Chereads / Lux et tenebrae - Crônicas de Christian [Portuguese] / Chapter 15 - Aquele que tem tudo em mãos

Chapter 15 - Aquele que tem tudo em mãos

O tempo se passou, e logo, Christian, novamente se aprofundava nas palavras, e a semente que já estava próxima do solo, finalmente alcançou a terra. Quando a semente tocou-a, esta se viu impedida de continuar seu caminho, devido à dureza do solo. Então Archus sussurrou-lhe:

-Minha criança, agora que a semente alcançou o solo, é necessário que você a permita adentrá-lo. Para que a semente possa prosseguir, a terra deve amolecer. Para isso, Christian, deves abrir seu coração. Neste momento, seu coração é como uma pedra, impedindo a semente de alcançar maiores profundidades.

Archus continuou:

-Por isso, deveis amolecer vosso coração. Já passastes pela experiência de sentir vosso coração e também experimentastes o processo de conduzir vossos pensamentos de seu intelecto ao seu coração. Agora, deveis lembrar deste mesmo processo. Até agora vosso intelecto tem passado pela superficie da semente, mas para que prossigas adiante, nescessitarás, assim como fizestes com teus pensamentos, conduzir as palavras de seu intelecto até vosso coração, pois deves lembrar-se, de que o idioma em que estas palavras estão expressas pertence ao coração e não a língua. Tu entendes minha criança?

Christian ouvindo as instruções de Archus acena com a cabeça levemente e coloca-se a praticá-las. Concentrando-se em seu coração, pouco a pouco, Christian tenta sentir novamente as pulsações de seu coração para conectar-se à ele, e então.

(bump bump... bump bump... bump bump…)

Logo, lentamente os sons de seu coração tornaram-se novamente audíveis e, imaginando o fio condutor que ligava seu intelecto e seu coração. Com o passar do tempo, o fio tornou-se cada vez mais visível aos olhos de sua alma, e a presença deste fio tornava-se pouco a pouco discernível para Christian. Então Archus sussurrou:

-Muito bem minha criança, agora, encontre em seu intelecto as palavras que tens em mãos e conduza-as pelo fio até seu coração.

Christian, seguindo as instruções, tentou navegar em sua mente, procurando a semente para enviá-la ao seu coração. E inexplicavelmente, assim que iniciou a busca, diante de seus olhos, surgiu a visão de muitos pontinhos brilhantes, como estrelas que se espalhavam pelo espaço.

E da mesma forma, que notou haviam muitos pontos escuros que espalhavam-se no mesmo espaço, como bolas escuras de névoa negra. Algumas destas pareciam se mover em direção aos pontinhos brilhantes, como se os tentasse apagar com sua escuridão, enquanto os pontinhos brilhantes pareciam lutar para não serem submergidos pela escuridão dos pontos escuros.

Mas um ponto em especial chamava ainda mais a atenção de Christian. Era muito brilhante, e se os pontinhos de luz ao redor parecessem estrelas, este era semelhante ao sol. Logo, Christian notou, que haviam muitos pontos escuros que avançavam em frenesi em direção ao sol, para submergi-lo, mas eram todos dissipados quando se aproximavam deste grande ponto brilhante. Aquela cena levou Christian a relembrar dos corvos que avançavam em direção às chamas de seu coração.

Então, tomado de interesse, Christian estendeu suas mãos em direção a este sol. E quando o fez, percebeu que o sol parecia estar ao alcance de suas mãos, como se não houvesse distância entre eles.

Quando suas mãos tocaram o sol, imediatamente Christian notou que este sol era a semente que procurava, então, concentrando-se no fio condutor, Christian enviou a semente em suas mãos rumo ao seu coração.

Acompanhando a semente que era conduzida pelo fio, o garoto esperava ansiosamente que tudo desse certo. Quando a semente adentrou seu coração, este pareceu brilhar, e a semente semelhante a um sol, aquecia seu coração, amolecendo o que parecia uma firme camada de rocha que o envolvia.

