Chapter 8 - De Avarum

Em Peccáta, após a bestia se retirar, o mordomo moveu-se para entrar na mansão e informar o seu senhor. Abrindo as belíssimas portas, se depara com o corredor principal, com diversas portas dispostas ao longo de si, por entre as quais, haviam belíssimas obras de arte expostas pelo corredor.

No chão era estendido um grande tapete vermelho, e acima, belíssimos lustres eram vistos iluminando o ambiente. O mordomo então se dirige às escadas encontradas ao fim do corredor.

Subindo 3 andares de escadas, dirige-se a uma porta dupla também tão bela quanto a entrada da mansão. Respeitosamente, o mordomo coloca-se diante da porta e bate, logo, uma voz grave ecoa do interior:

-Quem?

O mordomo responde:

-Seu servo tem informações importantes para vós meu senhor!

A voz respondeu:

- Entre!

Ao abrir as portas, diante de seus olhos havia uma sala, com prateleiras preenchidas por livros nas paredes, uma lareira acesa ao lado e uma belíssima mesa de madeira disposta à frente de uma grande janela de vidro.

Atrás da mesa estava um homem jovem, rosto delicado, longos cabelos loiros e olhos vermelhos, vestido em roupas casuais pretas.

Enquanto o jovem lia seu livro, o mordomo curvou-se, entrou na sala e fechou as portas; se dirigiu frente à mesa e ajoelhou-se curvando sua face ao chão. Quando o mordomo se pôs de joelhos, o jovem retirou os olhos do livro e voltou-os para o servo, e sua voz grave então ecoa:

-E então? O que tens para me dizer?

O mordomo levantando a sua face em direção ao seu senhor e diz:

-Mestre Nuncio, o líder das bestias que foram mandadas para rastrear Franciscus, voltou relatando encontrar na floresta desolada em que o rastrearam, um estranho garoto! De acordo com seu relato, ele diz que o garoto parecia falar em uma linguagem não humana, e que eles eram incapazes de compreender as palavras que saiam da boca do garoto, e a única coisa que pude pensar foram nas palavras usadas pelos 10 cornibus! Lembrei-me da época em que mostraram seus poderes diante de nós para colocar respeito através do medo em nossos corações, e seguindo a descrição da bestia, lembro-me que quando os et cornibus usavam seu poder supremo entre nós, as palavras da morte, que também soavam incompreensível ao nossos ouvidos.

Após uma breve pausa o mordomo prosseguiu com seu relato:

- Ao contrário de verba ex tenebrae que usamos, as palavras da morte soavam mais como os sussurros de uma serpente!

Ouvindo as informações que o mordomo lhe trouxe, Nuncio arregalou os olhos e levantou-se apressadamente da cadeira:

-Tem certeza de que não se enganaram?

O mordomo rapidamente responde:

-Ele relatou que seus instintos lhes diziam que o poder da luz emitida por aquele garoto naquele momento era maior do que qualquer um que haviam encontrado até então, desde o aparecimento de Verbum e Album! E se há uma coisa que as bestias confiam muito são em seus próprios instintos, por isso, acredito que não deve haver erro.

Nuncio colocando o livro sobre a mesa disse ao seu servo:

-Cuide de tudo enquanto estou fora, eu precisarei visitar a torre, vou relatar isso para o rei!

Ao ouvi-lo o mordomo fica surpreso, mas logo responde.

-Sim senhor!

Então, pegando em um cabide de madeira que ficava próximo à entrada da sala um manto preto com um capuz, e uma máscara para cobrir-se, Nuncio vestiu-os de maneira que se tornasse irreconhecível, e logo retirou-se da mansão em direção a torre pelas passagens subterrâneas da mansão para que não o reconhecessem.

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As bestias que seguiam Christian estavam atordoadas diante de tudo que aconteceu, primeiro elas encontraram o garoto de aparência frágil, e pensaram que poderiam se divertir um pouco, porém, antes mesmo que o atacassem o menino pareceu senti-los através de seus disfarces e os atacou com uma luz que lhes fez sentir dores inimagináveis. Não deixando a eles escolha de fazer qualquer coisa, a não ser correr desesperadamente para longe da luz.

