Dentro da aconchegante cabana de madeira, que dava conforto ao coração, sentado em um sofá estava Christian com uma xícara de chá quente em suas mãos e a sua frente estava o velho sábio sentado em outro sofá, cantarolando enquanto alegremente bebia seu chá. Então, com um tom de interesse em sua voz, Christian perguntou ao sábio:
-Qual é o seu nome? Você é o sábio que eu deveria encontrar?
Ouvindo as palavras vindas da boca do menino, o velho imediatamente cospe o chá em sua boca e começa a cair na rir enquanto questionava:
-SÁBIO?
Logo, o velho explode em risos, como se ouvisse a maior piada do mundo e parecia que não pararia de rir tão cedo. Um pouco chateado pelo velho rir dele, Christian diz com beicinho:
-Do que você está rindo?
O velho parecendo se esforçar muito para cessar suas risadas, disse:
-Criança, como posso eu ser sábio?
Christian respondeu:
-Mas Agnus disse-me que eu encontraria aqui um sábio, e tirando os animais, só consigo ver você aqui! Por acaso o sábio seria um dos animais lá fora?
Christian zombou, e o velho respondeu:
-Bem garoto, você meio que pode dizer isso, mas acredito que você não o viu ainda!
Christian ficou perplexo com a resposta que entrou em seus ouvidos, enquanto questionava:
-O sábio é um dos animais???
O velho diz:
-Não exatamente criança, mas quase isso. Você vai entender tudo mais tarde, espera e verá! A propósito sou Franciscus, um simples homem moribudo, e quanto a você criança? Como se chama?
- Eu sou Christian.
Respondeu o garoto.
-Tudo bem Christian, primeiramente vou te apresentar o vale, depois, iremos ver o sábio, certo?
Christian alegremente responde:
-Tudo bem, vamos lá!
Logo, Christian e Franciscus saem da cabana de madeira em direção aos jardins. Saindo da cabana, novamente, Christian sente uma sensação de conforto se espalhar pelo seu corpo. Então, vendo ali perto o coração ardente e a fonte de água, Christian pergunta em grande interesse:
- O que é isso?
O velho, olhando para onde o garoto apontava disse:
-Criança, você já deve estar familiarizado com um coração, né? Quanto a fonte, é bela não é? Ouso dizer que é a coisa mais bela nesse vale!
Christian um pouco irritado respondeu a suas palavras:
-Velho, eu sei o que é um coração, o que quero saber é o que ele faz aqui?
Franciscus respondeu:
-Como eu lhe disse antes garoto, espere e verás, por enquanto vamos seguir adiante, vou te apresentar o resto do vale.
Deste modo ambos andaram por entre os jardins, na beira do rio, e assim Franciscus apresentava tudo á Christian com grande alegria, até que o velho homem entende um convite ao garoto, convidando-o a visitar os animais que habitavam o vale. Assustado, o garoto apressadamente respondeu:
-Não quero ir, e se eles nos atacarem? Eles me perseguiram quando entrei no vale.
Franciscus o respondeu em um tom incrédulo:
-Perseguiram? Garoto, eles só estavam interessados em você, olha lá na frente, você vê?
O velho aponta mais a frente onde havia um filhote de urso brincando com um leão adulto, quebrando completamente a imagem de predadores brutais na cabeça de Christian.
Vendo o garoto acenar com a cabeça á sua pergunta, Franciscus continuou:
- Então, como você pode me dizer que uma cena tão harmoniosa pode colocar-nos em perigo?
Mas, mesmo depois de ouvi-lo, Christian ainda tinha hesitação em seus olhos. Vendo aquilo o velho homem continuou:
-Vamos garoto, nós nem ao menos somos bons alimentos, eles não vão te machucar!
Dizendo essas palavras, Franciscus andou em direção aos animais que quando o viram, alegremente se dirigiram a ele, pulando sobre ele e lambendo-o pelo rosto. Enquanto era envolvido pelos dóceis animais, que alegremente se enrolavam com ele ao chão, Franciscus, entre risadas falou:
-Viu garoto? Não tenhas medo, vinde!
Vendo aquela cena diante de seus olhos, o medo começou a lentamente desaparecer do coração de Christian, que ainda um pouco hesitante se dirigia aos animais. Aproximando-se deles, o pequeno urso e o leão com grande interesse, voltaram-se para Christian, que quando olhando nos olhos dos animais geralmente brutais e violentos, sentiu um frio percorrer sua espinha.
