Chapter 19 - O conselho

Assim que Christian abriu os olhos, viu-se mais uma vez no belíssimo vale de Franciscus, apoiado na fonte. Olhando ao seu redor, viu o belo céu azul, o sol que parecia um só com o vale, o jardim florido que cercava a cabana, junto às belas árvores de cerejeira.

Os cantos dos pássaros voltaram mais uma vez a ecoar em seus ouvidos, e os raios de sol o alimentavam outra vez mais com vida. Sentindo a maravilhosa fragrância das flores ao seu redor, logo, Christian percebeu um detalhe que antes não havia percebido.

Agora que havia sido instruído por Archus, seu conhecimento sobre as flores havia se expandido, permitindo que Christian estivesse um pouco mais atento aos detalhes.

Olhando para as flores, para as árvores e para toda a vivida vegetação que cobria o vale, Christian percebeu que tudo, principalmente as flores, irradiavam um leve brilho, assim como a flor que brotou em seu COR, toda a vegetação no vale de Franciscus brilhava de acordo com suas cores. Olhando para Archus que silenciosamente o observava de seu ombro, Christian perguntou:

-Archus, toda a vegetação aqui é fruto de recordatos?

O belo beija-flor, com o que parecia um sorriso diz:

-Sim, minha criança!

Christian exclamou:

-Franciscus deve ter tido muito trabalho para plantar por todo o vale!

E assim que terminou de falar, Franciscus que até o momento não estava a vista, abriu a porta da cabana repentinamente, enquanto ria alegremente, dizendo:

-Garoto, trabalho? Foi minha maior alegria fazê-lo!

Christian vendo o pequeno Franciscus abriu um grande sorriso e exclamou:

-Franciscus!

E Franciscus olhando para ele, divertidamente diz:

-O que garoto? Já estava com saudades? Venham, eu preparei chá, vamos tomar antes que esfrie!

Christian sorrindo se levanta com Archus em seu ombro, e diz:

-Tudo bem!

Então, os três entraram juntos na cabana.

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Em Peccáta, Nuntio ainda andava pelo corredor escuro, seus olhos vermelhos brilhantes chamavam a atenção em meio a toda aquela escuridão. Ele seguia calmamente em frente, totalmente desimpedido pela escuridão.

Chegando ao fim do corredor, mais uma vez, uma parede bloqueava a passagem. Colocando suas mãos na parede, Nuntio sussurrou novamente uma senha:

-Aquele que viaja na escuridão, terminará sua viajem na escuridão; salão do conselho...

Então, a parede começou a se contorcer e lentamente formar uma passagem. Assim que a passagem se abriu, Nuntio entrou e continuou o seu caminho por mais um corredor. Andando por mais um tempo no corredor escuro, pouco a pouco uma luz avermelhada podia ser vista no que parecia ser o fim deste corredor.

Nuntio seguiu em frente, e finalmente chegando ao final do corredor, encontrou diante de seus olhos uma sala esférica em que diversas passagens eram dispostas pela parede assim como aquela da qual agora saía.

Na sala havia uma mesa de pedra com várias cadeiras de pedra dispostas ao redor da mesa. Haviam lustres que irradiavam uma fraca luz vermelha, tornando a luz no ambiente quase inexistente. Sentados ao redor da mesa, haviam diversas pessoas, homens e mulheres. Todos vestidos com roupas finas e requintadas, mostrando suas riquezas com jóias e acessórios de ouro.

Nuntio então, sentou-se na única cadeira que ainda não estava ocupada, e assim que o fez, uma bela moça de longos cabelos pretos e olhos verdes falou:

-E então Nuntio, porque convocasse o conselho? Sabeis, que esta convocação só deve ser usada em casos de extrema urgência.

Nuntio olhando para a bela moça respondeu:

-Puéria! Cale-se, o rei me ordenou que convocasse esta reunião! Nós vamos marchar para Maschera! Temos um objetivo lá e precisamos convocar nossos servos para nos juntarmos rapidamente ao rei que convocará os mortos.

Todos se agitaram ao ouvir as palavras de Nuntio, e murmuravam uns para os outros em espanto pela situação. Então um homem de cabelos grisalhos e olhos pretos, com um bigode branco, que usava um monóculo questionou:

-E porque invocar o conselho e nos fazer vir até aqui? Não poderia ter simplesmente enviado mensageiros para nós? O que é tão importante que deve ser feito às escondidas desta forma?

Nuntio então com uma voz firme falou:

-Silêncio, Proditor! Convoquei o conselho, pois o rei não deseja que essas informações cheguem tão cedo nas mãos dos outros reis. Tudo deve ser feito com cautela, devemos transportar nossos servos pelo subterrâneo, não podemos alertar as outras facções, entendido?

