Chapter 2 - Capítulo 2

21:00 – Empresarial Linhagens

"Ainda não foi embora?" Um homem jovem entrou na sala a passos largos escancarando a porta de vidro de correr "Até quando pretende ficar analisando esses documentos? Não basta ter virado a noite ontem na empresa, quer repetir a dose hoje?" Diz emburrado, se aproximando da mesa no canto oposto da sala onde um certo empresário se debruçava sobre seu computador na escuridão da sala.

Com sobrancelhas franzidas e olhos fixos na tela enquanto revezava entre digitar rapidamente e escrever pequenas observações num caderno de anotações sem nem olhar para o papel, o homem de cabelos negros e pele extremamente branca, o que destacava suas olheiras fundas abaixo dos olhos, esteva irritado e cansado demais para responder o amigo.

Dando um suspiro, o jovem arrodeou a mesa e olhou por cima do ombro do outro para ver a tela. Ainda que esteja preocupado, não é como se demonstrar isso fosse causar alguma reação da outra parte, se conheciam a mais tempo do que podia se lembrar e sabia como o outro era cabeça dura quando fazia ou decidia alguma coisa.

Viu várias tabelas e planilhas de excel, gráficos, listas e principalmente registros de transações. Milhares de abas abertas e programas rodando. Que loucura, como alguém consegue encontrar alguma coisa assim? Pensou enquanto coçava a cabeça com cara confusa voltando para frente da mesa, e resolveu fazer a pior pergunta possível para quem está sobrecarregado "Falta muito?"

Os dedos pararam de digitar. Inspira. Expira. Olhos fechados para acalmar a mente e nem jogar o outro pela parede de vidro atrás deles para uma queda de 24 andares nem permitir que o desespero tome conta novamente. Tentou responder com calma, fazendo uma relação mental do que ainda teria pela frente.

"Não acabei de verificar esses registros. Existem muitas coisas desconexas, informações faltando, dados alterados... nunca pensei que uma só pessoa poderia fazer um estrago tão grande na empresa, sendo que nem ocupava um cargo na alta hierarquia. Vai demorar muito para resolver as faltas e ainda mais para recuperar a confiança do público. Se não tivessem vazado o resultado da auditoria, a situação não estaria tão ruim, mas agora a única coisa que podemos fazer é correr atrás do prejuízo..."

Um suspiro cansado tomou a sala que tinha caído no silêncio por alguns instantes.

Fazia apenas três semanas desde que a auditoria anual acusou divergências nos relatórios apresentados pela empresa, o que levou à descoberta de um grande desvio de dinheiro realizado por um dos funcionários do setor de contabilidade. Foram milhões roubados não apenas da própria empresa e dos investidores, mas também dos clientes e parceiros associados. E antes mesmo de ser encontrado o culpado ou se buscar uma solução, a informação vazou na internet levando a uma grande queda nas ações e tentativas de processo.

A catástrofe só não foi maior, pois a equipe de relações externas e a gerência agiram rápido, falando com a imprensa de forma transparente, entrando em contato com todos os afetados, explicando a situação e se comprometendo em resolvê-la nos próximos dois meses. Se não fosse isso, provavelmente a empresa já estaria num declínio tão grande que não suportaria nem mais um ano.

Tiveram o apoio dos investidores e por causa da imagem transparente e de confiança que tentamos manter com o passar dos anos o público ainda acredita em nós e nossos serviços, o que nos salvou foi pura e simplesmente a qualidade dos serviço e atendimento ao cliente.

Mas três meses?! Eles têm noção do que é necessário para desfazer o estrago? Encontrar os erros, comparar dados, seguir o rastro do dinheiro até os prejudicados e o objetivo do desvio, inferir os danos, buscar soluções, avaliar sua aplicação, reunir recursos. São muitos processos manipulados, muitos detalhes, e pouco pessoal capacitado e confiável para ter contato com dados tão importantes. Uma situação desesperadora era o que pensava o mais velho enquanto massageava as têmporas com os dedos para diminuir a enxaqueca.

Deveria parar de passar tanto tempo no computador no escuro. Ia acabar com sua vista.

"Mas se você desabar, quem vai orientar a equipe? Ninguém aqui dentro tem tanto conhecimento nessa área quanto você, afinal foi um dos fundadores, e vem administrando-a com todas as forças"

"Se tivesse realmente administrando como deveria, não teria acontecido uma coisa dessas durante tanto tempo." Era visível seu cansaço. A voz rouca e meio falha de tanto falar com os funcionários que estavam auxiliando-o nas análises durante o dia, os olhos fundos e caídos de quem já tinha passado várias noites sem dormir ou cochilado por algumas poucas horas, todo seu semblante era abatido, o rosto estava tão marcado com rugas de preocupação que parecia ter realmente envelhecido.

