Um dia inteiro se passou sem que Letícia e Aleph trocassem uma única palavra. Aleph, perturbado e confuso, afastara-se, buscando refúgio em seus pensamentos. Letícia, consumida pela insegurança, mergulhou nos livros de romance, procurando respostas para seus próprios sentimentos e para a reação inesperada de Aleph.
Ao cair da noite, Aleph retornou à hospedaria, trazendo consigo a carruagem real do Reino do Inverno. Eles a haviam deixado para reparos em um vilarejo no início da jornada, optando por viajar discretamente para não chamar atenção. Agora, porém, a carruagem, com todo o seu esplendor e brasões reais, era necessária para a chegada de Letícia ao Reino do Outono. Aleph a havia recuperado utilizando um portal, garantindo que a princesa chegasse ao seu destino apropriadamente.
Daniel, que aguardava do lado de fora da hospedaria, ficou impressionado com os trajes de Aleph. O cavaleiro vestia o uniforme cerimonial dos Cavaleiros Reais do Inverno: uma túnica azul-escuro com detalhes dourados na longa capa, imponente e elegante.
— Uau! — exclamou Daniel, os olhos brilhando de admiração. — Onde conseguiu essas roupas incríveis?
— É o traje cerimonial dos cavaleiros — explicou Aleph, mostrando duas embalagens que carregava. — Trouxe um para você. Espero que sirva.
Os olhos de Daniel brilharam de empolgação.
— Um traje de Cavaleiro Real! Era um sonho se tornando realidade.
Correu para dentro da hospedaria para experimentá-lo. A túnica de Sir Ritz coube perfeitamente. Daniel rodopiou, admirando a capa esvoaçante.
— Ficou perfeita! — exclamou, radiante. — Mas e essa máscara? E o capuz?
— Os cavaleiros usam a máscara e o capuz em ocasiões especiais, como cerimônias e banquetes — explicou Aleph. — É uma forma de garantir a proteção da realeza sem chamar atenção. A máscara cobre o rosto, e o capuz oculta ainda mais a identidade. A regra é evitar contato visual com os convidados, a menos que seja solicitado.
Aleph, trajando o imponente uniforme cerimonial dos Cavaleiros Reais do Inverno, bateu levemente à porta de Letícia.
— Com licença, princesa — disse, ao entrar, após receber permissão. — Trouxe sua bagagem.
Letícia, surpresa ao vê-lo com aquele traje, recebeu a mala em silêncio. Inúmeras perguntas lhe vinham à mente – como ele conseguira o uniforme tão rapidamente? –, mas a lembrança do beijo e a vergonha a impediam de iniciar uma conversa. Aleph, após uma breve reverência, despediu-se, informando que terminaria os preparativos para a partida.
— Amanhã chegaremos ao Reino do Outono, princesa — disse, antes de se retirar.
Na manhã seguinte, Aleph e Daniel, já a postos, aguardavam Letícia. Aleph a conduziu até a carruagem, explicando que ele e Daniel seriam os responsáveis pela condução. A viagem, porém, foi surpreendentemente curta. Em um piscar de olhos, após um movimento preciso da espada de Aleph, eles atravessaram um portal, emergindo em uma paisagem completamente diferente.
— Mas… o quê…? — gaguejou Daniel, atordoado. — Quem é você, afinal? Um simples cavaleiro não teria esse poder!
— Logo você irá descobrir — respondeu Aleph, com um sorriso enigmático.
Haviam chegado à capital do Reino do Outono. Após se identificarem como a comitiva da princesa Letícia, aguardaram a autorização para entrar na cidade. Aleph abriu a porta da carruagem, anunciando sua chegada.
— Chegamos ao Reino do Outono, princesa — disse, com uma reverência.
Letícia, impressionada reconheceu que se tratava de alguma habilidade especial de Aleph. Com inúmeras perguntas na mente, Letícia lembrou-se de que precisava se desculpar inicialmente e, reunindo coragem, pediu que Aleph entrasse para conversar.
— Aleph, entre, por favor — pediu. — Precisamos conversar.
Aleph entrou na carruagem, e Letícia, com sinceridade, expressou seu arrependimento.
— Aleph, me desculpe se o ofendi de alguma forma — disse, encarando-o nos olhos.
Aleph, tocado por suas palavras, segurou-lhe a mão. Ia finalmente lhe contar a verdade, mas foram interrompidos pela chegada dos Cavaleiros Reais do Outono, que os receberam com honras e formalidades. A chegada da pretendente do futuro rei causou alvoroço, com todos ansiosos para ver quem era e admirar sua beleza.
Após os preparativos finais, Letícia, vestida elegantemente, entrou no salão principal do palácio. A decoração luxuosa e os detalhes requintados demonstravam a riqueza e o poder do Reino do Outono. Aleph, logo atrás, trajava o uniforme dos Cavaleiros Reais do Inverno, o rosto parcialmente oculto pela máscara e pelo capuz, conforme a etiqueta exigia.
Um longo tapete vermelho estendia-se pelo salão, conduzindo Letícia ao encontro de seu destino. A sala estava repleta de nobres, trajando suas mais finas vestes, seus olhares curiosos e avaliadores fixos na princesa. A atmosfera era carregada de expectativa e julgamento silencioso.
Letícia percorreu o tapete vermelho, cada passo ecoando na vasta sala. Seus olhos se fixaram no jovem sentado no trono, ladeado por cavaleiros e nobres. Ele tinha cabelos ruivos vibrantes e olhos de um azul acinzentado… iguais aos de Aleph. O choque percorreu seu corpo. Aquele era Ryuuji, o príncipe do Outono. Mas então… quem era Aleph?
Apesar da surpresa e da confusão que a dominavam, Letícia manteve a compostura. Não podia demonstrar fraqueza diante da corte. O príncipe Ryuuji se levantou do trono e caminhou em sua direção com uma postura confiante. Com um sorriso cordial, tomou-lhe a mão com gentileza e se apresentou.
— É com alegria que eu, Ryuuji, recebo a visita da princesa Letícia, do Reino do Inverno. — disse, com uma voz suave e acolhedora.
— É uma honra para mim conhecê-lo, Vossa Alteza. — respondeu Letícia, fazendo uma reverência elegante, escondendo o turbilhão de pensamentos que lhe assaltava a mente.
— Sua presença trará um novo ânimo ao nosso reino — declarou Ryuuji, com um sorriso encantador. — Espero que nossa união seja próspera para ambos os lados.
E, com uma galanteria impecável, levou a mão de Letícia aos lábios, depositando um beijo cordial.