Algumas horas depois, Christian já havia deixado o Pântano da desolação, e agora seguia em busca de abrigo.
Avançando por este caminho, o garoto podia ver diante de seus olhos ruas rachadas, veículos destruídos e abandonados, e edifícios arruinados, assim como uma cidade fantasma. Depois que os corruptos atacaram, muitas cidades foram abandonadas, tornando cenários como este muito comuns para todos.
Encontrando uma casa relativamente inteira para se abrigar, Christian entrou, explorando a região em busca de alimentos e outros suprimentos, porém, nada mais havia lá, tudo já havia sido saqueado.
Nestes tempos áridos, onde a fome e a morte pareciam reinar, a principal fonte de alimento era proveniente da caça, porém, os detentores de verba ex lux, também podiam através do poder da luz, manifestar água do que era seco e alimento para os famintos, e por esse mesmo motivo eram seguidos por multidões tomadas pela sede e pela fome, embora nem todos fossem tão virtuosos para alimentar uma multidão faminta, de modo que muitos vieram á usar a condição destas pessoas para submetê-las à suas forças.
-Bem, não é como se eu realmente esperasse encontrar alimento nessas casas arruinadas! Acho que agora posso encontrar tempo para investigar melhor este livro em meu COR.
Assim, Christian encontra um quarto para passar a noite, fechando a porta envelhecida que rangia como se pudesse cair a qualquer momento, e dirigindo-se à velha cama que no quarto havia. Sentando-se nela, Christian fechou os olhos e novamente entrou em seu COR, dirigindo-se ao livro dourado ao lado de seu coração em Chamas.
Lembrando-se da reação do Livro ao seu toque, Christian repetiu seus movimentos, estendendo sua mão para tocá-lo, e ao fazê-lo, sentiu uma sensação de conforto em seu coração, até perceber que em sua mente haviam informações, que anteriormente não estavam lá.
-Então o poder da Luz pode ser manifesto em palavras que são divididas em verba ex lux e Palavras da Vida? A forma como os eruditos usam o poder da Luz não é tudo que há?
Christian repetia as informações em seu espírito, enquanto as assimilava e as meditava. As novas informações em sua mente lhe diziam que esse livro chamava-se, Livro da Vida, uma Escritura expressa totalmente nas Palavras da Vida, palavras incompreensíveis aos olhos dos homens, e ininteligível aos ouvidos dos mortos.
Atordoado com as novas informações Christian entrou em meditação silenciosa, tentando o seu melhor para aceitá-las e assimilá-las, pois além de sua confusão quanto ao porquê de receber o Livro, havia também em seu coração uma alegria e ansiedade abrasadora, pela perspectiva de ser capaz de manifestar o poder da Luz, e esses sentimentos causavam um turbilhão em seu coração.
Buscando se acalmar e encontrar novamente paz, Christian se colocou diante das chamas que envolviam seu coração, enquanto as contemplava, esperando que novamente as chamas consumissem sua inquietação. Então, retornando ao seu estado de paz, Christian se colocou novamente diante do Livro e o tocou esperando que algo acontecesse, porém, desta vez, o Livro permaneceu imóvel. Intrigado, Christian começou a folheá-lo.
- O Livro realmente está inteiramente preenchido com essa linguagem incompreensível! Como se espera que eu o leia então?
Enquanto sentia-se frustrado por ser incapaz de compreender os escritos, Cristian recordou-se de que na primeira página havia uma linha da qual estranhamente ele havia conseguido compreender. Então, abrindo o Livro em sua primeira página em busca daquelas palavras que antes havia compreendido, Christian pousou seus olhos na linha antes inteligível, mas logo, percebeu que a compreensão daquelas palavras não estavam mais lá, e por mais que ele se esforçasse para lembrar de seu significado, nada mais vinha à sua mente. Então, confuso, Christian exclamou:
- Eu não entendo! É como se as palavras estivessem na ponta de minha língua, mas ao mesmo tempo como se eu nunca as tivesse compreendido! Lembro-me de tê-las pronunciado, mas não me recordo o que pronunciei.
Então, gemendo de frustração ele continuou:
-Tudo bem, vou pensar nisso depois, afinal ficar frustrado de nada vai me adiantar! Vamos ver… que eu lembre, nessa região deve haver uma aldeia!
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Depois que a era das peregrinações se iniciou, nem todos optaram por buscar a terra santa. Muitos dos eruditos da luz fundaram o que hoje é chamado de aldeia, e entre elas algumas eram grandes como antigas cidades, e geralmente eram pontos de comércio e parada para muitos peregrinos.
Aqueles que escolhiam residir nas aldeias, geralmente deixavam para trás a busca por Operis Lucis, e estes eram muito conhecidos por sua paixão pelo ouro e prata, e devido à sua constante busca por riquezas e conforto, eram conhecidos entre muitos peregrinos como vendilhões.
As aldeias eram conhecidas como lugares onde se poderia encontrar descanso e segurança, pois as únicas aldeias que conseguiam se manter de pé diante dos enxames de corrompidos, eram aquelas que pertenciam a poderosas facções, tornando-as mais seguras que o lado de fora, embora dentro destas escondiam-se outros perigos para aqueles que eram fracos. Porém, pela segurança contra os mortos, e em busca de pertencer à um grupo, muitos buscavam residência nestas aldeias.
- Se não me engano, a aldeia chamava-se Maschera. Tudo bem, está decidido! Agora está anoitecendo, então partirei amanhã ao amanhecer. Vou ver se consigo chegar à aldeia para obter mais informações sobre esses escritos. No meio do caminho devo de alguma forma encontrar algo para me alimentar, pois se não o fizer é certo de que nem conseguirei chegar à Maschera.
Assim, abrindo seus olhos e saindo de seu COR, Christian decidiu deitar-se para descansar, já que no dia seguinte a caminhada provavelmente seria longa e penosa. Porém, ao deitar-se, Cristian logo sentiu um desconforto em suas costas, como se algo estivesse escondido debaixo do velho colchão.
Então, levantando o colchão, Cristian encontrou um belo livro de capa rígida. Parecia ser de madeira e era muito pesado, tinha belas decorações douradas e estava selado com um cadeado que impedia o livro de ser aberto, e aquilo chamou sua atenção.
- Se há o cadeado deve haver a chave!
Exclamando essas palavras, Christian retirou o velho colchão em busca de uma chave mas ali nada encontrou. Então, colocou-se a procurar no resto do quarto, e após alguns minutos de procura, ele a encontrou escondida, exclamando alegremente e apressadamente se dirigindo ao estranho livro. Destravando o cadeado e abrindo o livro, Christian se questionou confuso:
-Uma faca? não era um livro?
Dentro do livro havia uma bela faca de dois gumes, extremamente afiada e perfeitamente conservada.
- Isso foi bem inesperado, mas vai ser extremamente útil caso eu me depare com animais!
Guardando a faca ao seu lado, arrumando novamente a cama e colocando-se em repouso, Christian passou a noite na casa em ruínas, partindo ao amanhecer.