Vendo que o garoto ainda hesitava, entre sorrisos, Franciscus continuou a encorajá-lo enquanto levantava-se do chão, agora que os animais não mais estavam sobre ele:
- Não tenha medo garoto, vamos.
Christian então aproximou-se com os olhos fechados, enquanto lenta e tremulamente, dirigia suas mãos aos animais, tocando-lhes a cabeça.
Abrindo seus olhos e vendo que nada ruim havia acontecido consigo, Christian suspirou de alívio enquanto fixava seus olhos nos animais que pareciam felizes com suas carícias. Então um largo sorriso abre-se em seu rosto, e logo não havia mais medo em seu coração. Vendo aquilo, Franciscus sorriu enquanto dizia:
-Eu não te falei que não vão te ferir, garoto? Muito bem, vamos conhecer a todos os outros então.
Logo, um longo assobio ecoa de sua boca percorrendo o vale. Assim, animais de todas os gêneros e espécies começaram a surgir de todas as partes e aproximavam-se dali. Até mesmo peixes e outros animais que viviam no rio, nas águas correntes, aproximavam-se aos poucos da margem.
Christian, vendo-se cercado por animais tanto bonitos e inofensivos, quanto por animais assustadores, fica atordoado com essa cena irreal diante de seus olhos, e com uma voz cheia de perplexidade ele perguntou:
-Como isso é possível?
Franciscus reponde:
-Garoto, esses animais se espelham nas nossas almas. Se estamos cheios de impureza, escuridão e violência, é nisso que elas irão se espelhar! Olhe para este vale Christian...
Christian, olhando ao seu redor, contempla animais em harmonia, a terra florida e cheia de vida, águas limpas cristalinas e ar puro. Mas, além da fonte e do coração em frente a cabana, agora havia algo mais que chamava sua atenção, da qual não havia percebido antes. Olhando para o céu, o sol parecia próximo do vale.
Christian não conseguia explicar, mas ele não conseguia sentir que havia aquela distância intransponível que geralmente havia entre a terra e o sol. Era como se o sol e o vale fossem um só. Mas isso não fazia a terra queimar, nem danificava a vida no vale, pelo contrário, parecia dar ainda mais vida a ele. A luz era quente e gentil, e se espalhava por cada pedacinho do vale, iluminando todo o lugar.
-Vê garoto? Você também percebeu, não? Quando o sol brilhou em você, também deves ter sentido né? Eis porque tudo aqui está em harmonia!
Christian ouvindo-o, diz:
-Eu lembro de ter sentido um calor confortável que parecia me encher de vida passar por mim quando cheguei no vale, era por causa deste sol?
-Sim criança.
Franciscus respondeu e Christian prosseguiu:
-E tenho a sensação de que o sol e o vale são um só, não sei explicar, é como se não houvesse distância entre eles e estivessem unidos!
Ouvindo-o, Franciscus riu:
-Muito bom garoto, então você percebeu hein? Quando a terra está próxima do sol, e enche-se de sua luz, então neste momento, ninguém fará nenhum mal, nem destruirá coisa alguma. Tudo que há nesse momento é harmonia e paz. Eis como é possível que aconteça tudo o que tu vês aqui!
Ouvindo suas palavras, Christian volta-se para o grande sol, que irradiava aquela luz gentil, que não feria seus olhos de modo algum, e fixando seu olhar no sol em admiração, contemplou aquela estranha sensação de proximidade com o sol.
Depois de algum tempo ali, Christian virou-se para Franciscus que silenciosamente esperava ao seu lado. Porém, o que vê, o deixa novamente em choque.
Ao seu lado havia um garoto que parecia ter a sua idade se não mais jovem, vestido com vestes semelhantes às do velho anterior, tinha o mesmo olhar do velho, e a mesma expressão facial brincalhona. Logo, surpreso e confuso, Christian questiona em voz alta:
-QUEM É VOCÊ???
Gritou assim Christian, e o garoto que parecia não esperar seu grito pulou em susto, enquanto dizia:
-O que deu em você? Pensei que já tínhamos passado da fase das apresentações.
Ouvindo o que saía da boca do menino e a semelhança do modo de falar do velho, Christian perguntou em confusão:
-Franciscus?
O menino olhando divertidamente para Christian diz:
-Em carne e osso! Ou talvez não? Bem, não importa! Vamos garoto, depois de ficar um pouco com os animais, veremos o sábio que viestes procurar.
-Tudo bem!
Christian respondeu, embora ainda confuso com a situação, e avançou com Franciscus para conhecer todos os animais.