Chapter 3 - Capítulo 3

21:30 – Bar The Place

No restaurante, o grupo terminava o jantar conversando uns com os outros. Nala olhava o cardápio admirando as sobremesas, indecisa se pedia uma maravilhosa torta de frutas vermelhas ou a mais nova adesão do cardápio, a delícia de chocopassion.

"'A incrível combinação do puro chocolate amargo com o azedinho do maracujá e o toque doce que toda Delícia deve ter' é o que diz a descrição. Por que eles fazem essa tentação com os clientes?" Falou Nala com profunda indecisão. Se um produtor estivesse por perto poderia até contratá-la como atriz de um drama. "Luuuu, me ajudaaaaa" Chamou com os olhos quase em lágrimas.

"Isso é marketing bebê, já não devia saber disso?" Zombou Temístocles, depois de virar o copo.

"Fecha o bico que não falei contigo, Zé bebum" Ralhou Nala revirando os olhos sem nem se virar, e ele riu falando algo como 'é que nem água' em seguida se virando para continuar conversando com Rodrigo e Diego no outro lado da mesa que estavam marcando um jogo de vôlei para o dia seguinte.

"Se tá curiosa, pede ele Nala. É bom experimentar coisas diferentes também" Falou Luciene com um sorriso no rosto pela implicância dos dois.

"Mas e se num gostar? Sabe que não sou fã de coisas amargas!" Disse fazendo um bico fofo.

"Ai você me dá que eu como." Respondeu ela com um sorriso ainda maior.

"Aff, chata!" Nala virou a cabeça com um 'hum!' e cruzou os braços fazendo pose de brava. Olhando para elas, divertida, Aline chamou com voz doce "Nala, por que não fazemos assim, você pede a delícia e eu a torta. Qualquer coisa, se você não gostar, trocamos. Que tal?"

Dessa vez Luciene pôde jurar que viu lágrimas. Nala balançou a cabeça várias vezes em afirmação "Tiaaaaaa, você é a melhor! Um anjo na terra! Melhor pessoa ever!"

"Certo, certo. Sem exageros. Vou pedir então, tudo bem?" Depois de mais alguns elogios ao maravilhoso coração da 'amada Tia Aline', chamaram o garçom e pediram. Diego e Luciene aproveitaram também para pedir um pudim e Rodrigo escolheu uma limonada.

"Bateu consciência pesada, foi Rodrigo?" Implicou Diego, já que aparentemente Rodrigo deveria manter o regime para o jogo de vôlei contra o time do estado vizinho que teria em duas semanas.

"Só pra evitar a fadiga" Falou olhando de lado para o amigo.

Em pouco tempo os pedidos chegaram. Nala adorou a Delícia de Chocopassion e todos implicaram com sua cara de satisfação depois de terminar.

"Hey, hey! E vocês sabem? Rodrigo tá de namorada nova!!" Rodrigo que estava bebendo tranquilamente quase cospe todo o suco quando ouve Luciene falando em tom de insinuação

"Sério? Qual o nome?" "Nós conhecemos?" "Faz quanto tempo?" "Vai nos apresentar?" A mesa foi inundada de perguntas curiosas. Como toda boa família, a equipe tinha suas 'tias fofoqueiras' e 'tios de alta sabedoria' querendo saber e dar conselhos de amor. Mas como a vida amorosa não sorria muito para nenhum deles, qualquer novidade era como prato cheio.

"Lu! Não fala assim! Não estamos namorando...Acabamos de nos conhecer! E como que você sabe?" Rodrigo falou engasgado, entre algumas tossidas, começando a ficar vermelho pela vergonha. Quando olhou para cima para encarar Luciene, não esperava uma expressão de surpresa.

"Eu, hein, tenho minhas fontes!" - Talvez passar no café e ver você conversando empolgado com a moça tenha ajudado, rs. Não tenho culpa se você se delatou! - Rodrigo quase pode ler os pensamentos de Luciene olhando para sua cara de convencida. Realmente caiu bonito na armadilha.

"Que frasezinha mais clichê, Digo. Só falta você vir dizer 'Somos só amigos...' e colocar uma cara de cachorro pidão"

"Que maldade, Nala." Rodrigo intercalava entre mirar um olhar de 'você me paga' para Luciene, e de puro constrangimento para Nala.

"Você falando assim parece até que eu disse algo errado" Com uma expressão de inocência, Nala apenas levantou as mãos se fazendo de desentendida para a questão.

"Não é por nada não Rodrigo, mas tenho que concordar com Nala... Além disso, quem foi que passou quase 20 minutos olhando pra tela do celular, enquanto Juan discursava e depois ficou todo cheio de sorrisos quando chegou notificação?"

