"Tenho certeza que ele deve estar planejando alguma coisa."
A voz grave ecoava assustadoramente nas paredes frias. As pedras que compunham as paredes estavam gastados o suficiente para cada dia o chão encher de novo de poeira. As velas acesas em cima de um pequeno prato vibravam com a voz grave e assustadora.
"Por que acha isso mestre?"
"Aros Silverstein deve seguir um senso de justiça bem forte. Se não fosse por isso, ele não teria feito metade das coisas que aconteceram naquele incidente trágico."
"Sim."
"Ele está planejando algo, tenha cuidado."
"Me desculpe a ignorância, mas imagino que ele não tem muito o que fazer. Sua punição o impede de deixar de seu reino, então duvido muito que ele viria pessoalmente."
"Aros Silverstein parece um homem astuto, ele deve ter um jeito de conseguir acabar com a rebelião. Como sua própria penalidade diz, Aros Silverstein não pode sair de Lálario, mas não impede de que outra pessoa não possa."
"O mestre acha que ele possa ter enviado pessoas para cá?"
"Bom, você vai descobrir em breve do que estou falando."
O homem que conversava com esta voz grave, se ajoelhava na presença de um pequeno globo azul. Toda vez que a voz assustadora falava, o globo piscava em sincronia com suas palavras.
A atmosfera do local combinava com a voz sinistra. Um tapete vermelho era estendido no chão até o pedestal onde o globo azul estava apoiado. O homem ajoelhado no tapete vermelho, abaixava sua cabeça. Atrás deles, havia mais quinze pessoas com a mesma vestimenta, na mesma posição.
"Mas peço que não faça nenhum momento desesperado, isso pode comprometer o objetivo. Só recomendo que fique atento."
"Certo mestre, faremos de tudo que você se torne o ser mais forte vivo na terra."
"Adoro sua lealdade, espero ouvir bons resultados de você..."
O homem que até então estava ajoelhado, se levanta. Ele retira o capuz que estava em sal cabeça e olha para o globo com um grande sorriso no rosto. Entendo a mensagem de seu mestre, aquele homem sabia essa era sua oportunidade de ouro.
"Até mais, Kisirel."
Assim o globo azul para de emitir a luz.
...
Minha ideia inicial ao vir a Sagólia era apenas para descobrir mais sobre essa tal rebelião e tentar acabar com ela, já que está causando problemas de mais. Nunca pensei que aqui serviria também para um... encontro?
"Por aqui!" Asura segurando minha mão, me puxa para outra loja.
A loja que Asura me arrastara era novamente uma loja de poções. Não sei porque passar por tantas, se em Lálario também havia muitas, mas decidi não questionar tanto. Ela olhava cada poção em todos os detalhes, levantando o frasco, olhando em baixo e o chacoalhando.
"Olha essa aqui Ar- Greed!" Era difícil para ela, se acostumar com o novo nome.
"Hm... qual é a diferença?"
"O que? Você não vê? Essa aqui parece ser bem mais eficaz! Olha a coloração diferente que ela tem, será que é muito caro?"
"Mas para que serve essa."
Asura virou-se para mim e colocou os braços em sua cintura.
"Caramba, já te expliquei! Isso aqui são temperos, T-e-m-p-e-r-o-s, preciso soletrar?"
"Não, não, me desculpe... Mas é que na minha cabeça não entra que você joga poções nas comidas."
"Por que? Vai parar de comer só porque revelei meu segredo?"
"Nunca faria isso majestade, sua comida é ótima, continue cozinhando para mim por favor." Brinquei, me curvando para Asura.
Ela cruzou os braços e no fundo dos seus olhos escondido pela mascara, pude reparar que ela não gostou nem um pouco da brincadeira.
Eu não duvidava de Asura, a comida que ela me servia todo dia era deliciosa. Mas descobrir que ela joga líquidos mágicos na comida como tempero me arrepiava um pouco. Será que Asura me transformaria em um sapo?
.
.
Momento pensamentos imaturos de Aros:
Asura mexia em um caldeirão enquanto vestia um chapéu de bruxa. Com um pedaço de madeira, ela rodava o liquido de uma cor meio duvidosa.
"Aqui, beba."
Aros bebe todo o liquido em uma vasilha, assim que ele termina, arregala os olhos e uma pequena explosão de fumaça acontece.
"croac... croac!"
Aros havia virado um sapo e de característica, sua capa azul em miniatura estava em volta de seu pescoço.
"Só vai retirar a maldição beijando somente a mim, eu, a mulher na qual mais ama."
.
.
No fim, Asura levou duas novas poções.
Por mais que seja difícil de acreditar, aqui neste mundo eles conheciam um objeto bom que era a sacola. Como eu tinha que me comportar como um cavaleiro, segurei todas as sacolas para Asura. Era estranho entrar em todas as lojas com toda aquela armadura parruda, muitas pessoas olhavam para mim.
"Ah, eu me diverti." Diz Asura.
"Eu também, foi um bom passeio."