Porém, agora que seguiam o garoto de longe, esperando as ordens dos superiores, o menino simplesmente desapareceu debaixo de seus narizes.

-Eu não fui o único que vi isso fui? O garoto estava andando bem aqui quando o ar ao seu redor pareceu ondular como a superfície de um rio, e logo depois simplesmente desapareceu!

As bestias agora estavam no exato lugar onde Christian foi visto pela última vez.

-Os últimos rastros de Franciscus foram não tão longe dessa região, e assim como os rastros do garoto, do mesmo modo, ele parecia desaparecer do nada! Não foi o desaparecimento do garoto também obra desse servorum?

-Possivelmente, quando o líder voltar, o que diremos a ele?

-Relatamos tudo o que vimos, talvez Franciscus esteja envolvido nisso.

-Mas o líder vai ficar irado ao saber que perdemos o garoto de vista!

Deste modo, as bestias continuaram investigando o local, mas ao contrário de Christian, elas passavam por ali, porém nada acontecia.

- Não há muito o que possamos fazer, esperemos! Por enquanto, só podemos montar acampamento neste local e esperar que o garoto reapareça aqui. Quando o líder chegar, podemos decidir como iremos prosseguir!

As outras feras da alcateia, concordando com as palavras da última, rosnaram em concordância.

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Passou-se um tempo, e em Peccáta, o jovem viri sanguinium que havia saido da mansão, encontrava-se agora em frente à imensa torre.

Fazendo o seu melhor para que não fosse reconhecido, pois era comum entre as facções manter espiões escondidos observando a torre para que pudessem relatar quaisquer mudanças que surgissem aos seus senhores.

E como Nuncio não queria ser reconhecido, foi necessário que mantivesse todo o cuidado para não deixar nenhum detalhe escapar.

Em frente a torre não haviam guardas, pois devido aos conflitos entre as facções, o melhor acordo que puderam alcançar foi a proibição do estabelecimento de qualquer guarda ou qualquer edifício até uma determinada área em volta da torre sob o decreto dos reis. De modo que nenhuma facção desejasse dar a chance às outras de colocar informantes próximos da torre.

Então, juntos, os reis usaram as palavras da morte para tornar inabitada toda esta região. Pronunciando as palavras da morte, fizeram da área ao redor da torre uma terra morta, nela nada poderia se edificar, pois todas as noites, a morte cairia sobre todo edifício e ceifaria cada vida que nele houvesse.

Por isso, a área de vinte quilômetros ao redor da torre era limpa de edifícios e a passagem até o local era livre de qualquer guarda. Diante da grande porta dourada decorada com jóias preciosas, o jovem senhor da mansão dirige sua mão em direção à porta para tocá-la. Assim que o fez, um sussurro sinistro entrou em seus ouvidos.

-Qual a maior alegria do mundo?

Nuncio, não pensando muito na questão filosófica simplesmente respondeu:

-Tomar tudo para si!

Quando sua voz soou, a torre respondeu-lhe com um mesmo sussurro:

-Bem vindo ao reino da ganância.

Operis tenebra era a morada dos 10 reis, porém a cada rei foi dado um domínio. Haviam dez domínios e em cada um deles habitava um rei. Para que alguém entrasse em um de seus domínios, era necessária uma senha da qual geralmente só confiavam a alguns de seus servos ou a sua marca.

Logo a grande porta dourada se abriu e diante de si tudo que o jovem avistava era escuridão. Dando um passo à frente em direção a escuridão, o viri sanguinium sente-se como se mergulhasse em um mar gelado, que causava um desconforto extremo em seu corpo. Porém, deixando-se abraçar pelas trevas, o espaço à sua frente parecia ondular, enquanto ele atravessava por entre aquela camada de escuridão a sua frente.

Quando aquela sensação de frio deixou seu corpo, o jovem senhor viu-se terminando de atravessar as trevas e agora diante de sua visão estava um grande castelo, cujas paredes e muralhas brilhavam em prata, localizado em uma vasta planície.

