Asura e eu estávamos na hospedagem nesse momento.
Era bem a noite, estávamos com a roupa de dormir e constantemente fechávamos os olhos, mas lembrávamos que teríamos que ficar de pé e bem acordados. Asura para combater o sono, sacou sua espada da bainha e começou a limpá-la.
Por outro lado, eu, estava andando de um lado para um outro. Estávamos acordados e inquietos desse jeito pois esperávamos umas pessoas conhecidas.
"Me desculpe pelo atrasado meu lorde."
"Não se preocupa... o que descobriram?"
Quem estava na minha frente, era Zerbst. Seus cabelos da cor roxa balançavam como a seda mais bonita que tinha. Toda vez que ela estava em minha presença, se ajoelhava me venerando. Já disse muitas vezes que não precisava daquela formalidade, mas eu não iria implicar só com algo bobo desse.
"Descobrimos que as rebeliões se concentram mais ao norte de Sagólia, como podes ver, aqui na entrada sul, é apenas uma cidade normal. Mas para o norte, realmente parece uma civilização primata."
"Entendo, as coisas estão ruins, não é?"
"Assim como mandou meu lorde, Zannith está fazendo de tudo para que eles não causem mais mortes do que causaram. A situação ainda é crítica, mas estamos tentando dar conta."
"Certo, fico feliz por esse relatório. Diga a Zannith que quando voltarmos, teremos algo em comemoração. Mas antes de você ir embora, quero te dar outro trabalho."
"Eu sigo suas ordens meu lorde."
"Quero que você fique de olho no aventureiro rank B, Eugene."
Quando eu disse isso, até Asura se espantou e virou para nossa conversa.
Eu disse anteriormente que não tinha mais tanta desconfiança dele. Mas ele ainda tem algo misterioso que quer esconder, algo como uma identidade secreta. Meus instintos dizem isso e não consigo ficar quieto. Se Zerbst, uma das minhas servas que mais confio, não conseguir achar nada suspeito nele, então Eugene realmente é muito gentil assim mesmo, sem pedir nada em troca. Caso ao contrário...
"E o que eu faço se achar algo suspeito nesse aventureiro?"
"Me diga imediatamente, não tente nada que te exponha, por favor. Enfim, obrigado pelo relatório da situação. Pode ir para sua missão."
Quando eu anunciei isso, Zerbst não estava prestando atenção.
Na verdade, ela estava olhando para atrás de mim. Lá estava Asura, com sua roupa de dormir, limpando sua espada tão delicadamente quanto um anjo. Não posso julgá-la, eu também faria a mesma coisa.
"Algo errado Zerbst-san?" Pergunta Asura.
"Ah, perdão. Não é nada Asura-sama. Desculpe meu lorde, vou cumprir com a ordem que foi me dada. Então se me der licença."
Assim, apressadamente, Zerbst saiu pela janela e sumiu de nossas vistas.
Zerbst ficou encantada com Asura, eu sabia disso. Afinal, quem não ficaria? Acho que Asura pode ser tão bela que chama atenção até do mesmo sexo. Ela continuou limpando sua espada, isso porque, bem de manhã, iriamos patrulhar a região que os goblins estão se habitando.
Eu achei melhor ir pela manhã, já que pode ser nesse momento que a formação deles trocam, e pode ser esse o ponto que queremos. Na hora que eles estiverem rotacionando posições, pegamos de surpresa e acabamos com todos eles.
Asura guardou a espada e já puxou as cobertas. Eu olhei para fora antes de fechar a janela. A informação de que o norte de Sagólia estava muito ruim, me dava calafrios. Eu sabia que era tudo por conta de minhas ações.
Fechei as janelas e andei até a cama para dormir.
...
"Zannith, eu trago novas ordens de vosso lorde."
"Kufufufu... digas então."
Dois seres de raças distintas se encontravam aos altos de um telhado de uma casa. Aquela era basicamente o ponto de encontro que esses dois seres combinaram para se encontrar e repassar as informações.
"Vosso lorde ordenou que você continuasse com sua missão atual, e pediu para que te avisasse que quando voltarmos teria uma comemoração no castelo."
"Kufufufu... Ele é muito gentil."
"E me deu outra missão. De vigiar um aventureiro rank B chamado Eugene."
"Kufufufu... Me parece que iremos seguir caminhos diferentes."
"Sim, pelo que soube, este aventureiro vive apenas na parte sul de Sagólia. Então minha missão será por lá."
"Kufufufu... Não se preocupes muito, posso lidar com a situação sozinha."
"Tem certeza? Sei que você é um dos Reis Demônios, mas eu acho que a resistência e a paciência sejam iguais para todas as raças."
"Kufufufu... Tens razão, mas eu consigo dar conta disso sim."
"Bom, espero que sim."
Zerbst novamente ficou de pé, pronta para ir em direção a sua nova missão. Mas antes de ir, olhou para trás e ainda viu Zannith sentada nas telhas com os cabelos balançando por conta do vento frio da noite.
"Agora que parei para pensar, essa é a primeira missão que vou fazer separada de você... Desde que vosso lorde nos uniu como uma dupla, sempre fizemos a missão em conjunto. Só uma curiosidade mesmo."
