Chapter 6 - Peccáta

O que Christian não sabia, era que seu pequeno confronto com as bestias o colocaria sob os olhos vigilantes do exército dos corruptos.

Uma das bestias que Christian havia encontrado anteriormente se dirigia a toda velocidade em direção à torre, onde os et cornibus faziam sua morada. Sua velocidade era gigantesca, assim como um cheta, e já se aproximava da região da torre.

Operis tenebra parecia rejeitar toda a vida, o solo, as plantas, tudo estava seco ao redor da torre, e esse domínio de morte e aridez parecia estar em constante expansão. Com sua velocidade constante, logo aos olhos da bestia, uma gigantesca torre surgiu ao longe, e à sua frente parecia haver uma espécie de cidade que levantava-se ao redor da torre, posicionando-a no centro da cidade.

A cidade possuia muitos edifícios refinados, que pareciam ostentar a riqueza daqueles que residiam ali. Seu nome era Peccáta. Chegando a uma grande muralha cheia de belas decorações, que cercava a cidade tornando-a ainda mais atraente, a bestia encontrou-se diante de grandes portões dourados.

Os portões que pareciam ser feitos de ouro, cheios de belas gravuras entalhadas, logo, abriram-se permitindo que a criatura entrasse. Adentrando à cidade e passando por outros de sua espécie que guardavam os portões, a bestia se dirigiu às ruas movimentadas da cidade; nelas estavam viri sanguinium, que caminhavam, geralmente seguidos de bestias, que agiam como seus guardas pessoais.

As bestias, a quem eram dadas a função de guardas, geralmente guardavam estabelecimentos e portões dentro da cidade. Além disso, podia-se ver também alguns mortos dispersos, dos quais eram usados como escravos para o trabalho pesado.

A maioria dos mortos não tinham permissão para permanecer na cidade e geralmente só eram convocados quando necessários em casos de guerra ou grandes expansões, já que os viri sanguinium os desprezavam, e tinham repulsa por eles. Alguns só eram mantidos ali devido a sua utilidade ao alto escalão como mão de obra escrava.

Assim, chegando ao seu destino, a bestia parou diante de uma grande mansão luxuosa que ficava na região mais central da cidade.

Morar próximo a localização da torre era um grande símbolo de honra entre o alto escalão do exército corrupto, e geralmente quanto mais próximas suas residências da região central, maiores deveriam ser as riquezas e o status possuídos pelos mesmos residentes. Chegando ao portão da mansão, a bestia se dirige a outra de sua espécie que guardava o portão:

- Preciso falar com o mestre, são assuntos urgentes!

Sua voz soava como um rosnado que dava calafrios naqueles que a ouviam, a bestia que guardava o portão fixou seus olhos nos dele, farejou o ar, e parecendo reconhecer seu cheiro disse em uma voz semelhante:

-Entre.

Adentrando o portão a bestia se dirigiu à entrada da mansão, onde havia uma bela porta de madeira, cheia de decorações e jóias inseridas. Do lado de fora estava um mordomo, um viri sanguinium, vestido em um belo terno preto, com um rosto lindamente esculpido, cabelos grisalhos e olhos frios.

Quando os olhos da bestia se encontraram com aqueles olhos gelados, a criatura sentiu um medo instintivo que causava-lhe tremores por todo o corpo. Diante daquele mordomo, a perigosa fera se tornou semelhante a um rato assustado. Tensamente se curvando, a bestia diz com a voz tremulante:

- Tenho informações importantes para o mestre!

O mordomo, ouvindo-o respondeu-lhe em uma voz calma e fria que parecia trazer um toque de desprezo:

-Diga-me, eu as levarei a ele.

Quando ouviu a voz lhe dando aprovação, a bestia parecia relaxar um pouco. Então falou:

-Há dias que rastreamos Franciscus, um dos Servoruns, até uma floresta desolada. Dali passamos dias procurando-o, mas acabávamos sempre por perder seus rastros. Até que um de nós farejou um vivo que vagava pela floresta. Então o rastreamos e encontramos uma criança que se escondia dentro de uma árvore oca. Alguns queriam atacar a criança na mesma hora e tirar sua vida, mas alguns sugeriram esperar e ver o motivo pelo qual ela estava ali, afinal ela poderia nos levar a Franciscus.

Fazendo uma breve pausa, a criatura continuou com sua voz rouca:

-Porém, depois de um sol seguindo-a, a criança simplesmente parou e sentou-se ao anoitecer. Parecia estar perdida, cansada e faminta. Perdendo a paciência, muitos de nós já estavam decididos a não esperar mais, e quando decidimos atacá-la, sem aviso ela abriu abruptamente os olhos, e logo em seguida, uma orbe de luz saiu de seu peito e irradiou luz sobre todo o seu entorno.

Parecendo temerosa, a bestia continuou, enquanto lembravasse dos acontecimentos:

-Quando a luz nos tocou, dissipou nossos disfarces e nos causou uma dor terrível, naquele momento tudo o que poderíamos fazer era correr na direção oposta.

Interrompendo-o, o mordomo falou:

-Você está dizendo que uma criança conseguiu espantar uma alcateia de bestias? Você espera que o senhor acredite em suas desculpas?

Apressadamente a bestia diz:

-Não... não estou mentindo, o lorde tem que acreditar em mim! A criança... sim lembrei, antes de ele abrir os olhos lembro-me de tê-lo ouvido pronunciar palavras incompreensíveis aos meus ouvidos. Não entendo o porquê, mas quando o ouvi falar naquela linguagem, tive a impressão de que não era ele quem falava.

Com um olhar pensativo ela continuou:

-Também senti como se a origem daquela língua não fosse humana, não sei de onde o garoto tirou aquilo, nem como ele soube que o estávamos perseguindo, mas no momento em que aquela luz me tocou, meus instintos me diziam que a luz emitida daquele orbe era mais poderosa mais poderosa do que qualquer erudito que eu tenha visto até então!

Ouvindo suas palavras os olhos do viri sanguinium se arregalaram ligeiramente em surpresa, mas logo ele volta á sua frieza anterior:

- Pode ir, eu transmitirei as palavras ao senhor! Por enquanto continuem somente rastreando o garoto, se o senhor der mais ordens eu vos enviarei um mensageiro.

- Entendido.

Então, sob essas palavras, a bestia apressadamente retirou-se de lá