As poucas árvores dispersas nas proximidades estavam secas e mortas, já o solo parecia totalmente estéril. O ar parecia carregar um leve cheiro de enxofre e os céus cobriam-se de nuvens negras avermelhadas.

No mesmo momento em que o jovem senhor pisou nesta terra, uma voz furiosa e aspera ecoou por todo o domínio, rugindo:

-QUEM OUSA ENTRAR EM MEUS DOMÍNIOS?

Um grande som de violentas explosões ecoou por toda a região, e uma aura negra explodiu de dentro do castelo em direção aos portões. Logo, sob o som de uma lâmina rasgando o ar com violência, um vulto envolto por chamas negras podia ser visto saindo dos portões, se dirigindo pelas planícies em direção ao viri sanguinium que agora estava aterrorizado. Temendo ser morto, abaixando o seu capuz e retirando rapidamente a máscara, ele gritou em voz alta, com todas as suas forças, apressadamente, com a voz cheia de medo:

-SALVE DE AVARUM, TENHO INFORMAÇÕES QUE O SENHOR PROCURA!! UM MENINO APARECEU, FALANDO LINGUAGEM INUMANA E USANDO UM FORTE PODER DA LUZ! MEUS SERVOS RELATARAM QUE O ENCONTRARAM DURANTE SUA BUSCA POR FRANCISCUS!

O vulto coberto em chamas negras que se dirigia em sua direção, logo parou a sua frente, e diante do jovem senhor estava uma figura magra, vestida em robes despedaçados que emitiam uma névoa negra a sua volta, como uma aura de morte que tentava sugar a vida de todo o ambiente.

A figura não tinha cabelos, tinha olheiras profundas e era extremamente pálida. Tinha olhos avermelhados e cheios de loucura. Em suas mãos ossudas estavam diversos anéis incrustados com joias, e com elas segurava um belo cetro azeviche brilhante. Em seu pescoço pendiam cordões e colares de ouro e jóias, e em sua calva cabeça, havia uma coroa brilhante que sinalizava sua riqueza e autoridade, além disso de sua cabeça saia um chifre único.

Este era um dos dez reis, et cornibus, a cadeira número dez, De Avarum. Et cornibus eram conhecidos por suas grandes diferenças entre si, cada um era conhecido por um nome, um título diferente de acordo com suas características mais peculiares.

De avarum era considerado o mais louco e o mais ganancioso entre eles, e vivia sozinho no palácio, pois dificilmente aceitava que alguém entrasse em seus domínios, muito menos habitasse lá. De Avarum não permitia nem que houvessem empregadas em seu castelo, já que em sua ganância, temia que alguém tentasse levar o que era seu.

Em seu reino só havia ele e por isso também era apelidado de rei solitário ou rei sem súditos. Parado em frente ao jovem viri sanguinium, De Avarum abre sua boca cheia de dentes afiados meio apodrecidos, e sua voz áspera, cheia de malícia e loucura ecoa aos ouvidos do amedrontado viri sanguinium, agora prostrado ao chão:

-OHH FRANCISCUS! Vocês já o pegaram? A Ordem dos servoruns tem me obstruído, vez atrás de vez! COMO ELES OUSAM TIRAR DE MIM O QUE É MEU?? ESSAS TERRAS SÃO MINHAS, TODA A TERRA DEVERIA SER MINHA!!! O MUNDO DEVERIA SER MEU!! Mass... Ahh claro...

Em um tom sussurrante, De Avarum continuou:

- Você disse algo sobre um garoto certo?

Ouvindo aquilo, Nuncio logo respondeu:

- Sim meu senhor, as bestias relataram sobre um garoto com um forte poder da luz e que parecia ter conhecimento de uma linguagem de aspecto inumano.

Logo, com um tom levemente trêmulo ele continuou:

-Lembrando-me da ordem que me destes tempos atrás de avisar imediatamente, caso uma criança aparecesse usando uma linguagem incompreensível aos nossos ouvidos para manifestar uma forte luz, vim rapidamente para vos relatar!