Paramos em um restaurante que ficava naquele pequeno distrito comercial. Eu soube por Zannith que o centro comercial mais movimentado era mais para o norte, justamente onde se concentravam as rebeliões, por isso que não fomos por lá.
Já havíamos parado de comer e só estávamos nos enchendo de bebida. Aquele estabelecimento era tranquilo, o restaurante de Asura era mais cheio de clientes. Lógico, por conta daquela comida, todos voltavam.
"Hoje a noite vai ser conturbado, não é?"
"Um pouco, espero que aguente, talvez vamos passar horas."
"Não se preocupa, em missões importantes assim, eu não durmo tão facilmente. Mas se eu dormisse, você me levava para a hospedagem no colo?" Ela colocou o dedo indicador na boca — da máscara.
Ela estava me provocando.
"Mas enfim, eu decidi passear um pouco para que a gente pudesse relaxar. Pode ser que nesta missão dê algo errado e quero que seja mais fácil para a gente se recuperar."
Então... ela quis em um encontro apenas para a gente relaxar?
Eu não sabia o que dizer, Asura com certeza foi quem tomo iniciativa desta vez. Eu queria esconder meu rosto em algum lugar, mas lembrei que o elmo já estava desempenhando esta função. Desde que saímos de Lálario, eu queria ficar mais próximo dela, estava até fazendo planos.
Parece que Asura também teve a mesma ideia.
"Obrigado Asura, com certeza vamos lembrar desse dia em nossos corações, não é?"
"Sim."
Exatamente naquele momento, parecíamos um casal de verdade.
Eu ainda tinha dificuldades de explicar o que exatamente éramos. Não fiz um pedido de namoro para Asura, apenas começamos a nos relacionar naturalmente. Era difícil dizer se realmente éramos namorados ou apenas amigos próximos. Mas eu sabia que não era essa última opção.
Quando tive uma das ações mais patéticas de minha vida, que foi chorar na frente da mulher que amo, aconteceu algumas coisas. Basicamente [omitido] e foi o ato que mais nos fez próximos.
No dia anterior, quase nos beijamos pela primeira vez. Sem contar que no castelo, dormimos na mesma cama, mas por conta de nossos trabalhos puxados, não conversávamos muito. Era um cansaço que quando deitávamos na cama, nossos corpos eram amaciados com um belo colchão e o sono vinha imediatamente.
Eu preciso... dar um passo a mais.
De repente a porta do restaurante se abre um pouco brutalmente.
Plaack!
Quando olhamos para porta, lá estava um grupo de pessoas encapuzadas de preto. Elas pareciam suspeitas, tanto que eu e Asura agarramos o cabo das espadas por instinto. No momento pensei que era um anuncio de assalto, mas nunca havia presenciado um aqui neste mundo então não acreditei muito.
"Não precisam ficar de guarda alta, não estamos aqui para machucá-los. Muito pelo contrário! Estamos aqui para pedir apoio a vocês para a segurança de nossa cidade!"
As pessoas encapuzadas se aproximaram mais para o centro do restaurante, para pegarem a atenção de todos.
"Todos sabem das atrocidades que Aros Silverstein cometeu meses atrás! Ele cometeu muitos crimes. Atacou cidades e matou inocentes! Mas ele se safou de uma punição mais severa. Vocês estão de acordo com isso?"
Eles eram... da rebelião contra mim?
Todos se entreolharam quando o homem encapuzado falou. Elas cochichavam algo como "Tem razão", "Foi uma tragédia horrível...". Aquilo me deixou desconfortável um pouco. Afinal, eles não estavam errados.
"Não concordam, não é? Aquele homem solto é um perigo para todo nosso continente! Não sabemos quando ele pode ter um ataque de fúria novamente. Odeio admitir isso, mas Aros Silverstein é forte, ele derrotou os reis demônios. É por isso que precisamos temer ele e nos juntar para derrubá-lo!"
Todos que estavam ali presentes olharam para o grupo encapuzados e tentaram desviar os olhares. Certamente eles tinham medo de expressar sua opinião sobre assunto. Mesmo que esse grupo fale desse jeito, parece que muitas pessoas já tem medo de mim.
Enquanto eu ficava com os pensamentos vazios e solitários, eu senti um calor na minha mão e quando vi, era o calor da mão de Asura. Aquilo sem dúvidas me reconfortou, eu podia me levantar naquele momento por estar melhor. Mas ainda queria ouvir o que eles tinham a dizer.
"Então pedimos para que se juntem a nós, se tivermos mais pessoas contra Aros Silverstein, talvez o nosso rei pare de ser tão hesitante e elimine de vez aquela escória de ser humano! Muito obrigado pela atenção."
Assim, o grupo deixou estabelecimento depois de sua declaração dramática.
Passou algumas horas e saímos do restaurante. Asura ainda estava em choque da palestra que o grupo fez, mas toda hora ela agarrava minha mão para ver se eu estava bem. Esses cuidados vindos de uma mulher bonita não têm preço.
"O que foi?" Ela disse.
"Eles começaram a se mover, Asura..."
