Jun Hyeon seguiu o assistente do clube de esportes e atravessou a porta que levava às quadras envidraçadas de squash. Esperava encontrar Dae Won já esperando por ele, porém apenas viu sua mochila esportiva em cima do banco de vestiário que ficava fora da quadra propriamente dita, em frente a um conjunto de lockers. Ele não conhecia este clube, estava ali a convite do amigo.
A quadra de squash podia ser observada por uma parede de vidro grosso, mas seu amigo de escola também não estava lá dentro. Kim sentou-se no banco, imaginando onde estaria Dae Won, e consultou o relógio.
Ele começou a tirar seus acessórios de dentro de sua própria mochila, conferindo a tensão das cordas de sua raquete. Já tinha se trocado para roupas esportivas e confortáveis no vestiário propriamente dito, então apenas começou a aquecer-se, fazendo alguns alongamentos enquanto esperava.
Ele pensava também no "não-encontro" que teria esta noite com Ms. Nam. Sentiu um calafrio na nuca, sentindo-se observado, mas olhou por cima do ombro, e continuava perfeitamente sozinho no ambiente de espera em frente à quadra alugada por hora. Apesar de ter isolamento acústico, o espaço permitia que algum som das salas adjacentes chegasse até ele, abafados, mas isso apenas aumentava essa estranha sensação de não estar totalmente sozinho.
Ele respirou fundo, imaginando se não era apenas seu ligeiro mal estar de rever Lee Dae Won, uma pessoa a quem sentia dever muito sem nunca ter podido retribuir em nada, e cuja presença o deixava agitado sem um motivo plausível. Não era esta pessoa que tinha feito tudo dentro do seu alcance para salvar a irmã dele? Kim Jun Hyeon cada vez mais se convencia que era um espécime humano detestável que não conseguia ter gratidão ou respeito por quem merecia.
Quando enfim a porta se abriu, e Dae Won chegou com um sorriso, Kim também sorriu em resposta, indo até o recém-chegado e batendo em suas costas, amigável como esperado.Era apenas o esperado dentro da relação deles.
"Dae Won, como vai este flower-boy?"
O homem mais baixo retribuiu o cumprimento de Kim Jun Hyeon com os mesmos gestos e um sorriso constrangido. "
"Que bobagem é esta, Jun Hyeon? Isso nem é mais tendência."
"Bom, se caras como você saíram de moda, isso significa que caras como eu talvez estejam na moda."
A brincadeira entre os dois sobre Lee Dae Won ser um flower boy vinha desde a época do ginásio, quando os dois se conheceram na mesma escola.
Lee Dae Won ainda mantinha a boa aparência, talvez ainda melhor do que nos tempos de garoto. Ele era apenas cerca de um palmo menor que o médico, porém seus traços faciais eram mais delicados, o que deu-lhe o apelido de flower boy no colégio. Isso e suas aptidões artísticas. Interessantemente, Kim Jun Hyeon só tinha um apelido no colégio: "o gêmeo Kim", ele se lembrou com uma sensação de aperto no peito.
"Ouvi dizer que atrizes gostam mais do seu tipo do que do meu. É por isso que eu digo que estou fora de moda." Lee também foi até sua mochila pegar sua raquete, mas não deixou de provocar sobre o fato que o médico tinha namorado brevemente uma atriz famosa. Kim Jun Hyeon apenas riu com gosto, sem comentar nada a respeito disso. A seguir eles foram para além da porta de vidro, já na quadra.
"Mas eu gostei do seu cabelo. Que cor é essa?"
"No começo eu estava reticente, mas no final, eu também gostei. Eu não sei o nome." o amigo de Jun Hyeon deu de ombros. "A cabeleireira da emissora falou um número, ...8-alguma-coisa. Por falar em cor, qual vai ser? Amarela?"
"Uau!" Jun Hyeon exclamou. "Você é ambicioso ou o quê? Eu não sei se estou preparado pra isso, mas você decide." Estavam falando das cores de bola, que eram classificadas por cor conforme a dificuldade de jogo. Kim pegou seu set de bolas e estendeu para que Lee decidisse por eles o grau de dificuldade do jogo.
Algo o incomodava ali, não conseguia se livrar da sensação estranha como se estivesse exposto. Seria a grande parede de vidro?
Lee realmente pegou a bola amarela, jogando para o adversário. Kim rebateu a bola com sua raquete,rindo, mas o jogo sequer tinha começado. Dae Won começou a se alongar e aquecer. Seu tom mudou um pouco, mas ele manteve o sorriso amistoso:
"Fiquei feliz que a gente tenha conseguido se ver hoje. Você tem ainda menos tempo que eu no departamento musical da emissora."
Além de pacientes, cirurgias e congressos, a Fundação ocupa grande parte do meu tempo, mas acho que você já sabe disso."
"A Fundação Ji Hyeon cresceu muito nos últimos anos."
"Estamos sempre procurando doadores, até aqui as pessoas têm ajudado, eles entendem a causa." Kim suspirou, se flagrando que estavam entrando no assunto que ele queria evitar. Preparou-se na área de saque, sem nem mesmo perguntar ao parceiro de jogo se deveriam decidir na sorte o primeiro saque.
"Quando chegar a época do evento anual, me avise, quero ajudar este ano também." Lee Dae Won se posicionou na quadra, mas pareceu captar o sentimento do amigo e mudou o assunto:
"Seu avô me ligou um dia desses. Estava à procura de ingressos para o musical que está em cartaz. Eu indiquei uma pessoa que os teria. Ele disse que iria com você. Eu fiquei pasmo com a novidade."
Agora já estavam rebatendo a bola, com bastante esforço, aliás. Sem dúvida, escolher uma bola lenta os ocupou, e Kim não teve muito tempo para refletir sobre o comentário, apenas disse:
"Meu avô está sempre um passo à frente de todos. Ele me forçou a levar uma mulher neste espetáculo. Hoje a noite, aliás."
"Te forçou? A levar uma mulher? Estão tentando te casar, por acaso?"
Não acho que seja isso, mas é uma... história longa.!" ele viu uma oportunidade na guarda de Dae Won e a explorou, fazendo o adversário cair no chão e fazendo o ponto. Não estava tão ruim quanto imaginava antes de começar o jogo.
Lee rolou no chão e riu, se colocando de pé rapidamente para continuarem. Ele percebia que Kim Jun Hyeon parecia estar o tempo todo olhando para os lados como se procurasse por alguém. Isso o deixou preocupado.
"Aconteceu alguma coisa, Kim?"
"Não, nada." o outro balançou a cabeça e recomeçou o jogo.
Mas a sensação de ter algo o observando fixamente não passava. Mas ele sorriu e fez novo saque.
Os olhos ocultos que acompanhavam cada um de seus movimentos continuaram a fazê-lo, do lugar secreto às suas costas.