Algum entre os anciões replicou:

-E como espera que movamos nossos servos pela cidade, sem que sejamos percebidos por outras facções?

Nuntio respondeu:

-Deveis mover os servos pelos portais subterrâneos, ao invés de se dirigir para o salão do conselho, devemos nos encontrar todos mais adiante no grande salão. Lá haverá espaço suficiente para que reunamos os servos. Mais tarde irei mais uma vez consultar o rei e ver como sairemos da cidade. Creio que o rei usará as palavras da morte para nos conduzir. Entendido?

Então a bela moça, Puéria diz em uma voz cheia de desprezo:

-Você espera que eu traga para dentro de minha mansão aquelas bestias nojentas e os servos imundos? Eles contaminarão todo o corredor do portal de minha mansão!

Nuntio furiosamente disse:

-Cale-se Puéria!

A bela moça então enraivecida disse:

-Nuntio! Tu não mandas aqui neste conselho. Não penses que só porque recebestes ordens diretas do rei podeis ficar vomitando ordens em cima de mim!

Nuntio ainda mais furioso gritou:

-Por acaso queres desobedecer às ordens do rei? Queres trair De Avarum? Ele nos ordenou que nos reunissemos em um único lugar!

Puéria confrontada pela voz furiosa de Nuntio abaixou os olhos com medo das palavras proferidas pelo mesmo. Então Nuntio continuou:

-Muito bem! Agora que passei as notícias para todos, devemos iniciar! Já ordenei que meu mordomo começasse a convocar meus servos! Devo lembrar-lhes para fazer isso com cautela, convocai somente vossos servos mais confiáveis. Não devemos correr o risco de que as informações caiam nas mãos de traidores! É inevitável que as informações cheguem a outros reis, mas devemos atrasar estas informações o máximo possível!

Proditor, o homem de cabelos grisalhos perguntou á Nuntio:

-E por qual motivo devemos fazer tudo em segredo? Qual o motivo deste ataque?

Nuntio diz:

-Vocês não precisam saber disso!

Ouvindo suas palavras, um alvoroço se iniciou no conselho.

-Não confias em nós?

-Porque podeis saber e nós não?

-Por acaso achas que és melhor do que nós?

-Estas desconfiando de nossa facção?

-Quem és tu para guardar segredo de nós?

Nuntio ouvindo todo este alvoroço gritou furiosamente:

-SILÊNCIO! Não importa o motivo pelo qual iremos, só importa a vocês saber as consequências de falhar com um dos reis, principalmente com De Avarum!

Ao som destas palavras, um brilho de medo se fez presente nos olhos de cada um naquela sala e todos se silenciaram. Então Nuntio, continuou:

-Muito bem! Agora que as informações foram entregues irei me retirar, devemos nos preparar imediatamente, De Avarum em breve nos chamará!

Então todos apressadamente se levantaram. Logo, Nuntio e os outros anciões se dirigiram cada um para uma das passagens dispostas pelo salão circular para fazer seus preparativos.

Nenhum momento Nuntio mostrou a marca em seu peito, pois não desejava que estivessem cientes do quão importante era para De Avarum esta operação, afinal o rei ganancioso teria que dar muito valor à essa operação para que, mesmo por um momento, desse a alguém a sua marca.

E sabendo da importância do sigilo, ele não ousava confiar cegamente nos outros anciões da facção. E por trás deste motivo, ele ocultamente escondia outra intenção, já que se soubessem que sua morte era iminente, poderiam conspirar contra ele. Porém ele não pretendia permanecer em silêncio.

Nuntio planejava encontrar alguma forma de contornar isso, mesmo que para isso tivesse que trair De Avarum. Ele sabia que De Avarum sabia de sua precisa localização, mas outras informações que os reis conseguiam com a marca eram vagas.

Observou-se alguns detalhes durante os ciclos em que os reis marcaram seus súditos, e nas mãos de Nuntio, precisas informações haviam chegado a 2 ciclos atrás. Se ele pudesse ocultar bem suas intenções, desde que De Avarum não o questionasse diretamente, e enquanto ele não agisse, ele dificilmente perceberia suas intenções ocultas.

Assim que ele agisse e tentasse trair De Avarum, suas intenções viriam à luz, e imediatamente o rei ficaria ciente disso. Por isso, mesmo que neste mesmo momento ele ordenasse a um servo que informasse outra facção sobre a operação, suas intenções seriam sentidas por De Avarum.

Deste modo, ele teria que ocultar suas intenções até que houvesse uma chance perfeita para aproveitar. Pois, caso contrário, se falhar em encontrar uma chance, sua morte seria inevitável.

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Na floresta da desolação, as bestias que acampavam na floresta estavam cada vez mais furiosas. O líder das bestias, rangendo os dentes rosnou:

-Esta maldita floresta! A vida aqui é tão escassa que é quase impossível achar algo para comer aqui!

