Chapter 18 - Amor e zelo

Diante da bela flor brilhante, estavam Christian e Archus, admirando sua beleza. Passado algum tempo Archus falou:

-Muito bem minha criança, conseguisse dar mais um passo adiante, agora que a Fonte vos ajudou para que a semente brotasse.

Christian sorriu, então Archus continuou:

-Lembre-se minha criança, vos disse que o processo não é uniforme, não disse?

-Sim!

Christian respondeu.

-Pois bem, minha criança, Aquele que tem tudo em mãos decidiu vos ajudar para que a semente brotasse, derramando em vós as luzes do grande sol e as águas do Rio da Vida! Mas lembre-se, as vezes podes procurar um rio, mas só encontrar um deserto. Neste momento, criança, exigirá de vossa parte persistência e paciência. Pois como já vos disse, deves fazer o que podes com o que tens à disposição! O resto não estará em vossas mãos.

Christian acenou com a cabeça dizendo:

-Entendo.

Archus então prosseguiu:

-Por isso o processo nem sempre será curto, e pode muitas vezes até não ocorrer da mesma forma, afinal, nada disso está em suas mãos! Vos digo isso para que não te surpreendas se as coisas não acontecerem do jeito que planejas, afinal, o que ocorrerá e como ocorrerá são questões que estão fora de seu alcance. Entendes, minha criança?

-Sim.

Christian respondeu.

-Christian, seguistes até agora os três primeiros passos de recordatos, mas agora deveis entender algo importante. Se um jardineiro semeia boas sementes em seu jardim, as enterra em uma profundidade ideal e simplesmente as abandona ali, os pássaros atraídos pela semente podem tentar desenterrá-la e devorá-la. Caso não o façam, a falta de nutrientes pode dificultar o crescimento da flor, podendo fazer até mesmo com que não brote. Por isso, enterrá-la não basta! O bom jardineiro deve zelar por ela e alimentá-la para que cresça, certo?

Christian respondeu:

-Sim!

Archus continuou:

-Muito bem, agora, o que aconteceria, se o jardineiro semeasse as sementes, regasse-as, e após as sementes brotarem e crescerem em belas flores, ele mais uma vez abandonasse o jardim?

Christian respondeu:

-As flores secariam?

Archus responde.

-Exatamente minha criança. Por falta de alimento as flores secarão, as ervas daninhas crescerão desenfreadamente e sufocarão as flores que restaram, e logo todo o jardim será arruinado.

Então Christian respondeu:

-Mas Archus, as chamas de meu coração já não alimentam a flor e não impedem que as ervas daninhas cresçam? Não entendo o que me resta fazer!

Archus respondeu:

-Mas não é disso que se trata o amor, minha criança. O quarto passo trata-se de zelar pelo seu jardim, zelar pela semente. Com zelo deverás regá-la e com zelo deveis tratá-la. Vos disse que serás como uma mãe que ama seu filho, e constantemente o zela para ver se está bem. Deves lembrar-te de regar frequentemente a semente, e deves carregá-la sempre em seu coração, para que ninguém a prejudique!

Archus continuou:

-Além do mais minha criança, se amas alguém, e tendes em mãos pão e mel, por acaso, darás somente o pão para vossa amada? Ou passarás o mel no pão para que a vossa amada possa ter algo ainda melhor com que deliciar-se?

Christian respondeu:

-Lhe daria pão com mel!

Então Archus continuou:

-Exatamente minha criança, e deveis amar da mesma maneira as flores em seu jardim. Lembra-se o que Agnus lhe falou na floresta, pequenino?

Christian com um pouco de confusão perguntou:

-Como sabes disso?

Archus respondeu com um pequeno sorriso, rindo com ternura:

-Um Pássaro Branco me contou.

Christian meio confuso respondeu:

-Se alguém o ama, guardará sua palavra, foi isso que Ele me disse!

-Pois então minha criança, vós o amais?

-Sim!

Christian apressadamente respondeu.

-Se amas Agnus, deveis amar a Palavra. E a flor minha criança, é nutrida com o pão, mas se a amas, porque não também, quando tiveres a tua disposição o mel, dá-lo à flor junto ao pão? Lembre-se pequenino, um jardineiro sem o Amor não pode ser um bom jardineiro, pois para estar em sintonia com a fonte é necessário o Amor.

-Tudo bem.

Christian respondeu. Então Archus prosseguiu:

-Além do mais minha criança, as chamas realmente alimentam a flor, e também impedem o crescimento das ervas daninhas, porém, também vos disse que as chamas só ocupam o espaço que você as dá, e que são do tamanho que você permite.