"E você passou esse tempo todo olhando pra ele, Diego?" Luciene não perdeu a oportunidade de implicar com o amigo, que apesar de ser o mais quieto da equipe, Diego era também o mais observador. Às vezes os outros brincavam chamando-o de olho de thundera, porque percebia as situações e soluções muito facilmente.

"Claro que não! Mas não posso dizer que não estava divertido ver a cara de apreensão dele. E ainda tinha aquele tique que ficava balançando a mesa toda hora! Estava quase dando um grande beliscão nele pra ver se parava... tenha paciência!"

"Serio? Nem percebi..." Rodrigo parou, tentando se lembrar, mas tudo que havia em sua mente era a imagem do chat. Duas barrinhas ficando azuis. Digitando. E a resposta que foi...

"Claro que não! Tá apaixonado! Hahahahahaha" Rodrigo foi puxado de seus pensamentos pela afirmação de Victor, e todos riram de sua expressão abobada, enquanto ele ficava mais vermelho pelas provocações, e ia tomando consciência de que realmente podia ter se apaixonado. Pensando nisso, lembrou-se de quem havia levantado o tópico no início, e olhou irritado para Luciene do outro lado da mesa.

Eles eram amigos de infância, então Lu sabia muito bem como provocá-lo. Não sabia quantas vezes já tinha tido vontade de esganar essa pessoa quase insuportável que esteve sempre presente em sua vida. Mesmo quando crianças, ela adorava implicar com sua altura (sempre foi muito mais alto que os outros) ou falar mal de seu modo cuidadoso de fazer as coisas, contar histórias assustadoras e depois pregar peças nele, prejudicá-lo nas brincadeiras sendo descoberto ou pego rapidamente. Mas sua língua afiada e pensamento rápido já o salvaram de várias enrascadas, então no fim das contas não tinha muito do que reclamar...

"E então? Vai dizer alguma coisa ou vamos ficar na curiosidade?" Nala já estava na ponta da cadeira, se inclinando por cima da mesa em sua direção e olhando com os olhos grandes e brilhantes. Enquanto Rodrigo se encolhia inutilmente no próprio assento, enquanto era o centro da atenção do grupo. Até mesmo Aline e Juan estavam curiosos com a notícia.

"Tá bom, tá bom! O nome dela é Elise, nos conhecemos num café semana passada...estávamos lendo o mesmo livro e começamos a conversar. Pronto? Satisfeitos?" Sentia seu rosto queimar fortemente, odiava ter que falar nesse tipo de situação.

"Rapaz, nem quando fomos à praia você ficou tão vermelho! hahahahaha"

"Cala boca, Temí!" Exclamou Rodrigo batendo com seu joelho no do outro, mas como Temístocles estava na ponta, conseguiu tirar as penas do caminho, pegando só de raspão, fazendo depois cara de satisfeito. Parece menino ruim, esse!

"Me avisa quando for apresentá-la à tia e ao tio, quero estar lá pra ver você passar vergonha! Hahahahaha" Luciene aproveitou a distração para alfinetar Rodrigo novamente.

"Insuportável"

"Também te amo, maninho"

"MUDANDO DE ASSUNTO, como é que está tia Suely?" Exclamou Rodrigo tentando mudar o foco da conversa.

"Verdade Lu! Você tinha dito que sua mãe tinha passado mal hoje à tarde. Saiu correndo depois da apresentação...pensei que nem vinha agora de noite" Nala virou tocando no braço da amiga com preocupação.

"Ela está bem, Nala. Foi só uma fraqueza causada pela baixa na pressão. Ela foi medicada e já está em casa. Como meu irmão tinha vindo passar o fim de semana, ela disse para não se preocupar e vir aproveitar. Mandou lembranças a todos." Apesar das brincadeiras, a voz de Luciene estava cansada.

Certamente foi um longo dia. Começando de ontem, ela passou o dia inteiro treinando sua apresentação com Victor e não tinha dormido bem a noite, de manhã foi um período complicado com a liderança da empresa, pressionados por quase 2 horas mostrando gráficos, tabelas, variações situacionais e respondendo perguntas, e pouco depois que foram liberados recebeu a ligação de seu irmão mais novo, Matheus, que estava indo ao hospital com sua mãe.

Foi tanta coisa que só soube depois, quando já estava com sua mãe, que haviam conseguido a aprovação do projeto. O cansaço já estava começando a aparecer. Acho que devo ir em breve, pensou Luciene com um suspiro.

"Fico feliz que não tenha sido nada grave, mande lembranças para ela quando for lá"

"Mando sim, Juan." Respondeu ela com um sorriso.