Ouvindo-o relatar sobre Christian, De Avarum exulta de alegria, enquanto dizia entre gargalhadas:

-SIM! Finalmente encontrei a criança das profecias! Os demônios nos alertaram sobre ela, e ofereceram qualquer desejo a aquele que trazê-la a eles. Deveríamos relatar a eles assim que tivéssemos obtido mais informações. Diga-me, onde o menino se encontra?

Ligeiramente, Nuncio disse:

-Na floresta desolada meu senhor, lá parece se esconder Franciscus também. Mas acredito que a criança não permanecerá lá por muito tempo. Ela deve em breve se dirigir à aldeia mais próxima dali, creio que chamava-se Maschera.

De Avarum curiosamente pergunta:

-E porque diz isso?

Nuncio lhe responde.

-Esse nome foi dado à floresta, pois nela não há frutos, nem fontes de água, deixando todos que entram ali desolados. Muitos ali perecem devido a falta de alimento. Então levando em conta que a criança conseguiria atravessar a floresta, provavelmente ela vai se dirigir a aldeia próxima dali.

Ouvindo sua explicação, satisfeito, De Avarum acena enquanto lhe ordenava dizendo:

-Tudo bem, prepare os servos então, convocarei os mortos, em breve marcharemos à Maschera!

O viri sanguinium respondeu:

-SIM!! Devo também relatar aos outros reis?

Furiosamente e com pressa De Avarum grita em rugidos:

-NÃO!! Eu que ficarei com as recompensas pela captura do menino. Irei manter estas informações até a captura do menino, então eu finalmente poderei pedir aos demônios para que me deem todos os domínios da operis tenebra, porque os outros nove domínios também deveriam ser meus, aqueles desgraçados estão com algo que me pertence, mas em breve, TUDO SERÁ MEU!

Em meio às suas loucuras, De Avarum ordenou enquanto dizia:

- Vai! Reúna os servos em um único lugar! Além disso...

Se aproximando de Nuncio, De Avarum continua:

-Levante-se!

O jovem senhor tremulamente se levanta. Assim que o faz, De Avarum coloca uma de suas mãos no peito de Nuncio e continua:

-Vou marcá-lo! Assim saberei onde estás, reúna os servos em um único lugar! Em breve virei até vós com o uso desta marca!

Assim que estas palavras caíram em seus ouvidos, o medo tomou conta da face, mas sabendo que não tinha escolha, manteve-se firme no local. Então, um sussurro tão sinistro como o da porta da torre soou da boca de De Avarum, que parecia o sibilar de uma serpente pronta para emboscar sua presa a qualquer momento.

Logo, a mão sobre o peito de Nuncio começou a queimar em chamas negras que começaram a pouco a pouco a penetrar em seu peito, queimando sua pele e formando um símbolo negro ali, que parecia um dragão cercando uma pilha de tesouros.

A dor que as queimaduras lhe causavam eram agonizantes, mas cerrando os dentes, Nuncio firmemente suportou para que não se fizesse com ele coisa pior. Depois que seu peito foi marcado, De Avarum continuou:

-Pronto! Agora pegue este pingente. Entregue para um dos servos para que me aguarde ocultamente na cidade, eu o reconhecerei se carregar o pingente consigo. Tu deves informá-lo sobre como estão todos os preparativos, onde todos se reunirão e o caminho que usarás para chegar até lá! Ele deve me levar até vós! Deve ser alguém que não nos trairá entendido?

O jovem senhor, entendendo suas mãos trêmulas, pega um símbolo semelhante a uma moeda de madeira preta. Nela estava talhada um dragão cercando uma pilha de ouro e joias, o símbolo de De Avarum, o mesmo que foi marcado em seu peito

Vendo Nuncio pegar em suas mãos o símbolo e guardá-lo em suas roupas, De Avarum continuou:

-Agora vá e prepare tudo, não tolerarei atrasos!

Nuncio inclinando-se tremulamente saudou o rei sem súditos:

-Entendido. Salve De Avarum!

E rapidamente, se retirou da torre, enquanto deixava para trás o rei dos mortos que tinha olhos escurecidos por pura malícia, enquanto sorria em maldade, dizendo em um tom enlouquecido:

-Em breve tudo será meu, toda operis tenebra será minha!