"Meu lorde pediu para te verificar hein?"
Em uma mesa isolada em uma taverna movimentada, estava uma figura com uma túnica preta que ocultava sua presença. Para se disfarçar melhor, pediu uma caneca de cerveja que todos estavam tomando.
Sua missão obviamente não era ficar daquele jeito. Nessa mesa praticamente oculta, ela olhava para um jovem. De cabelos alaranjados claros e um físico adequado, ela olhava para um aventureiro. Ele, era Eugene, aventureiro rank B que Aros pediu para Zerbst investiga-lo. Analisando presencialmente, ela percebeu que era um jovem bonito, mas em sua cabeça ela afirmava que não era tanto quanto seu mestre.
Esse jovem conversava normalmente com os outros em sua própria mesa. Zerbst podia ouvir a conversa, mas nada suspeito fora relatado. Eles falavam sobre o grupo que eles criariam para derrotar os goblins, exatamente como Aros havia citado.
"Não parece ter nada estranho nele ainda..." Pensou Zerbst.
Eugene se levantou e se despediu dos colegas que estavam na mesa. Essa era a hora que ele sairia daquela taverna. Zerbst ficou esperando até ele sair de lá, talvez alguém soltaria uma informação sobre ele sem querer.
Mas nada ocorreu.
Assim, ainda encapuzada com sua túnica preta, ela saiu da taverna e foi atrás de Eugene pelas sombras. Por enquanto, nada suspeito tinhas seus movimentos ou lugares que frequentavam. Era um aventureiro comum. Durante seu percurso, ele passou por três tavernas diferentes e as vezes saia acompanhado.
As conversas eram sempre as mesmas, sobre o extermínio dos goblins que planejaram. Mas Zerbst tinha em sua mente que quanto mais comum ele parecesse, mais suspeito ele era. Sendo um aventureiro rank B, definitivamente ele teria que ter um equipamento melhor ou agir mais corretamente.
Ele ainda parecia um novato aos olhos de Zerbst.
Ela o seguiu por várias horas, mas nada de tão grandioso estava acontecendo. Eugene apenas caminhava por vários lugares e conversava como uma pessoa normal, com assuntos normais. Não havia nada de suspeito.
"Droga, não descobri nada."
...
Será que ela ainda está brava comigo?
Enquanto voltávamos do reconhecimento, Asura não falou muito comigo. Apenas dizendo frases necessárias, ela quase não olhou para mim o caminho inteiro da volta.
Nesse momento estávamos de volta na hospedagem. Eu fiquei encarregado de enviar a Eugene um relatório escrito da situação, então estava sentado em uma cadeira em uma pequena mesa de madeira, escrevendo o relatório. Asura conferia seu equipamento com um rosto sério.
Com certeza a minha atitude deve tê-la a irritado, preciso pedir desculpas em algum momento. O problema que não sou bom nisso, nem um pouco na verdade. Quando eu era criança no outro mundo, eu não sabia muito bem pedir perdão aos outros... Imagino que eu não tenha ganhado essa habilidade do nada.
.
.
Momento pensamentos imaturos de Aros:
1x Tentativa:
"Asura me desculpe, mas eu tinha que fazer aquilo."
"Não fala mais comigo."
Asura em sua versão chibi, recusa o seu pedido de desculpas virando seu rosto.
Resultado: Falhou.
2x Tentativa:
"Asura, me puna do jeito que você quiser, certamente fiz um ato ruim."
"Eca, pervertido."
Asura desta vez, chuta Aros que ajoelhava perante sua presença.
Resultado: Falhou.
.
.
"Aros, não se esqueça de escrever sobre os aventureiros de hoje."
"Hã? Por que?"
Própria Asura fez eu voltar a realidade depois de meus pensamentos imaturos para aquela situação.
"Não por conta dos aventureiros, quero que relate o que deu certo e o que deu errado na estratégia deles. Com isso, Eugene vai conseguir montar uma estratégia sem erros. São muitas vidas em jogo dessa vez... Claro, você não se importa com isso."
Asura dizia tudo seriamente. Ela havia tomado atitude de uma líder nesse momento, já pude perceber que ela não estava necessariamente de bom humor. Eu olhei para trás para encará-la, e mesmo com uma cara séria — claramente com raiva de mim — seu rosto era belo.
"Você ainda está brava, não é?"
"É rude tentar decifrar as emoções das mulheres e dizer em voz alta." Ela me repreendeu.
"Asura." Eu disse em um tom sério.
Ela me encarou também. Não foi ela que disse que não se importava com as coisas ruins que eu fizesse? Claro que eu não podia abusar dessa sua boa vontade, mas desta vez eu senti que podia usar aqueles aventureiros, para nos mostrar onde os "sobreviventes" estavam.
"Além de quase deixar os aventureiros morrerem, você também desconfia do homem bom que é Eugene. Não sei o que você vê de suspeito nesse aventureiro, mas certamente está totalmente errado! Caramba Aros, achei que pelo menos depois do incidente você tivesse tirado esse lado mal de você."
