Eles se hospedaram em outra pousada sugerida por Daniel, que tinha um estilo completamente oriental, mas com uma decoração ainda mais romântica. Aleph se questionou o que Daniel esperava que ele fizesse com Letícia antes de chegarem ao reino do Outono. No entanto, afastou esses pensamentos e se concentrou em aproveitar os serviços de relaxamento da fonte termal.
Letícia, por sua vez, observava com curiosidade as vestimentas usadas naquele hotel, pois aquele estilo era algo inusitado para ela, vinda do Reino do Inverno. Após o banho, os hóspedes vestiam yukatas — um tipo de roupão oriental — e caminhavam normalmente com essas roupas pelas dependências da pousada.
Após relaxar nas águas quentes da fonte termal, Letícia retornou aos aposentos vestida com uma yukata delicada. Encontrou Aleph usando uma peça similar, em um tom cinza escuro. Ela parou por um momento, observando-o. A visão a surpreendeu. Ele parecia… diferente. Mais relaxado, mais… atraente. Era a primeira vez que o via assim, e a visão a deixou sem palavras. Tentou disfarçar seu interesse, mas um detalhe chamou sua atenção: um colar dourado com um pingente que ele usava sob o roupão. A curiosidade a dominou. Se o pingente tivesse o símbolo do Reino do Outono, sua teoria sobre a verdadeira identidade de Aleph estaria mais próxima de ser confirmada.
Reunindo coragem, aproximou-se dele, estendeu a mão para tocar o colar. Aleph, porém, interceptou seu gesto, segurando-lhe a mão suavemente e a fitando nos olhos com uma ternura inesperada.
— Esse traje ficaria ainda melhor se você soltasse os cabelos — murmurou, com um sorriso suave.
Antes que Letícia pudesse reagir, Aleph, com delicadeza, removeu a presilha de seus cabelos. As longas mechas negras deslizaram suavemente por seus ombros, contrastando com o tecido claro da yukata. Com um gesto cuidadoso, ele afastou os fios que lhe emolduravam o rosto, seus dedos roçando levemente sua pele. A intensidade de seu olhar a fez corar. Letícia desviou o olhar, envergonhada, tentando esconder o rosto. Aleph, porém, a puxou suavemente para perto, envolvendo-a em um abraço inesperado.
— Só queria sentir o perfume de seus cabelos — sussurrou, a voz baixa junto a seu ouvido.
O coração de Letícia disparou. A proximidade, o perfume de Aleph, a tensão no ar... tudo a inebriava. Temia que ele pudesse ouvir as batidas aceleradas de seu coração. O abraço durou apenas um instante, mas foi carregado de uma intensidade que a deixou sem fôlego. Aleph a soltou, murmurando para si mesmo:
— "Preciso me controlar…"
As palavras das jovens da livraria ecoaram na mente de Letícia: "Este é o momento ideal. Ele é seu noivo..." Ela sabia que as demonstrações de gratidão podiam variar entre os reinos, e agora, sentia que precisava agir de algum modo. Criando coragem, aproximou-se novamente de Aleph, tocou seu rosto delicadamente e, fitando-o nos olhos, inclinou-se lentamente na direção dele.
Aleph, surpreso, recuou, tropeçando no lençol que caía da cama. O movimento desajeitado fez com que os dois caíssem juntos, com Letícia apoiada sobre ele. O rosto de Letícia corou intensamente, e a surpresa e o constrangimento ficaram evidentes. Aleph, sentindo a maciez do corpo de Letícia contra o seu e o perfume suave de seus cabelos, estava à beira de perder o autocontrole. Sentou-se, deixando Letícia ajoelhada à sua frente na cama. A confusão tomou conta dele. "O que ela vai fazer agora?" pensou ele, confuso e apreensivo.