Zerbst disse algo vergonhoso para sua companheira de trabalho, então já estava pronta para partir. Quando...
"Fazer uma missão separada apenas não queres dizer que vamos ficar separadas para sempre. Faça como deve ser feito e eu estarei aqui te esperando."
Zerbst ficou surpresa, mas não conseguiu virar o rosto para sua companheira de trabalho. Era a primeira que ela ouviu Zannith dizer algo sem começar com seu famoso "Kufufufu". Foi impressionante de ouvir.
...
Era bem de manhã.
O sol começava a nascer, mas já tinha iluminação o suficiente para não precisar de uma lamparina de mão. O céu estava amanhecendo tingido de um laranja bem bonito. Como as árvores tampavam a visão do céu, pequenos raios de luz fracos, penetravam entre as folhas.
"Eles talvez vão começar se mover em breve."
"Tem razão."
Asura e eu estávamos em uma noite em cima de uma colina. Em baixo dessa colina, estava uma vila abandonada. Assim como Eugene disse, eles estão se abrigando aqui. Os goblins, criatura de estatura baixa, orelhas pontudas e esverdeados, estavam usando a vila como uma base.
Alguns deles estavam na frente da vila, segurando uma lança, como um vigia. Outros estavam em cima das casas da vila, com arco e flechas nas costas, olhando um pouco cansativamente.
"Se você estiver certo Aros, o turno desses goblins devem acabar daqui a pouco. Olha como eles já estão sonolentos. Mesmo que não troquem, seria um bom momento, já que com o sono, eles lutariam mais lentamente."
"Sim, sim. Veremos que vai acontecer."
"Mas ainda não identificamos onde estão os sobreviventes dos sequestros."
"Se eles sobreviveram mesmo, eles estão em algum lugar dentro dessas casas."
Quando menos esperávamos, aconteceu o que previmos.
"Lá está!" Exclamou Asura.
Os goblins que estavam quase dormindo em seus postos, foram trocados por goblins que pareciam mais energéticos. As lanças definitivamente não foram trocadas, nem o número de quantos vigias tinha, mas uma coisa mudou.
Os vigias anteriores estavam apenas com pequenas malhas de roupas, já estes, além disso, tem placas de armaduras desgastadas. Com certeza roubado dos aventureiros que mataram e torturaram. Isso queria dizer que estavam preparados para alguma coisa. Aros não sabia dizer o que poderia ser.
"Aros! Olha ali."
Asura apontou para muito a frente da vila.
Lá pudemos ver algo inacreditável. Um grupo menor de aventureiros caminhava de frente até a vila dos goblins. Pelo que parece, eles já estavam alerta, sabendo para onde iriam. Mas ainda não conseguia acreditar. O que eles estavam pensando em confrontar os goblins de frente?
Para quem jogava RPG, como eu, sabia que goblins eram seres fracos. Mas quando muitos se juntavam, sua barra de HP (Health Points) se diminuía drasticamente e muito mais rápido. Nem consigo imaginar como deve acontecer esse massacre na vida real.
Eu olhei para o lado para Asura e ela parecia estar preparada para descer e ir ajuda-los, mas não podíamos estragar nosso reconhecimento.
"Se acalma Asura, vamos ver o que eles têm primeiro, se a coisa ficar feia, daremos um pequeno empurrãozinho para eles escaparem. Entendido?"
"Tudo bem."
Ela relaxou e tirou a mão da espada.
Assim começamos a observar o grupo de aventureiros. Naquele momento, eu entendi do porque os goblins dessa nova vigia, continha armaduras. Com certeza aquele era o horário em que os aventureiros começavam a chegar.
"Vamos mata-los pessoal!" Diz o líder do grupo.
"Sim!" Diz todos em uníssono.
O líder retirou uma espada de pedra comum, gastada, porém afiada recentemente. Além do líder, continha mais três jovens aventureiros. Um tinha uma grande espada, assim como Reaiger usava. O outro tinha um cajado, com certeza era um suporte mágico da equipe e o último também tinha uma espada.
Eles entraram em formação. Os dois de espada menores, ficava atrás do usuário da grande espada, com certeza porque esse servia de Tank. O mago foi o único que ficou mais atrás, ele era da retaguarda.
O grupo se aproximou até os goblins terem visão deles. Os vigias rangeram os dentes, mas estavam sorrindo, como se estivessem ficados felizes que encontraram suas próximas presas. Os goblins que tinham arco e flecha miraram nos aventureiros rapidamente. Um dos que estava guardando a entrada, correu até perto de uma casa e tocou o sino.
Aquele era o alerta para que os outros goblins soubessem que tinham gente atacando. Mas o grupo de aventureiros não se abalaram por conta disso.
Em um instante, os goblins arqueiros atiraram suas flechas no grupo. Rapidamente o mago conjurou sua magia e os bloqueou com uma magia de defesa. Esse foi o ponto de largada, para que a vanguarda pudesse atacar sem se preocupar.
"AHHH!"