Então olhando para as outras bestias que estavam ali perto disse:

-E vocês idiotas? Quanto tempo pretendem perder aí? Vamos! Saíam da floresta e procurem algo para caçar, de preferência humanos!

As bestias se entreolharam meio confusas e o líder rosnou:

-VÃO! Vocês dois, tragam algo para todos nós comermos!

As bestias a quem o líder se dirigiu imediatamente se colocaram a correr para caçar o alimento para a alcateia.

Pouco tempo depois, aos ouvidos do líder, sons de cascos de um cavalo, e de chamas queimando soaram. O líder cheio de confusão ordenou ao resto da alcateia que estava ao seu redor:

-Juntem-se seus idiotas, algo está vindo em nossa direção!

À suas palavras, a alcateia se agrupou, esperando cautelosamente àquele que se dirigia a eles, enquanto travavam seus olhos ferozes na direção dos sons. Conforme os sons se aproximavam, um relincho de cavalo podia ser ouvido algumas vezes.

Passado alguns segundos, os olhos das bestias captaram, se dirigindo a eles como um vulto, as duas bestias que anteriormente haviam sido enviadas para caçar, conduzindo um cavalo esquelético, com olhos vermelhos brilhantes e chamas verdes cobrindo seu corpo, soltando névoa negra pelas narinas e boca, e com uma cauda de chamas verdes que tinham a forma de uma serpente.

Em cima do cavalo haviam dois belos jovens, um de cabelos e olhos pretos, e uma de cabelos loiros e olhos azuis.

As bestias que os conduziam tinham ferimentos de queimaduras pelo corpo, além de cortes e sangramentos em alguns de seus membros.

O líder colocando seus olhos nas feridas de seus subordinados, ficou furioso, mas assim que seus olhos caíram no cavalo e no casal que o montava seus olhos encheram-se de medo.

Assim que viram o jovem casal, todas as bestias se colocaram de joelhos, e as duas bestias que conduziam os jovens, assim que se aproximaram da alcateia fizeram o mesmo.

(*Relinche com barulhos de chamas queimando*)

Parando bruscamente o cavalo que corria como um vulto em chamas, o casal olhou para as bestias com os olhos cheios de desprezo. Então o jovem de cabelos e olhos pretos disse:

-Seus desprezíveis, sorte sua que precisamos de vocês para rastrear esta criança! Qual de vocês é o líder?

O líder levantou os olhos e olhou para o jovem respondendo:

-Eu, meu senhor!

Então a bela jovem de cabelos loiros disse:

-Encontramos no caminho estes seus servos, e ouvimos algo não muito agradável aos ouvidos. Agora responda-me, é verdade que vocês perderam a criança de vista?

O líder cheio de medo em sua voz respondeu apressadamente:

-Não é bem assim, eu fui relatar ao senhor e os deixei rastreando a criança, e quando voltei, me disseram que o espaço ao redor do garoto se distorceu, e logo depois ele... Ugh!

Antes que a criatura pudesse terminar suas palavras, o cavalo, sob o comando da bela moça deu um coice com seus cascos em chamas no peito do líder das bestias, fazendo com que ele imediatamente vomitasse sangue, e fosse arremessado no ar em alta velocidade sob o choque explosivo dos cascos, chocando-se com as árvores e partindo-as em sua trajetória.

Neste momento todas as bestias tremiam de medo, então a jovem continuou em um tom de desprezo e enraivecido:

-Não quero ouvir suas desculpas, sua única utilidade para nós é rastrear nossos alvos, mas nem ao menos isso vocês fizeram direito! Inúteis.

O jovem que estava com a bela moça, desceu do cavalo, e olhando para a alcateia de bestias que tremiam de medo ordenou em um tom frio:

-Levem-nos até o local que este garoto desapareceu!

A bela jovem ainda montada no cavalo olhou na direção da nuvem de poeira que se levantou quando a bestia foi enviada voando pelo golpe do cavalo, e disse em uma voz impaciente:

-E você! Pretende dormir aí por quanto tempo?

À distância, em meio a nuvem de poeira, saiu o líder das bestias mancando, aparentemente com dificuldade de andar. Seu peito estava uma bagunça, queimaduras se espalhavam por todo o tórax, e aparentava ter fraturado algumas costelas. Além disso, alguns ferimentos na região do impacto do casco do cavalo também sangravam. O líder, com um pouco de dificuldade falou:

-Estou... aqui minha... senhora...

A mulher, olhando para o estado lamentável da bestia, bufou e disse:

-Humpf. leve-nos até o último local em que viram a criança!

-Sim...

A bestia respondeu., logo, conduziu o casal até o local em que Christian foi visto pela última vez.