O mais novo sabia, se fosse uma pessoa normal, com certeza já estaria em processo de estafa. Mesmo sendo mais forte, não deveria jogar com a sorte e apostar sua saúde como prêmio. Ele também era de carne e osso no fim das contas.

"Não adianta nada se culpar, Dmitri. Não há como saber de tudo que se passa aqui dentro. Você não é tão poderoso assim." O sarcasmo de Francis conseguiu superar as palavras que pareciam ser de consolo, fazendo um sorriso aliviar um pouco a expressão de Dmitri. "Então? Você vai sair dessa sala sozinho ou preciso te arrastar?" Disse contornando a mesa novamente com os braços estirados na intenção de puxá-lo da cadeira.

Quando estava a ponto de tocá-lo, o ar mudou, fazendo o outro congelar por um instante enquanto via os olhos de seu amigo se tornarem escuros e quase perderem a luz.. "Quando foi a última vez que comeu?" O tom dele era sério. Nunca tinha visto Dmitri numa situação tão instável que fizesse sua aura mudar.

Apoiando as mãos na mesa, Dmitri se levantou lentamente, desviando o olhar do outro e seguindo pelo outro lado da mesa em direção à porta sem soltar uma palavra. Um vislumbre de culpa e vergonha por sigo pego foi visto enquanto andou rápido, parecendo quase em fuga.

Sentindo um grande surto de raiva, o mais novo atravessou a sala num segundo quase passando por cima da longa mesa de reuniões e ainda derrubando uma das cadeiras no processo.

Segurou o braço de Dmitri com força, forçando-o a parar. "A quanto tempo?! Me responda!" Gritou, sentindo seu sangue ferver ao ver a real situação em que o outro se encontrava.

Dmitri se virou bruscamente, confrontando o outro. Seus olhos haviam voltado ao normal, mas sua aura ainda permanecia sombria e profunda. "Não lhe devo satisfações. Conheço meus limites e não preciso de você dizendo como devo agir." Seu tom era baixo e ameaçador. Mesmo sabendo que o outro agia assim por preocupação, não iria deixar que qualquer pessoa o intimidasse ou fizesse pouco de sua vontade.

"Vai deixar que eu o leve?"

"Não é necessário."

"Você sabe o que poderia acontecer se você perdesse o controle?"

"Isso não aconteceria"

"Não foi o que pareceu agora"

Ficaram se encarando por um longo tempo. A determinação no olhar de Dmitri lutando contra raiva e reprovação do amigo.

Foram poucos os momentos de embates entre eles, e nunca numa situação como essa. Ele entendia os motivos das ações de Dmitri e como aquela empresa era importante para ele, afinal ele a havia construído do zero e passado por vários problemas para fazê-la crescer e se tornar reconhecida internacionalmente pelo desenvolvimento científico e tecnológico além dos serviços de laboratório, mas alterar suas ações, normalmente cautelosas, ponto de fazê-lo tomar decisões perigosas, que poderiam prejudicar não só ele, mas todos ao seu redor...isso nunca havia acontecido.

Mesmo assim, Dmitri não mostrava sinais de retroceder em suas ações, e o outro apenas pensava 'Esse cabeça oca decidido ainda vai se destruir, e me levar no processo!' Desistindo de tentar convencer o outro, ele finalmente desvia o olhar e se direciona à porta, parando pouco antes de atravessar o portal. "Faça como quiser, mas não reclame quando o problema surgir e tiver que pedir minha ajuda." Então saiu com seus passos ressoando pelo prédio vazio.

"Não é como se tivesse escolha." Sussurrou entre suspiros cansados e voltando novamente à sua mesa. "Apesar de tudo, ele está certo. Não vou durar muito mais tempo se continuar. E a fome está me matando..."

"São apenas cinco quarteirões até o condomínio. Devo aguentar até lá e aproveitar o frio para acalmar minha mente" Buscando força nessas palavras, que ecoavam no ambiente vazio, começou a organizar os documentos em sua mesa e computador para sair.

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⭐ Parece que as coisas saíram do controle no Empresarial Linhagens ultimamente... Espero Dmitri fique bem nessa grande bagunça!

Mas não dá pra trabalhar com fome

┐( ̄ヘ ̄)┌

Mas o que acharam desses dois amigos? E como essa história toda se encaixa?

(ㆁωㆁ)⭐