"E você acha que eu sou um vilão?"
"Preciso responder? O jeito de como agiu, de como está agindo nesse momento desconfiado..."
"..."
Eu virei a cabeça para o papel e comecei a escrever, ignorando o rosto raivoso que Asura estava fazendo para mim. Definitivamente eram palavras duras para eu ouvir, não que ela estivesse errada. Ela não precisava aceitar tudo que eu fazia. Na verdade, Asura estava mais do que certa em questionar minhas ações.
Se tem algo que venho me arrependendo durante o tempo, foi das crueldades que fiz durante o incidente. Quando eu matei os jovens aventureiros demi-humanos, várias vezes fiqueis sem dormir com ânsia e enjoo. Todo esse problema se desenvolveu posteriormente.
"Entendo..." Eu disse em resposta a Asura.
Por conta de ações maléficas, talvez ela não esteja ao meu lado o tempo todo. Asura era uma boa jovem, ela não deveria acompanhar um cara como eu que nem mesmo contou o seu verdadeiro segredo para ela. Como Asura reagiria se eu dissesse que vim de outro mundo?
De repente, meu pescoço foi envolto por braços finos e brancos.
"Eu não quero ficar com raiva de você... nem consigo ficar. Eu disse a você que te acompanharia mesmo tendo ações ruins, mas isso tem que ter um limite Aros. Eu sei o quanto você se arrependeu de tudo que fez e tudo que vem sofrendo por conta disso. Você acha que não escutei todas as noites você se levantando para ir lá fora se acalmar? Eu vou estar aqui Aros, eu vou estar aqui para te ajudar a passar esse momento difícil. Mas preciso que colabore também."
Asura me abraçou por trás. Seus cabelos sedosos e esbranquiçados caíram sobre minha visão e senti seu queixo apoiar sobre minha cabeça.
Eu entendia o que ela estava dizendo. Asura quer me acompanhar, mas eu também preciso mudar. Não sei quando foi que tive essa personalidade agressiva e violenta, eu realmente não era assim antes. Sinto que posso mudar para como eu era antes.
"Então eu vou mudar... eu vou mudar para que todos nós possamos viver mais tranquilamente. Eu, você, Lola e Tess..."
Quando disse isso, eu segurei o braço de Asura que estava envolto em mim.
Eu me virei para olha-la mais de perto, mas de repente fiquei corado. O rosto branco como a neve que ela tinha, estava alguns centímetros do meu. Logo de primeira, consegui sentir seu cheiro doce e leve. Seus olhos carmesins me traziam a uma dimensão única, seus lábios rosados pareciam tão frágeis que tinha medo de chegar perto.
Asura também percebeu o quanto nossos rostos estavam próximos e corou. Mesmo que nós estivéssemos com o coração acelerado, as bochechas quentes, não paramos de nos encararmos. Ela estava aproximando mais seu rosto enquanto eu não sabia o que fazer.
Como? Esse vai ser meu primeiro beijo?
Eu não estava preparado mentalmente para esse dia, mas sabia que aconteceria alguma hora. Esse momento especial ser com uma garota que amo tanto, definitivamente aquece meu coração.
Enquanto seu rosto aproxima ela vai fechando os olhos pouco a pouco. Consequentemente eu também. Eu já podia sentir o seu calor bem próximo e meu coração não parava de acelerar.
"Meu lorde eu trouxe o relatório."
"Ah!" Disse eu e Asura em uníssono.
Fomos interrompidos.
Assim que abrimos nossos olhos, Asura um pouco envergonhada se distanciou um pouco. Eu olhei para o lado e Zerbst havia adentrado a janela muito rapidamente, tanto que não conseguiu ver o momento intimo que eu estava.
Droga...
"O relatório? Ah sim, pode me dizer."
"Infelizmente esse tal Eugene não teve nenhum movimento suspeito. Ele apenas foi passando de tavernas a tavernas, conversando sobrea aquela tal missão. Eu o acompanhei até sua hospedagem e realmente não parecia nada suspeito."
"Hm... Entendo... Então minhas suspeitas estavam erradas."
Eu olhei para Asura e ela cruzou os braços e fez uma cara convencida. Sim, mais uma vez ela estava certa. Em minha mente, realmente desisti de desconfiar das pessoas. Se Eugene não era suspeito, então realmente eu estava ficando paranoico com essas coisas.
"Mas ainda tem uma coisa que eu descobri aos arredores dos bares que ele frequenta."
"Hm? O que?"
Zerbst se aproximou de mim e disse em meus ouvidos.
Se aproximando muito de meus ouvidos, pude sentir seu cheiro característico. Zerbst era muito bonita, mas ela não me deixava tão apreensivo quanto era com Asura. Era realmente estranho de como mesmo outra mulher bonita se aproximando do meu rosto, não tem o mesmo efeito de quando Asura se aproxima.
Eu olhei para ela quando estava pensando nisso, e não tinha sido uma boa ideia. Asura estava com as bochechas infladas e com os braços forçados para baixo. Será que ela estava se sentindo chateada por ser excluída da conversa?
