de gritos angustiados ecoavam pelo local. Porém, quando se olhava ao redor, nada podia ser visto devido a ausência de qualquer luz.
No momento em que os corvos atacaram Cristian, e os corvos foram aniquilados pelas chamas, uma entidade que se misturava com a escuridão mexeu-se.
Então, chamas negras se acenderam no que parecia uma mão, composta de ossos negros que pareciam carbonizados. As chamas negras não irradiavam luz, mas em meio a pura escuridão eram facilmente discerníveis. As chamas negras, assim que acesas tornaram uma figura fracamente visível em meio a escuridão.
A figura parecia usar um capuz preto esfarrapado, e era impossível de ver seu rosto, pois parecia ser formado por profunda escuridão. Estava toda coberta pelo manto preto em mal estado, e o único detalhe de seu corpo visível eram suas mãos ósseas carbonizadas.
A entidade não tocava o chão, seu robe parecia terminar até a altura dos joelhos, mas mesmo assim não era possível ver suas pernas. Parecia flutuar e a única prova de que algo realmente estava dentro daquele velho robe, eram aquelas mãos que seguravam as chamas negras.
Então uma voz extremamente desagradavel soou da grande escuridão de seu capuz, como um sibilar de uma serpente:
-Parece que mais um deste humanos imundos se levanta para se juntar à luz. Maldição! Não se cansam de estragar nossos planos!
Então, as chamas nas mãos ossudas da tenebrosa figura começaram a se contorcer, e pouco a pouco, as chamas negras formaram a figura de um pássaro, semelhante aos corvos que atacaram Christian.
A figura, mais uma vez soltando seus sons desagradáveis ordenou ao pássaro:
-Vá! Convoque os venatores, digam-lhes para localizar este humano o mais rápido possível. Eles devem derrubá-lo antes que se levante, sabeis como proceder, assim que houver uma oportunidade, não a perca! Também tu deves acompanhá-los de longe. Deveras me manter informado de tudo! Entendido?
(Crown *Barulho de Corvo*)
-Agora vá!
Então, o corvo formado por chamas negras levantou voo e desapareceu penetrando as trevas. E ao partir do local onde estava a entidade, o ambiente uma vez mais voltou a treva profunda, e a figura que vestia o robe novamente se misturou à escuridão.