Chapter 20 - Capítulo 20

A situação era desesperadora, e Aleph constatou que deveria tomar uma medida mais proativa em relação a situação. Cercado por inimigos implacáveis, ele lutava com precisão, eliminando as shineideas ao redor para se aproximar de Letícia.

Foi quando percebeu um shineid se aproximando sorrateiramente de Letícia, preparando um ataque covarde. Sem pensar em uma estratégia, ele correu, desviando-se das lâminas à sua volta, determinado a alcançá-la a tempo. No último instante, conseguiu interceptar o golpe direcionado a Letícia, mas a lâmina inimiga atingiu seu ombro direito. A dor foi intensa, e ele sentiu o sangue aquecer sua vestimenta enquanto seu braço se tornava imóvel.

O shineid riu com satisfação ao ver o ferimento.

— Esta espada está envenenada. Em poucos minutos, você vai sucumbir... para qualquer humano, este veneno é mortal.

A visão de Aleph turvou e seus movimentos se tornaram lentificados. Com a espada em sua mão esquerda, ele lutava para se manter em pé, a voz enfraquecida.

— Parece... que não vou ter escolha… a não ser...

Enquanto seus sentidos enfraqueciam, ele ouvia vagamente a voz de Letícia, tentando estancar o sangramento com as mãos trêmulas.

— Eles estão atrás de mim, Aleph. Por favor, fuja! Não precisa fazer isso por mim... — implorou Letícia, aflita.

Aleph balançou a cabeça, apoiando-se na espada.

— Não posso... aceitar isso...

Letícia, desesperada, pressionava um pano contra o ferimento de Aleph, mas o sangue continuava a jorrar, olhou ao redor em busca de ajuda, mas ninguém ousava se aproximar. O shineid que o atacara observava a cena com um prazer sádico, preparando-se para um golpe final, certo de sua vitória.

Foi então que Letícia, em um impulso de defesa, ergueu sua espada. Quando as lâminas se chocaram, um brilho azul intenso envolveu sua lâmina, liberando fragmentos de gelo que cintilavam no ar. O frio intenso rapidamente percorreu a espada do shineid, congelando-a até que o próprio guerreiro se tornasse uma estátua de gelo, desfazendo-se em pó azul ao ser varrido por uma brisa gélida.

Uma onda de energia congelante se espalhou rapidamente pelo campo de batalha. As shineideas que tentavam atacar começaram a congelar e desaparecer, uma após a outra, como se fossem meras sombras dissipadas pelo frio. Letícia olhava para a cena, surpresa e incrédula. Ela não compreendia como havia invocado aquele poder.

Os cidadãos, que antes fugiam em pânico, pararam ao ver o brilho azul. Impressionados, testemunharam as shineideas desaparecerem diante de seus olhos, engolfadas pela onda congelante que emanava de Letícia. O vilarejo, antes tomado pelo caos, caiu em um silêncio espantado, enquanto Letícia, ainda atônita, percebia o despertar de uma força desconhecida dentro de si. A esperança renascia em seus corações, enquanto o gelo purificador banhava a vila, afastando as sombras.

Aleph, ao ver Letícia rodeada pela magia de gelo, foi tomado por uma lembrança de infância: o calor sufocante de um incêndio e uma menina mais jovem ao seu lado, tentando tranquilizá-lo enquanto uma barreira de gelo se erguia, protegendo-os das chamas. Ele murmurou para si mesmo, atônito:

— "Como pude esquecer? Ela me lembra a pessoa que me salvou...."

A onda de gelo continuava a se expandir em torno de Letícia, e ela, sem controle sobre a nova habilidade, começou a temer o poder que emanava de suas mãos. O gelo espalhava-se sem direção, ameaçando tudo ao redor. Seu corpo esfriava intensamente, os batimentos se desaceleravam, e a vista começou a se turvar enquanto ela desabava, exaurida pela energia que sua magia drenara.

Aleph, ainda cambaleando e sentindo o peso do veneno que corria em suas veias, esforçou-se para se aproximar de Letícia. Tocou-lhe a face, sentindo a pele dela fria como gelo, mas se tranquilizou ao perceber que ela ainda respirava. Letícia abriu os olhos com esforço, chamando seu nome em um fio de voz.

— Aleph…

— Princesa Letícia, está tudo bem agora — tranquilizou-a, esforçando-se para manter a voz firme.

— Mas... você está machucado! — sussurrou Letícia, o olhar fixo no ombro ensanguentado de Aleph. — O veneno... isso tudo é minha culpa...