"Hm? Como assim."
"O Kisirel, ele sabe que estou aqui."
Quando olhei para Asura, mesmo que ela estivesse por baixo de uma máscara, eu pude ver seus se arregalando. Esse era o medo que nos dois tivemos esse tempo todo de viagem. A única coisa que não podia acontecer nessa viagem, era sermos descobertos.
...
Era a noite.
Estávamos na taverna onde o grupo se reunia para discutir estratégias. Eugene já tomou a frente como líder, leu o meu relatório na frente de todos e abriu o mapa na mesa redonda da taverna. O dono daquele lugar parecia não se importar com a bagunça que fizemos, tanto que fechou a taverna apenas para a gente.
"A única coisa que precisamos descobrir, é o local onde estão as pessoas torturadas e os sobreviventes. E isso, teremos que descobrir durante o nosso ataque a vila."
"Certo." Diz todos em uníssono.
"Ótimo, com o relatório de Greed-san, podemos fazer uma formação onde nos beneficiamos. Sabemos que um grupo tentou atacar o lugar na hora do reconhecimento e Greed-san conseguiu ver tudo que deu certo na estratégia deles e o que deu errado."
"Aqui temos vinte e dois aventureiros, teremos que fazer formações em duas equipes." Diz um aventureiro que parecia ser mais experiente.
"Isso mesmo, formaremos duas equipes, a equipe A e a equipe B. AS pessoas da equipe B serão responsáveis por dar mais suporte na equipe A."
"Então quem vai ficar na equipe B basicamente serão magos?"
"Não só eles, precisamos de espadachins também, para proteger os magos de darem suporte. Para isso precisamos de toda gente que se voluntariar."
Os aventureiros pareciam todos interessados em entrar na equipe A. Essa seria a equipe com mais ação e esses aventureiros cresceram querendo isso, o destaque. Eu não me importaria em entrar na equipe B, isso na verdade seria ótimo, assim não me destacaria tanto e não comprometeria meu disfarce.
Como eu imagino, Eugene vai entrar na equipe A para liderar lá de frente. E eu não precisava ficar preocupado, se ele era rank B então tinha um motivo para isso. Ele certamente será forte e vai ajudar muito as pessoas da linha de frente.
"Greed-san, você tem alguma coisa que precisa nos dizer?" Diz Eugene.
"Bom... na verdade não tem nada relevante, mas tem algo que preciso adicionar no plano que pode facilitar a invasão na vila."
"E o que seria?"
Eu cheguei mais perto da mesa e apontei para quatro pontos no mapa.
"Aqui nesses quatro pontos existem sinos. Quando estávamos fazendo o reconhecimento, o grupo de aventureiros chegaram de frente para vila e os goblins tocaram o sino. Mais que o dobro de goblins saíram das casas e das cabanas. Foi assim que eles se sobrecarregaram e perderam."
"Sinos hein? É um utensílio básico que esquecemos de considera-lo."
"Sem contar que enquanto não derrubarmos os goblins arqueiros, eles vão continuar em cima das casas até acharem uma brecha."
"Certo... isso é interessante também."
Conforme o tempo foi passando, os aventureiros foram colocando suas ideias. A formação que eles estavam montando parecia inteligente visto a situação dos goblins. A forma como os aventureiros naquela hora fez a formação, não foi errada, mas as brechas que tiveram por falta de gente foi o crucial para eles serem derrotados.
Eugene começou a distribuir as equipes conforme era necessário. Uns se voluntariavam, outros tivemos que escolhei em sua escala de utilidade e proficiência para deixar as duas equipes mais equilibradas o possível. Eu e Asura caímos na equipe A. Aquilo foi um desanimo para mim, mas não havia o que fazer.
"Ei Greed-san, vamos agora para tomamos uma cerveja juntos?"
A reunião tinha acabado, um aventureiro que tinha um físico bem forte, me chamou para tomar cerveja.
"Me desculpe, mas eu também preciso descansar." Quando eu disse isso, apontei com meu dedo para o canto das mesas da taverna. Asura estava em uma cadeira com os joelhos encostados uns nos outros e os pés distanciados. Sua mão estava entrelaçada e apoiada em suas coxas. Ela adormeceu.
"Ah, entendo. Bom, então nos vemos amanhã."
"Sim."
...
O clima da noite era agradável, mas um pouco frio.
Em meus braços, Asura estava dormindo levemente como uma princesa. Não pude deixar de sorrir quando caiu a ficha da situação. Talvez ela tenha dormido apenas para fazer de sua provocação, algo real.
"Hm...?" Asura ia murmurando, até que abriu um pouco os olhos e percebeu a situação em que estava. "Eu dormi?"
"Sim... mas pode continuar, estamos voltando."
"Ah..."
Ela parecia um pouco atordoada da situação, mas novamente continuou a dormir. Eu sabia que ela não iria aguentar tanto, afinal havíamos acordado bem cedo para fazer o reconhecimento e saído para passear um pouco. Realmente, vê-la nesse estado não foi nenhuma surpresa.