Chapter 26 - Capítulo 26

Na manhã seguinte, Daniel, um dos informantes de Letícia, apareceu com notícias. Havia se infiltrado no castelo com sucesso e constatado que a segurança estava cada vez mais negligente. Relatou também a morte de alguns conselheiros pelas mãos das shineideas, mas tranquilizou Letícia, afirmando que Laurenn não corria perigo imediato. 

 

Daniel lançou um olhar desconfiado a Aleph, ciente de que os dois estavam compartilhando o mesmo quarto. Aleph, com um gesto sutil, garantiu que nada de impróprio havia acontecido. 

— Vocês deveriam continuar se hospedando juntos, como um casal — aconselhou Daniel. — Para evitar suspeitas. 

 

Letícia concordou. Afinal, se casariam em breve. Qual era o problema? 

— Aliás — continuou Daniel —, descobri uma hospedaria encantadora na cidade vizinha. Vocês deveriam se hospedar lá. 

 

Entregou o endereço a Letícia e saiu apressadamente, prometendo retornar com mais informações. Letícia passou o endereço para Aleph, interessada na sugestão. 

 

Pouco depois, porém, Daniel retornou para falar com Aleph em particular. Seu semblante era sério. 

— Não sei se devo contar isso à princesa, mas… há fortes indícios de que o príncipe Laurenn esteja sendo… maltratado — revelou Daniel, em voz baixa. 

 

A notícia alarmou Aleph. Ele já havia notado a mudança no comportamento de Laurenn, a insegurança e o medo que o assombravam, diferente da época do treinamento com o Mestre. 

— Mantenha-se vigilante, Daniel — pediu Aleph. — Eu cuidarei disso. 

 

Daniel, com seu espírito jovial e romântico, típico dos habitantes do Reino da Primavera, não pôde resistir a fazer uma pergunta. 

— Sir Aleph, posso lhe perguntar uma coisa? 

— Á vontade. 

— Você e a princesa… realmente não aconteceu nada ontem? — perguntou, com um sorriso malicioso. 

 

Aleph suspirou, incrédulo, mas Daniel prosseguiu. 

— Veja só, você deveria se aproximar dela assim! — exclamou, apoiando-se na parede como se houvesse uma pessoa ali. — E dizer: "Meu amor por você pulsa intensamente em meu peito! Vamos acender a chama da paixão!" E então… a beije! O que acha? 

 

Aleph conteve o riso. Aquele assunto, tão inadequado após a conversa séria sobre Laurenn, o divertia. 

— Talvez você seja mais do tipo calado... — continuou Daniel, imperturbável. — Olhe profundamente em seus olhos e… ataque! 

 

Antes que Daniel pudesse continuar com suas dicas românticas, Aleph abriu um portal e o envio de volta ao Reino do Inverno, livrando-se, ao menos por enquanto, de seus conselhos amorosos. 

 

... 

 

 

Aleph e Letícia atravessaram a fronteira do Reino da Primavera, a magia do lugar envolvendo-os como um abraço acolhedor. Enquanto atravessavam uma floresta exuberante, Letícia, distraída pela beleza da paisagem, acidentalmente se chocou com uma jovem distraída que caminhava em sentido contrário. O impacto fez com que a jovem derrubasse o cesto de plantas medicinais que carregava. 

— Me desculpe! — exclamou Letícia, apressando-se a ajudar a moça a recolher as ervas espalhadas pelo chão. — Elas ainda servirão? 

— Não se preocupe — respondeu a jovem, com um sorriso gentil. 

 

Enquanto recolhiam as ervas, se apresentaram. Letícia ficou encantada com os cabelos loiros e brilhantes de Lilly, não resistiu a um elogio. Apesar de seu primo, o príncipe Erik, também ser loiro, a tonalidade era muito diferente. 

— Seu cabelo é lindo! — elogiou Letícia. — Qual o seu segredo? 

 

Lilly, por sua vez, ficou surpresa com a aparência de Letícia. A jovem era bonita, com longos cabelos pretos e olhos azuis, enquanto o rapaz que a acompanhava tinha cabelos prateados e olhos cinzentos, dando a ambos uma aparência diferenciada. Aos olhos de Lilly, eles formavam um casal notável. Porém, ao observar Aleph, ela sentiu uma leve impressão de que já o havia encontrado anteriormente. 

 

Foi então que, ao aceitar a mão estendida de Letícia para se levantar, um brilho suave emanou do cristal que carregava junto ao peito. Letícia, surpresa, notou um brilho semelhante vindo do cristal rosa que Lilly usava como pingente. Mostrando seu próprio cristal azul, igualmente brilhante, Letícia comentou: 

— Que surpresa! Nunca vi meu cristal brilhar assim — exclamou Lilly. — Ganhei este cristal dos meus pais, que me disseram para sempre carregá-lo comigo, pois me protegeria. 

 

Para Aleph, não havia dúvidas: Lilly era a Guardiã da Natureza com o atributo da Primavera. Aquele encontro inesperado o surpreendeu. Ele a observava atentamente, tentando decifrar o significado do brilho dos cristais e se perguntando se aquele encontro fortuito poderia despertar as memórias adormecidas de Letícia sobre o incidente no vilarejo. Os poderes das Guardiãs ainda eram um mistério para ele. 

 

Absorto em seus pensamentos, Aleph não percebeu que alguém o chamava. Era Lowell, o médico que os havia ajudado após o ataque das shineideas. 

— Que bom vê-lo recuperado! — disse Lowell, dirigindo-se a Aleph. 

— Agradeço novamente pela ajuda naquele dia... — respondeu Aleph, com um aceno de cabeça. — A propósito, o que vocês fazem aqui? 

— Estamos coletando algumas ervas medicinais — explicou Lowell. — Lilly é uma das maiores especialistas do reino em plantas medicinais. Ela desenvolveu um medicamento com incrível poder cicatrizante. 

 

Lowell observou a reação de Aleph. Ele não pareceu surpreso com a informação, não por desinteresse, mas como se já soubesse da habilidade de Lilly. Aquilo intrigou Lowell. 

 

Aleph, percebendo que era hora de partir, se despediu. 

— Espero que aproveitem sua estadia no Reino da Primavera — desejou Lowell. 

 

Enquanto Letícia e Aleph se afastavam, Lilly comentou: 

— Em pouco tempo, senti que poderia ser uma grande amiga de Letícia... Mas, doutor Lowell… — hesitou, sem saber como expressar seu pensamento. — Você já sentiu que… devia algo a alguém que acabou de conhecer? Como uma dívida de gratidão? 

— Sinceramente, não — respondeu Lowell, franzindo a testa. — Mas no seu caso, talvez faça sentido, considerando sua perda de memória. 

 

Enquanto caminhavam, seguindo o trajeto planejado, Letícia comentou, animada: 

— Gostei de conhecer Lilly. Sinto que poderíamos ser grandes amigas, se tivéssemos mais tempo para nos conhecer. 

— Quem sabe, no futuro… — respondeu Aleph, com um sorriso enigmático.