As chamas do pequeno sol eram tão quentes, que derretiam até mesmo a rocha sólida. Como se também pudesse ver todo o processo, Archus em seu ombro sussurrou:

-Muito bem, minha criança, agora que a semente aqueceu seu coração, vós podeis continuar a se aprofundar. Agora a semente será desimpedida de prosseguir ao fundo do solo, pois o solo já perdeu sua dureza.

Christian, acenou com a cabeça e voltou a meditar. Pouco tempo depois, a terra em que a semente tocava começou a ondular, como a superfície da água. E lentamente, a semente começou a submergir, não mais desimpedida pela dureza do solo.

Então, o tempo se passou, até que a semente já estivesse totalmente submersa no solo. Porém, Christian, mesmo que não a visse, ainda podia senti-la, e sabia que ainda estava muito rasa no solo, então continuou o processo, em busca de maior profundidade.

Segundos se passaram, minutos se passaram, e a frustração de Christian começou a aumentar. A semente simplesmente não parecia querer mais se mover, e ele se via incapaz de descascar mais camadas da semente. Observando aquilo Archus sussurrou:

-Você foi bem minha criança, não se esqueça, que para se tornar um bom jardineiro também são necessárias prática e experiência. Hoje, estou aqui para ajudá-lo, preste atenção Christian, hoje tenho vos permitido passar por algumas experiências fora de seu alcance, para que quando tentes, tenhas uma base de como fazê-las.

Então, Archus soprou levemente em seu rosto mais uma vez. Um ar brilhante, nas cores do arco-íris suavemente acariciou sua face, e imediatamente Christian, que não conseguia mais "descascar" as camadas das palavras, se viu como quem caísse em um buraco, alcançando profundidades muito além do que estava antes.

A semente que estava anteriormente parada em um mesmo lugar, agora se aprofundava rapidamente no solo, até que chegasse e estagnasse em uma certa profundidade. Christian então abriu os olhos e virou-se para Archus, surpreso, e o belo beija-flor, olhando para ele, disse sorrindo:

-Não te surpreendas, minha criança, agora, a semente já alcançou a profundidade ideal para iniciarmos. Lembre-se bem dela Christian, para que tenhas uma referência para as próximas sementes que semearás. Agora devemos entrar no terceiro passo de recordatos, lembra-se de qual era?

Christian, depois de muito pensar, tentando lembrar-se sobre o que Archus havia lhe falado antes, respondeu:

-Agora devemos alimentar a semente?

Archus prosseguiu:

-Exatamente Christian, eu vos expliquei um ponto bem importante anteriormente. Vos falei que o bom jardineiro deve cuidar de seu jardim com aquilo que tem à disposição e com sabedoria. Já o resto não está em suas mãos, correto?

Christian respondeu:

-Sim!

Archus prosseguiu:

-Muito bem, então Christian, o que tens agora à disposição para alimentar essa semente minha criança?

Christian, refletindo sobre aquela pergunta e observando toda a sua volta, vira-se para Archus e diz:

-As chamas?

Archus respondeu com uma voz terna e alegre:

-Também minha criança, mas você tem controle sobre as chamas? Como as usarás? Já lhe disse não? Este é um passo deste processo que não está em suas mãos. Então como deverás fazer?

Christian, pensou mas não encontrou uma resposta:

-Não sei.

Então Archus prosseguiu:

-Minha criança, o que diferencia o bom jardineiro do simples jardineiro?

Christian lembrando-se das instruções dadas por Archus até agora, mas falhando em encontrar uma resposta em suas memórias, disse:

-Não sei.

Logo Archus continuou:

- Eu vos disse, que para se tornar um bom jardineiro é necessário estar em sintonia com a fonte, correto? Porque tu dirias que isso é necessário?

Christian novamente, um pouco envergonhado respondeu:

-Não sei.

