Sua voz ecoou pelo salão de maneira quente e sensual, nas primeiras frases da música, e as cortinas se abriram, e seus olhos voltaram-se involuntariamente para a mesa cativa do Sr. Go, à direita do palco. O Dr. Kim realmente estava ali, e Ye Rim sentiu uma apreensão diferente na boca do estômago. Como se eu tivesse que provar pra ele que sou uma profissional, ha.
Seguiu com os versos sofridos da primeira canção da noite, semicerrando os olhos e ignorando o visitante inoportuno.Ela apenas decidiu que iria ser gentil e superar o vexame do dia anterior, agradecer as flores e aceitar as desculpas insinceras, e seguir em frente. Era este o plano, claro.
Kim Jun Hyeon, para ser sincero, mal se lembrava da voz dela no dia anterior, embora se lembrasse de muitas outras coisas.Quando a voz aveludada e límpida foi ouvida ao microfone, porém, sem que a cortina se abrisse, ele sentiu um arrepio percorrendo seu corpo de cima a baixo.
E quando a cortina finalmente se abriu e ela surgiu envolta num halo de luz, ele definitivamente sentiu-se chocado e excitado. Ela era linda, e sua voz era linda, e até os intervalos em que ela respirava entre as palavras e as notas de sua voz, eram poesia.
Kim Jun Hyeon conhecia muitas pessoas talentosas, e um número muito maior de pessoas bonitas, e até mesmo uma boa quantidade de pessoas com ambas as qualidades. A Srta Nam estava neste seleto último grupo, e ele não podia negar que ela tinha o je ne se qua das estrelas.
"Ye Rim-ssi é fantástica, não é, Jun Hyeon? Depois da primeira música, quando a cantora cumprimentou a platéia, o Sr. Go puxou a manga do paletó de seu neto, com um sorriso radiante.
"Ela é… talentosa, sim. Sem dúvida." Jun Hyeon concordou, escolhendo apenas uma das palavras que vieram a sua mente.Sua atenção foi chamada para o movimento dela descendo do palco enquanto começava a segunda música, vindo até a mesa deles. O que ela vai fazer? Um irrefletido sentimento de pânico se apossou do médico.
A silhueta esguia da Srta Nam parou ao seu lado, em seu vestido longo escuro e recatadamente elegante, e se inclinou para cumprimentar seu avô com olhos sorridentes. Mas quando chegou a vez de Jun Hyeon, o sorriso nos olhos não era nem a metade.
Na verdade, por um breve momento, os lábios dela formaram um biquinho desagradado de quem se força a reprimir palavras, mas no momento seguinte ela sorriu e cantou um verso da música olhando para ele. O médico ficou confuso, quando ela se virou e foi cumprimentar seus amigos em outras mesas, durante a música.
"É sempre assim? É sempre assim que ela se apresenta?"
Entendendo que o neto se referia a como a cantora circulava pelo salão, o Sr. Go fez um amplo gesto com o braço:
"Ela tem muitos amigos aqui. Olhe à sua volta, Jun Hyeon."
O homem mais jovem seguiu o conselho do Sr. Go, escrutinando o salão principal do clube noturno com um olhar mais atento. O lugar não era muito grande, provavelmente tinha cerca de 30 ou 40 mesas. Cerca de metade delas estava ocupada, mas era relativamente cedo. Então Jun Hyeon entendeu o que o avô estava querendo dizer. Apenas 4 mesas, 5 com a deles, era ocupada por mais de uma pessoa.
"Ah, entendo...Este é um lugar para velhos solitários e saudosistas."
Como esperado, seu comentário foi recompensado por um tapa na cabeça. " Seu moleque ousado, você nunca controla sua língua ferina!"
"Ei!"
"Ye Rim tem um fã clube fiel, mas que nunca cresce… na verdade, só diminui."
Ah, que velhote mórbido meu avô é, hahaha…" O cirurgião riu, digerindo a informação.
A bebida dele chegou, e ele brindou com o avô enquanto passou a assistir a sequência de canções, em sua maioria, bastante antigas, sem realmente conversar muito durante o show. A mulher no palco atraía seu olhar.
Ele não reconhecia grande parte das músicas, mas reconhecia o talento, e seu pensamento vagou por um instante pensando que ela não era uma mulher de sorte, por estar ali neste clube obscuro cantando numa quarta à noite para um público que só diminuía, como bem disse seu avô.
Então a cantora Nam começou a cantar uma canção americana muito romântica e popular, e novamente desceu do palco, distribuindo rosas para sua platéia.
"Essas não eram as suas rosas, Jun Hyeon?" O Sr. Go perguntou, com um olhar divertido. Jun Hyeon. " Uau, então é assim que ela distribui tantas flores para a plateia…"
Kim Jun Hyeon estava entendendo todas as insinuações do avô, apenas fez uma careta desgostosa. Como assim, as minhas flores?! Porque ela está fazendo isso? Na minha frente? Ela quer me irritar? Será que ela é mesmo assim tão rancorosa?
