Christian então se dirige ao leste, porém sem que soubesse, parte das bestias que haviam ficado para trás, estavam rastreando-o. Elas permaneceram cautelosas, mantendo distância do garoto para que não o alertasse novamente.
Sua missão não era atacá-lo, somente segui-lo até que seu líder retornasse, para que pudessem saber como prosseguir dali em diante. Assim, cumprindo suas ordens, as criaturas bestiais continuaram rastreando a criança de longe.
Deste modo, Christian continuou avançando normalmente rumo ao leste sem nenhum obstáculo em seu caminho, e assim permaneceu, até que um fenômeno intrigante aconteceu.
De repente, enquanto avançava na floresta, Christian sentiu à sua frente uma resistência no ar, como se ele passasse por uma fina película que suavemente envolvia aquela área da floresta desolada em que estava. Atravessar a película, lhe dava uma sensação confortável e relaxante.
Quando ele parecia terminar de transpassá-la, o ar que entrou em seu nariz, parecia estar mais puro do que antes, e uma leve brisa parecia roçar sua face. Logo, Christian, voltando-se para o caminho de onde veio, avaliou a região, mas não parecia haver nada no lugar por onde passou:
- Que estranho, estou certo de que passei por algo, como não há nada? E porque sinto que o ar está mais puro e o vento aqui parece soprar ligeiramente mais forte?
Enquanto refletia no que acabava de acontecer, Christian ouviu barulhos de algo batendo por entre os galhos das árvores acima de sua cabeça. Mas antes que pudesse levantar seus olhos para verificar, algo caiu sobre ele, enquanto ele emitia um som doloroso:
-Ei isso doeu. O que é isso?
Olhando ao chão, Christian encontrou um fruto caído aos seus pés, enquanto exclamava surpreso:
-Frutos? Lembro-me de que em todas as árvores nessa floresta desolada, não havia nada!
Então voltando seus olhos para as árvores ao redor, Christian contemplou árvores carregadas com frutos de diversas espécies. Enquanto ainda olhava ao redor em confusão, Christian o som do canto de pássaros alcançou seus ouvidos, surpreendendo-o.
Então apressadamente dirigindo-se mais a frente por entre as árvores, Christian pôde ouvir o som da água corrente batendo contra as rochas, como se próximo dali corresse um rio.
Logo uma luz muito forte podia ser vista mais à sua frente, enquanto as árvores pareciam ser mais dispersas ali. Então, saindo da floresta densa, os olhos de Christian logo se ajustaram à claridade e diante de si ele viu um belíssimo vale, no qual atravessava um grande rio e que parecia se estender além de sua vista.
Quando a luz do sol entrou em contato com a sua pele, Cristian sentiu-se mais vivo, e um calor confortável percorreu seu corpo.
As árvores e plantas ali pareciam cheias de vida e haviam pássaros aninhados em seus galhos carregados com frutos, enquanto outros voavam pelos céus e todos enfeitando o ambiente com seus cantos.
Haviam animais de diversas espécies vagando pelo vale, todos pareciam viver em harmonia. Os leões brincavam com cervos e cordeiros e os coelhos andavam com as serpentes.
À beira do rio, no centro deste vale, havia uma pequena cabana de madeira, cercada por belas árvores de cerejeira, junto de um belíssimo jardim, cobertos de flores. Assim, lembrando-se do sábio sobre o qual Agnus lhe falou, ele corre em direção à cabana com alegria e expectativa para conhecê-lo.
Porém, enquanto Christian corria pelo vale, todos os animais que lá estavam de repente, voltaram seus olhos para ele, e todos pareciam olhar para ele com olhares interessados. Deste modo, então, todos eles colocavam-se a segui-lo. Vendo que estava sendo seguido pelos animais, Christian amedrontou-se, e começou a correr ainda mais rápido em direção à pequena cabana, temendo ser atacado por eles.
Adentrando os jardins que a cercavam, Christian sentiu uma maravilhosa fragrância vinda das belas flores percorrendo o ar até a sua face e ao mesmo tempo percebeu que ao entrar no jardim, os animais pareciam parar de persegui-lo.
Suspirando de alívio, Christian inalou o dulcíssimo perfume que percorria o puro ar do jardim e, encantado, voltou-se para esta obra-prima colorida e harmônica, para contemplar sua beleza. Assim que entrou na região do jardim, um conforto tomou conta de seu coração, parecendo lavar suas aflições e medos.
Porém, aproximando-se ainda mais da cabana, a confusão logo toma conta de suas feições ao ver algo que, por mais que estivesse muito familiarizado com, o confunida vê-lo naquele lugar:
-Um coração?
Em frente a cabana, por entre belas árvores de cerejeira, Christian avistou um coração envolto por chamas ardentes, que pareciam ser muito mais intensas do que as chamas que havia visto cercar seu próprio coração.
Próximo ao coração havia também uma bela fonte de água, na forma de um anjo, que delicadamente segurava um coração que parecia esculpido em rubi, irradiando uma leve luz avermelhada.
Do belíssimo coração, parecia gentilmente brotar água brilhante e viva, que quando soprada pela suave brisa do vale, parecia cobrir com orvalho todo o jardim.
Maravilhado com a vivacidade da figura esculpida em pedra e do coração que parecia pulsar, Christian se dirigiu à fonte, mas, antes que pudesse se aproximar mais, a porta da frente da cabana repentinamente se abriu, e um velho senhor de aparência abatida, mas olhos cheios de inocência e ânimo saiu pela porta.
Ele vestia-se com vestes longas marrom escuras, que por mais que tivessem uma aparência surrada, pareciam estar perfeitamente limpas. O homem tinha um largo sorriso em seu rosto, dando-lhe uma semelhança com uma criança brincalhona. Já sua face marcada pela idade parecia transmitir bondade e gentileza, dando conforto aos corações daqueles que o viam. Então voltando-se para Christian, com aqueles olhos brilhantes, o velho sábio em risadas falou:
- Garoto eu estava te esperando, o Rei me disse que você viria. Ele parece gostar muito de você! Bem, não vamos ficar aqui fora, venha, entre. Vamos tomar o chá que preparei antes que esfrie.
Ainda meio confuso diante de todos os acontecimentos, Christian o seguiu para dentro da cabana, confiando em suas palavras.