Gritou o líder, avançando com tudo para cima dos goblins a sua frente. Como eu suspeitava, assim que o sino foi tocado, muito mais goblins saíram das casas e das cabanas que tinham em volta. Esse grupo estava correndo um certo perigo.
"Não se abalem! Eles são criaturas fracas!"
O líder deu o primeiro golpe no goblin a sua frente e foi um golpe tão certeiro que aquele pobre ser miúdo não aguentou e caiu no chão já morto. Outros dois goblins vinham de frente para eles, duas criaturas correndo prontas para saltar.
O jovem da espada maior, percebeu esse movimento e avançou para frente dos outros dois usuários de espadas para lhes proteger.
"Arghhh!" Os goblins rugiam em um som agudo.
A espada grande bloqueou os dois goblins que, atordoados pelo choque das lâminas, se desiquilibraram. Esse foi o momento perfeito para que os outros dois usuários de espadas, o cortassem violentamente.
"Eles estão se dando bem." Disse Asura.
"Por isso falei para esperar... mas vamos ver até quando eles aguentam."
Os goblins pareciam não diminuir, mas o grupo seguiu lidando muito bem. Provavelmente eles treinaram essa estratégia e colocaram para funcionar naquele momento. Só havia um erro, que acho que pode ser crucial para eles perderem.
"Morram!" O líder gritou.
Em um golpe de sua espada, ele cortou duas cabeças de goblins. Essa parecia ser uma conquista boa, já que ele sorriu alegremente depois do golpe. O jovem que tinha a espada gigante, mais bloqueava os ataques do que acertava neles. O mago parecia estar bem por enquanto.
Mas de repente...
"Ei! Minha mana está acabando." Diz o mago.
"Aguente mais um pouco!"
"Minha força também está acabando."
Esses eram os comentários dos jovens. Isso era óbvio. Não havia como manter a consistência por horas e lutar com todos eles. Esses jovens são humanos e certamente se desgastariam mais rápido. Depois de um momento, os golpes pareciam mais forçados do que estratégicos.
Os goblins também perceberam isso e começaram a vir mais agressivamente.
"Não estou aguentando mais."
"Aguente."
Asura já estava com a mão na espada e olhava para eles fixamente. Não sabia sua expressão por causa da máscara, mas com certeza ela estava franzindo a testa.
Não demorou muito, para que a formação deles se desintegrasse. O mago já estava se aproximando da vanguarda, o jovem da espada grande estava um pouco mais longe e os outros usuários de espada estavam golpeando sem muita força. Até que...
"ARHHHHHHHHH!!" O mago gritou.
De longe, pode ver que os goblins atiraram adagas na perna do mago. Ele se ajoelhou no chão com a dor, e não só por conta disso. A adaga estava envenenada, com se ele não procurasse ajuda em algumas horas, ele vai estar morto.
"Agora Aros vamos!"
"Espera."
"O que? Eles vão morrer!"
"Não há necessidade de nós nos expormos assim."
Como o mago havia sido derrubado, a proteção também foi. Agora os goblins arqueiros estavam com uma abertura para atacar os usuários de espada da vanguarda. E foi isso que obviamente aconteceu. Os arqueiros miraram nos usuários de espada e os atingiram.
"ARHH!"
"AAHHH!"
Eles gritaram de dor.
Asura pegou no ombro da minha armadura e estava me olhando muito séria, estava me dando até medo. Mas eu entendia o que ela queria fazer. Se fosse eu, deixaria eles morrerem desse jeito mesmo. No entanto, Asura era o completo oposto de mim, ela queria ajudar aqueles pobres aventureiros.
"Aros, agora." Ela dizia em um tom sério.
Eu peguei umas pedras no chão, Asura não entendeu. Com minha maior força, joguei todas elas para cima, em direção aos goblins. Depois, estendi minha mão em direção as pedras e conjurei uma magia de forma rápida. As pedras em seguida, começaram a brilhar em vermelho, depois de se contorcerem, elas grandes espinhos.
Assim que pisquei os dedos, todos os espinhos caíram em cima de todos os goblins. Todos eles foram mortos brutalmente a cada espinho que penetrava em seus corpos, se explodindo violentamente em sangue. O grupo de aventureiros ficou assustado, mas eles entenderam. Entenderam que aquele era o momento de fugir.
O líder pegou o mago nos braços e correu na direção oposta. Os outros integrantes do grupo o seguiram, felizmente, todos conseguiram fugir. Soube depois que o mago conseguiu retirar o veneno do corpo.
Depois do pequeno massacre que causamos, Asura se levantou da moita e começou a andar na frente, até que ela parou e me olhou por cima do ombro. Eu não sabia o que ela queria com aquilo.
"Você não iria salvá-los, não é?... Mesmo dizendo que iria dar um empurrãozinho para fugirem, na verdade você iria deixá-los morrer lá."
Asura apenas disse isso e seguiu em frente.
Com certeza ela estava brava. Ela não disse nenhuma mentira. Eu não tinha intenção de salvá-los. Na verdade, iria deixá-los morrer para me mostrar onde os goblins levavam os sobreviventes e os mortos.
Parece que eu não mudei...