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Chapter 37 - 37 — ÚLTIMOS SUSPIROS DE AURORA

Julio acordou feliz. O céu estava nublado e não se podia ver nada por entre as nuvens, mas ele sabia que ela estava lá. Aquela lua vermelha que aparecera há alguns anos, um dia depois de ter falhado com o expurgo da cidade. Seu Deus lhe disse que era o dia, e, como prometido, ela estava lá.

Ainda nu, foi até o banheiro onde Aurora se encontrava. Estava fraca e debilitada, sangue escorria pelos pulsos. O rosto ainda estava coberto com sangue, agora seco, do dia em que fora pega pelo padre e tivera o nariz quebrado. Julio não se importava com ela. A mulher tinha apenas uma refeição e bebia menos de um litro de água por dia. Ela morreria de qualquer jeito, então não havia um porquê para ele desperdiçar comida com aquela cria do Diabo. Não daria a ela a comida que seu Deus entregava a ele. Quando abriu a porta, a mulher o olhou com o pouco de força que restava.

— Hoje você vai morrer, sua vagabunda — disse o padre, sorrindo para ela.

Julio fechou a porta e desceu para comer. Não demorou muito. Dali a algumas horas, as pessoas começariam a chegar e ele teria de preparar tudo para a cerimônia. Deixou a mesa suja, com migalhas de pão por todos os lados. Subiu novamente para vestir sua bata preta.

Voltou ao banheiro, onde desamarrou a mulher aprisionada. Arrastou-a pelos cabelos corredor abaixo, fazendo com que ela batesse com os braços e pernas em cada degrau de escada que descia. Suspiros leves de dor saíam da boca de Aurora, que não tinha mais forças para protestar e nem tentar fugir. Mal conseguia se manter acordada.

Arrastou-a até o altar da igreja, onde uma cruz estava estirada no chão. Pregaria ela como pregaram Jesus. Era assim que os pecadores deveriam morrer. Deixou-a jogada no altar e levou a cruz para o lado de fora da igreja. Faria tudo na praça, onde as pessoas poderiam se aglomerar e assistir ao dia em que Rio Denso ficaria livre dos demônios de uma vez por todas. Na noite anterior, havia feito uma espécie de encaixe para a cruz ficar de pé. Deixou-a do lado desse lugar específico e voltou para buscar a mulher. Arrastou-a da mesma forma para fora, puxando-a pelos cabelos sem se importar com a dor que ela sentia. Era um demônio, e, toda dor que pudesse infligir a ela, faria.

A cidade ainda estava vazia e ninguém deu as caras naquele período da manhã. Mas ele sabia que viriam. Assim que as nuvens se dissipassem e dessem lugar à lua vermelha no céu, correriam para lá. Mas a pessoa que mais importava para Julio era Elisa. Se ela não fosse até ele com o garoto, tinha certeza que quem morreria seria ele. Ele e todos da cidade. E isso não deixaria seu Deus feliz.

Colocou a mulher em cima da cruz e esticou seus braços. Pegou um grande martelo que trouxera para fora e um prego. Posicionou o objeto em cima da mão de Aurora e com um único golpe, fincou o prego na carne da mulher, juntando-a com a madeira. Se Aurora tivesse forças, teria berrado. Tudo que conseguiu fazer foi desmaiar.

Quando ela acordou novamente, sentiu a pior dor de sua vida. Suas mãos e pés latejavam, como se houvesse um coração latejando em cada parte apregoada. Aurora abriu os olhos aos poucos e se viu acima do chão. Estava crucificada. Não conseguia berrar e seu corpo não tinha líquido o suficiente para que chorasse. O padre se encontrava abaixo dela, sorrindo de forma demoníaca.

— Dói, não é? Pois vai ser pior quando você for para o Inferno.

Aurora pegou toda a força que lhe restava e lançou uma cusparada direto na testa do padre. O líquido escorreu pelos olhos e se juntou à boca dele. Julio apenas sorriu, passando a língua pela saliva de Aurora.

— Pode cuspir à vontade, vagabunda. Daqui a algumas horas você queimará no inferno, junto com seus filhos e seu marido.

O padre ficou sentado em um dos bancos da praça com as pernas cruzadas. Aos poucos, algumas pessoas se juntaram a ele, e os insultos a Aurora aumentaram. Ele não deixou que a machucassem, pois a mulher já estava fraca demais. Queria fazer o show para Ben. Mataria seu amor na frente dele.

Perto do meio-dia, aproximadamente cem pessoas já se reuniam na praça. O restante viria logo mais, pois finalmente a lua de sangue aparecera. Finalmente, as nuvens estavam sendo sopradas para longe. O dia de Julio Cani ficou completo quando ele pôde ver o carro de Elisa estacionando na frente da igreja. A burra da mulher tinha fisgado sua isca e agora ele tinha quase todos em suas mãos.

Julio deixaria Ben por último. Mataria um a um, para que o velho sofresse devagar. Nada trazia mais alegria ao coração do padre do que imaginar que, antes de matar aquele homem, poderia lhe causar tanta dor e sofrimento quanto possível. O garoto iria antes dele. Elisa e Augusto, depois de Aurora.