"Devíamos marcar uma visita lá. Adoro conversar com dona Suely. Ela sempre tem opiniões muito particulares sobre filmes e séries" Diego era um grande fã de cinema e amava debater sobre roteiro e direção. Passou uma semana inteira incomodando Luciene quando soube que sua mãe havia estudado cinema e atuado quando jovem.

"Sim, e a comida dela é maravilhosa!"

"É uma visita, Nala. Não é para dar trabalho à mulher!" Claro que Temístocles não podia perder a deixa.

"Vai começar...." Suspirou Diego

"Acho que ela ficará muito feliz com a visita. Falarei com ela e digo o dia" É melhor cortar logo antes que discutam de novo. Esses dois vivem se bicando!

Conversaram animadamente por mais uma hora, contando histórias sobre o trabalho, a vida, sobre a infância (o que foi particularmente duro para Rodrigo que tinha todas suas memórias vergonhosas expostas). Os mais diversos assuntos, desde jogos à bolsa de valores ou coisas bobas como se os mosquitos são mais irritantes que as moscas.

"Pois é, gente, o papo tá muito bom, mas já vou indo" Falou Luciene pegando a bolsa e Nala a puxou para um abraço rápido, com um 'boa noite e descansa'.

"Mas já Lu? Vai nem esperar a saideira?"

"Se eu for esperar você parar de beber, Temí, só saio segunda direto pro trabalho" Ia levantando com um sorriso e uma piscadela, e já pegando o cartão de crédito para pagar sua parte da noite.

"Essa doeu Lu" Disse Temístocles segurando o coração como se fosse esfaqueado

"Não precisa pagar Lu, hoje é por nossa conta. E não quero ouvir reclamação!" Juan falou em tom que não estava aberto a negociações.

"Mandão como sempre, não é Juan? Mas obrigado." Estava meio sem jeito por sair assim, ainda mais sabendo que não pagaria sua parte...Seu senso de responsabilidade era forte até nesse tipo de situação. Mas mesmo assim sabia que não ia adiantar muito debater com Juan, e se insistisse em pagar ia acabar ficando um clima chato. E não estava com energia para buscar os melhores argumentos num debate "Vou indo na frente" disse dando tchauzinho.

Todos se despediram dela, parabenizando novamente, e desejando bom descanso.

"Quer que eu vá com você, Lu?" Victor se preparou para levantar, mas Luciene segurou seu ombro com um sorriso agradecido.

"Não Vic, moro perto. Pode aproveitar aqui com o pessoal"

"Nem me ofereço. Quando está com raiva derruba até um urso." Brincou Rodrigo entre risos

"Me perdoe se tenho mais habilidade que você, senhor Ares"

"Ora você..." Rodrigo se apoiou na mesa para levantar, mas Lu se apressou em direção à saída quase saltitando

"Saindooo" Os outros ficaram rindo da reação dos dois. Não era de se esperar menos deles

Continuou passando pelas mesas e pessoas que aproveitavam suas refeições de forma tranquila. Mesmo já sendo tarde, como era sexta-feira as pessoas não pareciam com pressa de ir pra casa. A mesa deles certamente era a mais barulhenta, mas como os outros clientes não pareciam se incomodar, ninguém tinha ido reclamar.

Seguiu pelo corredor que ligava a área das mesas à recepção, que era mais externa, ainda a passo rápido, mas quando virou no fim do corredor, deu de cara com uma das recepcionistas que levava uma jarra de vidro vazia em direção à cozinha para enchê-la. Foi tão inesperado que o impacto fez com que as duas caíssem no chão, juntamente com a jarra que se estilhaçou pelo piso.

Por ter sido muito rápido, a reação imediata de Lu foi se levantar para ajudar a recepcionista, mas depois de sentir uma pontada fina, caiu novamente segurando a mão que ardia e sangrava. Gritando de surpresa, viu que acabou se apoiando com a mão esquerda num caco de vidro, fazendo um corte profundo, e ele ainda estava preso na palma.

Enquanto alguns dos clientes que estavam perto se aproximaram, dois dos funcionários se adiantaram para ajudar as duas que ainda estavam no chão, e abrir caminho pelo vidro e tentando concentrar os cacos num canto para evitar outros acidentes.

Um deles foi ajudar Lu a se levantar, se assustou um pouco por causa do sangue, mas, tomando cuidado para não fazer nada que prejudicasse sua mão, a levantou e foram para uma salinha lateral. O jovem que a ajudou, após pedir para que sentasse e esperasse um pouco, falou rapidamente com a moça que havia entrado na sala também, e saiu logo em seguida para ajudar a recolher os cacos de vidro. Ficaram apenas Lu e a recepcionista.