Lentamente, Letícia inclinou-se, depositando um beijo suave na bochecha de Aleph. Ele agarrou o lençol com força, tentando reprimir o desejo de envolvê-la em seus braços. O gesto, embora simples, o pegara completamente desprevenido. Seu rosto se corou, e ele murmurou para si mesmo:
— "Isso… isso só pode ser um sonho…" — murmurou, atordoado.
Letícia se afastou rapidamente, atingindo seu limite de constrangimento. Antes que pudesse se levantar, porém, Aleph a deteve. Segurou-a pela nuca, com a outra mão envolvendo a dela, e se inclinou para ela, seus lábios ficando perigosamente próximos aos de Letícia. Ele hesitou, como se travasse uma batalha interna, e então sussurrou em seu ouvido:
— Por que… por que me beijou?
O tom grave e sedutor de sua voz, tão próximo ao seu ouvido, fez o coração de Letícia disparar.
— Para… agradecer — respondeu ela, quase inaudível.
— Agradecer?
— Por tudo o que tem feito por mim — explicou Letícia, encontrando forças para sustentar seu olhar. — Foi o que as moças da livraria me disseram… que era uma forma de… demonstrar gratidão.
— Entendo… — disse Aleph, a voz carregada de uma emoção que Letícia não conseguiu decifrar.
Ele se levantou abruptamente da cama, pegou seu sobretudo e saiu do quarto sem olhar para trás. Ela ficou ali, paralisada e confusa.
— "Por que ele ficou com raiva?" — perguntou-se, angustiada. — "Será que fiz tudo errado?"
Aleph, do lado de fora da pousada, deu um soco na parede, sentindo a frustração tomar conta dele. A visão de Letícia, com seu gesto inocente e a suavidade de seu beijo, ainda estava clara em sua mente. Ele sabia que não deveria se deixar levar por esse tipo de sentimento.
— "O que eu estava prestes a fazer?!" — pensou, desesperado. — "Não posso me apaixonar por Letícia! Não posso… mesmo que já esteja… completamente apaixonado.
Daniel se aproximava da hospedaria quando viu Aleph socando a parede com força, a frustração estampada em seu rosto. Preocupado, aproximou-se cautelosamente.
— Aleph, o que houve? — perguntou, com um tom de voz suave.
— Cheguei ao meu limite — respondeu Aleph, a voz rouca de emoção, antes de se afastar apressadamente.
— "Eu avisei que ficar se contendo desse jeito não ia dar certo..." — pensou Daniel, balançando a cabeça, compreendendo o que se passava na mente de Aleph.
Entrando no quarto, encontrou Letícia sentada na cama, as bochechas coradas, a expressão perdida em pensamentos. Ele percebeu que algo havia acontecido entre os dois e quis entender. Letícia, hesitante, relatou o incidente com Aleph. — Eu... Eu fiz algo errado, não foi? — ela perguntou, a voz baixa, quase hesitante.
Daniel coçou a cabeça, pensativo. Compreendia a frustração de Aleph, mas não achava que Letícia tivesse agido de forma incorreta. Apenas… escolhera a palavra errada.
— Não diria que foi errado, Letícia — explicou Daniel. — A sua forma de agir não está incorreta, mas... depende muito da situação.
Ele deu uma pausa, tentando escolher as palavras com cuidado.
— Em vez de "agradecer", poderia ter dito "porque você é especial" ou "porque gosto de você". A sinceridade é sempre a melhor opção. Leia os livros que comprou, eles podem ajudar. Mas lembre-se: o mais importante é ser verdadeira com seus sentimentos.
Daniel olhou para os livros sobre a mesa, os títulos sugestivos prometendo desvendar os mistérios do amor. Letícia, seguindo o conselho de Daniel, mergulhou na leitura. A cada página, a cada nova definição de amor e paixão, uma compreensão profunda e libertadora a invadia. Ao terminar o último capítulo, Letícia enterrou o rosto dentro do livro, o coração batendo descompassado. Finalmente, entendia. Estava apaixonada por Aleph.