Aleph tentou sorrir, mentindo para apaziguá-la.

— Não se preocupe... o veneno não me afetou tanto assim.

Apesar de suas palavras, ele estava quase sem forças; o veneno agia rapidamente, e ele nunca havia sido exposto aquele veneno. Letícia tentou afastá-lo.

— Não se aproxime de mim... você também ficará congelado.

— Jamais a abandonaria, princesa.

Ignorando o aviso de Letícia, Aleph estendeu a mão para ajudá-la a se levantar, mas a escuridão o envolveu antes que pudesse tocá-la. Seu corpo, enfraquecido pelo veneno e pelo esforço da luta, cedeu, e ele desabou na neve, inconsciente.

Vendo Aleph prestes a cair, dois aldeões correram e o ampararam. Os habitantes, ainda impactados com a visão da jovem que, de algum modo, havia destruído as shineideas, aproximaram-se. Alguns murmuravam, especulando se Letícia seria a guerreira das antigas lendas.

Os aldeões, percebendo a gravidade dos ferimentos dos dois, decidiram levá-los ao vilarejo mais próximo, onde um curandeiro, conhecido por suas habilidades raras, estava hospedado.

O curandeiro, Lowell, examinou Aleph com atenção. O ferimento no ombro e os sintomas indicavam envenenamento. Administrou um antídoto específico e, com suas habilidades curativas, tratou a lesão no ombro, que cicatrizou rapidamente. Tranquilizou os aldeões sobre o estado de Aleph e voltou sua atenção para Letícia, sua expressão de tranquilidade vacilou.

Ao observar Letícia, percebeu que jamais havia visto algo assim: sua pele estava fria como gelo, e os batimentos, quase imperceptíveis, indicavam um estado de congelamento. Lowell tentou aplicar sua magia de cura, mas sem sucesso.

Um dos aldeões que havia trazido o casal se aproximou, apreensivo.

— Doutor Lowell, ela vai ficar bem? — perguntou um dos aldeões, ansioso.

— No momento, não posso afirmar com certeza — respondeu, franzindo a testa.

Outro aldeão comentou:

— Que sorte a deles que um curandeiro tão habilidoso esteja passando por aqui.

Lowell não confirmou tal afirmação, mas sabia que aquilo não era coincidência. Ele estava ali devido a uma solicitação realizada pelo Mestre Yoshi ao Reino da Primavera. Ao receber o chamado, não compreendeu o motivo da urgência, pois, ao chegar ao vilarejo no dia anterior, atendera a todos os doentes, mas nenhum caso exigia suas habilidades específicas. Agora, porém, dois pacientes com condições extremamente complexas surgiram em um curto intervalo de tempo. Ele percebeu que fora convocado para ajudar exatamente aquelas pessoas, mesmo que não possuísse todos os recursos para auxiliá-los como gostaria.

Minutos depois, Aleph despertou abruptamente, olhando em todas as direções em busca de Letícia. Lowell se aproximou, o tranquilizou e o conduziu até o quarto onde ela repousava. Enquanto caminhavam, Aleph perguntou:

— Foi você quem me curou?

— Felizmente, eu tinha o antídoto necessário.

— Meu nome é Aleph, do Reino do Outono. Como posso retribuir sua ajuda?

— Sou Lowell, do Reino da Primavera. Quanto à retribuição… temo que minhas habilidades não tenham sido suficientes para ajudar sua amiga. É a primeira vez que vejo algo assim.

Quando entraram no quarto, Aleph se surpreendeu ao ver Letícia completamente congelada, em um sono profundo. Ele se aproximou, o coração apertado de preocupação, mas aliviado ao notar que ela ainda respirava. Lowell sugeriu com um tom sério:

— Creio que apenas o Mestre Yoshi poderá ajudá-la. Recomendo que o procure o quanto antes, pois ela não poderá permanecer nesse estado por muito tempo.

Aleph hesitou antes de tocar o ombro de Letícia, buscando permissão de Lowell, que assentiu.

— Obrigado pelo cuidado, doutor — disse Aleph, curvando-se em agradecimento.

Aproximando-se de Letícia, Aleph a tomou nos braços com cuidado. Com um leve movimento de sua espada ainda embainhada, abriu um portal e desapareceu, levando Letícia consigo, deixando Lowell com um misto de curiosidade e apreensão.

Lowell observou o portal se fechar, a perplexidade estampada em seu rosto.

— Quem eram essas pessoas, afinal? — murmurou, pensativo.