"Aish, que mulher louca!" Seu último pensamento foi audível, e Jun Hyeon apenas quis ir embora logo. Mas refletiu que, se saísse agora, apenas pareceria ofendido. Então ficou, embora seu humor tivesse decaído drasticamente após isso.
Ye Rim terminou a canção apaixonada com aplausos vigorosos dos presentes, e a orquestra passou a tocar outro ritmo, marcando o intervalo da vocalista. Ela desceu do palco novamente, vindo diretamente para a mesa deles com um sorriso efusivo, trazendo duas rosas. Jun Hyeon queria bufar, mas controlou-se.
"Sr. Go! Sr. Kim!"
"Minha querida Ye Rim-ssi! fazia tempo que você não cantava esta última canção" o Sr. Go aceitou a rosa oferecida a ela, e comentou, fazendo um gesto para que ela se sentasse com eles, o que ela alegremente fez.
"A Srta. Nam canta maravilhosamente, não é, Jun Hyeon?"
"Sim, maravilhosamente." Ele fez o possível para soar entediado, rodando a sua rosa entre os dedos, sem olhar para nenhum deles. O Sr. Go arregalou os olhos, pois essa não era a resposta esperada.
"As músicas não eram do seu gosto, Dr. Kim?" Ye Rim perguntou angelicalmente, percebendo que o médico parecia querer ir embora imediatamente, já que parecia aborrecido e irritado. Por que veio então? Que idiota!
Jun Hyeon não respondeu, coçando a cabeça de maneira exagerada, e mal se contendo de curiosidade. O Sr. Go observava alarmado as reações do neto, e este o surpreendeu ao lançar a pergunta de maneira tão casual:
"Recebeu minhas flores, Srta. Nam?"
Ye Rim, que se preparava para puxar o assunto, soltou o ar dos pulmões, com um sorriso surpreso e cômico: "Sim. Sim! Que bom gosto o senhor tem, Sr. Kim! Lindas rosas! Realmente não esperava, fiquei surpresa! E muito grata!"
"Gostou mesmo?" Ele reforçou o tom de dúvida na voz. Ela era uma cantora muito talentosa, e muito descarada também.
"Sim, gostei das flores. Elas não têm culpa, sabe? Elas só vêm ao mundo para trazer amor." Ye Rim não iria ignorar que o médico arrogante, claramente, tinha ficado ofendido com o uso que ela fez das flores. Já estava ficando farta do tom dele.
"Mas… que pensamento lindo! Digno de uma artista! Espero que não seja mais uma coisa linda dita só da boca pra fora." Kim tomou um gole de seu drinque, sabia que não devia estar agindo assim de maneira tão mesquinha, mas estava farto dessa pequena coisa que se achava uma estrela só porque uma dúzia de velhotes babava por ela. Ela era uma farsa para aqueles idosos, e ele iria encurralar a cantora em seu próprio terreno.
"Vocês… vocês…" O Sr. Go começou a tentar interromper o desastre iminente, mas foi ignorado, já que ambos focavam exclusivamente um no outro, naquele momento. Ele já tinha visto algo assim antes, no carro.
"Da boca pra fora? Da boca pra fora?! Ha, que engraçado, vindo de um médico que manda outra pessoa escrever seus cartões de desculpas!"
"Ahhh…!" Esse golpe pegou bem baixo, Jun Hyeon sentiu o sangue subir para a face e o ar faltar. Mas manejou a situação com um sorriso de canto, e um uhn! sardônico.
"Então a Srta. Nam acha que por isso, meu pedido de desculpas foi menos sincero? Pode parecer clichê, mas eu sou bem ocupado."
Que descarado, terceirizando um pedido de desculpas e ainda achando isso normal. Este homem não existe. Ele não pode estar falando a sério!
Não sei o que você falou para sua secretária," Ye Rim deu um gole na água que a garçonete lhe trouxe. "mas com certeza não disse que eu sou mais nova que o senhor, Dr. Kim."
"Ahnn…" 'Então ela está mesmo muito brava', ele pensou, compreendendo o motivo de tanto rancor.
"Mas como eu disse, eu gostei muito das rosas. Eu as admirei, eu apreciei seu aroma, a maciez das pétalas, e todo o amor delas. Elas tinham uma missão difícil, quando o senhor me presenteou com elas e aquele cartão insincero. Assim dei a elas outra missão: eu as presenteei às pessoas que vieram me ouvir hoje, e agora elas levam minha sincera gratidão para outras pessoas."
"Ei, ei! Por que você é assim?" Kim ficou chocado com as palavras falsamente suaves da cantora, pois continham uma verdade dura, que ele não queria assumir.