Apesar de estar um tanto atordoada ainda, a recepcionista saiu do choque, e se dirigiu a um armário que estava à direita da porta, falando ainda de costas para pegar o kit de primeiros socorros. "Por favor, não se mexa e mantenha a calma. Irei retirar o vidro e tratar a ferida." Mas quando se virou tomou um susto ao ver a outra pessoa segurar o vidro para puxá-lo.

Tentou gritar "Espere, senh..."

Com um movimento rápido, o caco com cerca de 5 centímetros foi retirado num só movimento, aumentando o fluxo de sangue, que passou a escorrer por seu braço e pingar no chão.

"Aiiiiii. Não pensei que fosse doer tanto... Quanto tempo faz que não me corto?..." A moça se aproximou rapidamente, um tanto em choque com a reação da cliente, e colocou um pano no ferimento e pressionou, procurando estancar o sangramento.

"Por isso disse para ter calma. Antes de um objeto ser retirado de uma perfuração, precisa avaliar se não atingiu nenhuma artéria, veia ou tendão, se vai haver um grande aumento do fluxo de sangue, tendo que ter o cuidado para estancá-lo corretamente e evitar sequelas."

"Ah, desculpe" Respondeu Luciene sem jeito. Na verdade ela também não entendeu porque fez aquilo.

Após quase 1 minuto, a dor aguda começava a desaparecer em meio a dormência da compressão, mas a pequena toalha, antes branca, ficou completamente vermelha de sangue, tendo apenas suas extremidades indicando sua cor original.

Algum tempo depois, a mulher retirou a toalha e a levou para o canto da sala, onde pôs sua mão numa pia que havia ali, para lavá-la com água corrente e verificar como estava o corte.

"Foi um pouco profundo, mas não precisa de ponto. Vou realizar um curativo de compressão para fechar o corte e depois enfaixar. Mantenha o cotovelo apoiado na pia enquanto pego os materiais no kit." Quando voltou, a moça trabalhou rapidamente e com habilidade, fazendo o possível para que Luciene não sentisse tanta dor no processo.

"Você é enfermeira?" Perguntou Luciene curiosa enquanto a recepcionista terminava de amarrar a faixa.

"Terminei o técnico ano passado. Pretendo começar a faculdade ano que vem" Respondeu, ainda concentrada.

"Entendo, você é muito boa nesse tipo de coisa" Dizia olhando para a mão quando ela terminou. Movimentou-a para ver até que ponto ia sem sentir muita dor, mas apenas de mexer um pouco os dedos já sentia a fisgada na palma.

"Muito obrigada. Mas acabou sendo culpa minha... me perdoe pelo incidente" Curvou a cabeça envergonhada pelo acontecido e preocupada com a situação. Se fosse um cliente complicado, poderia até ser demitida e processada depois.

"Não se preocupe. Eu estava andando rápido e não prestei atenção. E não foi nada sério, não é?" Disse sorrindo para a jovem que levantou a cabeça com o olhar confiante ao falar.

"Não. Apesar de ter sido relativamente profundo, não atingiu nenhuma área preocupante, assim que, apesar do incômodo, deverá estar fechado em 3 ou 4 dias. Mas você deve ter cuidado para não abri-lo, pois demorará mais a cicatrizar"

"Tudo certo, então" Seu sorriso gentil fez que a jovem se acalmasse um pouco.

"O pessoal deve ter informado o gerente. Ele já deve estar a caminho"

"Não precisa, não precisa. Você já tratou da ferida, então podemos deixar assim" Balançou a mão direita enquanto saia da sala e ia em direção à saída do estabelecimento. Queria apenas chegar em casa logo e dormir.

"Quer que entre em contato com alguém? Tem alguém que possa te levar em casa?" A jovem correu acompanhando seu passo, ainda preocupada.

"Não é necessário. Eu moro perto. Pode ficar tranquila sobre isso" Um banho quente, um pijama friozinho, uma cama macia...

"Tem realmente certeza que não precisa de mais nada?"

"Absoluta! Agradeço pelos cuidados. Boa noite" Acenou com a cabeça antes de sair pela porta e suspirou internamente: Ahhh. Hoje o dia foi muito longo. Quero dormir!! Olhou para o céu e respirou fundo o ar frio da cidade. O outono já havia chegado, logo o frio seria opressor noite adentro.

Virou-se em direção à sua casa. A caminhada não era muito longa, mas não é bom se arriscar atualmente. Do jeito que a violência está, achava incrível nunca ter sofrido um assalto, mesmo andando tanto a pé... Seguiu andando pela calçada, imaginando sua cama quentinha em casa.

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⭐Capítulo um pouco maior hoje (☆▽☆)

Também sou uma das sortudas que nunca foi assaltada. (. ❛ ᴗ ❛.) Você já teve uma experiência desse tipo? >.< ⭐