Archus então com um sorriso terno disse:

-Criança, não precisas ficar envergonhado por não saber responder. Afinal, o homem que entende que não sabe é muito mais sábio do que aquele que acha que sabe. Estou aqui para te instruir, não estou? Então não tenhas medo.

Christian ouvindo aquilo acenou a cabeça alegremente:

-Tudo bem!

Então, Archus prosseguiu:.

-Isso é necessário pois, como eu vos disse, o papel do bom jardineiro é cuidar do jardim, o resto não está em suas mãos. Mas se o resto não está em suas mãos, tem que estar nas mãos de alguém. Entende onde quero chegar minha criança?

Christian acenou com a cabeça e disse:

-O resto então está nas mãos desta fonte?

Archus respondeu:

-Exatamente minha criança, agora quero que percebas algo. Passaste por dois passos de recordatos até agora, certo?

-Sim.

-No primeiro passo Christian, você deveria ter as sementes em mãos, e neste passo, dependiam de você, somente duas partes do processo. Ir pedir sementes para Aquele que as têm e tomá-las em mãos para as plantar. A criação das sementes não era algo que estava em suas mãos, correto?

-Sim.

Christian respondeu. Archus então continuou:

-Certo, no segundo passo, tu deverias enterrá-la no solo. E para isso tu deverias primeiramente plantá-la em uma terra mais propícia, algo que as chamas proporcionaram para você. Mas as chamas não estão sob seu controle, então isso é algo mais que não pertence ao vosso mérito, assim como não dependeu inteiramente de ti para que o solo amolecesse.

E ainda prosseguiu dizendo:

-Claro, estava em vossas mãos a tarefa de semear no solo propício, conduzir a semente de seu intelecto para seu coração, e de meditar, mergulhando no profundo interior da semente. Mas, agora vos pergunto, todos estes passos que não estavam em suas mãos, nas mãos de quem, você imagina que estavam todos eles?

Christian respondeu:

-Da fonte?

Archus continuou:

-Exato, minha criança. Agora neste terceiro passo, precisarás alimentar estas sementes, correto?

-Sim.

Então Archus disse em um tom brincalhão:

-Muito bem, então, minha criança, você diria que está nas mãos do bom jardineiro criar a água para alimentar as plantas? Fazer chover talvez? Ou talvez esteja nas mãos dele, fazer brotar a semente, ele pode talvez estalar os dedos, e as sementes brotarão?

Christian ouvindo tudo aquilo disse:

-Não! Isso está nas mãos da fonte, não é?

Archus prosseguiu:

-E o que você diria das sementes? Talvez esteja nas mãos do bom jardineiro criá-las para plantá-las, certo? Afinal, não há nenhuma semente a sua volta que possa plantar!

Então Christian respondeu:

-Não, está também nas mãos da fonte...

Quando terminou de dizer essas palavras, finalmente lhe pareceu cair a ficha do que Archus queria lhe dizer. Percebendo este ponto, Archus continuou:

-Muito bem, minha criança, você percebeu. Se a criação das sementes não está em suas mãos, porque a criação do alimento para elas estaria? Essa é a importância de estar em sintonia com a fonte, é isso que diferencia um bom jardineiro dos outros. Ele está sempre em sintonia com Aquele que tem tudo em Mãos, a Fonte, que fornece ao bom jardineiro todas as suas necessidades. Você sabe o que deve fazer agora neste próximo passo Christian?

Pensando um pouco, ele respondeu:

-Devo pedir ajuda para a Fonte assim como fiz com as sementes?

-Exatamente! Assim como tivestes de pedir ao vosso amigo que lhe concedesse sementes para o jardim, pois era o único que as possuía, também deveis pedir a ele o alimento para as plantas, já que também é o único que os tem em mãos.

Archus respondeu. E então prosseguiu dizendo:

-Certo criança, vamos começar!

-Tudo bem!

Respondeu Christian com seriedade.