"... o cheiro... mrmrmrmrm... é dele certeza."
Zerbst ia sussurrando as palavras no meu ouvido e não pude acreditar no que eu ouvi. Assim que Zerbst se distanciou novamente eu coloquei a mão na testa e comecei a rir um pouco.
"Caramba, hahaha... vazo ruim não quebra mesmo."
"Hm? O que aconteceu Aros?" Diz Asura.
"Kisirel... ele voltou."
"Hã? O antigo rei de Carius? Mas você disse que..."
"Explodi a cabeça dele? Sim, porque eu fiz isso. De algum modo ele sobreviveu, Zerbst conseguiu sentir rastros dele por aqui. Afinal, quem reconheceria ele a não ser sua antiga secretária?"
Zerbst se ajoelhou como sempre fazia e ficou de cabeça baixa.
Acho que consegui descobrir quem é o líder do grupo rebelde no norte de Sagólia. Inacreditável que aquele cara tenha sobrevivido. Sua morte foi algo que não me arrependi nem um pouco, se voltasse no tempo, certamente faria tudo de novo. Mas agora eu precisava me acalmar, se ele sobreviveu aquilo, tem algo por trás.
Por sorte, havia lembrado de algo.
"Zerbst, quem era aquela pessoa que salvou ele naquele dia? Era... Katia, não é?"
"Katia era uma das servas que Kisirel mais confiava, no dia em que meu lorde atacou o reino Carius, Katia estava em uma missão longe. Por algum motivo aparente, ela conseguiu chegar naquele momento."
"Entendo... você sabe como esse cara pode estar vivo ainda?"
"Ainda não meu lorde, talvez não fora Katia quem o salvou. Ela era uma maga com maestria em fogo, assim como Asura-sama. Mas não acho que ela possa reviver ou fazer os corpos voltarem no tempo como meu lorde faz."
"Eu acredito que eu possa ser mais forte que essa tal de Katia." Asura começou a falar. "Mas ela tem muita mais experiencia em missões do que eu, se nos esbarrarmos, com certeza vamos perder."
"Me desculpe Asura-sama, mas por que falas isso?" Diz Zerbst.
"Está na cara que Kisirel é o líder da rebelião que é contra Aros, uma hora ou outra, ele vai perceber que estamos aqui. Se isso acontecer, ele vai mandar alguns reforços para acabar com a gente... E se eu enfrentar Katia, posso acabar perdendo."
"Asura, tem alguma coisa que você queira me contar? Sobre sua força?"
Eu perguntei.
Não que eu duvidasse da força de Asura. Mas de repente ela me pareceu tão forte depois do acidente que realmente queria perguntar a ela sobre a origem de sua força. Eu não pude ver uma batalha dela antes do incidente, mas se ela tivesse essa força antes do ataque no distrito comercial, Asura não teria problemas em derrotar aqueles soldados e sair ilesa.
Quando eu perguntei, Asura virou o rosto.
"Na verdade, tem..."
"O que? Sério?"
"É... eu não queria esconder isso de você, juro, eu iria te contar."
"Eu sei disso." Eu tentei tranquilizá-la.
"Eu descobri durante o incidente. Belphegor, é um espirito que habita meu corpo. Ele distribuiu um pouco de seus poderes comigo quando eu fui ferida pelo rei demônio, eu senti um poder bem diferente e mais forte. Depois disso eu fiquei mais forte."
"Espera, Belphegor? Dos dragões elementais? Das lendas?" Eu perguntei rapidamente.
Durante minha aula particular que tive com Aros Original, ele me falou sobre as lendas dos dragões elementais. Eram espíritos que habitavam corpos de pessoas com potencial para servir de herdeiro. As pessoas que recebiam os dragões espíritos em seus corpos, tinham mais facilidade em se tornar um mestre naquele elemento.
Se Asura realmente tinha Belphegor em seu corpo, isso queria dizer que ela ainda tinha espaço para se tornar mais forte do que já é. Se ela for forte como eu, seremos o casal imbatível! Opa, espera, ainda não somos casados.
Mas já me deu um sonho.
"Então você tem maestria do elemento fogo por conta do Belphegor, não é?"
"Sim..."
"Isso é ótimo, mas... não é o Belphegor que te está dando toda essa força. Você já é forte por natureza, Asura. Se o dragão elemental de fogo, habita em você, é porque você tem um potencial para se tornar mais forte do que eu."
Ela olhou para mim novamente e sorriu.
"É acho que sim."
Asura parecia extremamente aliviada de contar algo como isso para mim. Já que ela tirou os pesos de meus ombros uma vez, quero retribuir o favor quantas vezes eu puder. Ela era muito especial para mim agora, eu precisava apoiá-la em qualquer coisa que eu pudesse. Apoiá-la nos momentos em que estivesse com raiva, que nem hoje — apesar que fui eu quem foi reconfortado no final. Apoiá-la em sua ascensão de ser a mais forte.
E pode ter certeza, eu serei aquele que estará ao seu lado sempre.