E prosseguiu dizendo:

-Se pouco nelas tu confias, e se pouco se destes à luz, acabas por limitar as chamas no momento de agir em vós. Então saibas que se tua confiança nas chamas diminui, e se dás ainda menos espaço para elas, o alcance de sua luz e de seu calor também o fazem, e assim tu acabas limitando seu espaço. Sabes o que isso significa, minha criança?

Christian ainda meditava quando Archus pediu:

-Olhe a sua volta Christian.

Olhando ao seu redor, Christian viu tudo como estava antes, mas agora com uma flor brilhante próxima de seu coração em chamas. Chamas que pareciam ter ficado um pouco mais intensas depois de tudo que aconteceu. Enquanto Christian observava o seu entorno, Archus falou:

-Perceba, criança, o pequeno espaço que tu destes às chamas até agora!

Christian então olhando para a área limpa de ervas daninhas, onde o solo era nutrido pelas chamas, observou uma pequena área que circulava seu coração em um raio de meio metro.

E o mais impressionante era que, a área anteriormente limpa pelo calor e luz das chamas quando se intensificaram alimentadas pelo sol, agora estava em grande parte preenchida por novas ervas daninhas que já cresciam e tomavam conta outra vez de seu entorno.

-Vês? Minha criança, se o tamanho do espaço que as chamas ocupam, depende de sua confiança, e no quanto tu entregas, o que dirás que ocorrerá se tua confiança diminuir?

Christian respondeu:

-As chamas diminuíram?

Então Archus explicou:

-As chamas, sufocadas por vós, teriam menos espaço, logo, menos alcance, logo, a área alimentada por elas diminuiria, e logo as ervas daninhas tomariam conta deste espaço, assim como contemplastes acontecer agora. Olhe para toda esta região que foi limpa anteriormente pelas chamas, as ervas daninhas já crescem por todos os lugares!

Então, continuou, perguntando:

-Agora quero que reflitas minha criança, se tu plantasse uma flor nesta área protegida pelas chamas, porém limitasse ainda mais o alcance das chamas com tua falta de confiança, fazendo-as recuar, o que imaginas que aconteceria?

Christian pensando nas palavras de Archus respondeu:

-A flor estaria desprotegida!

-Exatamente pequenino. Quando tua confiança nas chamas diminuísse, o espaço que as chamas ocupam diminuiria, e se neste encolhimento do espaço alguma flor acabesse por ficar de fora do alcance das chamas, acabaria desprotegida. Assim, darias oportunidade às aves para que devorem a flor e permitirás que as ervas daninhas cresçam ao redor dela e a sufoquem.

Fazendo uma breve pausa, Archus prosseguiu:

-E tu, minha criança, como um bom zelador, deveis fazer o seu melhor para cuidar do jardim! Mas um jardineiro que não confia na Fonte é um jardineiro incompleto. E por seres incompleto, serás incapaz de cultivar um bom jardim, pois um jardineiro incompleto é limitado por sua própria incapacidade.

E ainda continuou:

-Mas como vos disse, o processo não é o uniforme, afinal, Aquele que tem os passos essenciais em mãos, é um jardineiro completo por si mesmo, e caso queira dar um belo jardim a alguém que nada sabe sobre jardinagem, assim ele o fará. Entendes minha criança?

Christian respondeu:

-Sim, mas Archus, e o vale de Franciscus? Ele também tem que fazer tudo isso para cuidar do jardim dele?

Archus respondeu com ternura:

-Minha criança, já vos falei, o vale de Franciscus tornou-se assim, pois Franciscus se entregou totalmente à luz! Mais tarde minha criança, tu serás treinado em sua vontade. Saiba que, a vontade pode ser dividida em três níveis, minha criança. Esses três níveis da vontade são: autem infirma, autem fortis e status nulla.

Fazendo uma breve pausa ele continuou:

-Status nulla é o estado perfeito de união plena com a luz. Já vos disse, que este é o estado mais perfeito que o homem pode alcançar. Minha criança, Franciscus alcançou este estado. E neste estado, o vale une-se com o Sol, e a fonte habita o vale! Neste estado, não é mais o homem que rege os intellectus, nem autem, nem recordatos, mas a própria fonte, e o próprio sol o fazem.

Logo, Archus prosseguiu dizendo:

-Bem, minha criança, mais tarde entenderás! Ainda não é o momento para isso. Por agora, espero que tenhas entendido a importância de zelar pelo jardim! Um bom jardineiro ama e zela pelo jardim e jamais o abandona. Entendido?

-Sim!

Respondeu Christian.

-Muito bem, pequeno, podemos nos retirar por agora de seu COR, vamos ver Franciscus, tens algo ainda a aprender com ele!

Christian respondeu:

-Tudo bem!

Então Christian, abrindo seus olhos, saiu de seu COR junto à Archus.